capítulo 16

342 43 3
                                    

Jessy

   Sai da festa direto para a delegacia dar queixa do Simon.
   Talvez não adiantasse nada,pois o racismo ainda tinha uma pena baixa e as pessoas não viam como crime.
   Mas só quem é negro sabe o que é sofrer preconceito.
Dói na alma; ainda mais porque não adianta debater com eles,pois eles acham que estão sempre certos e que são melhores do que todos.
   Mandei uma mensagem para minha mãe avisando o que tinha acontecido.
   Ele ficou bem chateada,mas eu a acalmei dizendo que a Michele e o Ethan haviam me defendido.
—Obrigado Michele por ter me defendido. Você é verdadeiramente uma irmã para mim.
    Ela estava dirigindo em direção a delegacia.
—Irmãs são para isso. E pode apostar que eu vou pagar um advogado.
    Suspirei.
—Mas eu acho que não vai adiantar nada. Duvido que vão colocar ele na prisão. Até porque ele é rico e também é influente.
—Nao se preocupa amiga,eu não vou descansar até que a justiça seja feita. Alguém tem que parar esse racismo e preconceito com quem é pobre e negro.
   Nós chegamos na delegacia e fizemos o BO.
   Depois que eu voltei para casa vi uma mensagem do Ethan.
“Oi,linda. Como você está?
  Mais uma vez desculpa por tudo aquilo.
Mas saiba que eu te amo muito e nunca vou deixar ninguém te humilhar.”
   Como ele era protetor e sensível né?
   “ Eu também te amo muito,viu? Você é um ótimo namorado e não tem que se culpar pelo o que aconteceu.
Isso serviu para te mostrar quem verdadeiramente é seu amigo”
 
“Isso é verdade. Nunca percebi como ele era preconceituoso e racista. Mas agora meu laço com ele está cortado para sempre.”
 
“Mas perdoe ele. Porque ficar guardando sentimentos ruins dentro da gente só nos faz mal e não nos deixa prosseguir na vida”
 
“Não sei como  você consegue perdoá-lo pelo o que ele fez. Mas eu prometo que vou tentar"
  
Nós ficamos conversando mais um pouco e ele me convidou para ir no parque novamente e eu aceitei. Amei fazer aquele piquenique. E deu para eu conhecê-lo muito mais. Depois me deitei   fui dormir.
   Havia sido um dia longo e tenso.
-------------------------------------------
No outro dia fomos passear no parque novamente. Estava um dia bem quente.
Devia estar fazendo uns 30 graus,não é possível. Eu estava derretendo.
—Quer comprar um sorvete?
   Me perguntou o Ethan que olhou para mim um pouquinho preocupado.
  Acho que meu rosto estava denunciando isso.
—Pode ser. E acho que eu quero sentar. Estou com um mal-estar.
   Ele me guiou até um banco na praça onde tinha uma sombra.
—Fica aqui. Vou procurar um lugar que venda água para você.
—Tudo bem. Eu te espero aqui.
   Ele saiu correndo em direção a umas lojinhas que tinham mais para frente.
  Fiquei ali, observando o movimento na praça.
   Todos estavam sentados debaixo de alguma sombra. Apenas as crianças brincavam felizes junto com os amigos ou os cachorros.
   Em determinado momento,vi um garoto muito pequeno que pedia comida para as pessoas na praça.
   Um homem começou a xingá-lo e parecia que ia bater na criança.
  Corri até o encontro dele e segurei em sua mão.
—Porque vocês estão xingando ele?
  O homem estava bravo e me olhou com irritação.
—Esse garoto veio incomodar minha família.
   Olhei para o garoto.
  Ele estava assustado. Seus olhos verdes estavam marejados e sua pele branca estava toda suja.
—Ele apenas queria algo para comer. Você não tem compaixão não? E se fosse alguém da sua família?
   Ele não me respondeu.
   Eu me virei e levei o garoto junto comigo para debaixo da sombra.
—Oi, qual seu nome?
   Ele deu uma hesitada. Ele ainda estava assustado,mas me respondeu com uma voz baixinha.
—É Luke.
—E quantos anos você tem?
  Ele parecia bem novo,mas quando ele me respondeu que tinha apenas cinco anos meu coração ficou triste.
—E onde estão seus pais?
—Eu não tenho pais. Eles me abandonaram na rua um dia.
  O quê?! Como assim um pai podia fazer isso? Ou uma mãe?
   Meu coração despedaçou nesse momento.
  O Ethan chegou e olhou para o garoto.
—Quem é esse menininho?
   Eu contei a ele tudo e então ele nos levou para um restaurante.
   Quando entramos todos olharam para ele.
   O segurança chegou e nós barrou.
—Me desculpe. Mas esse garoto não pode entrar.
   Olhei para ele indignada.
—Porque ele não pode entrar? A gente vai pagar pela comida.
—Eu sei moça. Mas ele iria incomodar os clientes.
  Nós ainda debatemos com ele,mas ele  não cedeu.
   Então tivemos que comprar uma marmita.
  Depois que ela comeu nós levamos ele para minha casa e ele tomou banho e eu dei umas roupas minhas de quando eu era criança.
   Graças a Deus,tinha roupas unissex.
—O que vamos fazer com ele?—perguntei para o  Ethan depois que o Luke pegou no sono.
   Ele me olhou pensativo.
—Vamos ter que ir na justiça. Talvez dê para ele ir para um orfanato.
   Pensei nisso.
—Mas será que ele vai querer ir?
—Eu não sei. Mas temos que tentar. Ele não pode ficar na rua passando fome e frio.
  Concordei.
—Ele pode ficar com você? É que minha mãe não vai aceitar,você sabe.
—Claro que sim. Eu fico com ele até decidirmos o que fazer.
   E ficou decidido assim. Todos os dias eu estava cuidando dele quando podia.
  Afinal eu tinha a faculdade e o trabalho.
  Quando eu não podia cuidar vinha a Michele ou até a enfermeira particular cuidava dele.
   Ele parecia bem feliz e o Ethan amava brincar com ele.
  E todos os dias esse menininho alegrava meus dias e a do Ethan.


Além Do PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora