A inexorabilidade do eterno tornar-se

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Bianca acorda assustada naquela manhã do dia 23. Ainda deitada, de barriga para cima, olha ao redor do quarto tentando se localizar, mas sua visão embaçada, além do desnorteamento tão comum de quem acabara de acordar, dificulta o reconhecimento do local. De forma automática, a cientista estica o braço direito, como sempre fazia toda manhã, procurando por seus óculos. Encontra-os na mesinha ao lado da cama e ao colocá-los, agora um pouco mais desperta, suspira aliviada ao constatar que estava mesmo em seu quarto, em seu apartamento.

Lentamente, senta-se na cama e então sente o lençol que a cobre deslizar por seu corpo, sentindo a maciez do tecido roçar diretamente por sua pele, finalmente se dando conta que estava nua. Foi então que flashes da noite anterior começam a invadir sua mente. Flashes de uma das noites mais loucas e intensas de sua vida.

Vira a cabeça para o lado e não consegue deixar de sorrir ao ver sua esposa dormindo profundamente abraçada ao seu travesseiro, o lençol a cobrindo apenas da cintura para baixo, deixando suas costas nuas expostas.

Bianca ajeita os óculos e leva a mão ao rosto de Rafaella, delicadamente colocando os cabelos castanhos atrás de sua orelha, revelando a face serena da advogada, que permanece no mundo dos sonhos, alheia a tudo.

Pousa sua mão no rosto da esposa, acariciando levemente sua bochecha com o polegar e deita-se novamente, dessa vez mais próxima à Rafaella e de frente para ela. Permanece assim por alguns minutos, seus dedos agora percorrem por toda a face da mulher que dorme, sentindo a pele macia sob a sua, contornando cada detalhe daquele rosto, que para ela é simplesmente perfeito. Por um instante, quis acordar a mulher para poder olhar naqueles olhos verdes cuja intensidade sempre tirava seu fôlego e fazia seu coração acelerar desde a primeira vez que os viu. Rafaella é o amor de sua vida e esses últimos dias só haviam confirmado isso.

Ainda contornando a face da advogada, Bianca desliza o dedo pela bochecha da esposa, subindo até a testa e então desce suavemente pelo contorno do nariz de Rafaella, que faz uma pequena careta em seu sono, arrancando uma risada baixa da cientista. Bianca se aproxima mais da advogada, passando o braço em volta da cintura da esposa, sentindo seu coração se aquecer quando Rafaella se aninha em seus braços, inconscientemente roçando seu nariz e lábios no pescoço branco, causando um arrepio por todo o corpo da cientista.

Bianca suspira e fecha os olhos, deixando que as memórias da noite anterior, regadas de sexo, luxúria, prazer e principalmente amor, invadam seus pensamentos novamente. Ela não consegue dizer se realmente havia acontecido ou se foi apenas uma ilusão criada pelo entorpecer da flor de lótus e a paixão e desejo compartilhados entre elas. Pela primeira vez na vida, não encontra uma explicação científica. Mas talvez não seja necessário. Ela só precisava sentir.

E foi o que fez, em cada toque, cada olhar, cada orgasmo provocado, ela havia sentido Rafa como nunca antes. Era como se sentisse por milhares de Biancas e estava sendo tocada por milhares de Rafaellas. Sentiam-se conectadas como há meses não o faziam. Haviam se encontrado novamente e voltaram a se completar.

E esse pensamento, a sensação de ter sua Rafaella de volta e voltar a ser a Bianca de sua esposa, é o suficiente para fazer os olhos da cientista lacrimejarem e ela não evita a lágrima que escorre por seu rosto, afinal são lágrimas de felicidade.

Limpa o rosto molhado e tem o sorriso já estampado no rosto mais uma vez ao olhar para a esposa. Deposita um beijo singelo no topo de sua cabeça e, com delicadeza, afasta Rafaella para deitá-la novamente na cama.

Bianca sai da cama e se espreguiça, levando seus braços acima da cabeça, alongando seu corpo esguio, gemendo baixinho ao sentir seus músculos sensíveis, aquele resquício de dorzinha gostosa que corre pelo corpo após uma noite de prazer.

Devir - Multiverso RabiaWhere stories live. Discover now