vamos subir a rocinha...

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             19° CAPÍTULO

JUGHEAD

Eu estava feliz, muito feliz com o rumo que a minha vida estava levando. Eu nunca pensei que
um dia poderia perdoar de fato a minha mãe depois de tudo o que aconteceu.
Nunca pensei que seria capaz de amar alguém, como eu amo a Betty e o Dyl. Sem sombra
de duvidas ela é a mulher que eu quero viver pra sempre ao lado.
Eu estava na delegacia lendo alguns documentos sobre o caso do Nick, a lista do cara é extensa
apesar de só ter sido preso uma única vez, ele tinha seu nome envolvido em grandes assaltos
bancários, sequestros e muito mais, e sem falar que ele é o maior traficante de armas e drogas do Rio. Só que o cara é esperto, sabe o que faz e como faz e isso dificulta um pouco o nosso trabalho, mas por pouco tempo, pois eu vou colocar as mãos dele.
Se fosse por mim eu já teria invadido aquele morro há muito tempo, mas devido ao fracasso que foi a ultima operação feita pelo Borges, ele acha melhor nós esperarmos um pouco e
formar uma estratégia melhor do que a anterior. Eu concordei com ele, não podemos agir precipitadamente e colocar tudo a perde e ainda por cima por nossas vidas em risco.
Saio dos meus pensamentos quando o meu celular toca. Penso que é a Betty, pois pelo horário ela já tinha saído do trabalho e hoje nós não nos falamos. Mas não era ela, e sim o Archie.
- Fala Archie.
- Oi senhor Jughead...
- Aconteceu alguma coisa? – já logo pergunto, pois sinto que ele está estranho.
- Não senhor, quer dizer. Quem vai me dizer isso é o Senhor. O Dylan está bem?
- Como assim? Por quê dessa pergunta? Aconteceu alguma coisa com ele e eu não estou sabendo?
Digo começando a ficar preocupado.
- Ué, mas ele não está com o Senhor?
- O quê? Claro que não Archie, eu estou na delegacia ainda, não sai daqui pra nada.
- Mas a Betty disse que você tinha pegado ele na creche hoje.
- Como assim? Eu não peguei ninguém. Porra me explica isso direito, Archie.
- Eu sabia, ela estava muito estranha.
- QUE PORRA ARCHIE! ME FALA O QUE ESTÁ ACONTECENDO.
Levanto-me da cadeira e começo a andar de um lado para o outro.
- Eu fui com ela hoje na creche e quando chegamos lá ela foi pegar o Dylan, eu fiquei a olhando de longe e vi ela se alterando um pouco com a senhora que trabalhava lá. Depois ela atendeu o celular e ficou um tempo conversando com alguém. Quando ela chegou ao carro eu perguntei pelo Dylan e ela disse que o senhor tinha ido buscá-lo sem avisar. Eu achei
ela estranha, mas não quis perguntar mais nada. Mas eu achei que tinha alguma coisa errada, senhor, ela estava nervosa. Ai eu resolvi ligar para o senhor.
- Porra Archie. Onde você a deixou?
- Em casa, Senhor.
- Onde você está agora?
- Em casa.
- Me encontra lá no apartamento dela. Agora.
- Claro senhor, estou indo agora mesmo.
Pego as minhas chaves em cima da mesa e arrumo rapidamente os documentos. Saio da sala
apressado e me esbarro na Clara.
- Nossa Rodrigo, calma, onde você vai com tanta pressa?
- Preciso sair um pouco mais cedo hoje, Clara. Se tiver qualquer problema me liga.
Depois do episodio lá em casa nós não falamos mais sobre o ocorrido e quando ela soube que eu estava com a Betty, também não tocou no assunto. Nos falamos apenas quando o
assunto é relacionado a delegacia. O que eu agradeço. Mas isso não impede que eu a pegue me olhado muitas vezes com malicia. O que me incomoda, como nunca me incomodou antes.
Entro no meu carro e alguns minutos depois eu já estava parando em frente ao apartamento.
Já posso avistar o carro do Archie e assim que ele me vê, vem na minha direção.
- Você tem certeza do que você me falou, Archie?
- Tenho sim senhor, absoluta.
- Você realmente a deixou em casa.
- Sim, eu ainda esperei um tempo e a vi subindo, só depois eu fui embora.
Viro-me e entro no prédio, como o porteiro já me conhece ele abriu o portão pra mim sem dificuldades. Já estava passando reto por ele, quando o mesmo me chama.
- Senhor Jughead, tenho uma carta pro senhor.
- Carta? Que carta?
- Essa aqui. – ele me estende a carta. – A dona Betty me pediu pra entregar em suas mãos.
Pego a carta de suas mãos.
- Ela está em casa?
- Não senhor, ela saiu tem uma hora mais ou menos.
- Puta que pariu. Ela saiu sozinha? – me controlo para não me alterar mais.
- Sim senhor.
- Caralho. – passo as mãos rapidamente pela minha cabeça e meu coração se aperta.
Está acontecendo alguma coisa. Que porra! Eu sei que está.
Vou para um canto e abro a carta. Meu coração para assim que leio a primeira linha.
“Amor, quando você estiver lendo essa carta eu provavelmente já estarei na Rocinha. Eu imagino que você deva estar se pergunto o que eu estou fazendo aqui. Você não vai gostar nem um pouco da resposta. O Nick pegou o Dylan e eu não podia deixá-lo sozinho, é o meu filho... nosso filho! Eu tive que ir até ele. Eu sei que você vai se perguntar o porquê de eu não ter te avisado antes. Eu quero que saiba que não foi por falta de confiança, mas sim por medo de te
perder, perder as pessoas que eu amo. Ele ameaçou matar você e a minha mãe e ainda sumiria com o Dylan se eu não fosse. Eu sei que deveria ter te contado antes de tomar essa decisão e ir até ele. Não pense que eu não acreditei em todas as vezes que você disse que nos protegeria, pois não é isso. Eu acredito, amor, eu confio muito em você. Mas eu não podia deixar que nada de ruim acontecesse com as pessoas que eu mais amo nesse mundo.
Eu sei que agora você deve estar com raiva de tudo e de todos, inclusive de mim, por não ter te contado nada. Mas eu não poderia deixar e nem suportaria que nada acontecesse à você.
Lembra que eu te disse que eu te amo muito e que era pra você nunca duvidar desse amor?
Então, eu repito: Eu te amo, você é tudo pra mim. O meu coração está apertado por ter feito isso sem falar com você. Sei que está com raiva. Mas nunca se esqueça que eu te amo... Nós te amamos. E estamos te esperando.
Eu sei que você vai ir nos tirar da Rocinha. E eu sei também que eu poderia ter evitado isso tudo, mas eu quero que você entenda que pela minha família eu sou capaz de fazer tudo.
Mas eu só queria te pedir pra não fazer nada de cabeça quente, Jughead, por favor. Não vai agir com raiva, desespero, como eu sei que você está agora. Você mais do que eu sabe que agir assim não leva a nada. E como eu disse: Eu confio em você e eu sei que vai nos trazer de volta.
Eu te amo muito. E mais uma vez, me desculpe por isso.
Tente me entender.”
Porra, eu não estou acreditando que ela fez isso. Não estou acreditando que ela fez uma burrada dessas.
Que droga! Ela tinha que ter me contado, tinha que ter confiado em mim. Eu arranjaria um jeito de tirar o Dyl de lá sem ela precisar se expor a esse cara mais uma vez.
Só Deus sabe o que ele pode estar fazendo com ela nesse momento. Só de imaginar a minha raiva triplica.
Raiva dela, por não ter me contado nada.
Raiva daquele bandido desgraçado por estar com a minha mulher e meu filho agora.
Chuto com força a lixeira do meu lado e amaço a carta em minhas mãos.
- Senhor o que houve? – pergunta o Archie chegando perto de mim um pouco assustado.
- Aquele bandido filho da puta os pegou, Archie.
- E o que nós vamos fazer agora, senhor?
- Vamos subir a Rocinha.
- Calma. – ele segura o meu braço me impedindo de continuar – Não pode ser assim, Senhor, a gente tem que pensar.
- PENSAR É O CARALHO ARCHIE, VOCÊ NÃO ESTÁ ENTENDENDO. É A MINHA MULHER E MEU FILHO QUE ESTÃO NAS MÃOS DE BANDIDOS, AGORA.
- Eu sei, senhor. Mas nós não podemos agir sem pensar. Nós vamos colocar a vida deles em risco.
Paro pra pensar um pouco e me lembro do pedido da Betty na carta.
- O senhor é o melhor delegado que eu já vi em toda a minha vida, o mais centrado e calculista também. E tem que continuar assim, senhor. Não deixe o emocional te abater. Não
podemos colocar tudo a perder, pois agindo de cabeça cheia vamos colocar não só a vida dos dois em risco, como a nossa também.
- Você tem razão. Obrigado Archie.
- Que nada senhor. Agora a gente tem que pensar com calma no que vamos fazer e como fazer, pra não colocar a vida de ninguém em risco.
- Vamos pra delegacia do Borges, precisamos agilizar essa invasão para o mais rápido possível, eu não posso deixa-la nas mãos daquele cara, eu sei muito bem do que ele é capaz de fazer.
- Então vamos logo, não podemos perder tempo.
Eu me obriguei a me controlar e não jogar a porra toda pro alto e invadir eu mesmo sozinho aquela porra daquela favela e tirá-los de lá. Mas como o Archie disse, eu não posso deixar o meu emocional falar mais alto e estragar tudo. Por mais que o meu coração esteja apertado e
que a minha vontade agora seja de jogar tudo pro alto e ir buscá-los. Eu tenho que manter a calma e pensar direito no que fazer para tirá-los de lá.
Entramos no carro e alguns minutos depois já estávamos parados em frente à delegacia na qual o Borges comandava.
Entramos e eu expliquei todo o acontecido para o Borges e também já tomei providencias contra aquela creche. Eles não vão sair impune de tudo isso, eu não vou deixar. Eles não podem entregar uma criança á um desconhecido. Eu vou foder com a vida de todos que trabalham naquele lugar.
Assim como o Archie me disse, o Borges reforçou de que não podemos agir de cabeça quente. Se quiséssemos realmente tê-los bem e de volta, teríamos que trabalhar em equipe e
com cautela o que poderia levar um tempo. Mas eu não ia aguentar muito tempo longe deles, ainda mais sabendo que estão nas mãos daquele desgraçado que poderia muito bem
abusar da minha mulher novamente.
- No mínimo uma semana.
- O QUÊ?
- Jughead, presta atenção...
- PORRA BORGES, VOCÊ NÃO ESTÁ ENTENDENDO! É A MINHA MULHER E MEU FILHO LÁ. EU NÃO POSSO ESPERAR NEM MAIS UM DIA, QUEM DIRÁ UMA SEMANA.
- Jughead você melhor do que ninguém sabe que uma invasão como essa não posde se resolver de um dia para o outro.
- PODE SIM PORRA!
- Olha, eu sei que você está nervoso e de cabeça quente, mas no fundo você sabe que eu tenho razão.

O foda é que ele realmente tinha razão, não podemos resolver isso de um dia para o outro.
Uma invasão requer tempo, planejamento, no mínimo, para sair tudo certo. E mesmo assim
as vezes dá errado.
- Ainda mais Jughead, que se o Nick já sabe que vocês dois estão namorando, ele com certeza espera que você vá buscá-los, com certeza ele está nos esperando. Então não podemos
aparecer assim. Por isso mesmo que devemos pensar com calma no que vamos fazer.
- Okay, você está certo. Mas eu não sei se aguentarei esperar por uma semana. Se chegar a tanto eu mesmo invado aquela porra sozinho.
Levanto-me da cadeira e saio da sala sem olhar pra trás. A raiva e o medo me consomem.
Raiva por não poder fazer nada agora, pois eles realmente tinham razão. Aquela porra daquela favela é grande e pelo resultado da ultima invasão, pode se ver que eles estão muito
mais bem armados do que a policia. E medo de ele fazer algo com ela. Se ele encostar um dedo dela novamente. A morte dele que seria dolorosa, agora será mil vezes mais dolorosa e lenta. Bem lenta.
Assim que chego em casa o meu celular toca e é o numero da casa da Betty, com certeza é a dona Marta.
- Alô.
- Oi... é Jughead, desculpa te atrapalhar agora. Mas é que a Betty não chegou até agora com o Dyl, eu estou ligando para o celular dela e ela não atende. Ai eu fiquei preocupada, já liguei pra Verônica, mas ela disse que não viu eles dois hoje e eu queria saber se estão com você.
- Olha dona Alice, a senhora vai precisar ficar calma agora.
- Como assim, Jughead? O que está acontecendo?
Respiro fundo e falo.
- Eles estão com o Nick.
- O..o que? Como assim?
- Eu não sei explicar ao certo o que houve, dona Marta, mas o Nick pegou o Dyl e a Betty foi até a Rocinha por chantagem do Nick.
- Meu deus, a minha filha...ele... ele é um louco, Jughead ele vai...
- Calma, fica calma que eu já estou resolvendo isso. Eu só preciso que a senhora fique em casa, okay, não saia daí por nada. Eu vou mandar uns policiais fazerem a sua segurança. Mas eu preciso que a senhora me prometa que não vai sair de casa por nada.
- Tu..tudo bem Jughead. – ela já estava chorando demais. – Só trás a minha filha e o meu neto pra casa, por favor.
- Eu vou levar dona Alice, confie em mim.
Desligo o celular e não demorou muito ele já tocava novamente, e dessa vez era a Verônica.
Essa seria difícil.
- Fala Verônica.
- Jughead, por favor, me diz que a Betty e o Dyl estão com você.
- Não, eles não estão, Verônica.
- Porra, Jughead eles sumi...
- O Nick os pegou, Verônica. – cada vez que essas palavras saíam de minha boca, a raiva me  invadia e com ela a vontade de jogar tudo pra cima e ir pra Rocinha também.
- Como assim Jughead? – ela estava nervosa e isso era notório em sua voz.
Eu expliquei toda a situação para ela, no final ela já estava chorando horrores.
- Jughead, você não pode deixa-los lá. Aquele cara... ele... ele pode abusar dela de novo e...
- Você acha que eu não sei disso, porra? Mas se eu agir de cabeça quente vai ser pior.
- Eu posso ajudar e...
- Você não vai ajudar porra nenhuma, você vai ficar na sua. Eu não quero mais um no meio disso tudo.
- Mas...
- Mas o caralho, você está me entendendo? Você vai ficar quieta na sua e deixar que eu faça o meu trabalho.
- Tu...tudo bem.
- Agora vai dormir, Verônica, e me deixa trabalhar.
- Até parece que vou conseguir dormir depois dessa.
- Então faz qualquer coisa, só fica na sua e não se meta. Não quero você em perigo.
Encerro a ligação e me sento no sofá.
É inevitável não deixar as lágrimas caírem em pensar que eles estão nessa e eu não posso tirá-los de lá agora. Mas não vai adiantar nada eu ficar igual a um banana chorando. Levanto-me seco as lágrimas do meu rosto com força, vou até o meu escritório e começo a procurar
alguns contatos que eu precisarei muito. Eu vou usar as minhas influencias para conseguir agilizar mais isso. Eu vou invadir esse morro e tirar a minha família de lá e matar aquele filho da puta com as minhas próprias mãos.
O Nick não tem noção a mínima noção do ódio que causou em mim, muito menos do que eu sou capaz de fazer com esse sentimento tão ruim me corroendo.

o delegado-BugheadWhere stories live. Discover now