Vigésimo Sexto

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A semana inteira passa como um borrão. Para piorar, a dificuldade de focar em qualquer outra coisa que não seja o Bernardo torna praticamente impossível fazer qualquer outra coisa. Desde nossa conversa na academia, as coisas andam estranhas e a Bea, com todos seus olhares observadores, acaba deixando tudo ainda mais difícil.

A cada momento do dia eu me pego perguntando o que deveria fazer e me sinto absolutamente idiota por estar com tantas dúvidas assim, sendo que para a maioria das pessoas tomar uma decisão quanto a isso seria a atitude mais simples do mundo.

Mas de alguma forma para mim não é.

Nada disso é simples porque eu não consigo simplesmente desligar todos os "e se" que me atormentam e todas as consequências que podem surgir a partir de qualquer mínima escolha que eu tomar.

E isso tudo me sufoca. Não saber o que vai acontecer e não conseguir escolher um caminho. Porque tudo que eu queria era poder falar o quando eu gosto dele, sem medo do que pode acontecer.

Mas cada vez que eu penso em ir por esse caminho, sinto uma pressão no meu peito e a respiração começa a falhar porque eu não consigo pensar em nenhum bom cenário que possa surgir a partir disso.

Se ele me disser que estou delirando e que nunca acontecerá algo entre nós, eu terei a capacidade de olhar novamente em seus olhos? A nossa amizade terá forças para se manter intacta? E como ela será após tamanha decepção? E como eu vou lidar com meu coração partido?

Mas e se ele também sentir o mesmo por mim? O que será da gente? Eu quero mesmo ter algo sério? Eu sou capaz de ser a "namorada" de alguém? E principalmente, de alguém tão doce como o Bernardo?

- Mariana! – Minha mãe grita, me despertando em um susto de todos meus devaneios. – O que está acontecendo com você?

Seu olhar está carregado de indignação e logo percebo o motivo: a água que coloquei para ferver já sumiu do fundo da panela, que emite um chiado insuportável.

- Desculpa, eu estava distraída – digo, mordendo o canto da boca, ainda pensando no que eu devo fazer.

- Hoje não é aquela festa que você ia? – Ela me pergunta e olha para o relógio no alto da cozinha.

- Sim, mas a Bea disse que passaria aqui para nos arrumarmos juntas. Que Deus me ajude...

Minha mãe dá uma risada e joga a panela quente dentro da pia.

- Que Deus ajude a Bea, você quer dizer.

Mostro a língua para ela, de implicância e ela dá outra risada no mesmo instante que a Bea toca a campainha. Porém, quando eu abro a porta a minha primeira reação é fechá-la no mesmo instante quando me deparo com os olhos do Bernardo fixados em mim e sua boca que começa a abrir um sorriso travesso.

- Isso não é muito educado da sua parte – ele grita do outro lado da porta.

- O que você está fazendo aqui? – Pergunto completamente desesperada. Eu estou com pontos brancos de pomada cicatrizante por todo o rosto, nos lugares onde estavam surgindo pequenas espinhas, com meu moletom surrado que possui um furo bem no joelho e com o cabelo sujo e oleoso por não ver um pouco de shampoo há mais de três dias, no mínimo.

- Mariana, dá para você abrir essa porta? – Ouço a voz da Bea após alguns minutos de silêncio.

- O que está acontecendo aqui, Mari? – Minha mãe aparece na sala e me vê petrificada em frente à porta, vendo pelo olho mágico meus dois melhores amigos conversando em um tom que se torna impossível ouvir através da porta.

- Nada, mãe – digo sorrindo, reunindo toda a minha falsidade para fingir normalidade e giro a chave na fechadura novamente.

- Eita! – A Bea solta assim que me vê e o Bernardo começa a rir, muito embora esteja claro que ele tenta segurar ao máximo.

Como conquistar seu coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora