Primeiro

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Silvia, minha não tão querida professora de física, anda de um lado a outro na sala, segurando um enorme pacote de folhas brancas, nossas provas corrigidas. Ela está há mais de dez minutos falando sobre como nossas notas foram horríveis, mas ainda não entregou as avaliações. 

Meu estômago já está começando a doer de tanta ansiedade para ver logo a nota. Não que eu tenha ido mal. Nunca tirei uma nota menor que seis em toda minha vida escolar e não é agora, faltando menos de um ano para concluir o ensino médio, que eu irei tirar. Mesmo com tantas outras coisas ocupando 90% dos meus pensamentos no momento...

Tudo bem que nos últimos tempos muitas coisas estranhas têm acontecido comigo. É como se tudo começasse a simplesmente sair do meu controle. O que é algo absurdamente incomum. E isso não pode continuar assim de forma alguma. Tudo tem que estar no lugar e tempo certo quando penso no meu futuro.

Tenho tudo já muito bem definido em variadas planilhas espalhadas no caderno, celular e computador. Quatro anos na faculdade, ou seja, ser uma jornalista aos meus 21 anos. Ir morar em Londres. Ser âncora de um importante jornal internacional. Nada de entrevistar famosos e correr atrás de notícias completamente supérfluas. Quero fazer um trabalho que realmente importe.

Aos 25 quero ter conhecido pelo menos mais de quinze países diferentes. Só então eu irei começar a pensar em casar ou qualquer coisa do tipo. Mas de uma coisa é certa: aos 30 anos eu já tenho que ter conhecido o cara certo.

Beatrice, minha melhor amiga, diz que eu sou muito controladora. Mas se eu não controlar meu próprio futuro quem o irá? Não posso simplesmente deixar as coisas na mão do universo, esperando que algum tipo de lei geral defina o que eu vou fazer, quando vou fazer e como isso se dará. A lei de Murphy está sempre aí para arruinar os planos daqueles que não tem coragem de colocar as mãos na própria história e controlar as coisas.

Quando Silvia chega até minha mesa e coloca a prova virada sobre ela, meu coração começa a bater ainda mais acelerado e eu achando que isso era impossível de acontecer visto que parecia que eu ia ter um ataque cardíaco desde o instante que ela disse que entregaria as avaliações. Eu nunca tirei uma nota ruim, mas é sempre uma adrenalina gigantesca que corre pelo meu corpo a cada vez que um professor anuncia que as provas estarão sendo entregues.

Seguro a prova com minhas mãos já suadas e quando viro eu posso jurar que todo o ar do mundo acabou, pois não consigo mais respirar.

- UM E MEIO? – Um grito escalope, em meio a sala silenciosa e vejo todas as cabeças se virando em minha direção, inclusive a da professora. 

Não era minha intenção falar tão alto, na verdade não era o planejado dizer nada. Mas se tem uma coisa que eu nunca planejei na vida foi ser um fiasco na prova de física. 

- Sim, Mariana. – A professora se vira para mim, segurando o saco transparente que continha todas as provas e agora está vazio. Posso jurar pelo seu olhar que ela está desapontada e isso é o que me deixa ainda mais envergonhada. – Sei que não é comum para você tirar essa nota. Mas não posso fazer nada. Você deveria estudar mais da próxima vez.

Olho fixamente para a nota escrita em caneta vermelha, ainda sem conseguir acreditar no que estou vendo. Meu nome, minha prova, uma nota abaixo da média. Muito, muito abaixo da média, aliás. Acho que nunca desejei tanto em minha vida que um momento fosse um pesadelo e não a realidade.

Assim que o sinal toca eu junto todas as minhas coisas dentro da mochila, socando tudo com o máximo de força que eu consigo e sem me importar de que estou amassando a capa do meu caderno. 

Espero todo mundo sair da sala para então seguir, mas paro antes de descer os degraus para conseguir tomar fôlego e limpar a visão que ficou embaçada por causa de todas aquelas lágrimas.

Como conquistar seu coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora