Sexto

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Durante todo o tempo que estudamos juntos, o Bernardo não demonstrou nenhum comportamento estranho que poderia ter sido causado pelas indiretas da Bea. Quer dizer, ele fazia algumas piadinhas irritantes, mas isso basicamente já faz parte do seu código genético.

Repassei diversas vezes em minha cabeça a conversa que tive com a Bea. Ela realmente não entendia. E não é como se eu fosse uma adolescente deprimida que fala "ninguém me entende", mas a verdade é que ninguém consegue ver as coisas como eu vejo, e nem definir as prioridades na ordem certa, como eu faço.

E daí que hoje eu não vá para festas, não me apaixone, não entre em relacionamentos que no máximo vão durar até o segundo ano da faculdade e depois me deixarão com o coração partido? Não, muito obrigada. Prefiro me focar no que importa.

Mesmo que para isso eu precise descobrir um plano de como simplesmente empacotar esse sentimento que sinto pelo Bernardo e jogar em um canto escuro dentro de mim, em um lugar onde ele não tenha qualquer influência sobre meus estudos, minhas decisões, meus planos.

Mas isso se torna cada vez mais difícil quando eu tenho que lidar diariamente com aquele sorriso, aqueles olhos; com suas mensagens, com suas piadas e até mesmo suas frases de apoio.

Respiro fundo e termino de tomar meu copo de água, já está quase na hora de dormir e eu ainda não fui estudar espanhol, então eu vou correndo para meu quarto e tranco a porta, no mesmo instante ouço meus pais chegarem, juntos.

Coloco meus fones e começo a ouvir a vídeo aula de espanhol que baixei para estudar e fazer os exercícios, enquanto continuo repetindo o que a professora diz com a esperança de está pelo menos 50% parecido.

- MARIANA! – Minha mãe bate repetidas vezes na porta e rapidamente eu tiro meus fones, correndo para abrir a porta antes que ela a derrube.

- Desculpe, eu estava estudando com os fones – digo assim que vejo seu rosto vermelho e ela respirando como se tivesse acabado de correr.

- Não tem a menor necessidade de você trancar essa porta – ela diz me olhando com desaprovação e cruzando os braços. – Bom, preciso que você vá até a sala, eu e seu pai queremos conversar sério com você.

- Mas eu estou estudando, faltam só duas páginas de exercícios para concluir. E eu já tenho que ir dormir.

- Mariana – ela diz respirando fundo e olhando para o alto, mordendo um pedaço do seu lábio inferior, e sei que tudo isso em conjunto significa que ela está procurando uma paciência que não tem. – Eu não estou pedindo. Você já deve ter passado a tarde inteira estudando, está cedo demais para dormir. E eu e seu pai queremos conversar com você sobre algo muito mais sério que tudo isso aqui – ela diz apontando para minha cama, que está com alguns livros e cadernos espalhados.

Abro a boca para protestar e dizer que não tem nada mais importante que meus estudos, mas ela faz apenas um "ahn" e levanta o dedo indicador, então me mantenho calada.

- Vou apenas pausar o vídeo e estou indo.

Para minha sorte ela segue sozinha para a sala, então respiro fundo e vou até o computador, aproveito para fechar um marcador que deixei aberto e então crio coragem para ir antes que ela comece a gritar novamente.

Assim que chego à sala, eles estão sentados no sofá, lado a lado, com uma expressão séria no rosto, não dizem nada para mim em primeiro momento e apenas apontam para a poltrona em sua frente, então me sento.

- Isso é uma intervenção? – Pergunto rindo forçadamente, para tentar descontrair o clima tenso que se forma, mas aparentemente eu apenas pioro a situação.

Como conquistar seu coraçãoWhere stories live. Discover now