Como conquistar seu coração

Décimo primeiro

— Bea, acorda — digo calmamente enquanto balanço minha amiga pela décima vez. Seu cabelo está caindo no rosto e ela aperta seus ouvidos com as palmas das mãos, amassando os cachos. — Acorda ou eu vou te deixar ir para a escola desse jeito.

Pego meu celular coloco na câmera frontal e puxo seu cabelo para cima, ela abre os olhos com uma careta por causa do flash.

— Droga! — Seus olhos reviram e ela respira profundamente enquanto se prepara para sentar na cama. Por fim ela parece tomar coragem e abre um sorriso para mim. — Mas tudo bem, hoje nós colocaremos o nosso plano em ação!

— Ah, não... — resmungo e vou até o guarda roupa, pegando meu uniforme. — Amanhã já é a recuperação de física, tenho que me manter focada.

— Mas justamente! — Ela fala revoltada e me lança um olhar de reprovação enquanto levanta seu dedo indicador, o balançando de um lado para o outro. — Nem me venha com essa de amarelar. Seja mulher!

Eu não consigo me controlar e acabo dando risada, porém a expressão severa da minha amiga continua a mesma, o que começa a me dar um pouco de medo.

— Tudo bem — digo respirando fundo. — Mas o que eu tenho que fazer?

Ela bate palmas e um sorriso enorme abre em seu rosto, me deixando com ainda mais medo do que quando ela estava brava. Realmente às vezes me pergunto por que eu gosto tanto da Bea, ela sempre me deixa com medo, até mais do que meus próprios pais.

— Primeiro, vá tomar um banho. Eu vou escolher aqui seu melhor perfume. Se você quer conquistar o menino tem que parar de usar colônia de supermercado para ir para a escola...

— Você está dizendo que sou fedida? — Pergunto, me sentindo altamente ofendida.

— Não, fedida não. Mas também é necessário usar uma coisa diferente. Algo mais sofisticado.

— Ah, pois você saiba que o Bernardo já me elogiou pelo meu perfume — digo convencida e cruzo meus braços, claramente na autodefesa.

— Então vamos fazê-lo elogiar e não conseguir parar de pensar no seu perfume — ela sorri ironicamente e então começa a mexer em alguns dos meus produtos que tem no guarda roupa. — Cadê as maquiagens?

— Eu não uso — respondo.

Na mesma hora me sinto fuzilada pelo olhar embasbacado da minha amiga e sua boca se abre instantaneamente em um perfeito "O".

— Você não pode usar a minha, pelo menos não a base, corretivo e etc., nossos tons são BEM diferentes — ela enfatiza como se isso fosse algo necessário. Antes de entrarmos no ensino médio nosso nada criativo apelido costumava ser "dupla café com leite".

— Minha mãe tem maquiagens — digo baixinho, sem nem saber direito porque estou contribuindo para isso tudo.

Na verdade, eu sei sim. É claro que eu quero muito conquistar o Bernardo. E tudo bem que não sei direito se é a melhor ideia do mundo simplesmente fazer um plano para isso. Talvez eu devesse apenas deixar as coisas acontecerem.

Mas levando em conta que eu simplesmente implantei a ideia de que namoro é o maior erro juvenil na cabeça do garoto, as coisas se complicaram mais do que o natural. Ou seja, eu preciso de uma ajuda extra.

— Ótimo! — A Bea diz animada e eu tento sorrir, o que é uma ação bem falha levando em conta que por dentro eu não estou tão confiante com o plano todo.

A todo o momento a ideia de "isso é loucura", "você deveria estar se focando em outras coisas" e "você não deveria estar apaixonada" está sondando a minha cabeça como uma nuvem escura, me deixando levemente sufocada.