Décimo terceiro

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- Você está mais estranha que o normal – a Bea fala enquanto eu mastigo silenciosamente minha coxinha.

Depois de ontem eu não tive mais ânimo para continuar com o plano, não por hoje pelo menos. Então voltei ao meu normal: cabelos perfeitamente amarrados em um rabo de cavalo, rosto somente com protetor solar, perfume barato de supermercado e minha coxinha em mãos, novamente. Achei que isso me deixaria mais feliz, porém não foi o que aconteceu.

- Eu estou normal, apenas nervosa com a prova – minto. É claro que estou nervosa para a prova, mas esse não é o motivo real de eu estar quieta, mais que o costume. E se eu revelasse  isso agora para ela, tenho certeza que eu iria ter que fazer a prova com vários arranhões no corpo e um olho roxo.

- Mas você é tão inteligente, Mari, vai se sair bem, eu tenho certeza – a Luana fala, sorrindo alegremente.

A Beatrice a fuzila com os olhos e vejo seu rosto começar a ganhar expressões de verdadeira fúria, porém quando a Luana desvia o olhar para ela, a Bea simplesmente finge um sorriso amarelo, embora por dentro eu saiba que o maior desejo dela é revirar os olhos e mandar a Luana catar coquinho.

A Bea é a pessoa mais anti elogios do mundo inteiro. E acha que todo mundo que tece muitos elogios aos outros é simplesmente um puxa saco. Por isso que para as pessoas de fora ela parece ser uma megera, mas acaba que quando você é amiga dela, ela torna você a pessoa mais importante do mundo, e isso compensa qualquer comentário ácido que possa vir a partir de então.

- E como foi ontem? – Ela me pergunta, já não se aguentando de tanta curiosidade. Eu disse que lhe contaria tudo, mas somente à tarde, quando ela fosse lá para casa. – E a música?

Meu coração dá dois pulos. A música!!! Com tudo que aconteceu ontem, eu acabei me esquecendo de ouvir a música. Sinto um nervosismo começar a corroer meu estômago, eu preciso ouvir a música...

No mesmo momento em que lanço minha mão no bolso, não sinto o celular e então me lembro que o deixei dentro da mochila. Desde ontem a tarde eu também não tive saco nem para ligar a internet, falei com a Bea pelo Facebook, quando liguei o notebook, e foi isso. Acabou que eu tinha me esquecido completamente da música.

- Ai que droga, essas aulas passam se arrastando, mas o intervalo sempre acaba em um piscar de olhos – a Luana reclama, me tirando do transe quando o sinal toca.

- Eu não ouvi a música... – digo baixinho, e no mesmo momento a Bea faz uma cara de perplexa, enquanto a Luana não faz nem ideia do que estamos falando. 

- Fica tranquila, Mari, não foi nada demais, faz a prova e depois você ouve – a Bea diz sorrindo calmamente e eu me sinto a ponto de ter uma crise nervosa.

Obviamente esse conselho da minha amiga não vai adiantar de nada, mas reclamar agora também não vai, então apenas fico quieta, algo que estou sabendo fazer muito bem hoje.

- Senhorita Mariana, você não tem uma prova de recuperação para fazer agora? – A Silvia fala parando ao meu lado, novamente segurando várias folhas. Vejo que os alunos já começaram a sumir do pátio e os corredores da escola começam a se amontoar de adolescentes rindo e falando alto.

- Sim – digo, me contendo para não ser sarcástica. Nesses momentos eu gostaria de ter a ousadia da Bea, que estava ao meu lado revirando os olhos.

- Algum problema, senhorita Beatriz? – A Silvia desvia sua atenção de mim para minha amiga.

- BeatriCE – a Bea fala, sorrindo ironicamente. – E não é nada, apenas um cisco no olho, sabe como é...

A professora respira profundamente e me manda para a biblioteca, onde a recuperação vai ser aplicada pela Rosângela, a secretária da escola, enquanto ela dá aula normalmente para a minha turma.

Enquanto caminho pelo corredor, eu sinto meu coração disparar. O silêncio domina a escola, já que todos os alunos voltaram para as salas, e isso faz com que eu me ainda mais sinta nervosa.

Não nervosa pela prova, coisa que eu deveria de fato estar preocupada. Mas tudo que eu consigo pensar agora é somente na cena de ontem, minha e do Bernardo, em como eu o afastei. Eu estava começando a caminhar, a me mostrar uma pessoa mais aberta a relacionamentos - isso segundo a Bea, claro -, e agora eu retrocedi tudo e me mostrei ser a louca do planejamento, a louca do anti namoro antes dos 20 anos, a louca do só quero pensar em mim e meu futuro, pois é tudo isso que importa.

E quanto mais eu penso nisso, mais eu sinto vontade de simplesmente fazer minha mão ter um encontro de impacto com meu rosto, porque só sendo muito idiota mesmo para fazer uma autossabotagem dessas.

Depois daquele momento constrangedor, acabamos conversando sobre outras coisas, ele me contou sobre como estava indeciso na faculdade e pensando em fazer Educação Física ou então Fisioterapia. Depois me falou sobre sua mãe, e então fomos comer um pedaço de bolo de chocolate, que obviamente havia sido comprado na padaria.

Mas é claro que o clima pesou, e dessa vez nos despedimos apenas com um aceno de cabeça e a mão dando um "tchau", pela primeira vez ele não me deu um abraço e bagunçou meu cabelo. E por mais que eu achasse sempre essa última parte extremamente irritante, senti falta. Porque, quando a gente gosta de verdade de alguém, até aquilo que a a outra pessoa faz e é chato, se torna necessário.

- Psiu – ouço enquanto estou entrando na Biblioteca, tento localizar o engraçadinho e então vejo um par de olhos azuis entre as prateleiras.

Meu coração palpita rapidamente. Olho, nervosa, para alguns colegas que estão sentados nas mesas logo à frente e então vou até o Bernardo.

- Você deveria já estar na sala de aula – digo baixinho para que ninguém me escute.

- Desculpa por ontem – o Bê diz e seus olhos demonstram tristeza, o que corta meu coração.

- Não tem pelo que se desculpar, Bê... – digo.

- Claro que tem. Eu fui agressivo. Conheço você há tantos anos, eu já deveria ter me acostumado com o fato de você ser tão diferente, querer as coisas com tanto entusiasmo. O jeito que falei parecia que eu estava repreendendo. Não é isso.

- Obrigada. – Sorrio e ele sorri de novo, claramente aliviado.

- Eu ia falar depois, mas mal consegui me concentrar na aula pensando nisso, e eu sei que você é a menina mais focada que tem e nem deve se esquentar assim, mas queria te falar antes de ir para a prova, especialmente para te desejar também uma boa prova. Você vai se sair bem,  você é a melhor nessa escola – ele sorri e antes que eu possa dizer qualquer coisa, me abraça apertado, me fazendo perder todo o ar de dentro do pulmão.

Ele sai sem que eu consiga lhe responder e sequer dizer um 'obrigada', mas logo em seguida a Rosa chega, carregando em seus braços 5 avaliações de recuperação. Sento na quinta mesa disponível na biblioteca e então pego meu estojo. Desde o momento em que eu recebo a prova até o em que entrego, não consigo tirar um sorriso bobo do rosto.

***

Quem mais está com um "awnnnn" na cabeça? Por que eu escrevi o restante desse capitulo bem assim hahaha. Vocês estão shippando Mari e Bê? Quero ajuda em pensar o apelido de casal deles. Ah, e será que agora rola? Quais as teorias?

Como conquistar seu coraçãoWhere stories live. Discover now