A Caverna

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Escuro. Escuro. E mais escuro.
Quanto mais eu caminhava, mais ficava nervosa. Só foi necessário alguns passos para a claridade da caverna se extinguir. Andei por alguns minutos, pelo mais completo silêncio, exceto por alguns barulhos de pedras pequenas caindo pelas paredes algumas vezes, o que não me tranquilizou mais. Por que? Me digam o por que dos semideuses serem "alérgicos" aos celulares? Por que os monstros não nos deixavam em paz por um dia sequer? E por que, em nome do raio mestre de Zeus, eu havia esquecido minha lanterna no acampamento meio-sangue? Por que, em nome do capacete de Hades? Eu poderia ser atacada ali a qualquer momento.

Até agora tudo estava ótimo, eu estava representando bem os filhos de Atena: caminhando desprotegida para a morte. Mais alguns minutos e eu cheguei em uma parte da caverna em que podia-se ver algum vislumbre das coisas. Senti estar sendo observada. Comecei a caminhar devagar, os barulhos nas paredes pareceram aumentar. Reduzi os passos, até parar. Tudo ficou igualmente em silêncio, quieto.

Então, um barulho mais alto soou, como se algo estivesse rasgando. Virei a tempo de ver uma teia quase me envolver viva. Desviei e já puxei a adaga da cintura, me defendendo de uma aranha que tinha o tamanho da cadeira de rodas de Quíron. A cortei ao meio e imediatamente ouvi gritos horripilantes de monstros. Observei melhor a caverna e pude perceber a quantidade de aranhas enormes (Do tamanho de uma caixa de microondas) surgindo.

Tive que me controlar, quase insuportavelmente, para não gritar ou sair correndo e chorando dali. Só sei que fiquei paralisada, nervosa e tremia mais do que um brasileiro nordestino e sem camisa no Alaska.

Fiquei alguns segundos tentando pensar em como iria derrotar dezenas de aranhas grandes e raivosas pela morte da sua irmã, até que fui interrompida dos meus pensamentos.

- Olá, filha de Atena.

Pulei imediatamente, saindo do transe e me virei lentamente, esperando estar totalmente errada e que eu tivesse escutado mal o timbre daquela voz.

Logo encontrei aqueles olhos vermelhos, a mãe de todas as aranhas e, então, respirei fundo. Não falei nada, pois não encontrava a minha própria voz.

- Meus filhos estão com fome e você acabou de matar um deles. - Disse Aracne, por fim. - Além do mais, uma criança da minha maior inimiga é um prato imperdível.

Ela não parecia ofendida pela morte de uma das aranhas. Ótima mãe. Engoli em seco e tentei me recuperar.

- Na verdade... - Falei, tentando me lembrar de respirar. - Você tem algo que pertence à minha mãe. E é por isso que estou aqui.

- Ah! - Aracne riu com prazer. Tentei me concentrar na conversa e não na quantidade de aranhas que se encontravam ali e na dificuldade de enxergar as coisas naquele lugar. - A estátua de Atena. Que piada... Muitos dos seus irmãos tentaram, mas todos tiveram o mesmo futuro.

Seus olhos amedrontadores olharam para cima, como se me guiasse a olhar.

De início, não consegui enxergar o que era, até meus olhos se acostumarem. Então, logo percebi vários ossos, de todas as partes do corpo, pairando ali, pendurados e enrolados em teias. Respirei fundo. Olhei para ela atentamente, então percebi, longe da luz, a estátua de aparentementee 12 metros.

- Dessa vez vou ter que levá-la. É muito importante. - Falei, apontando para atrás dela.

Percebi as aranhas me cercando, se eu fizesse qualquer movimento suspeito seria mais um jantar das queridinhas filhas de Aracne.

"Pense, Annabeth! Seus irmãos devem ter usado a força bruta, se assustado com tremendas aranhas, perdido os jogos de Aracne..."

"É isso! Jogos!" - Pensei - "Sou uma filha de Atena, então devo usar a cabeça." Observei o local: Aranhas, teias e quadros tecidos com teias... "Quadros tecidos!"

- Aracne... - Eu disse - Agora, estou recordando o porquê da sua rivalidade com minha mãe. A competição de tecer... Você se achava a melhor bordadora do mundo.

As risadas de Aracne não voltaram a aparecer.

- Me achava? Eu era a melhor!!! Agora estou aqui! Por culpa da sua maldita mãe! Uma aranha asquerosa tecendo com fios de teias.

- Você? A melhor tecedeira? Faça-me um favor! - Falei, provocando-a.

Percebi algumas aranhas se aproximando. Decidi me apressar, antes que eu perdesse a confiança e a cabeça... Literalmente.

- Então, Aracne? Dessa vez não vim lutar. Quero lhe propor um desafio.

Me Apaixonando Outra VezOnde as histórias ganham vida. Descobre agora