Capitulo 12

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Novembro chegou com uma rapidez brutal e com ele trouxe o frio, que embora fosse um convidado esperado, não era bem-vindo, pelo menos para a maioria das pessoas. Para mim o frio fazia-me cheirar o aconchego da minha casa, a lareira acesa, um bom livro e uma banda sonora, adequada ao momento e ao estado de espírito.

Terminei de enviar um e-mail, com uma tradução que me tinha caído de pára-quedas e com um prazo limite demasiado curto, para o meu gosto. Mas como o dinheiro não caia do céu, e como recusar trabalho cria um mau antecedente, aceitei-a. O que me tinha valido poucas horas de sono durante duas semanas e uma directa para terminar.

Espreguicei-me e olhei para o relógio para ver as horas. Ainda havia tempo, Susy era suposto chegar perto das nove horas.

Nas últimas três semanas, pouco ou nada tínhamos falado, parte da culpa por causa da gripe que nos assolou às duas, e depois pelo aparecimento da tradução. Foram duas semanas de quase puro isolamento, com David entre idas e vindas a Lisboa, para acompanhar a mãe, cuja saúde não mostrava melhoras. Só o vi uma vez, mas a meu favor, todos os dias eu enviava-lhe uma mensagem para saber a evolução do caso. A única variável não esperada, nesta minha semi - reclusão, foi o facto de Gio me enviar mensagens via facebook, ou via telemóvel.

Se de inicio, reagi da forma esperada, com aquele mau feitio que ele, tinha a capacidade de libertar em mim. Depressa se tornou um escape, devido ao ritmo que eu tinha imprimido no trabalho. Não posso dizer que nos tínhamos tornado os melhores amigos, ou mesmo amigos, nunca tocamos em nenhum assunto pessoal, dizíamos disparates. Tornou-se um hábito, um hábito que eu sem perceber já ansiava.

Abri o facebook, para ver se tinha alguma mensagem dele…nada.

Tinha-me deixado a falar sozinha na noite anterior. Reli a conversa, na esperança de tentar perceber se tinha dito algo, que o pudesse ter ofendido. Mas com Gio, sendo Gio e agindo como Gio, até a mais pequena coisa poderia fazer diferença. Não vi nada de mal, apenas o tinha comparado com o Michael Fassbender, e tinha elogiado os seus olhos.

O relógio bateu as oito horas e Eros sobressaltou-se. Deu um pulo da cama, como se tivesse ouvido o despertador e estivesse atrasado para algo, como um emprego. Começou a andar à minha volta, como um doido (o que de facto era) e começou a dar-me com o focinho nas pernas, que na sua linguagem era um: “Levanta-te pá!

- Calma Eros! É rua que queres? – Perguntei.

Eros em resposta, encaminhou-se para a cozinha, em vez da porta da rua. Comecei a ouvir o prato dele a ser empurrado com mais veemência do que era necessário.

- Calma “homem”! – Falei – Já te dou o pequeno – almoço.

E assim o dia tinha oficialmente começado. Comida ao Eros. Café a fazer. Banho. Esperar pela Susi.

- Bom dia alegria! – Disse a Susi com um sorriso nos lábios e com a ponta do nariz vermelha do frio.

Só me dei conta que a sua barriga tinha crescido, quando ela tirou o casaco e me deu um abraço de urso.

- Ai! Cuidado! Estás a apertar-me! – Gemi. – Tem cuidado com a barriga.

- Cala-te! – Resmungou sem me largar. – É tão bom ver-te! Tinha saudades.

A forma como a Susi verbalizava quase sempre os seus sentimentos desarmava-me, não porque eu não o fosse capaz de fazer, mas para ela saia sem esforço e com uma naturalidade suave.

Afastei-me como pude para olhar bem para ela. Sorri. A gravidez estava a fazer-lhe bem, estava mais bonita, airosa.

- Estás tão linda, Susi! Já se nota tão bem. – Passei-lhe a mão pela barriga muito a medo e muito ao de leve, sem ter a noção se a poderia magoar.

Quando te vi, Amor. - Capítulos apenas para degustaçãoWhere stories live. Discover now