Capitulo 3

4.6K 471 64
                                    

Almoçámos juntas e a meio da tarde a Susi foi embora. Eu fiquei agarrada a umas traduções e quando dei por mim era hora de dormir.

Dormi até tarde no dia seguinte, e quando digo tarde falo, tipo umas oito da manhã. Só nessa hora é que o Eros se lembrou de dar um ar de sua graça e arrancar-me à força da minha inércia matinal.

Percebi o porquê de ele me ter dado essas duas horinhas de descanso quando cheguei à cozinha. Por esquecimento no dia anterior tinha-me esquecido de colocar o lixo na rua, a par disto o cesto da roupa suja também ficou na cozinha. Acontece que lixo, roupa suja e o meu cão não são uma boa equação. Estava tudo num caos. Roupa no meio do lixo e lixo no meio da roupa.

Olhei para trás de mim e lá estava ele, escondido debaixo da mesa.

- Foda-se Eros! Que merda é esta. Irra!

Começar o dia aos gritos não é nada bom, a má energia tem tendência para ficar ao longo do dia e céus eu não me apetecia nada gritar, ao ver aquela bagunça a minha primeira reacção foi voltar a correr para a minha cama e pensar nisto tudo depois.

Dei-lhe um olhar furibundo, que ele percebeu, porque apesar de tudo o meu animal até é inteligente, abri-lhe a porta da rua, ele saiu com o rabo entre as pernas e pernas para que te quero.

Deitei mãos à obra e só consegui parar à hora de almoço, o telemóvel tocou toda a manhã, mas eu estava sem pachorra para ver quem era ou para retornar as mensagens. Estranhei o meu rico cão não ter aparecido, mas ele deve ter calculado que era melhor não impor a sua presença.

Quando já tudo estava limpo, esfregado, roupa estendida, dei-me a um prazer fumar um cigarro, ou melhor dois cigarros, atirar-me para o sofá e beber um belo copo de vinho. Liguei o ipod e derreti-me ao som do Black, na voz maravilhosa do Eddie.

Ouvi um carro chegar, e o meu Eros a ladrar “ hum afinal tem estado lá fora” pensei.

O Eros continuou a ladrar, agora furiosamente. Quem estivesse lá fora, com certeza não era da “casa”.

Deixei-me estar imóvel, na esperança vã, que quem quer que fosse, eventualmente desistisse e fosse à sua vida. As vozes misturam-se com o ladrar do meu cão, até que a buzina do carro tocou. Tentei não ligar, juro que tentei não ligar à segunda. Mas a alminha que estava lá fora, não desistiu, e decidiu colar a mão à buzina e Cristo o barulho era de enlouquecer.

Danada, mas mesmo muito danada, levantei-me do sofá num ápice, bati os pés até á porta e abri-a de rompante.

O meu cão corria furiosamente e ladrava à volta de um Jeep, com dois homens lá dentro. Conseguia ver perfeitamente a cara do condutor, mas a do pendura não. Devia estar com uma cara muito má, porque o condutor deu-me um olhar envergonhado e de quem pedia desculpas.

- Eros pára! – Disse! – Aqui! Senta! – Este cão era o meu orgulho. Fazia disparates quando ninguém estava por perto, mas ao pressentir uma pessoa fora do nosso círculo, fazia sempre o que eu mandava.

Eros sentou-se no alpendre, e eu dirigi-me ao carro.

- Já é seguro sair? – Perguntou o condutor a medo.

- Depende. – Informei tentando fazer uma cara de má. – Depende de quem são e o que querem.

- Nós somos…

O condutor foi interrompido por um pigarrear, olhou para o seu pendura, e este inclinou-se para a frente de forma a que ficasse visível e disse:

- Ora, ora Sra. Lexie, não me parece que esteja a fazer jus à hospitalidade transmontana. Somos os seus vizinhos. Agora podemos sair do carro em segurança? – Interrogou exasperado o pendura, com uma voz rouca, um sotaque ligeiramente doce.

Quando te vi, Amor. - Capítulos apenas para degustaçãoWhere stories live. Discover now