Capitulo 5

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- Já vais? Que horas são? – Resmunguei eu ainda ensonada, para um David quase vestido e com um ar feliz. – Tenho tanta raiva tua…como é que tu consegues acordar a rir…por favor, diz me que estás assim porque facturaste esta noite?

Ele deu uma gargalhada, atrapalhando-se a vestir a camisola, cambaleou e bateu na cómoda, derrubando tudo o que lá estava, eu ri.

- Fodasse! – Disse ele. – A culpa é tua, e és tu quem vai arrumar isto, porque eu já estou atrasado. Mas gosto de te ver com algum humor matinal, e saber que tenho alguma coisa a ver com isso!

- Gaba-te…Diz lá que horas são?

- 7h30…

- Fogo – Disse eu chutando os lençóis – Estou atrasada.

Antes que eu me pudesse levantar, David agarrou-me, deu-me um beijo suave nos lábios, e disse:

- Eu tenho de ir.

Sorri., e ele continuou:

- Ligo-te para a semana, ou coisa assim? – Perguntou meio a medo.

- Ou coisa assim. – Dei-lhe o meu melhor sorriso. – Estou mesmo muito atrasada, David.

- Também eu. – Levantando-se da cama caminhou para porta, deixou fugir um suspiro, olhou para trás e soprou-me um beijo. E saiu!

Ouvi-o descer as escadas e o Eros a fazer-lhe a festa matinal, despi-me e meti-me no duche, não dando tempo de a água aquecer o suficiente, mandei um berro suficiente grande, para me entrar um Eros assustado, e pronto para poder salvar a sua dona.

“ Nota mental: Comprar amaciador”. Pensei.

Nunca percebi porque é que o David, cada vez que ficava cá, usava o meu condicionador, e quando eu digo que usava, gastava mesmo muito. Perguntei-lhe uma vez, porque é que uma pessoa que corta o cabelo pente um, precisava de condicionador, a resposta dele foi: “Para o cabelo cheirar melhor!”. Para uma resposta destas, nunca me dei ao trabalho de arranjar um argumento válido.

Vou acrescentando mentalmente mais uns itens, na lista de compras. Saio do duche, enrolando-me no meu robe turco. Abro a porta da casa – de - banho e na penumbra do meu quarto, vejo um vulto sentado na minha cama de fronte para a janela.

- Mas que raios? – Grito!

Conforme eu grito, Susi também grita e quando damos conta estamos as duas aos berros, sem perceber como.

- Cristo Lexie, quase me matas do coração. Assustaste-me.

- Tu também me assustaste. Saio do banho e vejo um vulto na minha cama. Pregaste-me um cagaço.

- Oh, quando estava a chegar, estava o David a sair, entrei. Ouvi o chuveiro e resolvi ficar aqui. Esta vista é maravilhosa. – Disse ela dando de ombros. – Ah! Cantas mal à brava!

- Sim, sim coração. Está tudo bem? – Perguntei.

- Está! O David passou cá a noite?

- Sim, passou. – Disse eu começando a vestir-me. – Já bebeste café?

- Já não bebo café. – Ela disse, movendo a mão de forma a fazer um círculo, na barriga. – Agora só chás. Mas como eu sinto saudades de um café. – Fez beicinho.

- Podias ir fazendo cafezinho para mim, um chazinho para ti, enquanto eu acabo de me arranjar. – Digo-lhe pestanejando muito. – Eu ainda tenho de ir passear o Eros e daqui pouco o Miguel aparece.

- Passear Eros?

- Claro! Tenho de lhe ensinar, que não deve cagar à porta do vizinho.

- Achas que ele vai aprender?

- Acho que não! – Torci o nariz. – Mas espero que sim. Uma pessoa sonha e tem a esperança.

- Vou fazer o café.

Assenti.

Tomámos o pequeno – almoço, falamos do assunto do momento: os vizinhos. Contei-lhe tudo de novo e voltei a contar. Tentei-lhe explicar que não sabia mais do que já tinha contado. Fomos interrompidas pelo telefone com uma mensagem.

- Olha, ainda não é hoje que vais conhecer o Miguel. Acabou de dizer que não vai poder ir. – Disse eu, digitando uma resposta rápida.

- Oh! – Disse ela desapontada. – Esperava saber mais coisas. Tipo se existe ou não um velho. Se eles são um casal, ou não.

- D.Olinda Junior, a Sra. está a ficar… faltam-me as palavras. – Respondi eu, colocando a trela ao meu querido cão.

- Jura que vais por isso ao animal? Ele está habituado a andar à vontade.

O passeio não correu nada bem inicialmente, fui arrastada várias vezes por aquela massa de 35 quilos, deixando a Susi para trás. Até que nos afastámos o que me parecia ser o suficiente para soltá-lo. Estava sentada num tronco, á beira do “lago”, quando a Susi chegou.

- Meu Deus, vais ter de fazer isto todas as manhãs? Eu quase juro que, por duas vezes tu voaste. – Ela estava ofegante.

- Estás bem?

- Estou. Então o David ficou contigo?

Já tinha pensado quando é que ela ia puxar novamente, o assunto do David. Ela gostava dele, segundo ela, ele era óptima pessoa, iria ser um bom pai, um bom marido, mas não era para mim.

- Ficou. Apareceu ao final da tarde. Estava preocupado comigo, porque eu não atendi o telefone, trouxe jantar e… bem, o resto podes adivinhar.

- Tu sabes que a bolha um dia estoira, não sabes?

- Que bolha Su?

- Ele está apaixonado por ti, tu não lhe ligas nenhuma.

- Oh não sejas parva. Ele não está apaixonado por mim, e eu ligo-lhe, eu até gosto dele.

- Lexie, não te faças de parva. Isso não é vida, nem para ele, nem para ti. Um de vocês vai-se magoar. E o facto de tu estares tão confortável, significa que vai ser ele. Acaba com isso. – Disse ela. – Sei que achas que ele está seguro com o que vocês têm, mas não está. Eu acho que ele só está fingir.

- Agora quem está a ser parvinha és tu. Ele sabe que não vamos ser mais que isto.

- E o que é isto Lexie? É só uma foda? Consegues ser assim tão fria?

- Como? - Disse eu com um ar estupefacto

- Sim, fria. Amiga, eu não sei nada do que te aconteceu no passado. Não sei se te magoaram, não sei se já és assim de nascença. Mas se gostas um pouco dele, acaba com isso.

- Eu… eu …

Ela fez um gesto com a mão, para que eu me calasse, ajeitou o gorro que tinha e disse:

- Não vale a pena falarmos mais nisto, pensa só no que eu disse. - Deu-me um sorriso gigantesco de mudando de assunto. – Então vamos comprar preservativos hoje?

- Claro que sim. Se o meu vizinho diz que lhe falta, eu vou-lhos dar. Longe de mim estragar a vida sexual dele. E assim damos mais um motivo, para o pessoal da agência de informação Olinda, falar.

Se eu pensava que Eros me deixaria leva-lo para casa de uma forma fácil, enganei-me. Quinze minutos para lhe colocar a trela novamente, dois ou três voos, uma queda em que me espalhei ao comprido na terra molhada a cinco metros de casa, foram o suficiente para pensar se a minha vida não iria ser mais fácil. Estava tentada, muito tentada a deixá-lo continuar a sua rotina antiga, em vez de lhe tentar impingir uma nova. Eles que limpassem a entrada.

A D. Olinda estava como sempre, a farmacêutica que me vendeu os preservativos, ficou feliz pela minha compra, suspeito que por ser dona e senhora de uma cusquice com a marca da sua loja. A Susi não ficou para almoçar comigo, o Pedro estava de folga.

Quando te vi, Amor. - Capítulos apenas para degustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora