Capitulo 6

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Decidi que não valia a pena levar o carro, para fazer a distância que separava a minha casa da deles.

Licenciei-me em Finanças e Economia na Universidade de Columbia, um MBA em capitais de risco, e antes de mesmo de acabar o curso já estava a ser recrutada para trabalhar num banco de investimentos. Planejei antecipadamente o que iria dizer quando lá chegasse, estudando todas as possíveis respostas. Estudei movimentos que iria fazer, como colocar as mãos, o sorriso, em caso de ser necessário um, que eu iria dar.

Mas a vida ensina-nos sempre que por mais que nós nos preparemos, por mais que nós tentemos abranger todas as questões, basta apenas uma pequena ligeira circunstância para mudar tudo.

Por um motivo que eu não percebi, demorei mais tempo que o normal a escolher a roupa. Não é que eu tivesse muito para escolher, actualmente o meu guarda-roupa era formado por jeans com fartura, muitas malhas, botas de caminhada, ténis. Mas sei que mudei de roupa, umas quatro vezes. Depois foi a vez do cabelo, para cima, para baixo, trança, sem trança, solto.

Quando terminei gostei do que vi. Os meus olhos castanhos, quase pretos, ligeiramente maquilhados, lábios também (nunca gostei muito deles, parece que foram preenchidos com Ácido Hialorónico), cabelo solto e com uma boina. Jeans pretos, malha preta e botas pretas. Ok! Parecia que ia para um funeral, mas o preto nunca nos deixa mal.

Fiz os quinhentos metros que nos separavam, com ansiedade de quem é chamada ao gabinete do director da escola. Com aquele formigueiro na barriga, as mãos ligeiramente transpiradas. Fiquei parada á frente da casa a respirar como se o oxigénio fosse um calmante.

- Lexie. – Chamou o Miguel, que vinha a sair da porta.

Ouvia-se uma música de fundo proveniente da casa.

- Oi Miguel. – Respondi

- Desculpa lá, aquilo hoje manhã. – Disse ele dirigindo-se para o carro.

- Sem stress. Recebeste a minha mensagem?

- Sim. Está tudo bem? Precisas de alguma coisa? – Disse ele passando a mão pelo cabelo e torcendo o nariz.

- Vais sair? – Perguntei eu a ficar assustada. Um confronto com o senhor antipático a sós, não estava de facto nos meus planos. Primeira circunstancia alterada.

- Vou. Tenho de ir fazer as compras que não fiz hoje de manhã. Mas não me respondeste, precisas de alguma coisa? Ou só estavas de passagem? – Disse ele abrindo a porta do carro.

Ia a abrir a boca, quando reparei numa figura à janela. Engasguei-me mentalmente.

“ Factor surpresa também já foi.” Pensei, e comecei a pensar que talvez aquilo não tivesse sido grande ideia. Vi o Miguel a abrir e a fechar a boca, como se estivesse a falar. Ele estava mesmo a falar.

- Desculpa, não percebi.

- Não percebeste se precisas de alguma coisa, ou se estás de passagem? – disse ele com um ar estupefacto.

- Desculpa. – Disse. – Distrai-me! Vim só para entregar uma coisa ao Sr Polli. – Informei apontando para o saco que tinha mão.

- Ah! Ok! Entra então, não vale a pena eu voltar atrás. – Disse ele saltando para o carro.

- Mas tu não vais lá dentro comigo, anunciar-me, ou coisa assim? - Com os nervos comecei a fazer buracos pequeninos no saco.

- Anunciar-te? – Disse ele dando uma sonora gargalhada. – Estás em que século? Podes entrar, ele não morde.

- Por alguma razão, acho que estás enganado. – Murmurei.

- Vai lá Lexie – pôs o carro a trabalhar. – Amanhã ligo-te, para bebermos café. Ah! E já te enviei o pedido de amizade para o facebook. – Partiu.

Quando te vi, Amor. - Capítulos apenas para degustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora