Prólogo

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 2008

Sentia-se presa num emaranhado de membros… Calor! Muito calor!

Abriu os olhos sobressaltada com um martelar constante. Ficou com a sensação que já o ouvia nos seus sonhos, Mas ela não sonhava. Sorriu ao pensar nisso. Ficou durante um tempo, que não conseguiu definir a olhar para o tecto, a tentar imaginar o faria se ele alguma vez caísse.

A luz entrava por uma fresta do cortinado, demasiado pequena para que se pudesse ver o que estava 

em seu redor.

O martelar ganhou mais força e tornou-se ainda mais audível, o som da campainha juntou-se. Uma orquestra desafinada.

Martelar…campainha…martelar…campainha… sem compasso e sem ritmo.

Algo se mexeu no seu lado direito, assustou-se e olhou. Havia apenas um vulto, tocou relutantemente ao de leve e a sensação de um corpo nu, não lhe trouxe qualquer conforto.

Martelar…campainha…vozes.

- Lexie! Sei que estás ai! Abre já a merda da porta. – O tom da voz era grave, urgente.

Silêncio!

Martelar…martelar…martelar.

A voz grave do homem era-lhe estranhamente familiar. Não conseguia recordar-se onde a tinha ouvido, mas recordava-lhe alguém, alguém com quem ela já não tinha contacto. Lembrar-se de onde a reconhecia, exigia trabalho e alguma preocupação, duas coisas que ela não queria.

Passou por cima do corpo que jazia ao seu lado e saiu da cama. Apanhou uma t-shirt que estava no chão, vestiu-a para cobrir a sua nudez total. Fez o caminho para a porta cambaleando mais do que esperava, derrubando algumas garrafas vazias.

Passou pelo espelho e virou a cara.

“Já não se via ao espelho.” Lembrou-se.

O martelar atingiu o seu auge quando ela se aproximou da porta. As vozes continuavam num murmúrio, como se se estivessem a esconder, o que ela achou ridículo, porque até há uns segundos atrás o homem chamava por ela.

Segurou a porta, inspirou, abriu o trinco sem se preocupar minimamente se conhecia ou não as pessoas que estavam do outro lado.

Ainda a porta não tinha aberto por completo, já ele tinha entrado. A primeira coisa que ele reparou foi nela.

O cabelo sem brilho, emaranhado à volta de um elástico e a necessitar de água urgentemente. O seu rosto era apenas uma pálida lembrança, do que tinha sido há meses atrás. Olheiras profundas, pele macilenta, as maçãs do rosto demasiado salientes e sem alegria nenhuma. A t-shirt da Columbia University, bailava no seu corpo, estava cheia de manchas, nódoas. Ele ainda se lembrava daquela t-shirt lhe ficar justa ao corpo, mostrando as suas formas.

Olhou em redor e deu-se conta do cheiro. Caixas de pizza espalhadas, embalagens de gelado, comida chinesa e garrafas, muitas garrafas. Garrafas de Jack Daniels, de cerveja, de vodka.

Os seus olhos pararam na mesa. Um espelho encontrava-se em cima dela, como um objecto solitário, no meio de tanta desarrumação a mesa estava imaculada. No espelho ainda se viam vestígios de um pó branco, um canudo feito de um papel qualquer e uma série de sacos de plástico em redor.

Ela estava parada, encostada à parede e de braços cruzados a olhar para as duas pessoas que tinham invadido a sua casa…Apática era assim que ela estava.

Ouviu-se um soluço abafado. Ele olhou para a sua companheira de visita, ela estava com um olhar horrorizado diante do cenário, lágrimas escorriam-lhe pela face.

Quando te vi, Amor. - Capítulos apenas para degustaçãoWhere stories live. Discover now