Só Você Pode Me Fazer Mal

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Uma música sobre morte tocava quando Hope Christine Johnson entrou pela porta do ginásio da escola

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Uma música sobre morte tocava quando Hope Christine Johnson entrou pela porta do ginásio da escola. Ela achou aquilo triunfal, quase épico; uma piada interna que só ela e Deus — ou o Diabo — entenderiam.

— Hope, você não pode beber, mas vou arrumar refrigerante para você! — garantiu Brooke, que já queria uma rodada de vodka.

Ela sabia da medicação de Johnson e falava como se fosse uma grande pena, mas Hope não ligava. Odiava álcool. Contar para Brooke que tomava antidepressivos acabou sendo uma das melhores ideias que ela já teve, e mesmo depois de ter jogado todos os fracos fora continuou dizendo que ainda estava naquela condição. Daquele jeito, não era pressionada a beber, e também não se sentia culpada por ter deixado o tratamento. Sabia que era errado, mas não queria melhorar. Tomar comprimidos com qualquer intuito além do de morrer era uma grande hipocrisia — ou pelo menos deveria ser. Às vezes Hope se arrependia de ter se livrado dos remédios, pensando que poderia ter tentado um pouco mais. Era uma pena que agora fosse tarde. Em momentos como aquele, no baile, ela mudava de ideia sobre querer morrer, porque de repente a música e os seus amigos tornavam as coisas melhores.

Não é assim que funciona. Você não pode ligar e desligar o botão da morte, querida. Sem tratamento, sem vida para a Hope. É como querer comer doce antes da janta. Você precisa fazer por merecer.

Mas...

Aquele era o demônio? Ou era um pensamento de Hope? Ela já não conseguia mais saber. Depois de um tempo as provocações dele e os momentos de auto sabotagem dela começaram a se misturar dentro de sua mente. Era difícil de separar.

Barth e Brooke saíram para a mesa de bebidas, e Hope ficou ali. O ambiente escuro e as luzes em tons de vermelho e azul trouxeram à tona o pensamento de que ela era uma estranha. Todo o glamour de quando estava no quarto de Brooke, rindo com os amigos, sumiu, e sem uma música conhecida para entretê-la Hope era só mais um ponto entediado no meio da multidão. Ela sentiu que se livrar dos comprimidos foi a decisão certa de novo.

Suas pernas davam pequenas passos, ela endireitava e entortava a postura, mexia no cabelo e olhava para lugares distintos, mas nada parecia aceitável. Tudo o que fazia deixava claro o fato de que sua personalidade desajustada não se encaixava ao cenário que a cercava. Era muito a cara dela.

— Você parece a suicida depressiva que é — disse o demônio às suas costas.

Ninguém podia vê-lo, mas mesmo assim ele colocou um terno e puxou o cabelo para trás. Hope quase o julgou, mas não foi aquilo o que ela fez, no final das contas? Se produzir e se sentir bonita para, no final, ninguém a notar. 

Hope puxou os lábios em um sorriso esperto.

— E você parece o ser cruel e sem alma que realmente é — retrucou, ouvindo-o rir.

Hope gostava quando conseguia falar daquele jeito porque, de algum modo, a fazia parecer menos frágil. Perto dele a menina sempre se sentia uma boneca de porcelana manuseável e sem valor, mas era bom quando mudava. Lhe dava esperanças de que, se aquilo podia mudar de vez em quando, outras coisas um dia também poderiam seguir o mesmo rumo.

Baby, Don't Go #1 (LIVRO FÍSICO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora