Incertezas

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- Dinis?

- Boa noite. – Cumprimentou a Isabel que estava com o Nuno e a Diana à entrada do Conservatório. Ele estranhou que todos se entreolhassem entre si. – Passa-se alguma coisa? Sei que não avisei a Flora mas queria fazer-lhe uma surpresa e vir buscá-la.

- É que… - Começou o Nuno.

- Não vemos a Flora desde da hora do almoço. – Contou a Diana.

- O quê? Como assim não a vêem desde da hora do almoço?

Uma das senhoras responsáveis pela recepção acercou-se com um ar receoso.

- Senhor Brandão? Lamento não termos avisado antes mas tivemos que esgotar todas as possibilidades, como sabe, os alunos podem sair do Conservatório sobretudo nas horas das refeições em que muitos se deslocam até aos restaurantes ou cafés próximos.

- Claro. – Ironizou, pegando no telemóvel.

- O que…?

- Já ligou para a polícia?

- Não, entenda que…

- É mau para a reputação do Conservatório? Acha que quero saber?! – Perguntou num misto de raiva e nervosismo, esperando que atendessem a chamada.

- Tenha calma, falámos com o Director e é melhor que seja ele a fazer a chama… - Não terminou de falar pois ele fez-lhe um gesto insultuoso e virou-lhe as costas, indo falar para o exterior do Conservatório e foi seguido pela Isabel, a Diana e o Nuno. Eles ajudaram a indicar com mais precisão as horas a que tinha desaparecido, entre outros detalhes.

- É verdade que ela andava estranha. Quase todos os dias saía na hora do almoço ou mesmo em alguns intervalos. – Comentou a Diana pensativa.

- Agora que falas nisso… cheguei a perguntar-me, se estaria com algum problema. – Disse o Nuno.

- Passava-se alguma coisa entre vocês em casa? – Perguntou a Isabel. – Não seria a primeira vez.

- Não se passava nada connosco. O problema são vocês. – Disse, começando a fazer outra chamada.

- Nós? – Perguntou a Diana. – Estás a falar do quê?

- Isso agora não interessa. ‘Tou? Sr. Andrade desculpe estar a ligar a esta hora mas precisamos de falar. – Disse, afastando-se.

Enquanto isso, ainda deitada no chão, chorava. Não pelo medo mas pela dor que apesar de estar mais calma, persistia. Perguntava-me qual seria a reacção do Dinis ou do meu pai. Como estariam a Isabel, o Nuno e a Diana?

Repentinamente, a porta daquela cabana abriu-se.

- Chorar não vai ajudar em nada por isso, é melhor que pares e fiques bem caladinha aí, entendeste?

Era o rapaz mais novo. Ele deixou a porta entreaberta e sentou-se lá perto, observando o exterior. Provavelmente, estaria de vigia e ainda que a sua voz não fosse tão autoritária como a dos restantes, resolvi tentar guardar o choro para mim.

O tempo parecia passar muito lentamente e encolhida no chão já não encontrava forças para sequer mudar a posição em que estava e muito menos para levantar-me. A minha atenção só se prendeu em alguma coisa quando ouvi que o rapaz que ali estava de vigia, abria uma sacola plástica e vi que tirou um pacote de batatas fritas. Senti o meu estômago revolver-se num misto de indisposição e fome. Fechei os olhos com força, tentando encontrar algo na minha mente que me abstraísse o suficiente para conseguir ignorar o facto de ele estar a comer à minha frente.

- Psst, olha! – Abri os olhos, pensando que estava a dirigir-se a mim mas notei que outra sombra se aproximava. – E ela não come?

- A Liliana diz que não. Também amanhã ela já se vai embora se tudo correr bem.

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