A noite do convívio

5.3K 118 5
                                    

Os dias voaram e antes de sair de casa no dia da festa, encontrei-o ao telemóvel com um ar algo pálido. Não sabia se deveria ou não falar-lhe da festa e que ia ajudar a Isabel a arranjar-se antes de ir mesmo para o conservatório.

- Sim… vai andando, depois vou lá ter. – Respondeu-me, afastando-se para o interior da casa para falar mais à vontade.

Ele nem sequer estava vestido ainda mas não quis tentar puxar mais assunto porque ao afastar-se, indicava que não me queria por perto. Saí de casa na companhia do Sr. Caetano que me levou até à casa de Isabel e entretanto em casa…

- Como assim? Desapareces durante quatro anos e depois perguntas-me se me podes ver como se nada se tivesse passado?! Já falaste com o teu irmão? – Uma pausa longa. – Não… é claro que não. Dá-me alguns minutos. Não saias de onde estás.

Correu até ao quarto, mudando rapidamente de roupa e saindo poucos minutos depois. Enquanto conduzia, a sua cabeça fervia mais do que o normal. Não esperava vê-la novamente. Ela desaparecera sem deixar rastro há exactamente quatro anos atrás. Abandonara a família, amigos, estudos e fugira com…

- Porquê agora? – Perguntou-se, tentando não passar o seu nervosismo e confusão para a sua condução.

Quanto a mim estava a ser elogiada pelo bom trabalho que fizera. A Isabel estava radiante e disse que nunca se tinha sentido daquela maneira porque normalmente não perdia muito tempo a arranjar-se.

- Belinha! – Era a voz do Nuno.

Ela foi até à janela.

- Já vou! Não sabes tocar à porta, parvalhão?

Ouvi-o assobiar e ela fechou imediatamente a janela e vi o seu rosto corado.

Era a primeira vez que a via assim em relação ao Nuno mas sempre desconfiara que as suas afinidades seriam mais do que uma simples amizade mas como temia uma discussão de negação entre ambos, simplesmente não tocava no assunto.

- Vamos andando antes que ele chame a atenção da rua inteira. – Disse-me.

Sorri e segui-a.

- E o teu real esposo?

- Ah bem… ele disse que ia lá ter. Quando chegarmos ao conservatório, vou ficar à espera dele na entrada. – Disse-lhe com um sorriso.

Já no exterior disse-lhes que o Sr. Caetano nos levaria até ao conservatório, o que deixou os dois algo entusiasmos por entrarem num carro com motorista. Ao contrário de experiências anteriores, eles não acharam que estivesse a exibir-me mas apenas a ter um acto de simpatia que pela expressão deles fez-me pensar que devem ter gostado da viagem.

- Tens a certeza que vais ficar aqui fora?

- Ele não deve demorar. Entrem.

Ainda que estivessem com um ar um pouco contrariado, acabaram por entrar.

Num restaurante a alguns minutos do conservatório, Dinis observava a pessoa à sua frente. A mesma e ao mesmo tempo tão diferente. Os seus cabelos estavam terrivelmente curtos, havia uma tatuagem no seu pescoço e o seu hálito outrora fresco, estava impregnado pelo cigarro.

- Ainda bem que vieste, Dinis.

- Porquê?

Ela bebeu mais um pouco do vinho que tinha pedido.

- Porquê? Já me perguntaste isso tantas vezes… - Disse com um sorriso fraco.

- Pergunto porque não entendo.

- Por amor fazemos as coisas mais loucas, ou pelo menos eu faço.

- E valeu a pena? – Perguntou com um nó na garganta.

SentimentosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora