Lua de Mel solitária (2º Capítulo)

6.4K 151 6
                                    

- Onde estamos? – Arrisquei perguntar quando já fora do avião, ele ajudava o taxista a colocar as nossas malas na traseira do carro.

- Ilha do Sol. – Respondeu simplesmente, abrindo a porta para que entrasse.

Era um local lindíssimo que por momentos ajudou a dissipar todos os meus receios uma vez que a paisagem era inebriante. O taxista levou-nos até uma pequena casa que mais se assemelhava a cabanas que vira em imagens de livros embora por dentro oferecesse todo e qualquer conforto.

Umas senhoras de pele bem queimada pelo sol vieram ajudar com as malas, falaram também sobre as refeições e as horas em que arrumariam o local. Vi o Dinis concordar com tudo e depois dispensá-las, indo na direcção do quarto. Receosa, segui-o.

- Vai tu primeiro.

- Vou onde? – Perguntei.

- Tomar banho e mudar de roupa ou pretendes ficar com esse vestido?

- Não, obrigada. – Respondi, indo até uma das minhas malas e retirando alguma roupa para vestir após o banho.

Ele tinha pousado uma pequena mala sobre uma secretária que havia no quarto e retirou um computador portátil que pousou e começou a ligar. Não quis demorar-me mais a observá-lo e fui para a casa de banho. Tentei não demorar-me no banho mas ao mesmo tempo cuidei para que lhe agradasse. Ele não era o homem apaixonado que ansiava por estar a sós com a pessoa amada, percebera isso ao chegarmos aquela casa.

Contudo, segundo me haviam dito deveria esperar que algo acontecesse nessa primeira noite de casados. Essa ideia estava a deixar-me cada vez mais nervosa e antes de sair da casa de banho, pus o roupão por cima da camisa de dormir para sentir-me mais confortável. Entrei no quarto com passos apressados e ele levantou-se da secretária já com as suas roupas nas mãos e foi para a casa de banho. Assim que ouvi a porta fechar-se, suspirei de alívio.

Arranjei a cama e deitei-me pois ele tardava em sair. Não me virei de costas pois sabia que não devia mas o cansaço da viagem foi mais forte do que o meu nervosismo. As minhas pálpebras vencidas pelo cansaço deixaram-se cair e quando a meio da noite, notei que me deixara levar pelo sono, vi que ele continuava a não estar na cama. Desviei o olhar, procurando-o e vi que se encontrava sentado na secretária, escrevendo algo no seu computador. Teria pensado que me encontrava demasiado cansada e não me queria incomodar? Mas de forma alguma poderia deixar que se deixasse levar pelos meus caprichos. Não era o correcto e por isso, movi-me um pouco na cama na esperança de chamar a sua atenção mas ele não se voltou na minha direcção uma só vez. E por isso, acabei por resignar-me mais uma vez ao cansaço.

Na manhã seguinte, despertei com o som do canto dos pássaros. Mais uma vez vi que ele não estava na cama comigo e procurando-o, percebi que tinha adormecido na frente do computador de ecrã já apagado. Deixei a cama, colocando o roupão e acerquei-me ao seu corpo adormecido e prostrado sobre a secretária. Toquei-lhe no ombro e quase de imediato, pude ter uma reacção da sua parte. Abriu os olhos e desencostou-se da secretária.

- Bom dia. Não devia ter dormido aqui, meu senhor.

- Bom dia. – Foi a única coisa que me disse antes de fechar-se na casa de banho.

Sentei-me na cama, esperando que tornasse a sair e pensando em como a minha primeira noite de casada não fora nada como vinha idealizado em livros e na minha imaginação. Adormecera sozinha e acordara sozinha sem que nada tivesse mudado.

Não estava mais leve. Não estava mais feliz. Não estava completa.

Nada estava diferente.

- Vou já tomar o pequeno-almoço. – Disse ao sair da casa de banho. – Direi que tomas mais tarde e depois podes ir onde quiseres.

SentimentosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora