A nossa casa

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O caminho até à minha nova casa também foi um pouco demorado mas valeu a pena.

Era uma vivenda lindíssima com um imenso jardim onde havia uma fonte, imensas flores, um baloiço preso no tronco de uma árvore que aparentava ser centenária.

Não pensava que com os olhos ainda inchados de chorar na noite anterior fosse capaz de sorrir como sorri ao ver a casa onde iria morar e a paisagem circundante. Estive algum tempo a apreciar o exterior e então reparei que o senhor Caetano, o motorista parecia esperar por mim.

- Desculpe, estou a fazê-lo esperar?

- Já levei as suas malas, as restantes empregadas devem estar a tratar de arrumá-las no quarto mas perguntava-me se não está curiosa por ver o interior da casa.

- Ah sim, claro! Se for tão bonito como é o exterior… - Comecei, entrando com curiosidade no interior da casa que era muito bem iluminada com janelas bem grandes e em que algumas serviam como acesso ao jardim. Os móveis também tinham tons clareados e as divisões eram bem espaçosas. No piso térreo localizam-se a sala de estar e de jantar, a cozinha, uma casa de banho, um escritório e uma biblioteca.

No piso superior estavam duas casas de banho, três quartos sendo que apenas um deles estavam já pronto a ser usado visto que os outros dois percebi que só teriam algum uso em caso de visitas ou quando tivéssemos algum filho. Esse pensamento deixou-me um pouco acanhada.

Sinceramente da maneira como as coisas estavam não imaginava como iria constituir uma família mas sabia que esse era um dos deveres mais importantes de uma mulher e que assim que fosse desejo dele não poderia recusar. Não que tivesse algo contra ser mãe pois até me parecia uma ideia maravilhosa mas tinha noção de que isso exigiria um envolvimento entre mim e ele. Não que soubesse exactamente o que ocorria entre um casal pois corava apenas em pensar sobre esse assunto. Imaginava mas certezas não tinha. Sabia que não havia a quem pudesse perguntar pois não tivera uma mãe que me falasse dessas coisas e certamente o meu pai nunca tocaria nesse assunto.

No colégio não tivera grandes amizades. Parecia que não atraía muito as minhas colegas a conversarem comigo e uma delas chegou a dizer-me que a minha vida era demasiado aborrecida, nunca fazia nada de interessante e por isso, não havia nada de interessante do que pudesse falar para que me incluíssem nos seus círculos de amigas.

Lembro-me que inicialmente não dei demasiado valor a esse momento mas lentamente fui-me apercebendo que a solidão parecia ser a minha única companhia e o triste é que me vinha habituando a isso.

- Muito prazer, Senhora Brandão. – Disse uma senhora de cabelos castanhos-escuros presos num coque, vestindo um uniforme constituído por uma camisa azul com botões brancos, uma saia com a mesma cor da camisa, meias negras e uns sapatos de vela com a mesma cor da indumentária em geral. Também carregava no seu rosto um sorriso amigável e ao mesmo tempo doce. – O meu nome é Rosa, sou a governanta.

- Muito prazer, Dona Rosa. – Disse-lhe com um sorriso.

- Atrás de mim estão a Sofia e a Vera. – Apresentou-as e cada uma fez uma reverência.

As duas também rondavam a mesma idade da Dona Rosa, talvez um pouco mais novas mas rondariam todas as faixas etárias entre compreendidas entre os quarenta e cinquenta anos. Ambas trajavam o mesmo uniforme mas Vera tinha uns olhos azuis que se destacavam no seu rosto queimado pelo sol e Sofia tinha um ar bem sério.

Fiquei a saber que a Dona Vera trataria das refeições e Sofia juntamente com a Dona Rosa tratariam de manter a casa em ordem.

À noite tive a minha primeira refeição na companhia dele que decidiu largar o computador mas tê-lo ou não na mesa parecia-me situações muito semelhantes.

Retirou-se primeiro da mesa do que eu e já na hora de deitar-me, surpreendi-me ao sair da casa de banho e vê-lo sentado na cama já com o corpo meio coberto a ler um livro. Pensava que mais uma vez, não se iria deitar na mesma cama que eu.

Senti o meu rosto mais quente enquanto retirava o roupão e me deitava na cama.

- Boa noite. – Murmurei timidamente.

- Boa noite. – Respondeu sem tirar os olhos do livro.

Sabia que não deveria deitar-me de costas para ele pois lembrava-me de num dos conselhos que me haviam dado no colégio quanto à vida de casada é que nunca deveria demonstrar desinteresse pelo meu marido e virar-me de costas para ele na cama era uma forma de mostrar isso mesmo.

Porém, estava demasiado nervosa e virei-me de costas para ele, fazendo o possível por não mover-me muito enquanto me ajeitava.

- Amanhã a que horas pretendes ir tratar dos teus estudos? – Perguntou, fazendo-me sentir um arrepio pois não esperava que conversasse comigo.

- Pela manhã, parece-te bem?

- Preciso do motorista depois do almoço até lá faz como entenderes.

- Está bem. – Murmurei, cobrindo-me um pouco mais e eventualmente acabei por adormecer mas com a consciência de que ele ainda estaria acordado pois podia jurar que mesmo antes de mergulhar no sono ouvira mais uma página do livro a ser virada.

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