Porta da amizade aberta no Conservatório

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Pela manhã, acordei com o som dos pássaros que cantavam alegremente no exterior.

Sorri ao ser despertada ao som desse musical e com cuidado, levantei-me da cama pois notei que ele ainda dormia também virado de costas para mim.

Peguei nas minhas roupas e entrei na casa de banho para a minha higiene pessoal e também para arranjar-me para aquele dia que se tornaria o regresso ao meu sonho.

Deixei os meus cabelos ligeiramente cacheados ao natural, colocando uma boina cinza com uma fita vermelha sobre a minha cabeça. Vesti uma camisa branca com um decote discreto e uma saia cinza e justa que se estendia até aos meus joelhos.

Pus umas meias finas que se confundiam com o meu tom de pele e calcei umas sabrinas cinza brilhantes com dois pequenos lacinhos na frente.

Voltei ao quarto onde vi que ele se levantava da cama.

- Bom dia. – Cumprimentei-o com um sorriso.

- Bom dia. – Respondeu, bocejando em seguida e entrando na casa de banho.

Decidi não pensar na nossa falta de diálogo e fui até à cómoda onde tinha deixado a minha caixa de jóias e retirei aquela que era de longe a mais preciosa para mim. Fora um presente valioso que o meu pai me dera e pertencera à minha mãe. Sabia que me daria sorte e por isso, coloquei a gargantilha no pescoço. Estava repleta de decorações florais e no centro havia uma rosa esculpida num dos primeiros diamantes que o meu pai encontrou na sua primeira exploração. Era um presente com um significado muito profundo e que me tinha tocado muito ao recebê-lo. Coloquei também um relógio de prata, outro presente do meu pai que me fora dado no meu décimo quarto aniversário.

- Vamos ver onde pus… - Murmurei para mim mesma, procurando os meus documentos e encontrando-os numa pequena pasta e coloquei-os dentro uma mala de tamanho média de cor cinza. Antes de sair do quarto, bati levemente na porta da casa de banho. – Até logo.

- Até logo. – Respondeu.

Ao descer, encontrei a Dona Rosa a quem cumprimentei e tentei argumentar que não teria tempo para o pequeno-almoço mas com alguma insistência, ela acabou por convencer-me. Estava tão ansiosa que pensei não ser capaz de pôr nada no estômago mas consegui comer o suficiente para deixar a Dona Rosa mais descansada e de seguida, ao sair para o jardim por momentos perdi-me no tempo para apreciar a beleza daquele lugar mas ao ver o senhor Caetano perto do carro, lembrei-me dos meus planos para esse dia.

- Bom dia, senhor Caetano!

- Ora muito bom dia, senhorita! É madrugadora! Vai sair agora?

- Sim. – Respondi com um sorriso e já dentro do carro, prossegui. – Leve-me ao Conservatório Nacional.

- Sim senhora. – Respondeu, iniciando a viagem. – Cantora?

- Não. – Respondi com vontade de rir. – Dizem que não tenho força na voz para tal mas gosto muito de instrumentos.

- Essa gente nestes dias que correm, sabem lá o que é música. Desculpe lá mas nem preciso de a ouvir cantar para saber que deve ter uma voz bonita.

- Agradeço o elogio mas prefiro sentar-me diante de um instrumento.

Conversámos um pouco mais sobre o tempo, sobre a região onde agora vivia e o senhor Caetano tinha um conhecimento invejável sobre lendas e histórias. Entreteve-me e acalmou-me durante todo o percurso.

- Se quiser pode dar uma volta. Não sei se vou demorar.

- Vou então comprar um jornal e beber um cafezinho ali. Pode ser? – Perguntou, apontando na direcção de um pequeno café.

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