Capítulo 44 - Tudo vai mudar

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O Exército do Conselho dos Magos se preparava para o jantar. Cada soldado, designado em rodadas igualitárias, levava a sua tenda uma quantidade exata de comida. Na tenda do general, Evan, Desmodes sentava-se em uma das pontas da curta mesa de madeira com pés dobráveis. O teto flácido de goma escura, pelo qual o acelerado vento passava, arrastado, não ficava muito acima das cabeças de ambos, e as cadeiras em que ambos sentavam também foram construídas tendo a mobilidade por princípio mais valioso que o conforto. Com um gesto da mão coberta com uma luva vermelha, Evan dispensou o soldado que trouxera duas grossas peças da carne azulada de onioto, além de, em outra bandeja, acompanhamentos diversos.

--- Está com fome, Desmodes? Aqui comemos cedo. --- Perguntou Evan, com o tornozelo posto sobre a coxa.

--- Posso acompanhá-lo. --- Respondeu o mago do Conselho.

Evan sorriu, e Desmodes não foi menos cordial. Os dois aproximaram a prataria do centro da mesa, que não ficava muito longe de nenhum deles, e serviram-se sem reservas. Voltaram a falar assim que assentaram os pratos.

--- Desculpe-me a franqueza, Desmodes, mas sinto-me tão... Surpreso quanto feliz com a sua companhia. --- Disse Evan, fazendo uma pausa para encher a boca de arroz e tomate. --- ... Não costumo receber visitas de magos do Conselho que não sejam os reis.

--- E os reis devem visitar com frequência.

--- Sim, naturalmente. É uma das responsabilidades deles, afinal...

--- E razão pela qual nós estamos comendo em prataria do castelo do Conselho, mas os soldados não.

--- Desculpe, não... Entendi o que quis dizer. --- Disse Evan, atencioso, interrompendo a faca que já estava a meio caminho de cortar um bom pedaço de carne.

--- Quis dizer que todo mago-rei precisa de um bom general.

Evan tinha uma fisionomia similar à de Desmodes; um cabelo curto e escuro, um rosto reto e pálido. Curiosamente, vestiam roupas similares ali também: tanto um quanto o outro trazia em capas fechadas e longas alguma tonalidade de azul.

No entanto, quando Evan sorria, sua boca complementava o ardor dos olhos expansivos, e o ambiente parecia se iluminar como se houvesse algum minério de luz novo por perto. Depois de um daqueles sorrisos cheios de conforto, Evan voltou à refeição sem deixar de prestar atenção ao visitante.

--- Por um momento pensei que estivesse falando de alguma revolução.

--- E estou.

Desta vez Evan não parou de comer. Desmodes, no entanto, juntou as palmas das mãos à frente do queijo.

--- Não me tome por tolo, Desmodes. --- Disse Evan, tranquilo. --- Eu entendi o que você quis dizer.

--- Não sei se entendeu.

Enquanto o visitante espólico punha os antebraços sobre a superfície da mesa, Evan terminava de mastigar uma garfada. O general deixou os talheres encostados ao prato e olhou para Desmodes.

--- Eu sou mago também, Desmodes. Você sabe que o Conselho jamais deixaria suas tropas nas mãos de um não-mago, se é que há algum general em Heelum que não seja mago... --- Desmodes assentiu, sem tirar os olhos do militar. --- Mas isso não quer dizer que eu me importo com os jogos de poder que acontecem naquele castelo. Sinceramente, eu não poderia me importar menos com eles. Eu sou o responsável pelo exército, e . Fico aqui. Nunca vou lá.

Desmodes se recostou na cadeira.

--- O que quer dizer?

--- Eu que pergunto. Agora que sabe disso, ainda quer dizer o que veio aqui me dizer? Se você se tornar o mago-rei, Desmodes, eu não me importo. Não vou atrapalhá-lo, e não posso prometer que vou ajudá-lo. Eu não vou fazer nada. Provavelmente só saberei se alguém vier aqui me contar.

A Aliança dos Castelos OcultosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora