Capítulo 26 - As entrelinhas

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--- O que foi aquilo? --- Perguntou Beneditt, entrando na sala dos músicos primeiro.

--- Aquilo o quê? --- Rebateu Leila, ansiosa.

--- Você também viu, Beni. --- Disse Fjor, que, apesar da intenção, não conseguiu articular uma pergunta.

--- Muito bem, Banda Buscando! --- Seimor entrava no corredor seguido do inquieto Leo. --- Era isso que eu queria ver!

--- Isso o quê? --- Fjor estava ainda mais rude do que no primeiro encontro com o agente.

--- A habilidade de entreter um público desinteressado, meu caro baixista. --- Seimor sorria, visivelmente mais contente do que quando veio buscá-los. --- Um show em Novo-u-joss em uma casa de shows é fácil de fazer.

--- Mas não era uma casa de shows qualquer, era o Colher de Limão! --- Respondeu Fjor, quase aos berros.

--- Calma, Fjor! --- Cortou Leo, a voz tão alterada quanto a do irmão. --- Seimor, o q-que é o Mina de Prata?

--- Ora, um bar, um bar qualquer!

--- E aquilo acontece todas as noites num bar qualquer em Jinsel? --- Cortou Fjor.

Leila não sabia mais para onde olhar. Achava que sua única preocupação era se a banda havia sido aprovada ou não, mas agora parecia que aquilo envolvia algo muito maior. Seimor tinha uma feição de profunda confusão no rosto.

--- Do quê você está falando, rapaz?

--- Mataram alguém lá! Um homem enfiou uma espada na barriga de outro num canto do bar! --- Fjor terminou de falar e passou a mão na testa suada, dando as costas para o grupo. Leila não vira nada. Podia ver pela expressão dos companheiros que pelo menos Beneditt vira alguma coisa também.

--- Ah, isso... --- Seimor não parecia surpreso. --- Lamento terem visto isto, eu... Eu não vi. Isto foi uma falha da segurança do bar. Não representa uma ameaça à segurança de vocês.

Leila sentiu-se melhor depois daquela explicação. Todos no ambiente pareceram melhorar também. Seimor olhava para cada um deles, apreensivo, mudando de foco rapidamente.

--- Isso não muda o fato de que viajamos por oito dias a pé pra tocar uma música. --- Disse um Fjor mais calmo, mas ainda ríspido e claramente frustrado.

--- O modo como vieram para cá não tem nada a ver comigo. --- Respondeu Seimor, tão direto e firme quanto Fjor.

--- Ele tem razão, Fjor...

--- Leo!

--- Senhor Seimor, o que vai ser daqui para frente? --- Interrompeu Beneditt, com uma voz cansada. --- O senhor tem interesse em nós ou não?

Leila já havia praticamente esquecido o que quer que havia acontecido ou o quanto foram mal recebidos naquela noite. Leo levantou a cabeça, como se a realidade da pergunta também ofuscasse tudo: seu cansaço, sua fome e o quanto não suportava mais o contato da própria pele com as roupas que vestia. Apenas esperava que tudo aquilo tivesse valido a pena. "Por favor".

--- Conversaremos amanhã. --- Disse Seimor após mais uma rodada de olhares para todos os integrantes da banda. --- Por agora eu levarei vocês a um hotel. Com tudo que merecem. --- Um sorriso largo, mas claramente artificial brotava de seu rosto. Aquele sorriso nunca parecia estar no lugar certo. --- Um bom banho, roupas limpas, camas...

--- Espera. --- Fjor estava cansado das conversas em que sempre era condenado por seu conservadorismo. Odiava ser uma voz de moderação em meio a sorrisos confiantes, e até mais que merecidos, mas precisava ser. --- Seimor, pode... Nos deixar a sós por um instante?

A Aliança dos Castelos OcultosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora