Capítulo 58 - O contrato

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O tempo passava a machadadas no escritório ao mesmo tempo interessante e falecido. Sobre as paredes de um vermelho hipnotizante ficavam, pendurados em molduras escuras, documentos que descreviam sucintamente bandas que já passaram pelas mãos de Seimor. Serviam muito mais como borda para as assinaturas dos músicos em peças que deveriam orgulhar, mas conseguiam apenas assombrar de um jeito bastante peculiar.

Leila olhava para a frente, séria, enquanto esfregava a concavidade do braço esquerdo com a mão direita. Leo piscava, quase no ritmo dos segundos, pensando com desilusão no que acontecera na outra noite. Fjor cruzava os braços, isolado, largado, mal-dormido; Beneditt o acompanhava com misantrópico estilo, rançoso do mais prontificado sarcasmo.

Seimor entrou na sala, provocando uma série de pequenas comoções. Olhou criticamente para os artistas enquanto passava ao largo deles. Sentou-se, enfim, na poltrona confortável por detrás da mesa na qual tão displicentemente Leila prestava atenção. Uma vez em repouso, Seimor não ocultou que pretendia transformar seu olhar em instrumento de dor.

--- Eu entendo que temos uma briga aqui dentro.

O agente procurou por confirmação, mas ela não surgiu nos longos segundos que se seguiram.

--- O que está acontecendo? --- Insistiu ele.

--- Brigamos sim. Foi só isso. --- Respondeu Fjor.

Seimor, que vestia uma espécie de capa marrom mal cortada, pôs os cotovelos em cima da mesa, afastando um bloco de goma escura bom de apertar. Assumiu uma posição pensativa, quase tão distante quanto os músicos --- o que os trouxe mais para perto.

--- Nós não esperávamos por isso. --- Disse Beneditt.

Seimor concordou, torcendo os lábios.

--- Vocês vão melhorar.

--- Melhorar como? --- Perguntou Fjor, arrumando-se na cadeira. Cruzou as pernas e, jogando-se para trás, sentia-se de alguma forma em um momento privilegiado. --- O que você vai fazer com a gente?

Seimor lançou um olhar duro ao baixista.

--- Vocês treinarão mais. Vou fazer mais ajustes em vocês.

--- Eu não quero nada disso, sabe.

--- É mesmo? Quer sair por aí, dançar? Se divertir?

--- Não... --- Respondeu ele, irritado. A pergunta atraíra olhares tortos. --- Eu quero voltar a ser da banda Buscando. Quero voltar a fazer o rock pelo qual nós éramos respeitados.

--- Você assinou um contrato, Fjor. --- Alertou Seimor.

--- Eu não assinei. Leo assinou.

--- Em nome de vocês, e portanto você tente nos abandonar e veja o que acontece!

--- O que acontece? --- Perguntou Beneditt.

Leila engoliu em seco. Leo girava o pescoço com frequência, acompanhando o debate. A conversa ficou suspensa pela pergunta de Beneditt; Seimor só se pronunciou depois de um tempo que serviu para acalmar os ânimos de todos.

Era como se inalassem camomila.

--- Vocês... A banda Ponte Alta... Não podem... Abandonar a banda. A cidade. A vida que escolheram.

Beneditt ia a seu modo compreendendo, juntando pedaços que se encaixavam bem uns nos outros. Sentiu uma lufada inesperada de gratidão. Acompanhava bem a passividade em que mergulhava.

Franziu o cenho ao pensar naquilo. Por que deveria se sentir daquele jeito, se tudo estava dando errado? Os planos, a realidade; não sobrava nem um nem outro. A ideia de que tudo estava sob controle era falsa, e falso era também o sentimento que Seimor queria transmitir com atitudes medidas e palavras brandas. Não estava tudo sob controle. Estava tudo caindo aos pedaços.

A Aliança dos Castelos OcultosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora