Capítulo 21

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Jude

Assim que a porta se fechou suavemente atrás de Laura, o ar se tornou ainda mais denso. Ainda mais difícil respirar. A verdade era que o ar há algum tempo havia perdido o seu caminho até os meus pulmões. Aquele olhar no rosto de Julia, quando ela foi embora, era tudo que eu queria evitar. No entanto, eu não poderia esperar outra coisa. Eu agi como um canalha de merda. Ver seus olhos tristes e apagados, transbordando dor e aflição, era o meu pagamento final.

Por mais que eu quisesse correr atrás dela agora, e rastejar aos seus pés implorando seu perdão, eu sabia que a outra pessoa nesta sala não tinha culpa nenhuma das minhas péssimas escolhas. Eu precisava confrontar o inevitável. O momento enfim havia chegado.

Laura arrastou sua mala de rodinhas, e a deixou encostada bem ao lado da porta. Uma atitude simples, que passaria despercebida a um observador comum. Embora a mim, tenha parecido um modesto recado: ela não pretendia ficar. E como poderia?

Quando ela ergueu a cabeça, seus olhos verdes não revelavam nada. Estavam impassíveis, me encarando como se pudessem ver através de mim. Sem nenhuma idéia do estaria passando em sua cabeça, eu me mantive do mesmo lugar a que estava estagnado desde que Julia saiu.

Então, ela finalmente se moveu. Inspirou profundamente, e em seguida deu de ombros. — Então, o que eu deveria fazer? Gritar alguns palavrões? — disse ela, numa calma enfeitada, correndo os olhos pela sala — Jogar alguns objetos em você?

— Laura, eu... — gaguejei — Eu sinto muito.

Ela voltou a me encarar. Um sorriso duro e frio retorceu seus lábios pintados de rosa. — Eu também.

Eu não conseguia entender a que ela se referia.

— Sabe o que é engraçado? — ela caminhou, e se sentou sobre o sofá — Não sei explicar como, mas, eu sabia que assim que eu entrasse por aquela porta, as coisas mudariam permanentemente. — Laura estendeu a mão longa, com unhas perfeitamente pintadas de vermelho vivo, e deu dois tapinha no assento ao seu lado — Jude, sente-se. Não quero fica olhando para cima enquanto conversamos.

Ainda intrigado com seu semblante imperturbável, forcei meus pés a se dirigirem até onde ela indicava. Eu me sentia embasbacado em notar a calma e sutileza de Laura. Isso não era anda como ela. Eu estava preparado para explosões e gritos. Entretanto, essa mulher fria e contida a minha frente era uma completa estranha.

Acomodei-me ao seu lado. Não era nada fácil estar tão próximo dela depois de tudo. Tudo estava estranho e espesso. A tensão carregada no ar era palpável. Agíamos como desconhecidos.

— Laura, — comecei — Eu tentei falar com você. Liguei várias vezes. Eu... eu tentei-

— Eu não queria falar com você, Jude. — rebateu ela.

Eu a olhei. Minhas sobrancelhas caíram pesadas sobre meus olhos. — O que? Por que?

Laura olhou para baixo, encarando os dedos finos pousados sobre o colo. Ela puxou outra respiração longa e profunda, e quando voltou seus olhos para os meus, eles pareciam leves.

— Jude, eu conheci lugares e pessoas nesses últimos meses. Coisas novas que me fizeram perceber que eu estava — ela fez uma pausa sutil — perdida. Eu estava vivendo uma vida que não era a minha. E acho que você mais do que ninguém sabe o que eu quero dizer.

Eu assenti, embora estivesse um pouco perdido nessa conversa. Laura não estava soando muito coerente. Mais uma vez, isso não era comum. Ela sempre foi dada aos fatos e números. Sempre evitou o supérfluo e abstrato. Isso não fazia muito sentido.

Impossível Resistir - Serie Paradise City - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora