Parte 20

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Wednesday's POV

— Bia – eu enfiei minha cabeça no vão da porta que dava para a sala de estar, minha amiga desviando sua atenção da televisão para a minha chamada –, eu vou entrar na banheira, então se as crianças acordarem, lide com isso – sorri cansada quando ela grunhiu em resposta.

— Que seja. Vá para a banheira. Você fede – eu fiz uma bolinha com a meia que eu tirava enquanto conversava com Bia e joguei com força nela, antes de me desviar caso ela retaliasse, voltando para o corredor e indo para o principal banheiro. Apesar de sermos adultas e termos nossas filhas, Bia e eu sempre nos comportávamos de maneira imatura e despreocupada uma com a outra, e aquelas nossas palhaçadas se mostraram uma ótima distração na última semana.

Meu fim de semana com minha pequena família na casa de praia de Enid fora há uma semana. Como ela era a outra mãe de Lana, é claro que eu acabei a vendo desde então, eu não a manteria longe da nossa filha. Mas isso foi tudo. Enid e Lana. Às vezes nós três, mas Lana estava sempre presente, diferente do que acontecia antes. Naquela semana não houve "Enid e eu", não de verdade. Sim, nós estivemos ocupadas com o trabalho, mas quando nós estávamos juntas, nenhuma de nós sabia o que dizer. Eu podia dizer que Enid estava se esforçando, mas eu não sabia como agir. Eu não estava mais com raiva dela. Eu não podia ficar com raiva de ela ter tido um caso antes, ou mesmo uma experiência sexual com alguém, porque eu também tivera. Porém, eu ainda estava triste pelo fato de Enid ter demorado tanto a me contar sobre Mia. Ela nem mesmo queria ter me contado, eu tive que forçar a verdade dela. Era aquilo que me entristecia. Eu não entendia por que ela tinha mentido para mim, nem eu mesmo entendia se aquela mulher ainda era tão importante para Enid e era aquilo que mais me entristecia: a incerteza.

Eu queria perguntar a ela, mas eu não podia. Eu estava com medo de que ela iria mentir de novo e eu não saberia a verdade. Ela tinha ligado e mandado mensagens, e eu obviamente não podia ignorá-la, eu nem ao menos queria, mas eu sempre fui desnecessariamente curta e grossa com ela. Eu não queria, mas eu não podia evitar. Eu estava me sentindo magoada e seria falso me comportar da mesma maneira de antes. Mas porra, eu sentia tanto a falta dela.

Meu fim-de-semana com ela fora incrível até aquele momento. Quando passávamos tempo com Lana, era tudo como o que eu sempre quis. Uma família, e ainda uma família feliz. Nós três nunca éramos neutras ou indiferentes quando na presenta das outras, nós estávamos sempre animadas e afetuosas. Nada podia impedir os sorrisos que se alargavam em nossos três rostos.

Mas quando eram apenas Enid e eu. Aquilo era algo que eu nunca tinha esperado. Tudo com ela era sempre tão intenso, excitante e fodidamente bom. Desde de beijos inocentes e afagos, Enid me abraçando enquanto nós dormíamos e beijando meu cabelo, até os momentos mais intensos quando nós nos entregávamos uma à outra. Tudo com ela era incrível.

Era.

Que porra eu estava fazendo? Por que eu estava pensando nela no pretérito imperfeito?

Balancei minha cabeça para afastá-la daqueles pensamentos quentes e bonitos que eu tinha e me reprimi por presumir que as coisas estávamos terminadas entre mim e Enid. Não podia terminar antes de mal começar. O silêncio pacato, apenas arruinado pelos meus pensamentos altos e irritantes, foi interrompido por um tímido punho batendo na porta do banheiro.

— Ainda estou na banheira, Bia. O que foi? – A mais nova não respondeu, apenas abriu a porta e se permitiu entrar no banheiro enquanto eu olhava para baixo para me certificar que as bolhas e espuma cobriam meu corpo todo. Nós realmente deveríamos consertar aquela porta.

— Tem alguém aqui para ver você – minhas sobrancelhas franziram em confusão até que Bia fez seu caminho de volta à porta do banheiro e a mulher de olhos azuis que estava empestando meus pensamentos apareceu em seu lugar.

The donor: WenclairOnde as histórias ganham vida. Descobre agora