Capítulo vinte e sete - adeus?

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Blair Finnegan

O céu estava limpo, porém ainda fazia um frio de congelar os ossos, meu aniversário sempre foi um pouco cinzento.

Toquei a cicatriz em minha clavícula, pensando se minha mãe estaria orgulhosa das minhas decisões? Largar a faculdade, sair do país, não falar mais com minha avó. Será que ela estaria decepcionada?

Não sabia responder nenhuma dessas perguntas. Apesar de não estar em Seattle como em todos os outros aniversários, ainda queria levar os girassóis tradicionais para minha mãe. Sem bolo decorado ou velas de parabéns, meus aniversários eram marcados por lágrimas sobre o túmulo de minha mãe, com conversas que eu nunca pude ter com ela, com lembranças que nunca foram criadas, existindo apenas um vazio enorme em meu coração.

Levantei mais cedo, meu pai ainda estava dormindo, não quis acordá-lo, então Matt se ofereceu para ficar de olho nele até eu voltar. Peguei o carro e dirigi até a pequena praia em New Haven, passei na floricultura antes e comprei as flores.

Agora, parada sobre a faixa de areia, o vento gelado envolvia meu cabelo o lançando em meu rosto, eu ainda carregava a foto de minha mãe na bolsa, tentando não esquecer do seu sorriso, tentando me convencer de que ela tinha sido feliz naquele lugar. Porque eu fui. Em dezenove anos, os meus dias mais felizes foram nessa cidade, onde ninguém me julgava pelas minhas escolhas, onde conquistei amigos de verdade, um lugar no qual eu não era lembrada constantemente sobre ser neta do senador Crawford, aqui ninguém sabia minha verdadeira origem, e não precisava reforçar meu sobrenome para ser acolhida. Percebi que talvez minha mãe se sentiu assim também, que a faculdade trouxe a liberdade que ansiava.

Fechei os olhos sem me incomodar com o frio, apenas escutando o quebrar das ondas nas rochas, respirando fundo. Não queria chorar, mesmo que a vontade crescesse no meu peito. Só queria me despedir desse lugar, e aliviar o peso no meu coração.

Então voltei a abrir os olhos, deixando as flores sobre uma rocha, como se ela estivesse comigo, mesmo que em espírito, sussurrei:

— Até mais, mamãe. Eu te amo, e sinto sua falta todos os dias.

O peso do meu peito diminui. O luto nunca tinha fim, a dor sempre vai continuar latente no meu coração, mas com o tempo você vai se adaptando a ela.

Meu celular vibrou no bolso do casaco, peguei rápido pensando que poderia ser problemas em casa, mas não era. Conferi a barra de notificações encontrando uma mensagem de Hunter, é claro que ele lembrava que dia era hoje.

Hunt: Bom dia, livrinho. Sei que o dia mal amanheceu, mas queria saber como você está se sentindo? Sei que não é um dia fácil pra você!

PS. Mesmo assim, feliz aniversário! ♡

Olhei a hora, eram oito da manhã de um domingo e ele já estava acordado pronto para acolher meus sentimentos se eu precisasse desabafar. Hunter passou por muitas coisas durante sua vida, mas ele nunca deixou que as coisas ruins definissem quem ele seria. Bondoso até os ossos.

Blair: Ainda dói, a saudade nunca desaparece, mas estou aprendendo a lidar com isso.

PS. Sinto sua falta.

Não, não, apaguei reescrevendo:

PS. Obrigada por lembrar!

Enviei e guardei o celular novamente, se eu escrevesse: Sinto sua falta, ele viria correndo, Hunter era assim, mas eu não queria ficar mais apegada do que já estava. Seria melhor assim, menos doloroso.

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