Capítulo um - Um desconhecido

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Blair Finnegan

O asfalto ainda molhado pela chuva de mais cedo, cobria a rua principal do prédio onde seria meu lar pelos próximos quatro anos, se tudo fosse como o planejado.

Olhei para o carro, observando meu pai retirar meus pertences do porta malas. Ele fez questão de dirigir duas horas de Boston até New Haven, para ter certeza que eu ficaria bem acomodada.

Tirei meus fones de ouvido os colocando dentro da bolsa pendurada em meu ombro, uma ecobag branca com grandes letras em preto formando as palavras: "A vida é melhor com livros". Comprei ela no último fim de semana, depois do cinema, meu pai me levou em uma livraria, e não consegui resistir a beleza dessa bolsa, ela servia perfeitamente para guardar meus livros. E tenho que admitir, a frase me convenceu a levá-la para casa.

Ajudei meu pai a retirar a última mala do carro, eram quatro ao todo. Duas delas abarrotadas de livros, devo admitir, a maioria adquiridos nas férias que passei em Boston, meu pai é dono de uma editora, o que explicava muita coisa.

Matthew mandou mensagem avisando que o elevador estava com defeito pela terceira semana consecutiva.

— Ótimo, seu amigo mora em uma espelunca! — resmungou meu pai, fazendo força para puxar duas malas escadas acima.

Peguei as outras duas que pareciam mais leves. Então subimos os degraus, são quatro lances de escadas até o andar do apartamento.

Minhas tentativas de carregá-las cederam no segundo andar, a todo momento uma das rodinhas ficavam presas nas fissuras de algum degrau.

Limpando o suor que se formou em minha testa, sentei no chão esperando meu pai vir ao meu auxílio.

Ele faz força para puxar a última mala até o último degrau. O rosto vermelho e com gotas de suor colando seu cabelo mel em sua pele. As sardas salpicadas em seu nariz me fazem lembrar das minhas.

Ele olha para mim, e seus olhos castanhos suavizam.

— Prontinho, querida. — ele bateu uma mão na outra para mostrar seu trabalho bem feito de carregador de malas.

Meu pai é o melhor.

— Obrigada, pai.

Meu coração acelera assim que me dou conta do que está acontecendo, minha vida acabou de mudar. Estou prestes a dividir apartamento com meu melhor amigo em uma cidade desconhecida. Era a primeira vez na vida que sentia uma sinergia de emoções, medo, tristeza e ao mesmo tempo felicidade e liberdade.

Nunca fui do tipo de garota que gosta de se arriscar, prefiro saber onde estou pisando, mas é assim para todo mundo, chegava um momento na vida que não dava mais para fugir dos riscos, das mudanças.

Matthew havia dito que deixou a chave embaixo do tapete em frente a porta. Ele não estaria em casa para me receber, pois estava no trabalho. Não entendi muito bem, nem sabia que ele trabalhava.

Segurando minha bolsa, me agachei para encontrar a chave, levantando o tapete, enxergando um brilho dourado exatamente onde Matt informou.

O prédio parecia antigo, a porta de madeira rangeu ao abri-la.

Meu pai ajudou a colocar as minhas coisas para dentro do apartamento.

— Você vai ficar bem, filha? — ele perguntou, depois de analisar minuciosamente cada canto que seus olhos alcançaram.

Ele começou a andar na direção do corredor que levava aos outros cômodos, sabia exatamente o que ele faria a seguir, bisbilhotar os quartos.

— Pai, você não pode invadir os quartos do apartamento que nem é meu. — falei o puxando pelo braço, o direcionando até a porta da frente, antes que ele decidisse que meu lugar não era aqui. Sabia que ele respeitava minha decisão, mesmo assim, não queria que mudasse de ideia.

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