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2010

Dezembro, 31

O vento parou minutos depois, como se nunca tivesse aparecido. Foi estranho.
Tudo estava estranho, o tempo, o desconhecido fofoqueiro e agora eu mesma, encarando a neve como se resolvesse todos meus problemas.

Deixei o vinho na neve e as taças no banco apenas pra checar a hora no celular.

20:20

Respirei fundo, uma e outra vez segurando o pingente de flecha.

"Quando estiver pronta, mesmo que não queira nada comigo.."

Sua voz ecoou na minha mente no exato momento em que o chamei a primeira vez e persisti por mais seis vezes.

Não aconteceu nada de imediato, meus olhos agitados sobre qualquer movimentação na neve e então o brilho dourado familiar apareceu.

Photos, usando vestes brancas com detalhes dourados que eu só via em fantasias, uma expressão incompreensível cruzou seu rosto bonito.

— Você cortou o cabelo. — Soltei baixinho, não sabendo exatamente ao certo o que dizer.Ele deu um pequeno sorriso mas não disse nada, esperando talvez que eu desse o primeiro passo. — Eu trouxe vinho! — Peguei a garrafa me levantando pra tirar um saca-rolhas do bolso da calça.

— Agatha..

— Juro que não é um vinho ruim, mas que diabos você entende de vinho, certo? Você é filho de Afrodite, não de Dionísio! — Resmunguei desviando o olhar do seu, exasperada pelo saca-rolhas ter enroscado no bolso.

— Agatha..

— Só um instante, tudo bem?! Droga de abridor!

— Agatha!

— Sim, esse é o meu nome, fico feliz que você saiba. — Larguei o vinho no banco tentando enfiar as duas mãos no bolso de trás pra desenroscar. Ele colocou uma mão no meu rosto, e eu suspirei como se fosse algo que estivesse faltando esse tempo todo. Desisti do objeto pra passar a mão na sua nuca, encarei seu rosto de perto, o verde impressionante de seus olhos. — Photos..

— Esse é meu nome, fico feliz que você saiba.— Sussurrou encostando sua testa na minha. — Só os deuses sabem o quanto senti sua falta.

— Esses dias foram terríveis, mas necessários. Eu pensei em você todos os dias desde que você se foi, não foi possível que eu te chamasse até hoje.. agradeça a minha mãe e ao estranho fofoqueiro.

— Estranho fofoqueiro? Eu saio por um tempo e você desabafa com desconhecidos? — Questiona parecendo mais com quem eu conheci algum tempo atrás, seu momento descontraído passou em um flash, se afastou devagar apenas pra sentar no banco e em um estalo por alguma ordem divina abrir o vinho.— Segure as taças, trabalho em dupla.

Uma crescente ansiedade tomou o lugar da melancolia enquanto nos servimos em silencio, nós dois temos tanto a dizer e mesmo assim estamos aqui, depois de alguns minutos me cansei. Virei todo o vinho antes de largar a taça na neve de qualquer jeito e agarrar sua mão livre. 

Já tinha ouvido por aí que os olhos são a janela da alma, mas nunca acreditei nisso tanto quanto agora, entendi a falta de palavras quando foquei totalmente no verde esmeralda que sempre me tirava o ar. Tristeza, resignação. 

— Por que exatamente você acha que está aqui?— Não resisti ao perguntar mesmo já tendo certeza de qual seria a resposta.

— Estamos nos despedindo, eu entendo que não me queira e talvez precise de mais tempo pra passar adiante e avisar minha mãe sobre sua próxima benção. Sou o Deus da paixão, Agatha, eu sei que você sente algo por mim mas nem tudo se resume a isso e tal-

O namorado de Agatha DenverWhere stories live. Discover now