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2010

Meio de novembro
Terça

— É a minha amiga. — France rebate tirando as cartas de uno da bolsa de Hilary.

— É a minha namorada. — Devolveu o idiota na mesma moeda como uma verdade absoluta.

— Vocês precisam de um banho de ervas.

Nós três olhamos pra Hillary nos ajeitando no tapete da sala. Tínhamos o final de semana pra fazer o que quiséssemos pois minha mãe viajou de última hora me deixando responsável pela casa, a única regra era: sem fogo.

Sentia falta de Joe, depois do último jogo ele recebeu uma proposta pra entrar em um dos times da Califórnia, ficamos felizes por ele mas me doeu vê-lo ir embora.

— É tão estranho saber que esse é nosso último ano, depois só vamos nos ver em feriados. — Pensei alto, organizando duas almofadas pra sentar ao lado de Theo.

— Como assim? Vocês não vão pra mesma faculdade?

— Hills vai pra Juilliard, eu vou pra Stanford e Agatha ainda está entre Yale e Columbia.

— Você vai pra Columbia. — Theo confirmou ao ver minha cara de dúvida e eu ri assim como France.

— Por que? — Encostei a cabeça no seu ombro enquanto minha amiga organiza as cartas.

— É a mais perto de Stanford e Juilliard.

— Ele tem razão. — Hills concordou com os olhos nas suas cartas. — Mas e você Theo?

— Columbia. — Respondeu sem hesitar passando o braço pelos meus ombros.

— Isso é perseguição. — Cutuquei tentada a irritar ele e tirar seu sorriso satisfeito. — Está faltando algo..

Peguei as cartas ignorando France bufar.

— Se disser algo sobre Bosa juro que vou falecer.

— Não! Estou falando sobre álcool.

Os três me encaram indignados, como se até mesmo uma gota fosse nos matar.Era idiotice, ja que minha mãe nos deixou beber mais de uma vez desde que ninguém passasse dos limites. Fiz eles se levantarem e nos dividimos caçando onde minha mãe escondeu os vinhos e a última garrafa de whiskey, eu estava na cozinha quando ouvi um grito de Hills no andar de cima. Sai correndo encontrando France no caminho até a escada, assim que chegamos à porta do meu quarto eu entendi tudo.

Pela segunda vez na vida, tinha algo brilhando dourado lá dentro. Theo foi o último a aparecer ao nosso lado, o rosto pálido parecendo reconhecer o brilho.

— Por favor, não! — Sussurrou engolindo a seco.

Mas que diabos?!

O brilho desapareceu, deixando uma mulher exuberante e alta de aparência invejável, os cabelos caindo em cascatas com cachos nas pontas, o vestido delicado e branco com detalhes dourados..o bracelete, os olhos verdes idênticos pelo qual me apaixonei em um rosto perfeito.

— Sinto muito pela invasão, Agatha Denver. — A voz destoava da aparência delicada, totalmente firme e polida. — Peço que suas amigas se retirem.

Eu não consegui desviar os olhos, mas eu sabia pelos sons de pés batendo que France e Hillary desceram. A mulher fez sinal para entrarmos como se não fosse o meu quarto e sim seu escritório, a porta foi fechada assim que Theo passou. Ela continuava de pé enquanto eu me sentava devagar e ele ao meu lado um pouco mais longe que o normal.

— Houve um erro fatídico. — Seus olhos verdes desviaram do meu pra encarar Theo com dureza. — Sei que pode parecer confuso para a senhorita mas eu preciso que me deixe tirar o encanto de você.

Pisquei duas, três, talvez até mesmo quatro vezes antes de rir levemente sem graça, o que diabos ela está dizendo?

A mulher se aproxima devagar e antes mesmo que ela toque em mim ela é segurada.

— Mãe, não! — Theo grita, e eu finalmente o encaro novamente, os olhos lacrimejando, a voz instável, seu jeito nada comum.

E então eu finalmente acordei.

— Mãe?! Encanto? — Minha voz devia mostrar tanta confusão quanto a expressão, indo de um pra outro. — Preciso de mais do que meias palavras.

— Meu nome é Afrodite, esse é um dos meus filhos mais novos, Photos. — Começou se ajoelhando a minha frente, com o braço ainda sendo segurado. Ela pacientemente esperou que eu conseguisse processar a informação antes de continuar. — Houve um erro, eu sinto muito mas vamos consertar imediatamente. — Seu braço foi solto com relutância.

Foi um movimento rápido, a deusa colocou uma mão de cada lado do meu rosto, a luz dourada foi rápida dessa vez e então eu só senti um vazio. Como se estivesse faltando muito mais do que deveria, como se arrancasse algo de mim.

Que diabos?!

Respirei fundo, uma, duas vezes tentando acalmar.

— Docinho, me escute eu só quer-

O cortei apenas levantando a mão, não o olhei encarando o rosto já não tão sereno de sua mãe.

— O que ele fez comigo? — Questionei percebendo como minha voz havia embargado de um momento ao outro. — Me diz que erro fatídico foi esse.

Afrodite segurou minha mão, firme e se eu não tivesse reparando em todos seus detalhes iria perder a dó em seu olhar.

— Photos não é pra você. Ele não pode ser mandado para o seu mundo sem perder os poderes, Theophanes que é um dos meus netos se perdeu de amores por uma pessoa e Photos se sentiu no direito de ajudar um sobrinho. — Suspirou ao me ver tampar a boca com a mão livre. — Theophanes, o verdadeiro, está no Texas nesse exato momento recebendo um sermão sobre deveres mas sabemos que quando o coração toca verdadeiramente nada pode ser feito. Eu sinto muito, Agatha mas seu presente dos deuses ainda está por vir se você der uma chance, te darei o tempo que for preciso. Você é a última linhagem dos Denver a receber a bênção, escolha com sabedoria mas acima de tudo com o coração.

Afrodite acaricia minha mão antes de acenar para o falso Theo e sumir com a luz.

O namorado de Agatha DenverWhere stories live. Discover now