Capítulo 88 - Vitor

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Vitor

Bati na porta de Pâmela.
-Vitor? -Ela abriu sorrindo ao me ver. -Que bom que você veio, vem entra, minha mãe fez bolo de cenoura com chocolate.
Entrei e me sentei. Dona Ju se sentou conosco na sala e começamos a conversar.
-Levei minha mãe na igreja que você me convidou.
-Voces estão indo lá? -Perguntei feliz com o queixo sujo de chocolate.
Pamela sorriu e estendeu o guardanapo para que eu pudesse me limpar.
-Sim, estou indo de manhã, porque assim consigo levar a mamãe e depois já busco o Otávio para ficar com ele a tarde nessas férias. O bom de ir de manhã é que tem aquela moça, a Jacqueline, ela tem me ajudado bastante.
-Ah sim, a obreira Jacqueline, ela é firmeza mesmo. -Tomei um gole de café, e percebi o olhar de Pâmela. -Nao, não. Ela é firmeza tipo parceira, não tipo do jeito que tu tá pensando.
-E qual é o jeito que eu tô pensando, Vitor?
É nessa hora que o homem fica entre a cruz e a espada, porque mulher é doida, minha gente, tu nunca sabe qual é a resposta certa, e até a resposta certa, possa ser que esteja errada.
-O jeito como eu considero tu. -Falei e ela abaixou os olhos. -Acho que nós precisamos acertar como nós fica, né?
-Sabe que o único que precisa se acertar é tu, eu sempre deixei claro onde tu tá na minha vida, tu que sempre fugiu desse lugar. -Ela disse suspirando. -Nao é segredo para ninguém, Vitor, que eu gosto de ti.
-Eu sei, mocinha. -Falei suspirando. -Mas tu tá ligada que a vida que eu levava não dava para te ter na minha vida.
-Você sabe que eu nunca me importei com isso!
-Mas eu sim, gosto tanto de tu também que preferia ver tu longe e salva do que perto de mim e eu destruir as nossas vidas.
-Mas agora você não é mais aquela pessoa, não é?
-Isso, Pâmela. Jesus mudou tudinho! -Sorri. -Antes eu não sabia o que esperar do meu futuro, achava que só tinha duas alternativas que era matar ou morrer, e ficava vivendo assim. Mas agora eu penso no meu futuro, quero terminar a escola, tenho um emprego, quero ter minha casinha, minhas coisas, sei que eu perdi muito naquela vida... -Falei pensando em Liliane. -Mas ganhei muito nessa daqui, porque Deus me deu uma nova vida, aceitou meu passado, tem estado comigo no meu presente e me fez olhar para o meu futuro. -Peguei a mão de Pâmela. -Meu futuro que eu quero que você esteja presente.
-Ah, Vitor... -Pamela sorriu para mim.
-É sério, e olha eu não entendo nada disso, tá? Mas vou me esforçar para aprender. Um dia, o pastor disse que nós homens devemos amar a esposa como o Senhor Jesus amou a igreja, como Ele nos tratou e cuidou de nós. Pâmela, eu sei bem como Jesus me tratou, e quero fazer isso por tu. Quero ser seu melhor namorado, seu melhor noivo, seu melhor esposo, porque em tudo, Jesus foi o melhor para mim.
Pamela se emocionou e me abraçou e eu só sabia sorrir. Eu havia conhecido o ódio, o desprezo e a morte de perto, não tinha referência de uma família, mas estava sendo capaz de praticar o amor de verdade, o amor que vai além de um sentimento, o amor que tudo sofreria, que em tudo iria crer e que tudo suportaria.
-Liliane teria orgulho do irmão que você se tornou.
-Pam, olha eu não tenho muitas condições, meu emprego não é tão bom.
-Nao importa. -Ela sorriu. -Você está me oferecendo muito mais do que o dinheiro pode comprar, meu querido. -Pamela beijou a minha bochecha.
-Você vai né, para o evento que vai ter lá na catedral? Dos jovens?
-Com toda certeza.
*
No evento estávamos todos se divertindo, foi quando um dos rapazes, por conta do calor acabou passando mal ao meu lado.
-Ai meu Deus! -O obreiro Henrique levou as mãos sobre o rosto. -Diogo, do céu!
-Calma, obreiro. -Tentei acalma-lo. Deve ser a pressão que caiu. Pessoal, precisam ficar um pouco mais afastados, se não o rapaz não tem como respirar aqui. -Peguei a garrafa de água e molhei uma das mãos enquanto refrescava a nuca do rapaz. Ele recobrou a consciência, mas ainda estava muito mal. -Melhor tirar ele dessa muvuca toda. Vem deixa eu te ajudar, talvez tomando um pouco de ar puro e água fresca vai te ajudar.
Levei o rapaz até o lado de fora, depois de uns quinze minutos a cor começou a voltar em seu rosto, ofereci uma bolacha de Maizena e ele confessou que estava sem almoçar, por isso havia passado mal.
O obreiro Henrique é claro não gostou nada daquilo, mas não brigou com o rapaz, não sabíamos quais eram as condições dele, se ele tinha algo em casa para comer ou não.
Quando ele estava bem de verdade, Diogo voltou para ficar com a galera e o obreiro respirou fundo:
-Como sabia o que fazer?
-Já vi muita gente precisando de socorro, obreiro. Quando era só pressão baixa, era a coisa mais simples de se resolver. La no morro a gente não podia se dar o luxo de ir no hospital, muito de nós estávamos sendo procurados na polícia, então tínhamos que nos virar, aprender a fazer os primeiros socorros e essas coisas.
-Sabe, acho que você poderia ajudar muito nos eventos. -Ele apontou para alguns jovens que estavam vestidos com coletes amarelos. -Eles sempre estão escalados para ajudar na organização e auxiliar nesse cuidado caso algum jovem se machuque ou passe mal fisicamente.
Meus olhos brilharam.
-Poxa, obreiro. Que negócio top! Eu ia adorar ajudar! -Sorri ao pensar que mesmo em coisas tão ruins Deus tinha a capacidade de transformar em algo de útil. -Deus é muito perfeito!
-Sim, Ele é! -O obreiro colocou o braço em cima do meu ombro.
-O senhor vai ser padrinho do meu casamento, tá ligado né. O senhor e o obreiro Renato são meus melhores amigos, parceiros mesmo, sabe. São firmeza pra tudinho.
O obreiro riu.
-Serei com o maior prazer, acredite.

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