Capítulo 70 - Jacqueline

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Jacqueline

Eu terminava de retirar todas as minhas coisas do armário e o fechava. O nome Jacqueline já desgastado pelo tempo brilhava com o durex, com a ponta da unha cutuquei uma ponta e consegui puxar rapidinho o adesivo.
Olhei mais uma vez a salinhas das obreiras e suspirei, sentiria falta daquele lugar com certeza.
-Obreira Jack! Obreira Jack! -Sandrinha bateu na porta.
-Oi minha linda! -Apareci segurando as coisas.
-A senhora precisa vim aqui até a cozinha!
-O que aconteceu? -A olhei preocupada.
-O Felipe não está muito bem, melhor a senhora vim.
Concordei com a cabeça, encostei a porta e fui ao encalço de Sandrinha.
Ela entrou na cozinha com as luzes apagadas e eu estranhei:
-Uai, Sandrinha! Por que não acendeu a luz? -Busquei o interruptor e quando liguei todos os jovens estavam ali.
-Surpresa!
-Resolvemos fazer um bolinho para a despedida da senhora! É algo simples, mas vamos sentir saudades!
Sorri. Não eram todos os jovens que estava ali, nem caberia, mas eram todos que formavam a tribo que eu participava e outros mais próximos a mim.
Nos divertimos bastante, eu sentiria muita falta dali.
-Nova igreja... Novas pessoas e novos jovens. -Falei enquanto terminava meu refrigerante.
-A senhora vai para a mesma igreja que o obreiro Henrique, não vai? -Alguém perguntou.
-Eu não sei quem é obreiro Henrique. -Falei, mesmo anos na igreja, decorar nomes e ainda com mais de duzentos obreiros na catedral eu nunca ia decorar o nome de cada um.
Alguém pegou o celular e mostrou a foto dele:
-Eu o conhecia apenas de relance, mas que bom que vou para uma igreja que já tem uma pessoa conhecida! Eu fui lá esses dias, mas não o encontrei. Mas sem problemas né? Será uma das pessoas que eu mais vou ver durante algum tempo.
***
Marquei o horário com o pastor da moça igreja, não era muito longe onde eu morava, mas seria necessário atravessar a ponte para voltar para a casa. Seria perigoso e era bom vigiar.
A igreja era muito diferente, tão pequena e simples. Mas logo quando eu vi senti um amor imenso por ela. Cada banco, cada parede.
Sorri ao ver o altar, não importava se era um lugar grande ou pequeno. Deus estava ali.
-Jacqueline, certo? -O pastor apareceu sorrindo.
-Sim senhor! -Sorri de volta. Não lembrava o nome do pastor e nem ia chutar.
Conversamos bastante até que olhei para o relógio e vi o tempo passar. Meu celular tocou, mostrando que meu pai falava para ir para a nova casa ajudá-lo a arrumar as coisas.
-Preciso ir, pastor. -Falei me levantando. -Na verdade, preciso correr. Meu pai odeia ficar esperando! Obrigada por tudo, pastor!
-Eu que agradeço! -Ele sorriu. -Seja bem-vinda!
Agradeci mais uma vez, peguei minha bolsa e sem olhar me virei pra sair correndo.
Esbarrei em alguém e caímos os dois no chão com o impacto.
-Ai! -Bati os cotovelos no chão. Se eu tinha me machucado, imaginava quem estava por baixo de mim.
-Ai! -Ele falou e eu olhei para seu rosto. Era o obreiro que haviam dito na catedral. Erick? Eduardo?
-Obreiros! -O pastor veio correndo nos ajudar.
-Me perdoe. -Falei envergonhada. -Eu acabei não vendo o senhor. -Me coloquei de pé e o ajudei a se levantar.
-Eu te conheço, não te conheço? -Ele perguntou franzindo as sobrancelhas louras e limpando a roupa da queda.
-Ela é a obreira Jacqueline que veio nos ajudar a partir de hoje!
O obreiro sorriu:
-Não acredito! Você é a obreira da catedral, não é?
-Sim!
Ele me abraçou, no impulso eu nem soube o que fazer com tamanha recepção.
-A senhora não imagina, eu estava conversando com o pastor Samuel esses dias, dizendo que eu precisava tanto da ajuda de uma mulher. Tem algumas meninas aqui na nossa igreja que eu não sei como ajudar, sabe? A senhora foi enviada por Deus para o lugar certo!
Eu sorri também.
-Pode contar comigo para o que for. Só que agora eu preciso ir mesmo! -E saí correndo. Em partes envergonhada, em partes feliz por saber que estava no lugar certo.

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