Capítulo 48 - Vitória

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Vitória

Infelizmente naquela dança, eu exagerei. Eu queria tanto impressionar e sabia que o obreiro Henrique não concordaria com o tipo de música e dança que eu havia escolhido, mas daquela vez ele tinha tanta coisa para resolver que acabou nem tendo tempo para assistir e foi eu quem fiquei responsável pela dança.
-Vitoria? Tudo certo para a dança? -Ele se aproximou de mim, já estávamos posicionadas no meio do encontro Jovem, a igreja estava lotada e sorri confiante.
-Sim, senhor!
Ele foi para o canto e pediu para que soltassem o som, eu e as meninas começamos a nos movimentar, cada passo mais sensual do que o outro. Eu sorria ao ver a cara de espanto de alguns e admiração de outros.
Foi quando no meio da dança a música parou, olhei para as meninas e para o obreiro sem entender.
-O que aconteceu? -Perguntei inocentemente.
O rosto do obreiro estava vermelho e ele respirava fundo, certamente estava tentando se controlar para não falar qualquer bobagem na frente de todos que estavam ali.
-Sentem, o som acabou de desligar, outro dia vocês apresentam. -As meninas me seguiram ainda sorridentes, mas o obreiro olhou para mim e sussurrou. -No final da reunião, eu quero falar com você!
Ele estava bravo, fez a reunião o mais objetiva possível, e não era só coisa da minha cabeça, todos os jovens percebiam que ele estava com raiva.
-Será que o obreiro não vai deixar a gente dançar nunca mais? -Uma das meninas me perguntou, mas eu dei de ombros como se não me importasse. Se ele não sabia me valorizar, muitas pessoas lá fora sabiam.
Ele dispensou as outras meninas e olhou para mim, ótimo a bronca só ia vim para cima de mim:
-O que foi aquilo?
-Uma dança, ué. -Comecei a ficar irritada, o obreiro parecia estar fazendo showzinho por nada. -O senhor está achando ruim porque nunca foi a uma festa ou a uma dança, é assim que vamos atrair mais jovens obreiro!
-Atrair para o inferno você quer dizer! -Ele passou as mãos pelo rosto. -Vitória eu não quero trazer o mundo para aqui dentro da igreja!
-Mas obreiro, se a gente fizer tudo certinho quem vai vim?
-Quem está cansado de viver no mundo e quer mudar de vida. Mudar de vida não é só mudar o lugar que você frequenta, é mudar as suas atitudes! Não adianta você descer até o chão em um baile e chegar aqui e fazer a mesma coisa, você não está sendo diferente, está sendo igual.
Ele já não falava mais com raiva, mas estava cansado, uma parte de mim sabia que ele só queria o nosso bem, mas a outra parte estava com raiva, com raiva dele brigar comigo, com raiva porque sabia que ele não deixaria eu dançar tão cedo.
Me despedi dele, e na porta Saulo estava esperando, acho que era para falar com o obreiro, mas assim que ele levantou os olhos para me encarar eu abri um sorriso.
Eu tava na pior, e não queria que ninguém melhorasse. Naquele dia, eu e Saulo fomos para um casebre perto. Fizemos tudo que era o contrário do que o obreiro pregava nas reuniões que assistíamos.
Quando terminamos, eu tentei me sentir melhor, sabia que aquilo daria uma dor de cabeça enorme e era uma forma de me vingar, não havia sido ruim, Saulo era um rapaz incrível, capaz de satisfazer até os desejos que eu não falava, mas ali deitada ao seu lado quando nossos olhos se encontraram novamente eu vi a tristeza em seu rosto e certamente eu não estava tão diferente.
-Não era para nós termos feito isso. -Ele pegou a camiseta que estava no chão e vestiu.
-Eu não te obriguei a nada, você veio porque você quis.
-Não estou te culpando. -Ele me olhou com raiva. -Eu sou bem grandinho já para saber que sou eu quem escolho. -Saulo começou a colocar o tênis.
-Então já que já escolheu ficar comigo, fica aqui.
-Não, você é problema, garota. Desde quando eu coloquei meus olhos em você, eu deveria ter escutado o que o obreiro disse.
-Vai me dizer que não foi bom?
-Foi, mas não é esse o caminho que eu quero para mim.
Ele saiu, me deixando sozinha no quarto enrolada no cobertor.

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