Capítulo VI - LÁGRIMAS DA PARTIDA - PARTE III

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A pequena Shina apenas escutava toda aquela conversa sem entender do que estavam falando, seu pai sempre ergueu uma parede impenetrável em volta deste tipo de assunto, sempre que o tema aparecia sempre desconversava e mudava de assunto, a menina se perguntou se aquilo era mesmo verdade, ou se estava dizendo aquilo apenas como uma forma de escapar.

— Isso é apenas mais uma prova que jamais entenderá nosso verdadeiro sentimento! — Thiodor se virou para seu irmão Mambu.

A expressão de seus rostos era de pesar e tristeza, como se lembranças do passado viessem em sua mente, o quão profundas deveriam ser suas cicatrizes que eram mais doloridas que as marcas em seu corpo, elas pareciam gravada em suas almas e memórias, locais que eram difíceis de curar com remédio, ou mesmo com o tempo.

Ao mesmo tempo o pai da Shina parecia intrigado, e sem entender aquelas palavras, perguntou:

— Porque isso é prova que não conseguimos entendê-los?

— Ainda pergunta? É muito simples! Você que nunca teve ninguém, não pode entender o que é ter pais, amá-los e depois os terem arrancados de vocês diante seus olhos.

— Por mais que isso seja horrível e doloroso, não é motivo para fazer o que bem entendem, isso não justifica estes seus atos. — Recriminou Listel.

— O que você sabe! Perder alguém é muito pior do que nunca ter tido, pois é muito fácil se acostumar com o bom, quando temos afeto e carinho e tudo isso e tirado sem qualquer aviso. — Thiodor estava com os olhos embargados.

— Acha mesmo que nunca ter dito é melhor do que ter e perder? Se este for de verdade o que acredita, tenho pena de você! — Encarou os olhos de Thiodor com confiança.

— Isso mesmo! Nossos pais foram assassinados cruelmente... Eram boas pessoas e tiveram suas vidas roubadas e mandadas para Hades antes do tempo.

— Como pode dizer que não era a hora deles? Você é um mortal como todos nós, não tem como saber o destino de ninguém, podemos não aceitar algumas coisas, mas infelizmente não tem nada que possamos fazer. — Prosseguiu Listel.

—Sei muito bem disso! Não era a hora deles, era cedo demais. — Uma única lágrima escorreu pelo rosto de Thiodor percorrendo a cicatriz de três garras.

— Não ter é muito pior! Acredite em mim... Vocês pelo menos conheceram a alegria e amor, mesmo que por um período curto, sabem qual é a sensação e calor, enquanto aqueles que nunca tiveram apenas podem imaginar como deve ser, sendo obrigados a se virarem sozinhos sem ter alguém para ajudar, mas não é por causa disso que deveriam se tornarem assassinos ou bandidos.

— Não é fácil perder que amamos! — Gritou o garoto ruivo.

— Sei bem disso... A dor da perda é imensurável, também perdi alguém muito importante para mim, que era meu mundo e mais importante que minha própria vida. — Os olhos de Listel marejaram ao se lembrar de sua amada.

Todos ali se lembraram de suas perdas naquele momento, completamente estranho para a atual situação que se encontravam... Até mesmo o gigante Mambu parecia abalado e furioso ao mesmo tempo, tentando sufocar sua tristeza e raiva fechando os punhos com tamanha força que os nós de seus dedos estalavam, se contendo para não arrasar tudo em sua frente.

— Vocês não percebem que agir assim estão apenas se tornando iguais as pessoas que tiraram a vida de seus pais. — Perguntou Listel tentando de alguma forma colocar um pouco de juízo na cabeça daqueles três.

— E o que tem isso! — Gritou Mambu.

Aquelas palavras foram como um tapa na cara de Listel, naquele momento percebeu que talvez eles não tivessem mais salvação.

— Ser igual aos que tiraram as vidas de nossos pais não me parece tão ruim. Afinal tiraram vidas de pessoas inocentes como se não fosse nada e mesmo assim saíram impunes, destruíram casas, famílias e pessoas e mesmo assim não tiveram o que mereciam, desta forma porque deveria me preocupar! — Mambu cuspiu as palavras.

— Já sabemos o que queremos, nada que você diga nos fará mudar de ideia, vamos atrás daquilo que queremos, não quero ser mais um tolo como muitos que morreram por uma deusa que nem sequer é capaz de salvar os inocentes que sempre acreditaram nela. — Thiodor emanava um estranho brilho sombrio em seu corpo.

— Como disse não tenho dinheiro, muito menos algum bem de valor, se quiser podem procurar por vocês mesmo, vejam! — Jogou as malas aos pés de Thiodor e Thifonte.

— Thifonte. Veja se o que está dizendo e verdade. — Thiodor fez um gesto de cabeça para que o irmão conferisse as coisas.

— Sim. — Correu a frente, o garoto ruivo se abaixou e fez uma varredura nas coisas de Listel, mas nada encontrou.

— Alguma coisa útil? — Perguntou Thiodor ainda emanando o brilho vermelho por seu corpo.

Depois de olhar para as coisas e confirmar que realmente não havia nada que valesse apenas, tudo que havia ali eram algumas mudas de roupas, porta-retratos e cartas desgastadas pelo tempo.

— Não tem nada aqui, irmão! — Anunciou Thifonte.

— Parece que estava dizendo a verdade. — Thiodor encarou Listel.

— Será que poderia nos deixar passar agora?

— Sinto muito, mas isso não será possível e não ser que me responda com a verdade.

— O que quer saber?

— O que veio fazer realmente no santuário, ao procurar pelo Kauls ? — Era visível que tentar controlar seus sentimentos.

— Somos conhecidos, crescemos no mesmo orfanato.

— Sei... Você sabia que ele é um cavaleiro agora? — Perguntou Thiodor

— Soube no vilarejo que passamos, mas isso não me interessa, vim apenas para revê-lo e me assentar por aqui.

— Infelizmente acho que isso não vai acontecer... Sabendo que você é amigo de Kauls, é uma oportunidade que não posso desperdiçar, entende?

— O que quer dizer com isso? — Listel estava com um mal pressentimento sobre aquelas palavras, enquanto a pequena Shina tremia com os olhos prestes a romper em lágrimas.

— Quero dizer que irei mata-los para que aquele maldito sinta o que sentimos, isso fará entender um pouco nossa dor, espero que estejam prontos!

Mais uma vez o destino parecia brincar comListel, por um momento acreditou que estava livre do perigo, mas isso foiapenas uma ilusão momentânea, os jovens aspirantes a cavaleiros desertores nãoos deixariam ir assim. Como o homem iria reagir a este humor negro do destino?Iria sucumbir ao desespero, ou encararia o desafio de frente?


SAINT SEIYA - MARCADA PELA DOR.Where stories live. Discover now