Capítulo 2

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- Nathália Narrando -

Algumas semanas depois da nossa conversa finalmente resolvemos colocar em prática tudo que combinamos e eu confesso que estava amando viver algumas loucuras, até sexo casual eu fiz e eu nunca me imaginei fazendo isso. Bobeira, né? Não pra quem estava desde os 14 com o mesmo homem, era uma puta novidade. Sexo a três: no início fiquei muito receosa mas quando topei amei e gozei horrores. A minha relação com o Michel estava ótima, eramos amigos e parceiros, e isso nos unia cada vez mais. Dois meses após eu descobrir tudo ele veio me contar que tinha conhecido um cara e que estava se envolvendo com ele, eu tomei a decisão de conhecer o mesmo. Hoje viemos com o nosso filho até um shopping, finalmente eu iria conhecer o tal cara.

- Toma, esfomeado - Michel falou colocando a bandeja na mesa e se sentou

- Demorou - Kauã falou e eu ri da cara que o Michel fez

- Idiota - falou dando um tapa leve na cabeça dele e roubou uma batata

- Ele desistiu? - perguntei chamando a atenção dele

- Não, disse que tá - estava falando mas parou olhando pra trás de mim - Ele chegou

- Ótimo - falei sorrindo e ele acenou, um garoto que não devia ter mais de 23 anos se aproximou, trocaram um aperto de mão e ele parecia nervoso

- Essa é a Nathália minha esposa e o Kauã meu filho - Michel nos apresentou e eu sorri me levantando - E esse é o Jean

- Oi, sócio - falei brincando pra quebrar o clima e ele soltou uma risada

- Oi - falou me cumprimentando com dois beijos na buchecha

- Senta ai - apontei e ele se sentou - Fala com ele, Kauã

- Oi, tio - acenou sorrindo e voltou a comer

- Tá nervoso? - perguntei olhando pra ele

- Um pouco - confessou - Admito que nunca me imaginei nessa situação

- Nem eu - falei dando de ombros - Mas cada família é de um jeito, né? Nunca se sabe o que realmente se passa entre quatro paredes

- Você me odeia? - perguntou com medo

- Não - falei rindo fraco - Vou te odiar se você machucar ele

- Ah, jamais faria isso - falou sorrindo e olhou pro Michel, e ali eu percebi que ele estava completamente apaixonado pelo Michel

- O que você faz da vida, Jean? - perguntei curiosa

- Eu faço faculdade de direito, meu sonho é ser advogado - falou animado

- Tá com a pessoa certa, Michel - falei e ele revirou os olhos

- Eu não vou ser preso, meu amor, então ele não vai precisar trabalhar pra mim - falou dando de ombros

- Tá prevendo o futuro? - perguntei debochada

- Prefiro morrer - falou simples

- Só fala merda - neguei com a cabeça e ri baixo

- Vocês falam como se tudo fosse normal - Jean falou e eu sorri de lado

- É a nossa realidade, né? Bonito não é mas é a verdade - falei olhando pra ele

- Você se acostuma - Michel falou olhando pra ele

- Acabei - Kauã falou e eu olhei pra ele - Depois vamos comprar o meu sorvete e o lanche que vou levar pra casa

- Tem fundo não, garoto? Igual a mãe - Michel falou e eu dei dedo pra ele

- Cala a boquinha e vai pegar algo pra gente - falei e ele se levantou

- Vamos, campeão - chamou o Kauã e saíram

- O que você faz da vida, Nathália? - Jean devolveu a pergunta

- Eu tô fazendo um curso de Estética, o Kauã já tá maiorzinho e eu tenho mais tempo pra mim - falei e ele assentiu

- Mas quer trabalhar na área? - perguntou curioso

- Quem sabe, né? Talvez eu abra um negócio meu - falei pensativa

- Girl boss - brincou e eu ri

- Meu sonho - falei sorrindo

22 de Março de 2018

Hoje estava sendo o dia mais triste da minha vida, ser casada com um traficante é saber que a qualquer momento o seu marido pode morrer ou ser preso. O Michel foi morto ontem em um confronto com a polícia, quando eu recebi a notícia parecia que meu mundo iria desabar mas eu tinha que ser forte pelo meu filho. O corpo dele estava sendo velado e em nenhum momento eu saí de perto, na minha cabeça toda nossa vida passava como um filme. Saí dos meus pensamentos quando alguém se encostou ao meu lado, quando olhei era o Jean.

- Oi - falei fungando e eu percebi as lágrimas escorrendo pelo rosto dele

- Oi - falou me abraçando e eu desabei novamente no choro, nesses quatro anos ele se tornou um grande amigo

- Ele deixou a gente - falei chorando - Ele não vai tá aqui pra vê o Kauã crescendo

- Ei, eu tenho certeza que aonde ele tiver tá olhando pela gente, viu? E pode ter certeza que o Kauã vai crescer um garoto incrível e sabendo que o pai amava muito ele - falou fazendo carinho no meu cabelo

- Eu nunca vou deixar meu filho esquecer dele - falei tentando controlar o choro

- Ele não vai - garantiu e beijou minha testa

- Comadre - Rael falou se aproximando, ele era amigo de infância do Michel, eram como irmãos e ele era gerente geral na favela - Tá na hora do enterro

- Só vamos fazer uma oração antes - falei e ele assentiu, estava estampado na cara dele o quanto ele estava sofrendo pela perda do amigo - Chama a dona Fátima pra mim - falei me referindo a minha sogra, ele saiu e uns dois minutos depois a minha sogra entrou com o meu filho. Eu tinha conversado com ele e achei melhor traze-lo mas ele ficou o tempo inteiro lá com fora com a minha mãe - Vem cá, meu amor - chamei e peguei ele no colo

- O papai tá dormindo? - perguntou olhando curioso pro Michel no caixão

- Lembra que a mamãe falou que o papai iria morar no céu e não poderia voltar mais? Só nos nossos sonhos? - falei e ele assentiu - Agora nós vamos nos despedir do papai, ele precisa ir embora

- O céu é longe, mamãe - falou fazendo bico pra chorar - Eu não quero que ele vai

- Eu também não quero - falei limpando uma lágrima que escorreu - Mas ele precisa ir

- Por que? - perguntou me olhando e eu não sabia o que falar pro meu próprio filho

- Olha pro dindo - Rael falou chamando a atenção dele - O seu pai precisa proteger a gente, por isso que ele tá indo, menor. Ele vai proteger a gente de lá e eu daqui

- Ta bom - falou contrariado

- Dá um beijo nele - falei e ele se esticou dando um beijo na bochecha do pai, eu me aproximei e beijei a testa do Michel - Eu sempre vou amar você - sussurrei fungando

- Eu também, papai - Kauã falou baixinho e eu nem tentava mais segurar as lágrimas

Nathália Where stories live. Discover now