Dezesseis - Quando dizem que não dá para piorar

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Havia apenas o silencio…

As poucas almas vivas que restaram naquela avenida não ousaram mover um musculo. Muitos carros abandonados, vários motoristas abrigados atrás dos veículos, postes, placas e onda dava. E no centro de tudo, dois corpos e uma arma fumegando. Dentre os mortos, um policial do batalhão de operações especiais, mais precisamente um certo sargento vindo do Rio de Janeiro.

— Droga – resmungou Azevedo –, isso sempre acontece comigo. — Azevedo é o feliz proprietário da .40 fumegante. Desde os eventos que ficaram conhecidos como Rorschach de Sangue, o velho investigador é tido como um tipo incomum de “pé quente”, sempre saindo intacto das trocas de tiro. —Amigo seu?

— Ele é do BOPE – respondeu Batti, que assim como você no início deste capitulo, ainda estava incrédulo sobre estar vivo. – Ele é sargento de uma outra unidade que veio junto com a minha – Batti estava agachado, vislumbrado a face do falecido e confirmando sua identidade. – O BOPE não é lugar de corrupto. Esse já vai tarde.

Minutos antes, Murilo estava à uma rajada de ir visitar seu finado pai. Felizmente para o sargento, Azevedo compensava seu físico débil com um invejável dom para tomar a decisão mais correta, no momento certo. Caminhando furtivamente por trás dos carros, Azevedo se manteve oculto até ter uma visão limpa de tiro. A oportunidade surgiu quando sua preza se distraiu com Murilo Batti.

— Belo disparo – comentou Murilo. – Três tiros limpos.

— Vamos dizer que eu tive motivos para manter minha mira afiada. Se você passasse pelo que eu passei… - completou acariciando o seu volumoso bigode grisalho.

— Agora você tem minha atenção – disse Batti, ficando em pé novamente. – Você ganhou meu respeito. O que fazemos agora?

— Certamente não podemos confiar na polícia, mas esta parte meio que ficou óbvia– Azevedo falou em tom de humor. – Vamos esquecer o hospital, temos que encontrar a Sara. Escute… São sirenes.  Acho que temos que preencher alguma papelada. Me deixe assumir a parte burocrática, assim que eu conseguir te libero. A repórter está com o dossiê completo, ela sabe tanto quanto eu sobre este caso. Vá ao encontro dela assim que possível, e tente entender o que está acontecendo.

Em pouco tempo, batedores da polícia chegaram ao centro de tudo, subindo com suas motos sobre a calçada. A maioria dos policiais precisou se aproximar a pé. As viaturas ficaram presas no engarrafamento de carros abandonados, e levou várias horas até que o transito fosse liberado.

Como prometido, Azevedo conseguiu liberar Batti com um rápido depoimento e uma promessa de que o sargento iria em outro momento até a delegacia prestar esclarecimentos. Assim que pode, Murilo pegou um taxi e finalmente conferiu as mensagens eu seu telefone. Estava um verdadeiro carnaval, repleto de confetes de SMS. Não era normal, visto que o sargento não ligava muito para esse tipo de recurso. A maioria parecia ser urgente.

Ele retornou primeiro para um pedido urgente da Sara Müller, convenientemente ele já precisaria falar com ela.

Chamando Sara Müller, ascendeu no visor.

— Precisamos nos encontrar em um lugar neutro – Batti iniciou. – Sugere algum?

— Na verdade – respondeu Sara –, eu acho que tenho um perfeito – respondeu a repórter, dentro de um quarto de hospital, observando um alegre Natan que brincava de não comer a gelatina que Sofia insistia em empurrar para ele.

— Garoto – berrou a ruiva –, come logo isso – com a face emburrada, ameaçava o policial com uma colher cheia de gelatina de limão. – Você estava em coma, não é possível que não queria comer nem um pouquinho.

Cordão Negro - (completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora