A Luz Que Há Entre Nós

By ClaraSavelli

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Murilo é um pré-vestibulando que está arrancando os cabelos por não saber quando (ou se) vai conseguir fazer... More

Sinopse
17 de novembro de 2020: Dia 01 da luz
22 de novembro de 2020: dia 06 da luz
25 de novembro de 2020 - Dia 09 da luz
02 de dezembro de 2020 - dia 16 da luz
06 de dezembro de 2020 - dia 20 da luz
07 de dezembro de 2020 - Dia 21 da luz
12 de dezembro de 2020 - Dia 26 da luz
16 de dezembro de 2020 - Dia 30 da luz
18 de dezembro de 2020 - Dia 32 da luz
21 de dezembro de 2020 - Dia 35 da luz
22 de dezembro de 2020 - Dia 36 da (falta?) da luz
23 de dezembro de 2020 - Dia 37 da (falta?) da luz
24 de dezembro de 2020 - Dia 38 da (volta) da luz
Nota da autora

28 de novembro de 2020 - Dia 12 da luz

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By ClaraSavelli

As luzes acenderam bem na hora que minha mãe tinha acabado de chegar do mercado. Ouvi quando ela bateu a porta atrás de si e entrou na cozinha. Sabia que depois ela iria começar a higienizar e guardar as compras. Ela não me deixava ajudar, para não correr o risco de duas pessoas ficarem em exposição ao vírus. Quando terminava, corria para tomar banho. Ir ao mercado era uma missão de dia inteiro. Então, por mais que fosse sábado, eu quase não a tinha visto. A parte boa é que eu tinha adiantado bastante meus estudos. Tinha passado o dia inteiro assistindo vídeos de pessoas de boa vontade explicando detalhes sobre a geopolítica atual. Estava tão focado que tinha até almoçado em frente ao computador, sem tirar os olhos das explicações.

Tinha acabado de abrir mais um vídeo quando ela bateu na minha porta, com a toalha enrolada na cabeça e já vestindo seus pijamas. Girei no eixo da minha cadeira de rodinha para olhar para ela, não sem antes dar pause no vídeo, que parecia muito útil para meus estudos. Sabia que precisava estudar, mas tínhamos passado o dia separados e eu sabia o quanto ela vinha se sentindo sozinha nessa quarentena. Minha mãe sempre foi muito ativa, se enfiando em mil atividades extras na igreja que frequentava. Sentia falta do convívio com suas amigas que, majoritariamente, eram uns vinte anos mais velhas que ela. É claro que nenhuma delas estava colocando o nariz fora de casa.

— Filho, está uma loucura lá fora — foi o que ela começou a dizer. — Acho que a pandemia acabou e esqueceram de nos avisar.

— Muita gente usando máscara errado? — Perguntei, preocupado com sua saúde.

— Se fosse só isso, não seria muito diferente do que a gente viu o tempo todo, né? — Perguntou ela, entrando no meu quarto. — Gente usando máscara quase nos olhos, gente usando máscara pendurado de lado, gente usando máscara no pescoço como se quisesse tampar uma caxumba...

Dei uma risada nervosa com essa última descrição. Minha mãe inventava cada uma. Conversar com ela era um passatempo que permitia que eu não enlouquecesse preso naquele apartamento com meus estudos.

— O problema é que eu vi muita gente sem máscara! — Minha mãe disse, se sentando na minha cama, em tom horrorizado. — Simplesmente sassaricando por aí como se nada estivesse acontecendo... E se aglomerando em bares, ainda por cima!

— Irresponsáveis — xinguei, irritado. Parecia que eu vivia irritado. A culpa era do ENEM, sim, mas também daquela loucura que estávamos vivendo e das pessoas que pioravam a situação. — Você tomou cuidado, né mãe?

— Claro que sim, Murilo — respondeu ela, dando um sorrisinho. — Mas esse tipo de coisa me deixa triste.

— A mim também — concordei.

— Enfim, — levantou-se da cama novamente. — vou preparar o jantar, tá bem? — Perguntou, andando na direção da porta do meu quarto. — Comemos juntos?

Olhei de soslaio para meu monitor com o vídeo em pausa.

— Sim — respondi. — Me chama?

— Pode deixar — respondeu, saindo.

Com um suspiro de exaustão, levantei-me da cadeira e fui até a janela. Era no mínimo injusto que tanta gente se sentisse no direito de andar por aí como se fossem imunes ao vírus e como se não fossem vetores para pessoas que, de fato, precisam sair de casa. Ficava tenso toda vez que minha mãe saía para o mercado, mas ela me impedia de ir em seu lugar por conta de minha asma. Fazia anos que eu não tinha um ataque, mas ela cismava que eu teria um no segundo que eu pisasse fora de casa.

Distraído com meu ódio pelos seres humanos, demorei um tempinho para ver que tinha alguém na varanda natalina. Só conseguia ver um pedacinho do cabelo black power da minha vizinha, enquanto ela balançava na rede. As luzes refletiam neles, transformando seus cachos em verdes, amarelos, azuis e vermelhos em uma sequência constante. Era um pouco engraçado. O cabelo psicodélico de... Luiza?

Quando percebi estava rindo da cena. Era engraçado e era bonitinho e era fascinante. Foi nesse exato momento que percebi que estava claramente tempo demais dentro de casa, para achar uma cena corriqueira como aquela divertida.

Entrei no quarto e fechei a janela antes que ela percebesse minha presença na janela. E, pior ainda, percebesse que eu sorria.

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Estão gostando?? Vou dividir a postagem do conto em três dias - hoje, amanhã e dia 24! Mas fiquem tranquilos: o conto já  está prontinho, então vocês vão saber o final COM CERTEZA.

Comentem aí o que estão achando <3 

Beijos

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