[LIVRO I, CAPÍTULO IV: ATO IV]
Uma luz de muita intensidade cresce da fresta no centro da fronte de Legião de onde uma fumaça de cor cinza é expelida em seguida. A fumaça cobre todo o corpo de Lúcia que cai em velocidade vertiginosa ao chão envolta na nuvem. Ao mesmo momento o gigantesco navio passa para a parte debaixo do plano sendo possível notar que estava partido ao meio faltando parte da proa.
Legião se desfaz em uma nuvem escura e reaparece de pé em frente à possessa Lúcia. A fumaça cinza se dispersa em exatos quatrocentos e noventa fragmentos fumegantes. Sobrevoam e rodam aleatoriamente o demônio que possuía Christian.
O Abdômen de Lúcia solta uma água viscosa dos cinco ferimentos de dedo, parecia pus. Neste momento há um diálogo de demônio para demônio.
- Nós, que somos muitos, somos quem vos comanda! Não tens autoridade sobre a Princesa, Ela tem autoridade sobre vós.
- NÃooo... VOOOouhruuurr voltarrrr sem elaaaarr...
- Quem sois vós que ultrajais e profanais o despertar da Treva Profunda?
- Eeeeuuuuhhhrrr... Sssssoooou...
- Prononcu vian nomon! (Pronuncie o seu nome)
- Zeeeeeeepaaaaaaaaarrrrrrrrrrr!
- Vós que sois Duque sequer poderíeis se aproximar da que habita e dorme nas profundezas. Debanda... ĜUSTE NUN! (AGORA MESMO!)
Ao fim da última sílaba do diálogo o corpo dela convulsiona e da boca sai um jato de líquido escuro e espesso. O mesmo ocorre através dos furos em seu abdômen e uma grande bolha se forma bem acima da moça enquanto Legião olha em direção a esta.
- Vinde, pois, a nós, que somos Legião! Tu não tens demanda e pertencei vós a nós!
Então a Bolha se torna um jato de água que adentra pela fresta na testa do demoníaco ser em posse do corpo do Irmão de Lúcia. Tendo absorvido aquela alma infernal para si, o demônio então se vira para onde Pavloki está parado o observando. O Jovem cruza olhares com a entidade.
Pavloki faz sinal, erguendo devagar as mãos, solicitando calma ser que possuía o corpo do Amigo. A Criatura então cerra os olhos quase por completo, parece focar a busca na memória por alguma coisa em específico. O Demônio está curioso com alguma coisa e diz uma palavra.
- Uruz!
- Calma! Eu sou só um cara que gosta de diversão ok? Mas Eu também gosto do meu Amigo: Se não for muito abuso... Podemos... Negociar?
- Uruz!!
-... Ok, Uruz... É alguma coisa da língua de onde vim, mas não sei o que significa ok? Minha Vó saberia, mas é que e Eu faltei às aulas de história local de lá da casa dela, era um porre! Assim, sem querer ofender: Teria a remota possibilidade de Você sair dele? Eu fic...
- URUZ!!!
- ("... Porra, Eu devia entender essa merda, maldita hora que matei aqueles passeios na casa da vó Bestla!") Certo, isso não vai funcionar... Ok, se Eu vou morrer... Melhor me preparar: Por mim e por Eles!
Pavloki então fica em postura ereta. Os braços se abrem, estão pouca coisa afastados dos lados de seu corpo, e a palma das mãos estão viradas para frente. Ele olha para o que seria o céu dali e vê outro enorme objeto se projetar agora cobrindo grande parte do espaço aéreo: Era um enorme arranha céu que girava vagarosamente soltando estilhaços de vidro, fogo e fumaça da onde vinham gritos e pedidos de socorro ecoando.
- URUZ! URUZ!! URUZ!!! URUZ!!!!
- Eu não sei por que, mas esse lugar me deixa calmo quando paro pra prestar atenção nele... Olha esse merda? Hahah... É... Só me resta fechar os olhos e fazer uma prece mesmo. Chris, foi mau cara, só tenho como me agarrar no que a vovó falava agora e se Ela visse isso Ela ia adorar.
- URUZ! URUZ!! URUZ!!! URUZ!!!!
O Demoníaco ser permanece apontando para Pavloki e repetindo a palavra. O Jovem está determinado e se mantém de olhos fechados a clamar pelos deuses que sua avó tem fé, usando o idioma de sua descendência: Ele estava a ofertar a própria vida pela vida dos Amigos.
Sendo Imperceptível para Ele dada a concentração que o acometia, uma luz azul clara bem fraca é emanada pela palma de sua mão esquerda. Ela forma o desenho de uma runa e esta runa ressoa com o Demônio no Corpo de Christian. Este diz algumas palavras exibindo surpresa.
- NE EBLAS! (NÃO É POSSIVEL!) Vós que pisais no espelho das catástrofes tendes o sangue da linhagem... Quem sois vós? – Indaga o Demoníaco Ser, em alto e bom tom, se referindo ao Mortal a sua frente.
Pavloki continua de face voltada para o céu, em prece. Repentinamente Legião se transforma em areia escura de novo a girar rapidamente em torno de Christian, como quando o possuiu.
Ele cai ao chão desmaiado e a areia se junta toda no céu, circulando e subindo, tentando tomar forma. Parece querer voltar à forma de um inocente guarda-chuva, mas não consegue devido à luminosidade produzida pela mão de Pavloki. A energia é uma poderosa luz viva e benigna, fazendo com que Legião desapareça dentro dela.
Mais e mais a luz toma conta do Espaço Diferente. Pavloki não cessa suas preces e verdadeiramente espera o pior. Eis que Ele ouve uma gentil voz feminina sussurrar em seu ouvido misteriosas palavras de alívio.
- Mas Você está indo longe demais. Hora de parar a viagem notável semente dos Jötunn... Obrigada por ser um amigo tão leal e salvar... Meus anjinhos...
Abrindo os olhos logo que a voz se vai, Pavloki não vê mais nada no céu: Não existe mais o vasto acúmulo de estrelas e nem o enorme edifício está lá.
Tudo está envolto em uma luz de cor azul clara. Ele começa a olhar para os lados e não consegue enxergar nem Christian e nem Lúcia.
- Olá?! Oi, quem é Você? O que é que tá rolando aqui?
- Vocês estão a salvo – Responde a voz
- Quem é?
- Obrigada por salvar meus filhos... Deixe-me retribuir o favor: Eu não posso sair por muito tempo, mas vocês podem ir aonde Eu quiser leva-los. Empreste-me sua um pouco da essência de sua anima, Eu já devolvo a você...
- O quê? Como assim?
O Jovem sente subitamente uma indescritível tontura. Ele cambaleia firmando pé ante pé para não ir ao chão, mas uma fraqueza se instala em união a já vertiginosa e turva visão. Antes de não aguentar mais e cair, Pavloki vislumbra a silhueta do que parecia uma mulher nua de cabelos longos até um pouco abaixo da cintura tendo quatro asas saindo de suas costas.
Tragado pela fadiga o desmaio o abraça. É de valor reportar que o tempo no Espaço Diferente corre sem as regras humanas. Dito isso afirmo que todos estes eventos ocorreram dentro dos três segundos do clarão causado pelo choque entre Legião e Zepar, que possuíam os Irmãos, ao adentrar o Espaço não intencionalmente.