UM MÊS E MEIO DEPOIS....
Acordei às 7h de uma segunda, como todo dia de trabalho, me arrumei e sai pra trabalhar, não fazia nada MUITO cansativo não e nem trabalhava todos os dias, apenas segunda, quarta e sexta, como recepcionista de um prédio comercial, onde estava sempre cheio de advogados, trabalhava também nesse cargo eu e mais três meninas, inclusive a Amanda.
Cheguei 7:40 como todo dia, era cronometrado meu caminho. Guardei minhas coisas, dei um jeito na maquiagem e sentei em frente ao meu computador. Amanda já estava lá imprimindo uns papéis.
- Fala gata... -disse me mandando um beijinho.
-E ai amiga? Pronta pra mais um dia? Sabe que hoje vai chover advogado aqui né, cadastrar esse povo todo vai ser tenso.
- A gente da conta Manuzita.
Oito horas e já estava bem cheio, o dia estava prometendo. Eram cadastros para serem feitos, contratos para analisar, pessoas com mil dúvidas. Nada tão cansativo porém tinha dia que precisávamos de muita paciência.
-Manuela, você pode levar esses papéis pra sala 7 por favor? - meu amado amigo Diego, assistente administrativo pediu. Adorava ele de paixão. Rapaz de ouro. As meninas adoravam ele também e posso dizer até que davam umas olhadas a mais, menos eu. Não me atraia como homem não, aliás, depois do Fernando, que nem me ligou, eu não tinha me interessado por outro cara tão loucamente como foi com o bonitão da boate.
-Tudo bem querido. - me virei pra Amanda - Vou aproveitar que agora melhorou aqui e vou levar os papéis lá, tá?
- Tudo bem.
Me levantei super rápido, e nessa hora tudo girou e ficou escuro. Me apoiei na bancada.
- AMANDA - chamei
Ela se levantou na mesma hora, me segurou.
- Que foi Manu? Que foi?
- Não sei, fiquei tonta, tudo ficou escuro... - falei preocupada.
Ela puxou minha cadeira.
- Senta aqui.
Diego logo chegou pra me ajudar.
- O que ela tem Amanda?
- Se sentiu mal, ficou zonza.
- Você comeu alguma coisa antes de sair de casa Manu? - perguntou preocupado.
- Só tomei um Nescau, como faço todos os dias. - Eu estava sentada ainda não me sentindo muito bem, mas estava respirando fundo pra não me desesperar.
- Leva ela no banheiro Amanda, joga água na nuca dela. –Diego orientou.
Eu e Amanda fomos para o banheiro e depois de lavar o rosto e ficar ali um tempinho, eu me senti um pouco melhor. Sentei num banquinho que tinha no banheiro paras senhorinhas.
- Acho que você teve uma queda de pressão.
- É, deve ter sido pressão mesmo.
- Melhor você ir pra casa Manuela, você chega a estar pálida.
- Não Amanda, não vou perder um dia de trabalho. Eu tô melhor, juro.
Ela suspirou insatisfeita com minha resposta...
Saímos do banheiro e eu tranquilizei Diego, disse que estava 100% já, a verdade é que eu ainda me sentia um pouquinho mal, mas não queria ir embora. Morria de medo de perder meu emprego, meus pais me ajudavam muito, eles pagavam meu aluguel e minha faculdade, mas isso não me tirava o dever de trabalhar e ter o meu.
Sentei no meu computador e continuei o trabalho normalmente, os papéis que eu tinha que levar pra sala, já tinham ate levado.
MEIO DIA, hora do almoço.
Eu, Amanda e Gabriela que também era recepcionista fomos no restaurante de sempre, na esquina do prédio. Era ótimo.
Eu estava até meio sem fome, mas peguei um pedacinho de frango que era o que eu mais gostava e salada, só pra não deixar de comer. Sentei na mesa e fiquei esperando as meninas.
Gabriela logo chegou na mesa com seu prato, ela tinha escolhido fígado. Foi só eu sentir aquele cheiro e olhar aquele bife que tive que voar para banheiro pra não passar uma enorme vergonha no restaurante.
Entrei já vomitando e muito preocupada, afinal não estava entendendo tanto mal estar.
- MEU DEUS, O QUE TÁ ACONTECENDO COMIGO?
Não demorou e Amanda também estava no banheiro.
- MANUELA, ABRE AQUI!!! - Amanda batia na porta - MANUELA!!!
Abri a porta limpando a boca.
-Cara estou realmente preocupada com você. O que te deu??? Primeiro você fica tonta, e agora vomita assim. Sua menstruação já desceu?
NO MOMENTO QUE ELA ME PERGUNTOU, GELEI, TENHO CERTEZA QUE FIQUEI MAIS PÁLIDA AINDA, POIS FOI NESSE EXATO MOMENTO QUE LEMBREI: MINHA MENSTRUAÇÃO ESTAVA SUPER ATRASADA. SUPER SUPER SUPER!
Como eu não estava namorando, e sem ter relações há um bom tempo, eu não me preocupava ou me desesperava com qualquer atraso, porém depois da noite tórrida que tive com o cara da boate, minha menstruação não tinha descido mais e lembrar disso me deixou num estado de desespero.
Amanda ficou me olhando, estava assustada.
- Manuela pelo amor de Deus, me diz que sua menstruação já desceu. Por favor.
Eu coloquei a mão na boca, eu estava parada feito estátua, eu não podia acreditar, EU NÃO QUERIA ACREDITAR!!!
- PELO AMOR DE DEUS MANUELA, ABRE A BOCA E ME DIZ ALGUMA COISA!!! - Agora era Amanda que estava desesperada.
Eu olhei pra ela.
- Minha menstruação não desceu Amanda. - foi a única coisa que saiu da minha boca.
Eu comecei a respirar fundo como se me faltasse ar, eu andava pra lá e pra cá dentro daquele banheiro, as lágrimas começaram a brotar nos meus olhos, o desespero tomou conta total.
- Não amanda, não é possível, não é possível amiga! Não, não!!! Meu Deus não, por favor não.
Amanda me segurou, me olhou séria.
-Calma. Mantenha a CALMA. Já esta atrasada há muito tempo?
-Sim, a última vez foi antes do aniversário do Guilherme, eu lembro porque dois finais de semana antes da festa na boate vocês me chamaram pra praia e eu não pude ir.
- Nossa, ta super atrasada mesmo. Depois do cara da boate, você transou com alguém?
-Não, mais ninguém.
- Mas vocês usaram camisinha né?
- Eu não lembro Amanda, eu não lembro. Eu estava bêbada, não lembro de tudo - o desespero me consumia, as lágrimas desciam pelo meu rosto
- Manuela, eu não acredito que você transou com aquele cara sem camisinha, você só pode estar brincando, meu Deus Manuela. Tá louca?
Ela respirou fundo, e eu só sabia chorar.
- Faz assim, eu vou na farmácia aqui perto e compro um teste, você faz e pelo menos a gente fica sabendo se é isso que a gente ta pensando ou as vezes foi algo que você comeu, ou apenas um atraso, pode não ser nada demais - disse tentando me acalmar.
- Eu vou com você, não quero ficar na mesa com a Gabriela.
Saímos do banheiro e inventamos qualquer desculpa pra Gabi que já tinha ate terminado de comer, tadinha da Amanda nem almoçou por minha causa. Foi dinheiro jogado no lixo pois nem comemos.
Tínhamos meia hora, a sorte é que a farmácia era bem pertinho. Comprei o teste e voamos pro banheiro do prédio.
- Eu estou tão nervosa. – A verdade é que eu estava sem coragem pra fazer o teste, não queria confirmar as minhas suspeitas.
- Anda, faz logo, ás vezes você tá desesperada atoa Manu, pode ser só um atraso. - ela tentava me enganar mas eu sabia que ela tinha 90% de certeza que eu também tinha.
Entrei para banheiro e fiz o teste. Sai do banheiro INCONSOLÁVEL. Chorava feito criança só de olhar aquela fitinha com dois tracinhos.
Amanda me olhou sem saber o que falar, me abraçou apertado.
- Não Amanda, não pode ser, como eu pude fazer isso? Como? Meu Deus - eu chorava muito, meu rímel que não era a prova d'água escorria pelo meu rosto. Que desespero! Que medo! Que angústia!
-Calma Manu, calma!
- O que vai ser de mim Amanda? Sozinha, mãe solteira. Eu não sei cuidar de um bebê, eu não quero cuidar de um bebê.
- Eu vou te ajudar em tudo, você sabe que pode contar comigo.
Ficamos pelo menos 10 minutos abraçadas naquele banheiro, eu molhei a blusa da amanda no ombro toda, sujei de rímel. Eu tentava me controlar, e não conseguia.
- Lava o rosto amiga, vem cá - ela me ajudou lavando meu rosto, pegou uma toalhinha que ela tinha na bolsa, enxugou, limpou todo o rímel escorrido. Ela estava sendo uma amiga e tanto.
- Amanda, o que eu vou fazer agora? Me diz!!!
Ela me olhou séria.
-Olha, presta atenção, saindo daqui nós vamos num laboratório, você precisa fazer um exame de sangue ok? Feito isso e a gente confirmando. – Amanda puxou o ar - Manu você vai atrás desse tal de Fernando.
Eu olhei pra ela, como ir atrás do Fernando? Como? O cara nem me ligou! Fora que da mesma maneira que eu não o conhecia direito, ele também não me conhecia. E se ele não acreditasse em mim? Seria humilhante.
- Mas ir atrás dele como Amanda?
- Você faz o exame e leva pra ele. Você lembra aonde ele mora né? Falou tanto que tudo é lindo, chique. Com certeza lembra. Você precisa fazer isso Manuela.
- O cara vai me colocar pra fora, tenho certeza!
-Manuela, você precisa tentar. Você mesmo disse que naquele dia ele te tratou super bem, foi super educado, divertido.
-Lógico, ele queria me levar pra cama. É muito diferente eu chegar agora e dar essa notícia.
- Bom, essa é minha opinião, acho que você não pode simplesmente esquecer que ele existe e que contribuiu pra isso acontecer.
13:05! Estávamos 5 minutos atrasadas. Depois de me controlar ao máximo pra não sair daquele banheiro me descabelando, fomos pra mesa e o dia correu com muito trabalho. Eu estava com meus pensamentos a mil, estava super abalada, eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Eu amava bebês, mas não queria um pra mim, só de pensar em gravidez me dava um frio na espinha. E o pior não era só o fato de ter um bebê aos 20 anos com uma vida toda pela frente, com a faculdade caminhando, um trabalho fixo, o pior era saber que o pai dessa criança era um estranho, um cara de uma noite. Nunca tinha feito isso, e na primeira vez, ainda fiz errado. Que irresponsável!
- Vamos? - Amanda me chamou cortando meus pensamentos. Hora de ir embora graças a Deus.
- Vou pegar minha bolsa.
Peguei minhas coisas no armário e nós fomos para o laboratório, fomos andando mesmo, conversando, ela tentando me consolar, dizendo mil vezes que eu precisava procurar o Fernando. O laboratório estava vazio, paguei 25 reais pelo exame, e logo me chamaram pra coletar o sangue.
- Você quer? - a moça me surpreendeu com a pergunta.
Olhei pra ela, e sem abrir a boca balancei negativamente a cabeça.
Ela sorriu sem jeito.
O exame demorava uma hora para ficar pronto. Ficamos sentadas perto do laboratório mesmo.
- Faz o que eu to te falando Manu, caso dê positivo, amanhã que não vamos trabalhar, você vai na casa do tal Fernando, tem que arriscar.
- Não sei Amanda, não sei. Ele deve trabalhar pra ter tudo o que tem, não deve estar em casa qualquer dia, qualquer horário...
- Não importa, falta a faculdade e vai a noite.
- Ele não vai acreditar em mim, tenho certeza que vai achar que eu transei com vários caras e quero jogar essa pra cima dele.
-Se ele não quiser, tudo bem, a gente cuida, amor é o que não vai faltar. Mas ele precisa saber, vocês precisam conversar.
Eu estava me sentindo sem rumo, sem vida, sem vontade pra nada. Me culpava a cada segundo. Namorei anos e isso nunca havia acontecido, e apenas uma noite estava prestes a mudar minha vida todinha, um bebê é uma responsabilidade muito grande, ser mãe deve ser a coisa mais magnífica na vida de uma mulher, porém no momento certo. E o meu momento era totalmente errado.
-Vou la pegar o exame, ta?
- Ta bom.
Amanda foi e eu fiquei sentada tentando buscar o lado positivo daquela história e não encontrava. As lágrimas desciam pelo meu rosto sem parar.
Quando Amanda voltou e me entregou o exame, eu não enrolei. Abri logo e lá estava a confirmação que eu mais temia: POSITIVO.
Amanda me abraçou e eu mais uma vez chorei muito em seu ombro. Muito. Daria pra alagar uma cidade.
-Como vou contar isso para os meus pais? Como? Vai ser uma decepção pra eles. Disse que viria pro Rio pra estudar, trabalhar. Não quis ficar em São Paulo pra ajudar no comércio deles e olha o que eu fiz aqui, engravidei de um estranho. Amanda como eu pude ser tão suja? - minha voz sumia junto com o choro.
- Manuela você esta estudando, trabalhando, tem seu dinheiro. Um bebê é uma dádiva. As coisas vão se resolver.
Depois de mais de uma hora de choradeira, eu não queria mais alugar a Amanda e atrasar ela.
- Você não vai pra aula?
- Não Amanda, eu não tenho condições. Desculpa te atrasar tanto.
- Para de se desculpar. Quer que eu vá pra casa com você?
- Não, você já fez muito por mim, não sei o que seria de mim sem a sua amizade.
Ela ainda me abraçou forte e me disse palavras de conforto. Ela seguiu pra faculdade e eu peguei um táxi para casa, não queria esperar um ônibus, queria chorar sem ninguém ficar me olhando.
Cheguei em casa e desabei. Eu chorei tanto que meu rosto ficou até inchado, olhos saltando. Quando criei coragem, tomei um banho e mais uma vez foi uma choradeira só, eu me imaginava sozinha com um bebê, tendo que cuidar, tendo que trancar minha faculdade e voltar pra casa dos meus pais, tendo que passar por tudo sozinha, sem o pai do bebê do lado. Nem de longe eu sonhava isso pra mim, sempre sonhei em me formar, casar, ter uma vida legal e aí sim engravidar.
Depois de um longo banho, e pensar, me culpar, tentar achar uma saída, eu decidi que iria sim na casa do Fernando no dia seguinte. Amanda estava certa, eu precisava tentar e se caso ele não acreditasse ou não quisesse, essa barra eu enfrentaria sozinha. Me deitei e enquanto ficava o olhando o resultado sem parar, lágrimas e mais lágrimas desciam pelo meu rosto encharcando o travesseiro.
Passava das três quando consegui pegar no sono. E acho que de tanto pensar em gravidez, sonhei que tinha um menino lindo, eu sorria feliz com ele num parquinho, ele já andava e falava mamãe. Acordei 9 da manhã com meu celular tocando, era Amanda.
Troquei algumas palavras com ela, mas não demoramos, ela iria almoçar com Gael, seu namorado, e depois viria passar a tarde comigo. No fundo no fundo eu sentia que apesar de ter outras amigas eu só podia contar com a Amanda, só ela me ajudaria de verdade, gostava das outras, era divertido quando estávamos todas juntas na faculdade ou quando saiamos, mas não sei se na hora do sufoco elas estariam prontas pra me ajudar, decidi que ninguém saberia da minha gravidez, só saberiam quando a barriga já não tivesse como esconder. No trabalho eu até contaria, afinal Diego era super querido e amigo, merecia saber o que eu estava passando. Mas antes de tudo isso, alguém muito mais importante e fundamental nessa história precisava saber, o pai! E esse daí eu temia.
Levantei e não quis comer nada, liguei a TV da sala e me joguei no sofá, eu estava completamente sem ânimo.
A tarde chegou e com ela trouxe a Amanda, ela fez brigadeiro, sabia que eu amava, mas só comi uma colher pra agradar ela e não fazer desfeita.
- Manu você não pode ficar sem comer, ficar nesse desânimo, pensa que agora você tem que cuidar do seu corpo direitinho pois alguém depende dele.
Eu fiquei olhando pro nada, totalmente perdida.
- Eu penso, penso, penso e nao acho as palavras certas pra contar pro Fernando.
-Na hora as coisas vão fluir. Eu vou dormir aqui hoje ta? Vou te esperar aqui.
Deitei em seu colo e me encolhi toda.
- Cara eu não sei nem como te agradecer, sério mesmo.
- Deixa disso, não precisa agradecer. Sabe que pode contar comigo.
Eu estava me ajeitando na frente do espelho, iria sair de casa as 19h pra tentar encontrá-lo em casa, estava de calça jeans e sutiã, antes de colocar minha blusa, olhei pra minha barriga e acariciei, mas ainda não estava a vontade pra isso, me senti estranha, vesti minha blusa e terminei de me ajeitar.
Estava na recepção com Amanda, esperando o táxi que havia pedido.
- Fica calma, conversa com calma. Não vai adiantar se desesperar na frente dele.
- Tudo bem.
O táxi chegou e segui meu rumo, o cara vai surtar quando souber que vai ser pai, talvez seja ate o sonho dele, mas com uma estranha? Isso tenho certeza que não.
Cheguei na portaria, e pedi pra falar com o senhor Fernando da cobertura.
- O senhor Fernando ainda não chegou.
Eu olhei pra ele mostrando meu desapontamento.
- Será que eu posso esperar?
-Pode sim senhora, pode sentar ali - disse apontando para os sofás que tinham na recepção.
Sentei no sofá e ali fiquei durante uma hora e meia esperando. Estava agoniada, nervosa, ansiosa... Não queria ficar mais ali naquela espera, na hora que levantei decidida a ir embora ele entrou pela recepção e meu coração acelerou, e eu não pude deixar de notar como ele estava lindo de roupa social, mas por outro na mesma hora pensei que ele poderia ter arrumado alguém nesse tempo que passou depois daquela noite, o medo de que eu chegasse atrapalhando toda sua vida me dominou.
Ele chegou sozinho, quando me viu, não escondeu sua surpresa. Ficou me olhando de um jeito engraçado, EXTREMAMENTE SURPRESO.
Gentee linda peço que se estiverem gostando, comentem e votem na história!! =)