once upon a plug {l.s}

By infactIarry

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Na qual Harry e Louis transam e não se lembram de nada depois, Louis acorda com um plug e Harry tira uma foto... More

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Trailer OUAP!
OUAP is back!
Um Milhão de Pequenas Coisas
trilogia Um Milhão de Pequenas Coisas
capítulo extra final

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By infactIarry

LOUEH

E mais uma att no cronograma! yay

Estão ficando mal acostumados, nesse ritmo, vamos terminar a fanfiction antes do natal (ai meu deus a dor é real)

Esse capítulo... o que dizer dele?

Eu amo gamedays então sou suspeita! Mas esperem muita adrenalina, emoção e revelações (como todo e qualquer outro cap daqui até o final k)

O dinamismo vai aumentar conforme nos aproximamos do final e não se surpreendam com mudanças drásticas de eventos, pois são bem comuns nessa parte do desenvolvimento do plot.

Tendo dito isso, espero que gostem do cap, peguem a pipoca, relaxem e boa leitura!

Cap está...

(está mesmo k)

Dias de jogo.

Dias de muita emoção, adrenalina e espírito esportivo.

Principalmente no mundo universitário, onde qualquer notícia que fuja da temática acadêmica escolar curricular captava suas atenções, e sentado entre Zayn e Niall no fundo do ônibus em direção à universidade na qual iriam jogar contra, Louis suspirou aliviado.

Preocupados demais com a possível classificação para a final do campeonato, os universitários mal direcionavam olhares, comentários ou julgamentos em sua direção. Alguns esporádicos, sim, mas nada comparado há dias atrás.

Era bom ser esquecido, por ora.

E compreendia a sensação, afinal, sentia no peito a ansiedade e expectativa do grande jogo, nublando pensamentos sobre sua própria situação pós-foto divulgada, sem mencionar a ligação inusitada que acabou revelando ser de Felicité - como poderia ser outra pessoa, afinal de contas? Sua mãe estava morta, e com certeza não pegaria o celular para ligar.

Certo?

De qualquer forma, aninhado entre os amigos, deixou que a tensão nos ombros se dissipasse e que as linhas marcadas na testa sumissem - até o apito final, só pensaria no jogo e no jogo apenas.

- Não acredito que realmente conseguimos uma vaga no ônibus do time. - Niall murmurou incrédulo, mencionando o assunto pela quinta vez desde que sentaram as bundas nos bancos.

- Fala como se nenhum de nós transasse com alguém do time, né. - Louis retrucou, antecipando o sorriso ao notar que ambos os amigos assumiram posturas defensivas.

- Eu não transo com Liam há semanas.

- Não coloca o meu ménage no meio disso aqui, Tommo. Eu 'to avisando. - Niall tinha ambas as sobrancelhas arqueadas, fazendo com que Louis deitasse a cabeça em seu ombro enquanto compartilhava uma risada.

- E mesmo assim, se eu pedisse, Travis nos colocaria aqui sem pensar duas vezes.

Zayn ponderou sobre tal constatação, tentando ignorar as sensações que afloravam no peito ao ecoar eu não transo com Liam há semanas em looping. Não importava quanto tempo passasse, ainda soaria estranho, até mesmo para seus próprios ouvidos.

Com um chacoalhar de cabeça, desfocou da dor no peito para fitar Louis.

- Vocês são bem próximos, né. - notando que captou o olhar azul instigante, deu de ombros. - Travis, digo.

Louis assentiu, jogando suas pernas sobre o moreno e agora ficando conectado com ambos os amigos. Sentia-se seguro.

- Nos conhecemos desde o primeiro ano. - quando ainda namorava Ryan e fazia todo o trabalho de capitão por ele, foi o que queria complementar, mas a julgar pela forma com que Niall tensionou o torso e Zayn limpou a garganta, não seria necessário. - Fico feliz que ele continua sendo alguém de confiança mesmo anos depois.

E como mágica, os três viraram os olhares para mais adiante no ônibus, nas primeiras fileiras, onde quase todos os jogadores se reuniam em uma reunião improvisada. Travis, usando seu típico boné vermelho (com o logo dos Wolves estampado), desenhava em um papel clipado a uma prancheta, e Louis não precisava forçar a vista para saber que aquele era o plano estratégico da partida, e que estava guiando os jogadores em suas respectivas posições e passes especiais.

Afinal, ele quem costumava elaborar tais planos para Ryan.

Harry e Liam estavam de pé no corredor, encostados nos bancos de lados opostos. Enquanto o camisa 28 mordiscava o lábio inferior em claro sinal de nervosismo, os olhos verdes fixos, quase sem piscar, nos direcionamentos de Travis, Liam estava de braços cruzados, exibindo um maxilar tão rígido quanto pedra. E na porta que separava a cabine do motorista para o resto do ônibus, Chad e Patrick compartilhavam murmúrios atenuados, ora ou outra apontando para a prancheta que parecia ser o foco da atenção de todos ali.

Era o grande jogo.

Se perdessem aquela partida, desperdiçariam os esforços de uma temporada inteira.

Com um suspiro ansioso, sobrecarregado pela eminência e expectativa que aumentava cada vez mais conforme avançavam os quilômetros na estrada, Louis chamou a atenção dos amigos novamente, embora seus olhares continuassem na cena mais à frente.

Sentiam por seus parceiros e companheiros mais próximos e queridos, era tão inevitável quanto nobre.

Enquanto todo o resto da UAL ansiava pelo resultado do grande jogo, os três, encolhidos no fundo do ônibus do time, se mantinham esperançosos por um desfecho digno naquele dia cheio de surpresas e emoções. Tudo o que Liam menos precisava no momento era mais uma decepção - principalmente em relação aos Wolves, que eram o motivo de tudo. Harry depositara todas as suas fichas no campeonato, abdicando de quase tudo ao seu redor por aquela chance de ouro. E Chad e Patrick precisavam de uma classificatória bem sucedida, o coração de Niall ardendo em ansiedade por saber exatamente o motivo.

Os cílios de Louis tremeram.

- Precisamos ganhar esse jogo.

- Eu assisti os últimos treinos. - a voz de Niall estava distante, tensa, tanto quanto seus olhos azuis claros, cintilando em contraste com as bochechas sempre avermelhadas. - E também assisti o último jogo dos Kyoties.

- Eles são bons? - tudo em Zayn indicava preocupação, desde o tom baixo até o craquelar das palavras. No colo, seus dedos se embolavam ansiosos, e tentava falar sobre os mordidas no interior da boca. - Nossos adversários.

Niall deu de ombros, quase suando em expectativa.

- Eles chegaram na semifinal. Tem que ser bons.

- Nós também chegamos. - Louis contrapôs, os olhos fixos na figura tensa de Harry, que agora parecia dedilhar a folha na qual Travis havia rabiscado anteriormente. Podia ver seus dedos trêmulos mesmo há passos de distância, e isso não era um bom sinal. Mas quem era ele para julgar quando seus próprios dedos estavam instáveis. - E somos bons.

- Espero que o suficiente. - Niall voltou a murmurar, uma pontada de esperança inundando seu tom e fazendo seu corpo relaxar mesmo que apenas um pouco. - Nunca vi Chad tão pilhado quanto nesses últimos dias.

- Sério? - surpreso, Zayn desviou de Liam para momentaneamente conectar seus olhos ao azul claro de suas íris. - Chad sempre parece ter tudo sob controle.

- Liam também, lembra? - e subitamente, todo o corpo de Louis reverberou em choque frente às palavras inocentes do loiro.

Podia sentir olhos castanhos fixos em si, e Zayn tinha todos os motivos plausíveis e imagináveis para questionar sua confusão, mas não lhe cabia contar os detalhes da situação de Liam. Não cabia à ninguém além dele mesmo, na verdade. Portanto suspirou, em uma tentativa falha de retomar a compostura perdida.

Agora, além de toda a questão com o jogo, sua mente havia começado a se preocupar com o fator Liam das coisas.

Ótimo.

- Só espero que toda essa situação com a foto não tenha afetado Harry. - desviando do assunto anterior, Louis ofegou, Zayn já voltando o olhar alheio aos jogadores reunidos. Liam e Harry pareciam discutir avidamente sobre algo, e a expressão tensa no rosto de Travis era no mínimo preocupante. - O que menos precisamos agora é de mais problemas.

- Veja pelo lado bom, - o moreno começou, pensativo. - É quase duas horas da tarde e ninguém mencionou nada sobre a foto ainda.

- Ainda. - enfatizando, Louis deu de ombros. - E com sorte, vamos ganhar o jogo de hoje, assim todos ficam felizes e, como bônus, a classificatória para a final tira os holofotes da minha... bunda.

Niall assentiu para o ar, concordando plenamente com tais palavras. Aquele assunto estava, em especial, afetando-o mais do que imaginava. Apenas o fato de que o corpo de Louis estava sendo objetificado por todo o campus de forma tão inadequada e inadmissível fazia seu estômago revirar.

- Fico aliviado em saber que conseguimos, hm, - mastigou o pensamento antes de exteriorizá-lo, aproveitando os segundos de intervalo para fitar os amigos. - Vocês sabem. Apesar de tudo o que passamos até agora, continuamos juntos. Fico feliz.

Zayn sorriu largo, as linhas tensas em sua testa dissipando gradualmente ao que desviava o olhar de um Liam exaltado e agora fitava os rapazes ao seu lado.

- Minha mãe sempre dizia que mesmo a pior das vidas não tem tantas coisas ruins assim, e que o universo sempre nos retribui com coisas boas, eventualmente. - se pegou olhando para baixo, onde a perna de Louis estava sobre a sua e Niall brincava com seus dedos antes ansiosos. Um sorriso surgiu em seus lábios. - Acho que já tivemos nossa cota de coisas ruins. E isso deve significar que coisas boas estão por vir, sim?

Não perceberam no momento, mas aquela era uma promessa.

E amigos não fazem promessas que pretendem quebrar.

Ao menos não intencionalmente.

E com um sorriso agradecido, Louis revezou o olhar entre o castanho e o azul claro enquanto abria as pernas para apoiá-las uma em cada lado, colando seus corpos ao máximo que podia ao que esticava os braços para cima e rodeava seus ombros.

- Coisas boas ou ruins, vamos passar por isso juntos. Afinal, é o que amigos fazem. - piscou um dos olhos sorrateiramente. - Ficam juntos.

- E se beijam. Aparentemente. - brincalhão, Zayn acrescentou, o olhar caindo sobre os detalhes delicados do perfil de Louis e permanecendo ali por alguns instantes. Desde a ponta fina do nariz até a curvatura dos longos cílios que adornavam as íris azuis intensas, como nunca outra.

- Tudo isso graças ao mestre dos ménages, Niall Horan.

Niall gesticulou para o ar, dispensando o elogio em modéstia, embora cada célula de seu corpo gritasse o quanto havia adorado aquelas palavras.

- Ah, que isso. - riu conforme se inclinava para Louis, tornando o contato mais aconchegante. - Só transformei em realidade o que todos queriam.

- Na verdade, eu transformei em realidade, já que eu tomei a iniciativa de beijar Louis.

Os olhos azuis arregalaram em choque.

- Mentiroso. Eu deixei você me beijar, então foi eu quem transformou em realidade.

- Mas se eu não tivesse começado, você não teria como fazer nada. Como iria deixar algo acontecer se nunca fosse realmente acontecer?

- O-o que? Não entendi nada do que disse. O ponto é: você está errado e não vou deixar que pegue todo o crédito por isso. Eu sou o grande responsável pelo beijo triplo.

- Cala a boca, Louis. Eu comecei tudo, é óbvio que eu que devo receber o reconhecimento.

- Além de iludido ainda é problemático.

- Pelo menos eu tomei iniciativa. Se dependesse de você, nunca teríamos nos beijado.

- Falou o que tinha uma queda por mim mas demorou três anos para admitir.

- Em minha defesa, Liam me dedurou para Harry e Harry me dedurou para você. Nem era para estar sabendo disso.

- Ótimo, acabou de provar ainda mais meu ponto. Como isso é tomar iniciativa?

- Louis, eu...

- E vocês ainda tem a coragem de colocar a culpa nos meus ménages. - Niall interrompeu a discussão com um sorriso presunçoso nos lábios, atraindo a atenção dos amigos enquanto ria. - Ménage uma ova.

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O caminho até Cambridge não era muito longo, e uma viagem de pouco mais de uma hora foi o suficiente para os levar até Saint John's College, casa dos Kyoties, seus adversários na classificatória para a final do campeonato. Por causa disso, não seria necessário passar a noite, e ainda os deu a oportunidade de apreciar um céu límpido e pouco nublado enquanto caminhavam pelos corredores externos do colégio em direção ao campo onde o jogo tomaria lugar.

Era, no mínimo, intimidador.

Principalmente quando a maior parte dos universitários de St John's caminhavam lado a lado dos torcedores e jogadores da UAL, o contraste gritante das camisetas e jaquetas em branco, azul e vermelho, uniformes dos Kyoties, com as vinho, amarelo e preto dos Wolves, formando uma única massa flutuante que se segregaria assim que cruzassem a porta de metal, tomando seus respectivos lugares nas arquibancadas.

Batuques provenientes dos tambores e tamborins ecoavam junto com palmas, cantos motivacionais e palavras energéticas, tudo culminando para um ambiente cada vez mais caótico e extasiante.

- Ei, Styles. - Louis exclamou, tentando sobrepor o burburinho que os rodeava conforme chegavam cada vez mais próximos do campo. Os olhos verdes procuraram, confusos, pelos seus azuis, e quando os encontrou, um sorriso de covinhas floresceu.

Harry, que estava caminhando ao lado dos jogadores dos Wolves, mais à frente de todos, precisou de alguns instantes e alguns - lê-se vários - licença para chegar até onde Louis estava, mas quando o fez, instintivamente colou as laterais de seus corpos, como uma garantia de que continuariam juntos enquanto persistiam no trajeto lento e sobrecarregado de universitários em direção ao local da partida.

- Oi, gatinho. - murmurou em sua orelha, se curvando para tal. Não conseguia mensurar o quão aliviado estava em tê-lo em seus braços naquele momento que causava todos os tipos de sentimentos à flor da pele quanto humanamente possível.

Louis parecia compartilhar do mesmo, e se inclinou para mais próximo como proteção, fugindo dos alunos apressados em busca dos melhores lugares com um suspiro extasiado.

A adrenalina começara a fluir por suas veias como veneno, e podia ver na expressão de Harry o quão assustado estava, com os olhos verdes arregalados e as bochechas quase sem cor, em contraste aos lábios vermelho escarlate devido mordidas insistentes.

Se sentia náuseas pela ansiedade, imagina Harry que iria efetivamente jogar.

- Eu só... - Louis tentou, mas foi impedido pela agitação borbulhante ao redor, que parecia gritar em suas caras propositalmente.

Estão ficando sem tempo!

Harry apertou-o ainda mais contra seu corpo, e em uma decisão impulsiva, simplesmente desistiu de continuar andando. Não se importava mais com as pessoas que tentavam passar, poderiam desviar se quisessem, porque naquele momento, só havia ele e Louis, um de frente para o outro, peitorais colados e olhares unidos, diante de uma multidão apressada.

Estavam, enfim, dentro de sua bolha protetora.

Um sorriso ladino surgiu no rosto delicado à frente, e observou com o coração acelerado ao que Louis esticava ambos os braços para rodear sua nuca, selando o aperto acolhedor. Seus suspiros saíram sincronizados, uma dedicatória simples mas gritante do quanto precisavam daquele momento íntimo, mesmo diante das circunstâncias.

- Eu só queria desejar boa sorte. - sua voz, finalmente, ecoou, e mesmo entre centenas de outras, foi capaz de reverberar intensa pelo corpo de Harry. - Não que precise, mas...

- Obrigado, gatinho. - sem se conter, abaixou o rosto apenas o bastante para colar suas testas, e riu quando Louis ofegou surpreso pelo contato. Aquela situação de ex-namorados estava sendo inusitada para ambos, de fato, mas sempre davam um jeitinho de demonstrar o que sentiam. - Só de saber que vai estar torcendo por mim, já é motivação o bastante.

- Eu sempre vou estar torcendo por você. - suas palavras começaram a sair urgentes, talvez pela antecipação crescente no peito, que só piorava com os gritos, palmas e cantorias ecoando animados ao redor, ou ainda pela realização de que em alguns minutos, o destino dos Wolves estaria, literalmente, em jogo. Isso o fez erguer os olhos azuis para encontrar os verdes, buscando mais do que nunca transmitir sinceridade. - Não importa o que aconteça, você sempre será o meu capitão.

Harry queria sorrir. Queria exibir o mais largo e brilhante sorriso que jamais exibiu na vida. Mas simplesmente permaneceu hipnotizado pela beleza de Louis, tão próximo de si em um momento tão decisivo como aquele, que deixou que seus dedos firmes escorregassem conscientemente pela cintura esguia, parando nas laterais de seu quadril, com os polegares dentro dos passadores do jeans apertado puxando-o para cima.

Para ajudar no movimento, Louis ergueu-se na ponta dos pés, aproveitando a oportunidade para percorrer as mãos pelo peitoral forte de Harry, trilhando um caminho até suas costas, onde esfregou os dígitos no tecido que mentalizava dizer 28. Sentiu suas pálpebras tremendo enquanto sorria automaticamente.

- Capitão. - ecoou, ainda mais certeiro, e ofegou quando os lábios de Harry tocaram sua bochecha macia, a respiração quente arrepiando sua pele e causando as mais diversas sensações em seu estômago. - Você já é um vencedor pra mim, Harry.

- Mas a partida nem começou.

- Não estou falando do jogo. - e com essa deixa, voltou a conectar seus olhares, pronunciando entrelinhas silenciosas daquela frase que significava tanto que pouco podia realmente verbalizar.

Mas tudo bem, porque o corpo de Harry sabia o que estava tentando dizer, e em agradecimento, refletiu o sorriso de covinhas que era tão ansiosamente aguardado.

Esticando os dedos que antes estavam no 28 para tomar-lhe as bochechas, Louis cutucou os buracos delicados com a ponta de seus indicadores, e riu. Riu porque as caretas que Harry fazia eram dignas dessa felicidade. E riu, sobretudo, pela capacidade que tinham de se isolar do mundo exterior sempre que precisavam.

Mas, às vezes, a pressão externa se colocava forte demais, e por ora vencia a luta de gigantes.

- Eu... - assim que Harry abriu a boca, gritos generalizados ecoaram em uníssono, e puderam então ouvir a banda iniciando uma marcha de abertura, provavelmente alinhados no campo onde deveriam estar, naquele momento. Com olhos ainda mais arregalados, se possível, ofegou. Se pegou, também, questionando se Louis podia sentir seu coração acelerado através do contato, e a resposta era sim. - Acho que essa é a minha deixa.

Louis tremeu os cílios, temendo que a próxima vez que visse Harry, o destino dos Wolves seria ou muito bom ou... tremendamente triste. Mas, com um suspiro motivador, deslizou os dedos gentis por suas bochechas, trazendo-o mais para perto enquanto pressionava os lábios gélidos na região, bem sobre a covinha que ainda estava intacta com seu sorriso.

Quando se afastou, voltando a conectar seus olhares, retribuiu o gesto em seus próprios lábios.

- Lembre-se: capitão não é apenas um título. - pretendendo frisar a importância daquele tema, murmurou, baixo para que apenas Harry pudesse ouvir, longe de suas inseguranças. - Capitão é um sentimento. - desceu uma das mãos para seu peitoral, pressionando a região da jaqueta que exibia o símbolo dos Wolves. Sob seus dedos, havia um coração alarmado gritando por socorro. - E você tem isso de sobra, bem aqui.

Com dois tapinhas, Louis assentiu à suas próprias palavras, e tudo que Harry pôde fazer foi suspirar agradecido.

Ele não sabia ainda, mas aquelas palavras seriam fundamentais para o resultado do jogo que só começaria daqui a alguns minutos.

Mas por ora, enquanto retomava a caminhava em direção ao campo, dentre universitários trajando as mais diversas cores e emitindo as mais diversas sensações - ansiedade, antecipação, expectativa, surpresa, confiança, determinação, força - teve a certeza de que carregava o mundo ao seu lado.

Firmou seus dedos ao redor dos de Louis conforme tinham mãos entrelaçadas, e só pôde suspirar esperançoso quando precisaram se separar na porta de entrada que delimitava as arquibancadas do campo e vestiário.

Os rapazes estavam ali, aguardando-os. E antes de se despedirem, Niall, Zayn e Louis de Harry e Liam, trocaram um abraço grupal significativo - uma promessa silenciosa de que estariam juntos, independentemente de alguns estarem jogando e outros torcendo, afinal, tinham um motivo em comum: os Wolves.

E claro, o amor e carinho que sentiam um pelo outro.

Mesmo assim, Louis se pegou surpreso ao notar, pelo canto de olho, o momento exato durante o abraço em que Zayn esticou o braço por seu ombro para tocar a nuca de Liam, acariciando a região enquanto conectava seus olhares, castanho no castanho, e movia os lábios em palavras mudas - eu confio em você.

Não fez comentário algum, mas conforme se despediam com um aceno tímido e retomavam a caminhada até seus lugares na arquibancada, percebeu sorrir satisfeito.

Estava certo, afinal de contas.

Tudo passa, eventualmente.

E o que é para ser, voltará ao lugar onde pertence, com o tempo.

De mãos entrelaçadas com Niall e Zayn, rodeava o ambiente com os olhos quase arregalados. O clima na arena era, definitivamente, diferente de tudo que já haviam experienciado antes. Tanto por nunca terem chegado no patamar das classificatórias de final antes, quanto por nunca terem disputado com os Kyoties - na história dos Wolves.

Era um território novo, com certeza, e os olhares inóspitos e ansiosos tomavam cada fileira das arquibancadas, que enchiam cada vez mais.

Finalmente localizaram Bebe, que sempre conseguia segurar bons lugares nos jogos, mas, em uma adição surpresa à torcida, lá estava Zachary.

- O que está fazendo aqui? - mal disfarçando a expressão confusa, e logo levando uma cotovelada de Zayn, Niall exclamou. - Você nunca vem nos jogos.

Atrás do corpo do loiro, Louis inclinou-se para conseguir fitar Zachary com clareza, e arqueou as sobrancelhas ao notar que estava vestindo uma camiseta dos Wolves e um sorriso gigantesco nos lábios.

- É, Zac, - acrescentou, assim que Niall se moveu para sentar em um dos bancos reservados e permitiu que o rapaz o fitasse de volta. - Você nunca vem nos jogos.

- A que devemos a honra? - Zayn ecoou, guiando Louis gentilmente pela cintura para que sentasse no banco vazio ao lado de Zachary, logo em seguida se sentando no restante, entre o amigo e Niall.

Os olhos castanhos de Zac piscaram atônitos por alguns instantes antes de responder com a voz receosa, além do fato de que esfregava as mãos juntas nervosamente no colo, o que não passou despercebido pelo olhar atento de Louis, sentado ao seu lado.

- Como eu poderia perder? Estamos nas classificatórias da final. É um jogo super importante!

- Todos os jogos são importantes. - Niall, o fã extremo de futebol americano, retrucou, levemente ríspido enquanto alcançava o balde de pipoca que Bebe havia comprado.

O que seriam deles sem a amiga?

E pensando nisso, Louis ignorou Zachary e seu dilema repentino e suspeito em relação ao jogo para estender a mão sobre seu peitoral, até a loira. Tinha assuntos bem mais importantes em pauta do que o rapaz naquele momento.

- Ei. Obrigado pelos lugares, e pela comida, e por tudo. - sorriu largo, recebendo uma piscadinha de Bebe.

- Sabe como é. - foi o que ela respondeu, piscando para Niall e Zayn também. - Somos família, e famílias cuidam uns dos outros, certo?

- Certo. - os três rapazes ecoaram em uníssono, Zachary, no meio, desviando o olhar para o campo, parecendo quase aliviado que o show das líderes de torcida havia começado, assim teria algo para realmente focar ao invés dos olhos azuis inquisitivos ao seu lado.

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Todo começo de jogo é intenso.

Principalmente no futebol americano, que é comumente conhecido pelo alto uso de força, resistência, rapidez e agilidade.

Mas, especificamente naquele jogo, havia um fator extra.

Não conheciam os Kyoties - ao menos não em campo, apenas em vídeos e materiais de apoio de partidas anteriores que utilizaram para mapear sua possível estratégia.

Por isso, foi uma surpresa para todos - em especial, óbvio, para os Wolves - quando o apito soou indicando a largada do primeiro quarto, e a bola foi brutalmente arrancada das mãos de Patrick, que havia acabado de agarrá-la pós lance inicial.

A arquibancada reagiu com ofegos e coros sincronizados, Niall, em especial, proferindo xingamentos de baixo calão em defesa de seu parceiro. De um lado, a torcida branca e azul dos Kyoties entoava gritos de guerra, e do outro, a torcida dos Wolves brilhava em vermelho e amarelo conforme tentavam digerir o que havia acontecido ainda nos primeiros cinco segundos de jogo.

Geralmente, os times preferiam seguir uma linha mais ágil e estratégica de partida do que uma guiada pela força e brutalidade, com passes planejados, esguios e premeditados. Mas ao que tudo indicava, conforme Harry corria com a posse de bola, pressionando-a no peitoral coberto pela proteção do uniforme, e era cercado por não um, mas quatro adversários, constantemente atingindo-o nas laterais do corpo com golpes de ombro e até mesmo rasteiras certeiras que arrancavam parte do gramado sintético, os Kyoties eram do tipo que gostavam de arranhões.

E isso nunca era um bom sinal.

Eles eram rápidos, talvez os mais rápidos contra os quais os Wolves já haviam jogado, e não demonstravam brechas ou medos quanto quedas, golpes ou passes arriscados - uma combinação perigosa se pareada com um time estratégico e calculista, como Travis havia ensinado-os a ser.

Os quinze minutos do primeiro quarto de jogo passaram tortuosamente devagar - o que era quase raro para futebol americano - mas na marca dos últimos dois minutos restantes, ao notar que o placar estava beirando o empate, os Kyoties se tornaram ainda mais incisivos e brutos. Àquela altura, Louis já estava agarrado ao braço de Zayn, mordiscando a ponta dos dedos enquanto resmungava xingamentos grotescos demais para serem ditos em voz alta.

Conseguiam ver a exaustão dos jogadores, atípica para tão pouco tempo em campo, mas justificável conforme observavam Liam atravessar a maior parte das jardas em busca da maldita bola, que se encontrava em posse de um Kyotie. Mas nem mesmo com o apoio de Lance e Chad conseguiu recuperá-la, e o time adversário marcou mais um ponto.

Travis gesticulava irritado na lateral, e Harry ora ou outra fitava o treinador com preocupação no olhar, que cintilava através do capacete de proteção. O relógio marcava trinta segundos, e era tempo o suficiente para mais um lance capaz de diminuir a diferença do placar.

Era sua chance.

Assim que a posição inicial foi restaurada, as fileiras de ambos os times uma de frente para a outra enquanto seus quarterbacks estavam agachados atrás, preparados para arrematar a bola, Harry fez um gesto indecifrável para Liam, e em seguida para Orhan, e então, o apito soou.

Vinte e oito segundos no relógio.

Orhan agarrou a bola, sendo ricocheteado para trás com a força do arremesso, e, recuperando a postura instantes depois, recuou de costas até ter encontrado seu alvo. Arremessou no exato momento em que dois jogadores adversários pularam sobre si, sucumbindo ao chão a tempo de não ter mais a posse de bola - que agora estava com Liam, diversas jardas à frente.

Mal havia segurado-a contra o peito e já estava correndo, afinal, tinha três Kyoties em sua cola, tão próximos que um conseguiu arranhar o couro da bola antes de se jogar no chão em distração enquanto arremessava-a mais uma vez no ar, mirando no camisa 28 que passava correndo bem ao lado, desviando de toda a linha de defesa dos Kyoties.

A última coisa que Harry fez antes de ouvir o apito de final do quarto foi erguer a bola em comemoração ao que caminhava pela área de touchdown.

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Um jogo comum de futebol americano tem quatro quartos - que são como o primeiro e segundo tempos no futebol convencional - de quinze minutos cada.

Mas naquele momento, assistindo o desenrolar do terceiro quarto com seus próprios olhos, Louis duvidou terem se passado apenas dois. Sentia que estava naquela posição de pé, agarrado à Zayn e com o maxilar tão rígido que sentia seus dentes craquelando, há horas e horas, sem intervalo, e só pôde imaginar como Harry estava se sentindo em campo.

Os Kyoties eram brutos, e nos últimos trinta minutos de partida, haviam colocado dois dos melhores jogadores dos Wolves para fora, e Liam já entortava o ombro, em um claro sinal de dor. Podiam, portanto, apenas observar em agonia da arquibancada o quanto estavam sofrendo e se arrastando, até que algo tomou o ar de todos, espalhando choque pela arquibancada.

O último passe do quarto.

Harry tinha a posse de bola, firme contra o peitoral, e a rapidez com que corria indicava almejar pelo touchdown direto, desviando de todos os jogadores adversários que sequer ousavam interromper seu caminho. Mesmo coberto pelo capacete, conseguiam notar o quão instigado estava, colocando em prática seus melhores reflexos para desviar embora nunca distorcer o trajeto em linha reta para a área de marcação.

Toda sua expressão corporal gritava uma coisa - saia do meu caminho.

E cientes da capacidade do jogador, os Wolves se posicionaram na defesa, bloqueando todo e qualquer Kyotie que pretendesse atrapalhar o touchdown que estava a segundos de se concretizar.

Ao menos era o que pensavam.

Harry estava a poucas jardas de distância de um Kyotie, que simplesmente permanecia parado com pés firmemente posicionados no gramado e ombros largos denunciando prepotência. Era a única coisa que separava a bola em seu peitoral do touchdown, portanto, bastou um milésimo de segundo gasto em pensamentos instintivos para tomar uma decisão.

Ou saía da frente ou seria forçado a sair da frente, por bem ou por mal.

E Harry automaticamente endireitou a coluna, se preparando para o impacto corpo a corpo.

Não diminuiu a velocidade da corrida, de maneira alguma, e no instante em que se viu quase tocando o corpo do jogador do Kyoties, girou o torso para colidir com o ombro, protegendo seu peitoral, seu fôlego e a bola, é claro.

Só não esperava ser surpreendido.

O Kyotie agachou, o bastante para colocar a cabeça entre suas pernas e agarrar a parte de trás de suas coxas em um movimento único capaz de jogá-lo para cima, além da altura dos ombros e para o mais longe possível.

Harry se viu arremessado contra o gramado, que bruscamente arranhava seu uniforme e disputava espaço com as proteções corporais, até que enfim parou de rolar, caindo de costas no que seria a área de touchdown, a tempo de ver o mesmo Kyotie erguendo a bola que antes era sua em comemoração do ponto marcado.

Se não fosse pela dor excruciante que sentia na base da coluna, teria se levantado para exigir respeito - mas nem ao menos isso podia fazer. Eram as regras do jogo, e por mais violento e baixo que havia sido, estava dentro dos conformes da partida. Só lhe restou aguardar apoio de algum dos jogadores dos Wolves que corriam em sua direção, porque naquele momento, não conseguiria sequer levantar sozinho.

Patrick chegou rapidamente, e com olhos arregalados em preocupação, deslizou o braço sobre seu torso para levantá-lo, mas parou quando um grito de dor saiu pela boca de Harry.

Aquilo não era um bom sinal.

Não tardou para Liam, Chad e até mesmo Travis se aproximarem, e o apito de final do quarto soou.

Teriam apenas mais uma etapa de quinze minutos antes do final do jogo - e o placar estava desastroso.

Na arquibancada, Louis só pôde observar estático enquanto a outra metade de seu coração era escoltada para fora do gramado com a ajuda dos três amigos, e atrás de si, o treinador exclamando - gritando - para o juíz o quão fora de cogitação e desnecessário havia sido o golpe, sendo que não haviam marcações externas além dos dois no momento do passe.

Harry, sendo arrastado e carregado por não conseguir fazê-lo por conta própria, manejou de retirar o capacete com um xingamento alto e doloroso, e Louis gemeu frustrado quando notou, além do suor, dos fragmentos de grama sintética e das expressões tensas, que seu rosto ainda estava faltando uma coisa - esperança.

Ao seu lado, Niall quase chorava, e ao contrário dos últimos quartos do jogo, Zayn quem havia começado a buscar apoio em seu braço, falhando na missão e se rendendo a sentar de volta no banco, os olhos vagos no gramado que já não mais exibia jogadores, reclusos agora nos vestiários para a última pausa antes do momento decisivo.

A sensação era unânime em todos os torcedores dos Wolves.

Desespero.

Desamparo.

Descrença.

Louis queria dizer que estava raciocinando propriamente, mas seria mentira. A única coisa que sua mente conseguia captar, várias e várias vezes se repetindo diante de seus olhos, era a cena de Harry sendo erguido pelas coxas e então arremessado para trás com tamanha brutalidade que pensou ter quebrado alguma coisa na queda.

Talvez tenha quebrado - provavelmente estavam analisando isso naquele exato momento, dentro do vestiário.

Mas lá estava ele, impotente, parado no meio de uma arquibancada lotada de jogadores estáticos e consumidos pelo choque, enquanto Harry gritava de dor e lutava para poder jogar o último e decisivo quarto.

No fundo de sua mente, Louis conseguia ouvir fragmentos do que parecia uma conversa agitada e ávida entre Bebe, Niall, Zayn e Zac - Ele não vai poder jogar, você está louco? Pode piorar a fratura. Se é que tem fratura, né, Niall, não sabemos. Qual é? Você não viu a altura que ele caiu? Com certeza machucou alguma coisa, se ele não conseguiu nem levantar do chão, imagina arremessar uma bola daqui dez minutos. Pode ser que quando o músculo esfriar, a dor fique suportável. Ei, rapazes, nós não sabemos de nada e muito menos faz diferença ficar discutindo o que vai ou não acontecer. Só nos resta aguardar e esperar pelo melhor.

Mas Louis nunca foi bom em ser paciente, e antes mesmo de se dar conta, já estava correndo escada abaixo em direção a saída da arquibancada e a entrada do vestiário.

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Louis nunca entrou em um vestiário no meio de um intervalo de jogo, então não poderia exatamente constatar se aquilo era comum ou não. Mas algo em seu peito lhe dizia que definitivamente não era bom.

Pensou que a pior parte seria driblar os seguranças que guardavam a grade entre o campo e as arquibancadas, mas comparado ao que estava vendo diante de seus olhos logo na porta de entrada do vestiário dos Wolves, se esgueirar por entre homens que mais pareciam guarda-roupas fora facílimo.

Seu corpo gritava para que não entrasse, e no instante em que finalmente se convenceu de fazê-lo, teve que recuar para o lado para permitir que dois paramédicos entrassem correndo no cômodo. Yep. Não era um bom sinal. Mas já havia chego até ali, e não ia dar meia volta agora.

Precisava garantir que Harry estava bem.

E se tivesse que passar por mais um par de seguranças, disputar espaço com paramédicos e gritar com o treinador, o faria sem pensar duas vezes.

Mas como ironia do destino - ou obra dele - a primeira pessoa que percebeu sua presença indevida no vestiário foi Travis, com suas linhas de expressões preocupadas e respiração irregular enquanto resmungava insatisfeito.

Louis arregalou os olhos ao seu descoberto, e ergueu os ombros em eminência quando o treinador abriu a boca pronto para esbravejar repreensões em sua direção enquanto apontava o dedo inquisitivo para a saída em uma mensagem clara do que queria que fizesse, mas então, uma terceira presença se fez gritante, captando cada célula de seu corpo alerta e interrompendo a conversa mal iniciada.

Os olhos azuis, portanto, desviaram em busca dos verdes, e...

Oh.

Antes de passar pela porta, há alguns instantes atrás, Louis havia se obrigado a manter a mente coesa.

O que Harry, ou qualquer outro jogador, menos precisava no momento era de mais preocupações.

E por sorte, tudo que sua mente podia processar era... Harry. Então a adrenalina que fluía por suas veias facilitava seus movimentos de sangue frio, embora seu coração lutasse para se livrar das gaiolas que o prendia e enfim partisse em direção à seu compatível.

Mas assim que o sistema de Louis processou a imagem de Harry deitado em uma maca, imobilizado do pescoço para baixo enquanto paramédicos mediam sua pressão e frequência cardíaca, teve a certeza de que até mesmo seu próprio coração havia desfalecido e somente seu corpo estático e oco estava parado ali, diante da cena mais aterrorizadora que já havia presenciado na vida.

Em segundos, sua presença se tornou notável, desde Liam chamando-o de forma preocupada - em uma tentativa de desviar sua atenção de Harry, naquelas condições - até Chad o abraçando por trás gentilmente, talvez uma medida de precaução caso decida correr desesperadamente em direção à maca. Mas Louis só permaneceu ali, estático, incapaz de falar, pensar, mover ou até mesmo sentir.

E então, os olhos verdes, finalmente, encontraram os seus azuis, e se permitiu suspirar na presença da singela lágrima que escorria do rosto de Harry, traçando o percurso desde seus cílios até o final de sua bochecha, manchando o maxilar para então cair no imobilizador em seu pescoço.

Louis sentiu-se isolado do mundo naquele momento.

Como o típico barulho irritante no ouvido quando a pressão cai e então todos os seus sentidos se tornam inúteis e disfuncionais.

Se havia obrigado a si mesmo de manter a mente coesa, agora estava completamente desligado.

Era assim que Louis se sentia.

Como um planeta que havia saído de órbita e agora vagava perdido na imensidão do espaço.

Mas os cílios que emolduravam o verde intenso tremeram, por fim, e a voz rouca ecoou clara e límpida no cômodo que deveria estar caótico - Louis só podia imaginar, já que não enxergava ou ouvia nada além de Harry.

- Oi, gatinho.

Talvez Chad tivesse cedido e o deixado ir do abraço protetor, ou vai ver Louis mesmo havia se desvencilhado em busca da liberdade, não sabia ao certo, e não importava naquele momento - não quando arrastava os pés hesitantes em direção à maca.

Em direção à Harry.

O bolo em sua garganta dificultava-lhe palavras, mas confiava que seus olhos pudessem transmitir a mensagem com veracidade enquanto esticava os dedos vacilantes e trêmulos para a bochecha de Harry, limpando os resquícios da única lágrima que deixou cair. Também aproveitou o carinho e firmou o aperto ali, cutucando a região da covinha na esperança de que ela fosse aparecer.

Mas, infelizmente, não foi o caso.

Com um suspiro desesperado, no limite de uma palavra sôfrega e um choro vergonhoso, Louis se abaixou, apenas o suficiente para aproximar seu rosto do de Harry, e colou seus lábios na região que segurava.

Podia sentir a umidade contra a pele, e somente então se deu conta de que Harry derramava mais lágrimas pesadas.

O verde gritava, como um pedido nem tão silencioso de ajuda. Mas também demonstrava dor, e Louis não pôde evitar em refletir as mesmas sensações em suas próprias íris azuladas.

Os beijos em sua bochecha encharcada pelas lágrimas se tornaram mais urgentes, e encontrando a força e clareza que precisava para falar, Louis ofegou.

- L-lembra? - o corpo de Harry retumbou com sua voz ecoando pela primeira vez, e pressionou os lábios ainda mais contra si, embaralhando suas palavras sem se importar. - Vou plantar beijos como sementes em seus olhos, assim toda vez que chorar, flores vão crescer. Lembra quando me disse isso, Harry?

- L-lou... - me ajuda, queria dizer. Louis sabia que queria, mas não o diria. Não diante de todo o time, do treinador e dos paramédicos. Não diante de qualquer um que não fosse entender. Por isso, Harry forçou uma respiração estável e uma voz firme, mesmo que suspirasse aliviado ao sentir Louis deslizando o toque por seu braço imobilizado, até entrelaçar seus dedos em um aperto firme. - E-eles acham que inflamou algum nervo.

Piscando confuso, Louis ofegou, alheio à mudança súbita de assunto, reação e tom, mas então, compreendeu. Bastou erguer o olhar por alguns milésimos de segundo para notar as diversas presenças ilustres no vestiário, desde Travis atento ao que acontecia até o paramédico bem ao seu lado controlando os números no medidor de pressão, e soube o porquê Harry estava tentando manter o teor da conversa neutro.

Não queria demonstrar fragilidade diante do treinador.

Diante dos outros jogadores.

Diante dos paramédicos.

Queria se mostrar forte, porque queria jogar.

E mesmo Louis vendo sua condição imóvel na maca, não tinha coragem de negar o pedido silencioso que seus olhos faziam para os seus - me ajuda.

Porque quase como não pudesse se impedir, imaginou o inverso.

Se ele tivesse se machucado, minutos antes da estréia do musical, e pedisse para Harry ajudar a convencer Tiana a deixá-lo performar, Harry ajudaria?

Mesmo ciente de que seria perigoso.

Mesmo ciente de que poderia se machucar ainda mais.

Mesmo ciente de que não era uma boa ideia.

Harry ajudaria? Em prol de seu sonho, ele ajudaria?

Com um suspiro, já trocando um olhar afirmativo que imediatamente iluminou o rosto de Harry, Louis virou para o paramédico atrás de si.

- É muito grave?

O homem franziu o cenho, confuso sobre o que devia e o que podia, de fato, fazer, e buscou respostas com Travis, que estava um pouco mais atrás, de braços cruzados e com os olhos pressionados na direção dos dois rapazes, bem próximos na maca. Louis mordeu o lábio, nervoso, quando percebeu que fitava suas mãos entrelaçadas.

Mas, por fim, Travis assentiu, e o paramédico voltou a atenção para si.

- O uniforme amenizou boa parte da queda, e a inflamação parece ser isolada, o que é um bom sinal.

- Então ele po...

- Correr, pegar peso, arremessar e se colocar à disposição de novos golpes pode piorar um quadro estável. - o paramédico interrompeu Louis antes mesmo de finalizar sua pergunta, e com olhos azuis arregalados diante de sua resposta incisiva, buscou o conforto do verde, que já estava à sua espera. Harry parecia ter ouvido aquelas mesmas palavras antes, frustrado. - A recomendação é que ele não jogue.

Não acredito que estou fazendo isso.

- Mas é apenas uma recomendação. - Louis ecoou, surpreendendo Harry com sua determinação em conseguir a permissão para jogar, mesmo diante de tantas portas fechadas e negatividade que os rodeava. Ao fundo, Liam ofegava preocupado. - Ele pode jogar, se quiser.

- Louis, pelo amor. - Travis exclamou, deixando grande parte de seu desespero ser exteriorizado através dos gestos incoerentes que fazia enquanto falava. - Harry está imobilizado!

- Mas é por motivos de precaução, não é? - retrucou, adrenalina sendo bombeada como jatos pelo coração e inundando seu corpo com esperança, cada vez mais intensificados pelo aperto afirmativo de Harry em suas mãos entrelaçadas. - Ele não quebrou nada, só está na maca para amenizar as dores. Certo?

Não acredito que estou realmente fazendo isso.

O paramédico abriu a boa confuso, e então, buscou mais uma vez o apoio de Travis, que parecia atordoado pelas inquisições repentinas.

- S-sim.

- Isso é ótimo. Significa que ele pode jogar. Se quiser. - sabendo que aquele era um assunto delicado, e arriscado, Louis girou o olhar para Liam, implorando por seu apoio.

Os olhos castanhos estavam arregalados, oscilando entre um Harry estirado na maca e um Louis quase saltitando em ansiedade. As probabilidades não estavam à seu favor. Jogar sem Harry era quase um problema de moral - a confiança dos outros jogadores em si mesmos poderia ser prejudicada, devido ao impacto e à mensuração do "acidente" que aconteceu previamente.

Mas por outro lado, se Harry jogasse, isso daria a energia e motivação que lhes faltava para talvez virar o placar nos quinze minutos que lhes restavam para se classificar ou não na final.

E essa conta mental parecia estampar a testa de cada jogador presente no vestiário, exceto a de Travis.

- Não. - sua voz ecoou ríspida, fazendo com que Louis pulasse para trás, em choque. Seus olhares estavam ligados, e o treinador não parecia feliz. - Eu não vou arriscar o bem-estar de um dos nossos por causa de um título idiota.

- Mas, treinador, é da final que estamos falando! - Lance exclamou, de braços cruzados e com uma expressão ponderativa sobre Harry.

Travis fitou-o quase ofendido.

- E é de família que estamos falando, Lance. - seu maxilar estalou, inflexível. Soava no limite de uma explosão. - E não arriscamos família.

- Mas, Travis, são apenas quinze minutos!

- Podemos protegê-lo.

- E tirar a bola de perto.

- A torcida precisa saber que estamos bem e que estamos fortes.

- Tenho certeza de que se Harry voltar ao campo, os Kyoties vão ficar surpresos.

- Pode ser nossa chance!

- Fizeram isso de propósito, sabem que ele é nosso melhor jogador.

- Temos que revidar.

- Já chega! - Travis ecoou, mais uma vez, e seu olhar denunciou impaciência. Todos os jogadores que lutavam pela permissão da presença de Harry se calaram, e por fim, parecia ser uma disputa de olhares entre ele e Louis. Na maca, os olhos verdes estavam arregalados, e o apito da máquina que media sua pressão levava os nervos de todos às alturas. - Eu não vou faz...

- Treinador. - a voz de Liam interrompeu, firme, se fazendo presente pela primeira vez desde que Louis havia entrado no vestiário, e todos os olhares foram para si, inclusive o surpreso de Travis e o pidão de Harry. Com um suspiro, deu de ombros. - Tem razão quando disse os Wolves não arriscam família, mas e quanto ao sonho de Harry? - Louis observou atentamente conforme toda a expressão de Travis desmoronava, e Liam prosseguia, incisivo. - E quanto ao sonho de todos nós? Acha que é justo que sejamos prejudicados por um ato inconsequente de um jogador adversário? Sabe... você sabe que se colocar Harry em campo, nós vamos conseguir. - com um craquelar de voz, engoliu o bolo na garganta, desviando do homem para fitar o amigo na maca com olhos marejados. - E-eu não consigo me imaginar em campo sem ele, sem meu irmão, e se Harry não puder jogar, - Liam ergueu o queixo, direcionando um olhar decidido à Travis. - Eu não também não jogo.

O treinador abriu a boca para retrucar, mas foi interrompido por um uníssono de jogadores ecoando eu também não. E antes mesmo de Louis compreender o que estava acontecendo realmente, os paramédicos já estavam desatando as amarras de Harry na maca e dando-lhe comprimidos para dor e inflamação, que provavelmente surtiriam efeito durante a partida mais importante de suas vidas até aquele momento.

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- Ei, Styles. - chamando, pela segunda vez naquele mesmo dia, Louis ofegou.

Harry, já de pé, devidamente uniformizado com proteções extras e ataduras nos ombros e na base da coluna, girou nos calcanhares para fitar o dono da voz, e um sorriso sem dentes floresceu em seu rosto tomado por preocupação, aflição e desespero conforme caminhava até onde estava.

Um suspiro deixou os lábios de Louis ao notar que mancava. E quando se aproximou o bastante para tocarem, permitiu que suas pálpebras caíssem sobre os olhos enquanto mãos firmes deslizavam por sua cintura e o erguiam apenas um pouco, sem exigir muito de força para tal.

- Oi, gatinho. - o sussurro foi brando, em contraste com a movimentação agitada que tomava o vestiário, uma vez que o intervalo acabaria em alguns poucos minutos e precisariam retornar ao campo. Mas Harry não pareceu afetado ou preocupado com nada além da maciez das bochechas de Louis naquele momento, conforme deslizava os lábios pela região em beijos afetuosos. - Obrigado...

- Nã...

- Cala a boca e me deixa agradecer. - disparou, sorrindo ao ouvi-lo bufar em contragosto. - Obrigado por vir até aqui ver como eu estava, e por ajudar a convencer Travis a me deixar jogar.

Louis afastou apenas um pouco para conectar seus olhares, e suspirou enquanto agarrava as bochechas de Harry e mantinha-o alinhado ao seu foco.

- Eu juro, Harry. Eu juro que se você se machucar lá fora, eu desço até o campo pra te matar, está me ouvindo? - uma risada deixou os lábios de Harry, e segundos depois, um grunhido de dor, fazendo os olhos azuis arregalarem em desespero. - Meu deus, o que eu fiz? Você vai morrer lá fora, não vai?

Harry negou, ainda rindo mas de forma controlada para não atiçar a dor em seus pulmões, e com um suspiro exaurido, colou seus peitorais. Precisava do conforto e do calor do corpo de Louis naquele momento, sorrindo satisfeito ao recebê-los de tanta prontidão, acompanhados das carícias nos cachos em sua cabeça e nuca.

- Não se preocupe, gatinho.

- Promete que não vai exagerar?

- Prometo. - colou suas testas, respirando e sentindo como um, seus corações gritando através do peito. - Promete que vai estar me esperando assim que a partida terminar?

- Prometo. - Louis confidenciou, de forma silenciosa.

A gritaria no vestiário se tornou maior, e o apito de Travis anunciou que era hora de entrar em campo, pela última vez antes da grande decisão que poderia colocar os Wolves na final do campeonato - ou não.

- Acho que essa é...

- A sua deixa. - Louis completou a frase de Harry, fazendo-o sorrir ainda mais, as covinhas cintilando em sua direção com esplendor. E dois tons mais baixo, sendo arrematado pela pressão, ansiedade e preocupação, bufou. - Boa sorte lá fora, Harry.

- Torça por mim, gatinho.

- Sempre. - assentiu, esfregando seus narizes juntos antes de sentir o beijo delicado mas significativo que foi depositado em sua bochecha. E então, observou estático conforme Harry se afastava já com um olhar desolado e aflito, se abaixando para pegar o capacete no banco e então deixar o vestiário para encontrar com seu destino. Mas Louis não podia simplesmente ficar parado. Não. Precisava fazer alguma coisa. Na verdade, precisava fazer uma única coisa, antes de deixá-lo ir, e foi por isso que gritou. - Harry!

Os segundos que levaram para Harry girar nos calcanhares foram apenas o suficiente para que Louis corresse a distância que havia entre si, e então seus peitorais colidiram - nem tão fortemente, devido sua contusão nas costas - mas intenso o bastante para tomar-lhe o ar, que nem era necessário já que seus lábios eram pressionados juntos.

Fazia tanto tempo que não se beijavam que Harry permitiu que um gemido deixasse sua garganta, e sua mão livre foi imediatamente para a bochecha de Louis, segurando-a enquanto abriam seus lábios e conectavam suas línguas em um contato mais íntimo e urgente. A mão ocupada pelo capacete, ainda, foi para ao redor de sua cintura, e os manteve o mais colado possível.

Como se o beijo em si já não descarregasse um raio de energia por seus corpos, a adrenalina liberada pelos gritos, comandos e assobios no vestiário fazia o trabalho, e Harry não conseguiu raciocinar mais nada além de Louis e todo seu ser, pressionado contra seus lábios e ofegando contra sua língua.

Mas o mundo lá fora os chamava, e tiveram que cessar um contato no qual foram privados por tempo demais, e com olhos verdes cintilantes para os azuis intensos, Harry sorriu, com covinha e tudo, pois sentia-se confiante.

Sentia-se capaz.

E acima de tudo, sentia-se amado.

E Louis o observou, agora realmente, deixar o vestiário enquanto colocava o capacete e endireitava as costas, mesmo diante da dor, para enfrentar o grande desafio pronto para tentar derrubá-lo lá fora.

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- Onde você estava, sua miniatura de filho da puta? - Niall gritou assim que a silhueta de Louis se tornou visível, ainda na escada da arquibancada, só não chamando a atenção de mais pessoas porque o jogo já havia começado em campo.

- Ficamos preocupados, idiota. - Zayn puxou-o pela gola da camiseta, culminando em um abraço forte. - Por favor, fala pra mim que não estava no vestiário.

E Louis apenas sorriu, de orelha a orelha, limitando-se a não responder àquela pergunta que só revidaria contra si mesmo. Zayn lhe deu um peteleco na nuca, embora ainda o mantivesse no aperto do abraço, e Niall resmungou algo sobre responsabilidades e crianças para Bebe, que negava para o ar, mesmo sorrindo de lado. Zachary, o único calado, apenas arqueava uma sobrancelha para a situação, avulso mas nunca alheio.

Entretanto, não havia nada capaz de desviar a atenção do que realmente importava naquele momento.

O jogo.

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Quinze minutos era muita coisa.

Principalmente para o futebol americano, que cada dez segundos representava uma nova chance de marcação.

Mas naquele instante, faltando apenas dois minutos para o término da partida que definiria a classificação para a final, os Wolves já podiam sentir o gostinho da vitória se aproximando.

Como tudo naquele jogo representava uma situação inédita, a pontuação não seria diferente. Desde a primeira etapa do campeonato, sempre terminavam o último quarto com um frio na espinha indicando a expectativa do passe final, o decisivo para a definição da vitória.

Mas não naquela partida.

Pela primeira vez, conseguiam premeditar o resultado antes mesmo do apito do juíz.

O placar estava à seu favor, com alguns pontos a mais do que os Kyoties, que mesmo brutais e velozes, não podiam combater o desejo de honrar seus esforços e ambições - coisa que os Wolves eram mestres em fazer.

Mas não estava sendo fácil.

Longe disso.

Louis sentia seus ombros doerem e sua nuca suar em antecipação. Já havia chorado, gritado e esperneado, subiu no banco, quase montou no colo de Zayn e chacoalhou os braços de Niall vezes o bastante para deixar marcas na pele clara. Mas ainda assim sentia-se à flor da pele, a um passo de um grito animado e à dois de um choro de desespero.

Agora faltava um minuto e trinta segundos.

A cada dígito que caía no relógio, mais violentos e incisivos os Kyoties ficavam em campo, determinados a tirar quantos Wolves fossem necessários para que consigam virar o placar. Mas não estava sendo tão fácil quanto pensavam, não depois dos jogadores terem recebido uma alta na confiança com a ilustre presença de Harry, que ainda causava choque na torcida acumulada pelas arquibancadas.

Além de ser recebido no gramado com uma salva de palmas, o camisa 28 estava fazendo um ótimo trabalho - considerando suas condições. Não corria muito, ou sequer estava presente nas defesas mais dinâmicas. O papel de Harry no último quarto era, puramente, de apoio moral. Isso deixava o coração de Louis aliviado, os nervos de Travis sob controle e a preocupação dos outros jogadores em campo amenizada, assim podiam efetivamente prestar atenção na bola, e não no colega machucado que estava se arriscando em lances perigosos e críticos.

Harry tinha um senso de prioridade apurado com os Wolves, desde sempre.

E por mais que quisesse ir atrás da bola e marcar touchdowns, sabia que atrapalharia mais do que ajudaria, e também que o time era mais do que capaz de vencer aquela partida sem sua ajuda.

O placar vantajoso comprovava a veracidade seu ponto.

Não havia tocado na bola sequer uma única vez desde que o apito inicial soou, e já haviam marcado pontos o bastante para se distanciarem dos adversários e também colocar em prática certa fluidez no jogo, ainda que no último minuto.

Sessenta segundos.

Continuava sendo muito tempo.

Tempo o bastante, inclusive, para os Kyoties fazerem um touchdown.

Droga.

O placar ainda era favorável para os Wolves, mas a distância entre as pontuações estava menor, e isso fez mais uma linha de tensão surgir na testa de Travis. Em campo, os jogadores reagiram em choque, até mesmo Harry, ligeiramente distante da movimentação efetiva do jogo, parecia extasiado.

Nada está sob controle o bastante para se livrar do caos.

E percebiam as consequências daquilo conforme o tempo restante diminuía no relógio.

A torcida não relaxava, justamente por saber que tudo poderia ir por água abaixo apenas naqueles míseros segundos. Uma brecha na defesa, um passe em falso, um arremesso perdido - alguns touchdowns de diferença poderiam estragar o que já estava quase em suas mãos.

Quase.

Mas ainda não.

Principalmente quando o placar apitou, denunciando outra marcação para os Kyoties.

O conhecido efeito dominó.

Bastava um ponto para gatilhar uma série de outros pontos seguidos, devido ao aumento da confiança por parte dos jogadores - e em contrapartida, a queda no time adversário, touchdown após touchdown.

Liderança dos Wolves, Kyoties se aproximando.

Quarenta segundos.

Os Kyoties haviam ativado o modo desespero, e sem se importar com formalidades, avançavam brutos para a bola, derrubando qualquer um no processo. As torcidas começaram a se enfrentar, cientes de que os gritos iniciados ali poderiam, em pouco menos de meio minuto, se transformar em gritos de comemoração, ou resmungos de tristeza. A adrenalina haviam tomado conta de todo o ambiente, desde os treinadores até a banda, as líderes de torcida e os mascotes.

Cada ser presente no estádio naquele momento sentia nas veias a antecipação do grande momento.

Outro ponto dos Kyoties. Peterson, camisa 32 dos Wolves, no chão. Placar quase empatado.

Vinte segundos.

Se os Kyoties marcassem mais um touchdown, de três pontos, ficariam um ponto acima da pontuação atual dos Wolves.

Ganhariam a partida.

Mas se os Wolves mantivessem a pontuação estável pelos próximos quinze segundos, a vitória seria sua.

Uma grande jogo pede por um grande final.

O destino em questão era, de fato, tremendo.

A classificatória para a etapa mais importante de todo o campeonato - a última.

Dois times que nunca se enfrentaram antes e agora disputavam uma vaga inédita na história de suas universidades.

Não havia sequer um coração que não estivesse disparado, uma mão que não suasse frio e um ouvido que não pudesse captar o som dos pés batendo contra o concreto, as palmas estalando energéticas e as vozes entoando gritos.

Tudo culminava em um único momento.

Dez segundos.

O lance final.

Que, ao que tudo indicava, era dos Kyoties.

E só havia uma opção na mesa para os Wolves - defender.

Defender como se suas vidas dependessem disso.

E de fato dependiam.

Não haviam segundos o bastante para roubar a posse de bola e atravessar o campo para marcar ponto.

Precisavam manter olhos e mãos nos jogadores adversários e garantir que eles não consigam se aproximar da área de marcação.

Foi exatamente o que cada jogador dos Wolves fez.

Todos, exceto por Harry, que se manteve o mais distante possível da bagunça de braços, ombros e peitorais colidindo, tentando evitar que seu corpo estirado dolorosamente no chão seja pisoteado por rapazes que pesavam mais do que seus ossos podiam aguentar.

Até que o mesmo jogador, que no quarto anterior havia machucado os nervos de sua coluna ao arremessá-lo além do ombro, tomou a posse da bola.

Cinco segundos no relógio.

O lance final.

Cercado por, ao menos, seis jogadores dos Wolves, o quarterback dos Kyoties não teve outra escolha senão arremessar a bola com o máximo de força que podia recolher, apostando todas as chances naquele movimento, direcionado apenas e intencionalmente para o aro acima da área de marcação, jardas à frente.

Onde havia apenas um jogador.

Harry gastou milésimos fitando o relógio gigantesco no telão - três segundos - então erguendo o olhar para o ar acima de sua cabeça enquanto recuava no gramado, cada vez mais próximo da área. E no intervalo de um piscar de olhos, impulsionou o corpo para cima conforme levantava seu braço mais forte.

Um segundo.

A força da bola contra a palma de sua mão foi o bastante para jogá-lo para trás, e caiu de costas no gramado, perdendo o ar na mesma rapidez com que a dor se alastrou por todo seu corpo, como uma onda quente subindo-lhe a espinha, mas nada mais importava.

Não mais.

Não quando a arquibancada explodia em comemorações.

Não quando havia caído exatamente sobre a área de marcação.

Não quando a bola continuava firme em seus dedos.

Não quando havia tomado o último lance da partida para si.

Não quando os Wolves haviam se classificado para a final do campeonato.

Nada mais importava.

Nem mesmo a dor em suas costas, e com um sorriso satisfeito no rosto, girou na grama, forçando seu torso para cima através do apoio de seus braços e então cambaleando em direção à Liam, que já corria para a área.

Na verdade, todos corriam para a área, desde jogadores até o treinador, e se não fosse pela grade que separava a arquibancada do campo, sabia que a torcida estaria ali.

Quase como se não pudesse se conter, Harry, já com o apoio dos braços de Liam para ficar de pé, ergueu o queixo em busca de Louis, e sorriu ao encontrá-lo na bagunça da arquibancada, logo ao lado de um Niall girando no ar a camisa dos Wolves que antes vestia enquanto exibia o torso nu para qualquer um ver.

Difícil não os encontrar assim.

Sem se importar com as costas ardendo, mandou um beijo para Louis, e sorriu cada vez mais largo quando o observou fingir pegar no ar e então guardá-lo no coração.

Os tambores ecoaram, os gritos se tornaram mais agudos, e confetes foram disparados pelo céu que mostrava os primeiros sinais do sol poente por detrás do placar que ainda marcava a vantagem para os Wolves em vermelho. Não precisaram de mais um segundo sequer para começar o grito da vitória.

Merecidamente.

In the middle of the night when the wolves come out, they head straight for your heart

Like a bullet in the dark

Harry sentiu o nariz de Liam sendo pressionado contra sua bochecha, e se permitiu rir de felicidade, porque, porra, eles haviam conseguido.

Eles estavam na final.

Pela primeira vez na história da UAL.

Os Wolves estavam na final do campeonato.

One by one, I take them down

We can run and hide, ain't goin' down without a fight

Mesmo tendo passado os primeiros catorze minutos e cinquenta e cinco segundos do quarto final do jogo sem tocar na bola, Harry ainda havia conseguido marcar o ponto decisivo nos últimos cinco segundos restantes. E ergueu o queixo em comemoração conforme ecoava com a arquibancada, uh uh uh.

I hear them calling for you

I hear them calling for you

Mesmo sem capitão definido, mesmo com hematomas frescos e dignos de uma partida no banco de reservas, ele havia conseguido.

In the middle of the night when the wolves come out

They head straight for your heart

They come straight for your heart

Portanto, tinha todos os motivos possíveis para derreter no abraço de Liam e rir contra seu ouvido, murmurando frases sem coerência e também cheias de significado e agradecimento, enquanto palmas e ecos de uhs percorriam cada canto da arena.

Eles haviam conseguido.

Juntos.

Sempre juntos.

I hear them calling for you

Agora só faltava mais uma etapa antes de terem seu grande sonho realizado.

Só precisavam vencer a final.

E então, o campeonato inteiro seria dos Wolves.

I hear them calling for you

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- Eu sabia que iriam conseguir. Qual é! - Zayn exclamou animado. Alguém, claramente, estava pegando os vícios de expressão de um certo ex-namorado. - Vocês são os melhores. Não tinha como perder.

- Espera. - Niall murmurou, o olhar denunciando provocação. - Não era você que estava chorando desesperado durante o intervalo do segundo e terceiro quarto, Zee? Ou estou enganado?

Zayn revirou os olhos, as bochechas corando quase que imediatamente.

- Nah, esse era o Lou. - estalou os dedos no ar, tão provocativo quanto o loiro. - Espera, estou me confundindo. O Louis foi aquele que literalmente correu pro vestiário pra ver se o homem dele estava bem.

Niall gargalhou, sobrepondo toda e qualquer risada dos outros.

- Ele queria garantir que ainda teria um pau pra chupar no final do dia, né.

- Cala a boca, Irlanda. - Louis retrucou, a língua ácida. - Só diz isso porque têm dois paus à sua disposição. - indicou com o nariz para Chad e Patrick, sentados ao lado do amigo em questão, e os três arregalaram os olhos. - Não sabe como é ter só uma fonte de satisfação.

E com essa deixa, todos sucumbiram à mais risadas.

Estavam no ônibus em direção à UAL - à casa. Pós jogo, mesmo cansados e em sua maioria machucados de alguma maneira, os jogadores dos Wolves se espalhavam pelos bancos e pelo corredor, gargalhando, comemorando e exclamando opiniões sobre os melhores passes da partida - o de Harry, é claro, sendo o de maior destaque.

A noite já caía, tão rapidamente quanto gostariam, e aconchegados na última fileira do ônibus, os rapazes tentavam descansar um pouco antes de chegar no campus - afinal, tinham muito o que comemorar naquela noite, e Louis, como sempre (mas de forma mais racional e flexível, delegando funções para poder ainda se divertir) já havia planejado tudo com Zachary, nos mínimos detalhes.

E ali, estirado no espaço de dois bancos, encostado contra a janela, tinha Harry entre as pernas, reclinado apenas o bastante para não forçar as costas. Após o jogo, os paramédicos colocaram várias faixas para amenizar a dor e também diminuir a inflamação do nervo, e junto com um coquetel de remédios analgésicos, deveria se sentir melhor em alguns dias.

Da posição que estavam, tinham plena visão da outra fileira, onde Niall se encontrava sentado no colo de Chad e Patrick, ao mesmo tempo, a bunda sobre as coxas dos jogadores enquanto era ocasionalmente atacado por beijos quentes e mordidas perigosas no pescoço. E, como bônus, nos bancos atrás do trisal, Liam e Zayn sentavam próximos o suficiente para suas pernas e ombros tocarem mas ainda sim longes o bastante para que os olhares trocados não sejam tão constrangedores.

Tudo estava bem.

E isso colocava um sorriso no rosto de Louis.

- Ei. - não precisou se inclinar muito para sussurrar, uma vez que a cabeça do jogador repousava em seu peitoral. - Como está se sentindo?

Harry ergueu o queixo até onde sua coluna debilitada permitia, franzindo o rosto em uma careta acompanhada de bico quando teve que parar, e suspirou para o rosto angelical de Louis, hipnotizado por sua beleza por alguns instantes antes de realmente se dar conta de que precisava responder o que lhe foi perguntado.

- Estou bem, gatinho. - um sorriso de covinhas apareceu, e os olhos azuis descaradamente desviaram do verde intenso para fitá-las. - Quer dizer, como poderia estar mal? Olha para frente. - e Louis nem precisou o fazer para saber do que se tratava, ouvindo no plano de fundo de sua mente as gargalhadas escandalosas de Niall e a voz de Liam, provavelmente contando-lhe uma piada que não tinha graça alguma nos parâmetros comuns, mas eram apenas engraçadas o suficiente para causar uma crise de risos no irlandês. - As coisas estão dando certo, Lou.

- Finalmente. - confessou aliviado, o azul no verde. Harry parecia exausto, e com razão. Havia jogado uma partida intensa, havia sido atingido e ainda por cima havia feito o lance da vitória. Era um peso e tanto para carregar nos ombros. Por isso, com um suspiro, Louis beijou sua testa, perfeitamente ao alcance de seus lábios. - O que acha de tirar um cochilo, hu? Temos uma festa pela frente ainda, capitão.

E toda a expressão cansada de Harry se iluminou frente aquela última palavra mágica, que soava esplêndida pronunciada por sua voz melodiosa.

- Vai estar aqui quando eu acordar?

Louis sorriu de lado, ainda com os lábios em sua testa.

- Não. - sussurrou, como se fosse segredo. - Vou te deixar aqui, trancado nesse ônibus nojento até que percebam sua falta e comecem a procurar pelo corpo desaparecido.

Os olhos verdes reviraram em ironia.

- Que ótima história de ninar, hein, gatinho. Estou super disposto a dormir agora. Yay.

- Vai se fuder. - e com essa deixa, Louis observou sorridente ao que Harry se aconchegava em seu peitoral, bem acima do coração que batia alarmado e desesperado por amor, apenas para tão satisfatoriamente encontrar sua outra metade pouco mais adiante, tão desesperado quanto.

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- Ei, Tommo. - Niall gritou, tentando alcançar o amigo sobre o volume da música e também do burburinho de universitários bêbados e agitados. - Onde você vai, cara?

Louis, já caminhando, olhou por detrás do ombro para o loiro e então apontou para Zachary, ao seu lado.

- Preciso resolver alguns problemas da festa, Nialler. Volto em dez. - prometeu, assentindo para o amigo e então se despedindo dos outros rapazes com um aceno breve.

A festa estava fluindo bem - não que houvesse muito segredo em promover boa diversão para universitários desesperados por momentos memoráveis e músicas boas, e desde que o barril de cerveja esteja sempre cheio e a mesa de salgadinhos estocada, a madrugada continuaria sendo produtiva.

Era o que Louis pensava, ao menos.

Mas no meio de uma conversa animada - e levemente bêbada - com os rapazes, e também as garotas, Zachary decidiu aparecer, trajando um sorriso apologético e um olhar pidão.

Dez minutos.

Era o que Louis se permitiria, afinal, aquela era uma noite de comemoração, e prometeu à si mesmo, e aos rapazes, que não deixaria as obrigações da fraternidade tomarem o tempo precioso que poderiam passar juntos.

Os Wolves haviam se classificado para a final do campeonato, pelo amor! Não era hora de estar resolvendo problemas, e sim enchendo a cara de cerveja barata e salgadinhos na verdade ruins.

Com um suspiro, ainda enquanto caminhavam, provavelmente em direção à cozinha, virou o olhar para Zachary.

- O que achou do jogo hoje?

- Hm? - pego de surpreso, o rapaz arregalou os olhos castanhos, e Louis, diante da reação, franziu o cenho.

- Está assustado ou alguma coisa?

- Por que pergunta isso?

Louis arqueou a sobrancelha, desviando de alguns universitários dançantes enquanto ainda tentava manter contato visual com Zachary, que parecia atônito e levemente preocupado, conforme faziam o caminho para os corredores escuros, já fora do salão principal da fraternidade.

- Porque parece à flor da pele. Não sei, está estranho. - respondeu, soltando um suspiro quando finalmente saíram do meio dos corpos suados e colados, e sua respiração pareceu regularizar. A de Zac, em contramão, parecia tão acelerada quanto na pista de dança. - Zac?

Os olhos castanhos encontraram os azuis, e com um cair de ombros dramático, Zachary enfiou as mãos nos bolsos frontais do jeans. Parecia desolado, até mesmo triste, e Louis agora assumia uma postura confusa.

- Deixa pra lá, Lou.

- Não, não. Que isso. - começou, levemente preocupado ao que se aproximava para afagar seu braço, gentilmente. - Zac, sou eu. Sabe que pode confiar em mim.

Por um momento, Louis pensou que ele fosse contar, os olhos castanhos cintilando em quase lágrimas, mas então, os ombros chacoalharam de novo, dispensando o carinho no braço enquanto negava para o ar.

- Não é nada. Vamos, temos que resolver esse problema logo, assim pode voltar pra curtir com seus amigos em paz.

- Mas você também é meu amigo, Zac. - murmurou, os olhos analíticos sobre o rapaz, embora sua expressão esteja amena. - E não gosto de te ver assim. Qual é. - notando que também havia usado a maldita expressão viciante de Liam, quase revirou os olhos. - Confia em mim.

Zachary fitou o teto, soltando suspiros dramáticos, e de volta para encarar Louis, limpou a garganta desconfortavelmente.

- Vai achar que é besteira.

- Eu nunca faria isso.

Seus olhares estavam conectados, mas Louis não via emoção nas íris à frente - na verdade, não via nada além de seu próprio reflexo.

E isso era um sinal.

- Por que não me pediu ajuda com toda aquela situação da foto, Lou? - a voz de Zachary ecoou, calma, controlada e amena, e se combinada com o olhar que parecia chateado mas na verdade só estava lacrimejando, construía o disfarce perfeito para enganar alguém cujo coração era bom demais para ver maldade.

Louis, de fato, tinha um coração bom demais.

E teria sido um disfarce e tanto.

Mas o erro de Zachary foi assumir que ele não reconheceria maldade quando a visse.

Logo Louis, que já havia dormido e acordado ao lado da maldade. Que já havia entregado todo seu ser para a maldade antes. E que, acima de tudo, já havia sido enganado, muitas vezes e de muitas formas, pela maldade.

Contudo, com um suspiro contido e olhos azuis entristecidos, encolheu os ombros diante do rapaz à frente.

- Como assim, Zac?

A expressão de Zachary contorceu em satisfação, tanta que mal conseguiu esconder por detrás dos olhos vagos, mas Louis manteve sua postura de falsa chateação, intacta.

- Eu fiquei sabendo do que aconteceu através de outras pessoas, Louis. Nunca fiquei tão desesperado como naquele dia, sem saber como reagir ou como ajudar.

- Harry e Bebe chamaram a galera para recolher as fotos. - murmurou, notando como o nariz de Zac torcia diante da menção de certos nomes. - E eu estava chocado demais para falar, Zachary, foi... foi tudo tão...

- Confuso, eu imagino.

Louis piscou os longos cílios em sua direção e suspirou.

- Exatamente. - suspirou de novo, caindo o olhar para os pés enquanto seus ombros se encolhiam em busca de conforto. - Eu sabia que entenderia, Zac. Você sempre me entende.

Sendo pego de surpresa, sentiu braços ao redor de seu torso, e então, a respiração calma de Zachary contra sua cabeça, próximo o bastante para repousar o queixo na região.

- Eu estou aqui pra você, Louis. Sempre que precisar.

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Estavam na cozinha da fraternidade e, aparentemente, os salgadinhos haviam acabado.

Era a segunda pior coisa que poderia acontecer em uma festa.

A primeira era não ter música.

E prioritariamente antes das bebidas, salgadinhos constituíam um fator essencial na vida de qualquer universitário.

Uma festa pode acontecer sem todos estarem bêbados.

Mas uma festa jamais pode acontecer com todos famintos.

E enquanto observava Zachary discutindo avidamente com um dos rapazes responsáveis pela organização e racionamento das comidas, Louis só podia pensar em uma coisa.

Ele tinha cara de idiota?

Era isso?

O motivo pela qual as pessoas olhavam e pensavam oh, vou fazer ele de idiota, afinal, já parece como um mesmo.

Era isso?

Só podia ser, porque não havia nenhuma outra explicação plausível para justificar o que Zachary havia feito - isso, considerando que a hipótese em sua mente estava correta.

E mesmo se estivesse incorreto e o incidente das fotos não tivesse ligação alguma com Zachary, por que motivo suas palavras no corredor, há poucos minutos atrás, haviam sido ocas? Por que seu olhar estava vago? Por que seu abraço mais parecia parte de uma peça de teatro do que um gesto entre amigos?

Por que?

Afinal, Louis entendia bem de atuação, modéstia à parte.

E Zachary talvez precisasse conversar com srta. McGregor sobre uma possível oportunidade como ator em Grease. Daria um ótimo T-Bird se não fosse um completo mentiroso.

Podia não ser o culpado pelas fotos.

Mas alguma coisa estava aprontando.

E Louis sabia que estando próximo dele, debaixo de sua asa, sob suas palavras falsas e manipuladoras, teria maior chance de descobrir o que era. Por isso, colocou sua melhor versão de uma expressão preocupada e deu a volta no balcão, tocando seu ombro gentilmente para tentar acalmá-lo da discussão com o pobre rapaz que trabalhava na fraternidade.

- Ei, não adianta mais. - os olhos castanhos cairam sobre si, e imediatamente suavizaram, fingidos. - Acabou e é isso. Acho que a melhor opção seria pedir alguma coisa, apenas o suficiente para manter os universitários satisfeitos por mais algumas horas.

Repousando um último olhar mortal no rapaz que deveria ter sido responsável por aquele assunto em particular, Zachary voltou à fitar os olhos azuis, e suspirou.

- Pizza?

- Eu ligo. - Louis murmurou, já sorrindo para o amigo. - E você cuida dessa bagunça. - apontou para o balcão repleto de embalagens e pacotes vazios de salgadinhos e doces. - Você também. - indicou o rapaz que ainda fitava Zachary com aflito, e deu de ombros. - Eu já volto.

Saindo mais uma vez para o corredor, suspirou.

Zachary realmente estava mentindo bem em sua cara - a questão é: há quanto tempo aquilo estava acontecendo? O quanto havia sido verdadeiro e o quanto havia sido teatro? Será que alguma coisa sequer havia sido genuína? O que queria com aquilo?

Negando para si mesmo, se convencendo de que não era o momento nem lugar para ter aqueles pensamentos, Louis tentou focar na tarefa prioritária - pedir pizza.

Desbloqueou seu celular com a digital e clicou de imediato no aplicativo de chamadas, pronto para digitar o número que orgulhosamente conhecia de cor, o da pizzaria. E então, seu olhar ficou preso no histórico de chamadas, gritante na tela.

O número de sua mãe.

Embora sua mente implorasse para não o fazer - afinal, havia prometido a si mesmo naquela manhã que não pensaria nesse assunto ou no da foto até o final do jogo, tinha que reconhecer que o jogo já havia terminado, e que havia mencionado a situação das fotos diversas vezes ao longo do dia.

Nada mais justo que pensar a respeito da ligação de sua irmã mais velha, também.

Não é como se sua mente tivesse esquecido.

Como poderia?

Mal havia dormido na noite anterior, tomado por sonhos e memórias de sua infância desastrosa mas igualmente marcante, além de pensamentos referentes ao real motivo pela qual sua irmã havia decidido, em um belo dia da semana, em plena tarde, ligar.

Poderia ser saudade, poderia ser curiosidade, poderia ser impulsos, poderia ser até mesmo uma recaída de comportamentos tóxicos. De qualquer forma, Louis culparia o leve nível de embriaguez em seu sistema por ter apertado o número de sua mãe e colocado o celular no ouvido.

O irritante barulho da chamada fazia seu coração saltitar, mas nada comparado às sensações que explodiram quando a ligação foi atendida, e a voz de Felicité ecoou, novamente.

"Boo?!", ela soava surpresa, e também levemente assustada, mas jamais chegaria sequer perto de como estava naquele momento, encostado na parede como se fosse cair no chão desastrosamente se não o fizesse. "Boo, é você?"

Fala alguma coisa, idiota, seu coração gritava, mas sua mente estava estagnada demais para processar palavras, e somente conseguiu murmurar, desconexo.

"É você mesmo!", seu tom havia se transformado em ansiedade, um misto de agitação e alívio. "Meu deus, eu não sabia se isso ia dar certo, porque esse é o celular da mamãe e ninguém mexe nele desde que... hm, você sab-Ah! Meu deus, Boo, v-você... você... você não sabe! Meu deus, ninguém te contou e-"

- Eu sei que ela morreu. - encontrando forças desconhecidas, Louis murmurou, surpreendentemente à sangue frio, os pêlos de suas bochechas arrepiando e seu coração pulando uma batida. Dentre uma confusão caótica de sentimentos, se havia uma coisa capaz de clarear sua mente como um raio, era a morte de sua mãe, e o descaso de sua família em avisá-lo a respeito. - Se não fosse pelo tio, eu nunca saberia. - pôde ouvir um ofego surpreso do outro lado da linha, seguido de gaguejos, e riu seco. Podia sentir o gosto do rancor na língua. - A família Tomlinson nunca deixa de ser uma caixinha de surpresas, hu?

Não queria ser amargo.

Não queria ser rude.

E definitivamente não queria despejar sobre sua irmã algo que não era inteiramente sua culpa.

Mas não podia evitar.

Não depois de ter passado quase três anos longe de casa, ter descoberto por telefone que sua mãe havia morrido e ainda ter que processar a repentina presença de sua irmã em sua vida.

Vida essa que havia lutado muito para conseguir estruturar, sem a ajuda deles.

Sem mãe.

Sem pai.

Sem irmãs.

Sem irmão.

Sem um apoio que deveria estar consigo desde o primeiro dia de sua vida.

Sem família.

Então não. Ele não iria medir suas palavras com Felicité, ao menos não naquele momento, porque pela primeira vez em anos, estava tendo a oportunidade de dizer.

Dizer tudo o que sentia.

Dizer tudo o que lhe magoava.

E, acima de tudo, dizer tudo o que pensava sobre a situação de merda que havia traumatizado sua vida, talvez deixando marcas eternas.

Mas não conseguiu.

Não.

Louis apenas pressionou os olhos juntos e suspirou, uma tentativa falha de manter as lágrimas para dentro e o ar para fora, enquanto suas mãos tremiam e o celular dançava em seus dedos suados.

A última coisa que ouviu antes de desligar a ligação foi a voz de Felicité ecoando Boo, espera, e-eu... eu posso explicar.

E soube, como sabe que colocar a mão no fogo lhe causa uma queimadura, que se não fizesse o pedido das pizzas dentre os próximos sessenta segundos, acabaria explodindo em lágrimas e choramingos ainda na ligação, e se apressou para fazê-lo antes de murmurar distraidamente para Zachary que tudo já estava resolvido e enfim correr para o segundo andar.

Precisava ficar sozinho, assim ninguém o veria chorando.

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- Ei, Lou! - Zayn exclamou animado assim que viu o amigo se aproximando. Ainda estavam na pista de dança, e com latinhas de cerveja na mão, aparentavam, soavam e dançavam como bêbados. A festa havia chego naquele nível, afinal. - Passou mais de dez minutos, mas tudo bem.

- Vamos relevar só porque você está de volta. - Niall complementou, colocando um braço ao redor do ombro de Louis e se apoiando por completo em seu corpo. Cheirava a álcool e inconsequência. - Bem a tempo da macarena.

- Ninguém aqui vai fazer macarena, Niall. - Liam resmungou, o rosto contorcido em uma carranca enquanto virava a latinha de cerveja em intervalos curtos demais.

Não que Louis estivesse prestando atenção.

Os olhos azuis estavam vagos, confusos, e se não fosse pela luz extremamente baixa, apenas proveniente do globo acima de suas cabeças e das pulseiras neon espalhadas pelos pulsos e roupas dos universitários, sua cara inchada estaria à mostra, desde o nariz avermelhado até as bochechas fervendo por causa de um choro terrivelmente alto e descontrolado, há apenas alguns minutos atrás.

Tentou se controlar diversas vezes.

Contou até dez.

Respirou em intervalos espaçados.

Jogou água no rosto.

Tentou de tudo.

Mas nada parecia funcionar, então apenas colocou sua melhor expressão vazia - que era melhor do que a que havia visto no reflexo do espelho do banheiro - e rezou para que fosse o suficiente.

Só havia esquecido de um detalhe.

Um par de olhos verdes estava fixo em sua direção, e antes de processar qualquer outra coisa, Harry já dava os poucos passos que distanciava-os, as mãos firmes indo diretamente para suas bochechas, ofegando ao sentir o fervor das mesmas contra os dígitos.

- Ei, gatinho. - sua voz estava preocupada, e Louis pressionou os olhos bem fechados, incapaz de fitar as íris cintilantes à frente. - O que aconteceu? F-foi Zac, não foi? Eu sabia, aquele desgraçad...

- Não, Harry. - cuspindo as palavras para fora, nem mesmo soando como si mesmo, ergueu as mãos para esfregar o rosto, expulsando assim as do jogador, que apenas o fitava confuso e atordoado. - Não é isso, não é nada, na verdade.

- De novo com essa história de não é nada, Lou?

Louis tremeu os cílios, sobrecarregado, e fitou o chão - não permitiria a si mesmo que mentisse para os olhos de Harry. Seus dedos subiram para o cabelo, e puxou as raízes com força para trás, em uma tentativa de silenciar os pensamentos caóticos em sua mente.

Por fim, suspirou.

- Não é nada, 'tá b-bem? - sua voz craquelou, denunciando os diversos motivos pela qual não estava bem, e Harry simplesmente ignorou, colando seus peitorais e firmando as mãos em sua cintura conforme beijava sua testa.

Odiava ver Louis daquele jeito e não saber o motivo.

Odiava sentir sua dor em empatia e não conseguir amenizar.

Odiava, acima de tudo, ouvir suas mentiras e não poder fazer muito à respeito.

- Por que não quer me contar, hu? - murmurou, incapaz de deixar passar quando o corpo em seus braços lutava contra algo, nitidamente. Estavam no meio de uma pista de dança, rodeados de universitários dançantes, felizes e dispostos, com motivos de sobra para comemorar, e ainda assim, fitava Louis e via a aura triste e confusa que o rodeava, como uma gaiola. Sentia-se distante, mesmo colados. Queria atravessar para o outro lado para reencontrá-lo. Queria percorrer o caminho necessário para, por fim, estarem juntos. Mas havia um penhasco, gigantesco, entre ambos, e a ponte capaz de possibilitar a travessia estava sob comando de Louis. Enquanto não decidir compartilhar o que tanto açoitava seu coração, não havia nada que podia fazer do outro lado a não ser gritar por sua atenção. E era isso que Harry estava fazendo, naquele exato momento, no meio da pista de dança. - O-o que te preocupa tanto que não quer contar? O-o que est...

- Harry, - os olhos azuis, finalmente, encontraram os verdes, e Harry sentiu um vazio em seu estômago ao notar que as íris haviam derramado lágrimas teimosas há pouco tempo atrás, e agora ameaçavam fazê-lo de novo. Louis soava exausto, e parecia quebrado. - Por favor, não.

Era um sentimento desolador.

Ver algo, não saber de nada e ainda assim querer ajudar.

Mas a mente de Harry realizou um raciocínio rápido, considerando que Louis era a pessoa mais forte que conhecia, e a mais teimosa, e que suas decisões, muitas das vezes, não eram de fácil compreensão - mas sempre aconteciam por motivos nobres. Portanto, suspirou, engoliu as palavras em sua garganta junto com o bolo que se formava, e firmou os dedos em sua cintura, o medo de se separaram sendo mais forte do que seus instintos.

- Tudo bem. - pode ver a expressão conturbada à frente mostrar surpresa, e sorriu de lado, pequeno o bastante para nenhuma covinha aparecer, os olhos azuis automaticamente procurando-as e assumindo certa decepção ao não ser bem sucedido. - Não vamos falar sobre isso. - Louis assentiu, a testa franzida criando linhas de tensão por motivos nos quais Harry desconhecia, e simplesmente suspirou, derrotado. - O que acha d...

Foi interrompido por um barulho semelhante a um disco travando, e o DJ agarrou o microfone para anunciar que haveria uma mudança de ritmo musical sob alta demanda dos universitários, e como mágica, observaram as luzes caírem ainda mais e os alto-falantes ecoarem uma valsa sutil, se comparada com a batida eletrônica que estrondava há apenas segundos atrás.

A massa ao seu redor, que antes pulava, gritava e chacoalhava, agora procurava por um par, se espaçando na pista para que todos pudessem se mover sem esbarrar na dupla do lado, e risadas, conversas felizes e pedidos de dança ecoaram junto com a melodia calma.

Estavam no ápice da madrugada, em uma festa na fraternidade mais conhecida de toda Londres, comemorando a classificação inédita para a final do campeonato de maior prestígio que já conheciam - e é claro que não iriam recusar uma valsa.

Até mesmo o mais embriagado e chapado universitário possuía coração.

E Harry, em especial, sentia o seu ardendo no peito ao notar que Louis mal processava o que estava acontecendo ao redor, as sobrancelhas erguidas em confusão e os olhos vagos, distantes, mesmo que seus corpos estivessem colados e já mexendo em um ritmo sutil.

Zayn e Liam estavam calados, embora também dançassem, e com a cabeça encostada no peitoral do ex-namorado, o moreno suspirava tão audivelmente que podiam ouvir há passos de distância, em contraste com Niall, que gargalhava de forma escandalosa enquanto tentava valsar com Chad e Patrick ao mesmo tempo.

Mas, ainda assim, nada parecia certo para Harry.

Porque Louis estava avulso em seus braços, e isso não causava boas vibrações em seu peito.

- Ei, gatinho? - murmurou, brando, tentando recuperá-lo de onde quer que esteja viajando. Os olhos azuis piscaram, e com eles, vieram lágrimas, tão velozes quanto pesadas, e Harry ofegou, surpreso. - Lou?

- E-eu... eu, eu não consigo. - e simples assim, Louis saiu de seu aperto, rodando no lugar em confusão por alguns milésimos de segundo antes de mapear o caminho que queria fazer e então disparar por entre a multidão dançante, desviando dos pares até chegar na escada que levava ao segundo andar.

Harry levou mais dois segundos para processar o que havia acontecido, e apenas um para correr em direção à escada, também.

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Família deveria ser nosso lugar seguro.

Mas muitas das vezes, é o lugar onde nos encontramos menos seguros, e com a maior enxaqueca de toda nossa vida.

Não é definida por sobrenomes, ou por sangue; é definida por comprometimento, e por amor.

É aparecer quando mais precisamos.

É oferecer um ombro quando queremos chorar.

É escolher amar cada vez mais, mesmo nos dias pelos quais lutamos para sobreviver.

Família é nunca desistir um do outro.

Mas a família Tomlinson desistiu de Louis antes mesmo de vê-lo saindo pela porta da frente de casa.

Não tem que ser perfeita, só precisa ser unida.

E a família Tomlinson era, de fato, unida, Louis sabia que sim afinal esteve sempre do lado de fora para observá-los, felizes.

Mas será que eles sequer, em algum momento, pararam para observar se ele estava feliz?

Não é porque é família, que justifica um comportamento inadequado. Não significa que tem que aguentar mentiras, caos, drama, manipulação e, acima de tudo, desrespeito.

Não.

E Louis sabia que não.

Sabia que tinha todo e qualquer direito de encerrar relacionamentos familiares cujas raízes eram tóxicas. Sabia que tinha todo e qualquer direito de se afastar de familiares que haviam lhe machucado. Sabia, também, que tinha todo e qualquer direito de estar irritado, angustiado, e ainda, de agir de forma egoísta e imperdoável, e que não devia nenhuma explicação para nenhum de seus familiares.

Porque depois de anos sendo negligenciado, ele finalmente havia aprendido a cuidar de si mesmo.

Sozinho.

E não queria gastar um segundo sequer ensinando algo para pessoas que deveriam ter sido os responsáveis por isso em primeiro lugar.

Algumas das pessoas mais intoxicantes vem disfarçadas como família.

E quando essas pessoas constantemente te colocam para baixo, te deixam sentindo como se não conseguisse fazer nada direito, ou te faz pensar que é sem valor e inútil - isso é abuso emocional.

Às vezes até físico.

E psicológico.

Não é família.

Louis havia saído daquela situação, e agora se via sendo puxado de volta.

Podia ser inocente, afinal, Felicité era apenas uma criança - mas Louis também era, e carregava as cicatrizes desse erro inocente até hoje.

Felicité não tinha discernimento para compreender - mas Louis também não, e foi forçado a fazê-lo de qualquer maneira.

Felicité não detinha do poder de impedir - mas Louis também não merecia, e isso não importou em momento algum.

Eles destróem a ponte e ainda perguntam por que deixamos de visitar.

Louis sabia de cor centenas de motivos pelas quais deixou de o fazer.

Mas será que Felicité conseguiria citar ao menos um motivo por ter ajudado a destruir a maldita ponte?

Será?

Em contrapartida, o coração de Louis, que era bom, mas tão bom, ardia em saudade.

Saudade.

Não dos momentos em que deixava de comer na mesa para evitar xingamentos e humilhação - isso se sua família já não tivesse comido tudo antes mesmo de ter a oportunidade de se sentar.

Não dos momentos em que recebia gritos e repreensões por estar se divertindo com o que gostava, e era menosprezado por ser diferente.

Não dos momentos em que sentia dor, interna e externa, e só conseguia pensar em ser livre.

Não desses momentos.

Mas sim daqueles felizes.

Como no dia do aniversário das gêmeas, que ainda eram bebês. Pouco antes de ser expulso da festa que havia ajudado a organizar. Se lembrava com carinho da sensação de segurar ambas as irmãs no colo, ao mesmo tempo.

Ou quando ouviu barulhos no andar de cima e quase teve um ataque cardíaco ao notar que Lottie estava beijando um rapaz dentro do quarto. Se lembrava com divertimento - e desespero, em partes - de ter a conversa com ela naquela mesma noite.

Ou ainda quando seu irmãozinho havia caído no chão e machucado o joelho, e teve que inventar uma música de imediato para distraí-lo enquanto passava o remédio na ferida que mal sangrava. Se lembrava da risada sutil mas aguda que havia dado, e em como aquele foi um dos sons mais especiais que já havia ouvido na vida.

E, principalmente, quando estava arrumando as malas para ir para a UAL, tendo plena certeza de que estaria em breve e por fim fora de casa e daquele sofrimento constante, e Felicité entrou em seu quarto, com bochechas vermelhas, nariz congestionado e olhos brilhando.

Eu vou sentir sua falta, Boo.

Louis se lembra de ter deitado na cama, naquela mesma noite, ao lado da mala pronta, e rir.

Riu porque desacreditou que sua irmã mais velha sentiria sua falta, após colocar sal em seu chá, ao invés de açúcar. Após misturar suas roupas brancas e coloridas na máquina de lavar para transformar todas as suas camisetas em cor de rosa. Após mentir para seu padrasto dizendo que havia trago um rapaz para casa, só para vê-lo receber uma bronca - e alguns golpes - antes de ficar de castigo por semanas. Após trancá-lo dentro do quarto "por acidente" justo na noite de natal.

A noite que, coincidentemente, era seu aniversário.

Louis riu.

Riu porque Felicité não sentiria sua falta.

Sentiria falta de causá-lo sofrimento desnecessário.

Mas agora, sentado no chão da sacada do segundo andar da fraternidade, enquanto uma festa animada e energética acontecia abaixo de sua bunda, só conseguia sentir saudades.

Era a mesma situação com sua mãe, acreditava.

Apesar das dores, traumas e sofrimentos, seu coração sentia falta dos momentos bons.

Não podia evitar.

Porque todos aqueles momentos ruins afetavam o caráter deles, não o seu.

E como nunca havia feito nada de ruim para sua família, sentia, sobre as camadas de chateação e desamparo, uma fina porção de saudade.

- Aí está você. - a voz conhecida ecoou, transbordando conforto para aquele ambiente tão rígido e frio que eram seus sentimentos e preocupações. - Te procurei por todo lugar.

Louis suspirou, pressionando os olhos fechados uma última vez na tentativa de expulsar o que desejou ser os resquícios finais de lágrimas, e olhou por detrás do ombro, a tempo de captar a imagem de Harry, acanhado, com as mãos dentro dos bolsos frontais dos jeans, e escorado na porta da sacada. Os olhos verdes pareciam preocupados, mas seu sorriso era reconfortante, no mínimo.

E com um limpar de garganta, sorriu de volta.

Genuinamente.

Porque aquela confusão mental sobre dramas familiares havia drenado toda sua energia e motivação, e por mais que tivesse se sentindo sobrecarregado e sufocado na pista de dança, rodeado por agitação e batidas fortes demais para competir com seu coração alarmado, ali, apenas ele e Harry, sentia acolhimento.

Era o shhh que sua mente precisava ouvir.

Era o sentimento verdadeiramente familiar que precisava confirmar antes de calar todas suas dúvidas à respeito de Felicité e a tentativa de reaproximação dos Tomlinsons.

Aquilo, com Harry, com os rapazes, com Tiana, até mesmo com Olivia e as garotas - isso sim era família.

Era amor.

Era felicidade.

Era apoio.

Todos sinônimos - e se um não se encaixa, então não era família. São apenas pessoas que carregam o mesmo sobrenome e talvez dividem o mesmo teto, mas não, não havia família.

Porque família cuida e família compreende. Apesar de qualquer circunstância adversa.

E apesar de ter sucumbido às suas inseguranças e fugido da pista de dança, Louis não estava sozinho, nem mesmo antes de Harry chegar e muito menos agora com sua presença, porque em seu coração, ele sabia como um fato que estava sendo reconfortado.

Então se permitiu sorrir, cada vez mais largo, conforme Harry levava aquele gesto como afirmativo e se aproximava, até sentar ao seu lado no chão, colocando as pernas para fora dos limites da sacada, através das grades, e juntos, balançavam os pés distraídos no silêncio calmo, pacífico e realmente caloroso.

Família.

Casa.

Amor.

- Eu sinto muito. - murmurou, as bochechas corando gradualmente ao que virava o olhar e suspirava diante do verde intenso. - Não quis sair correndo desse jeito.

A expressão de Harry denunciava tranquilidade, e se contentando a suspirar, apenas esticou o braço por cima de seu ombro, puxando-o cada vez mais para perto até que estivesse deitado com a cabeça em sua nuca. Seus dedos acariciaram os fios de cabelo macios, e ambos fecharam os olhos, sem perceber.

Aquele havia sido um dia e tanto.

- Tudo bem, gatinho.

- Mesmo?

Um sorriso floresceu nos lábios de Harry, as covinhas longes do olhar atento de Louis, que quase ronronava dentro do aperto confortável.

- Quando entrou no vestiário, hoje de tarde, - com a voz ociosa, quase como se aquele assunto fosse delicado para si, limpou a garganta. - Você sabia que eu estava confuso, sabia que eu estava preocupado.

- Você estava imobilizado em uma maca, pelo amor, Harry. - retrucou, revivendo parte do nervosismo de mais cedo conforme imagens açoitavam sua mente. - É claro que eu sabia que você estava preocupado.

- Mas a questão é, - ignorando a petulância em seu tom ao que encostava o nariz no cabelo macio abaixo, Harry riu. - Você deixou tudo de lado para me ajudar.

- Porque eu sabia que as prioridades eram outras.

- Exatamente. E quando eu estava quase entrando em campo, o que você fez?

- Te beijei.

- Não, Lou. Você me deu um sinal. - confuso, Louis, à contragosto, ergueu a cabeça do ombro de Harry para fitá-lo, azul no verde. Não sabia porquê, mas seu coração batia no ouvido, e sentia-o na palma da mão. - Um sinal de que tudo ficaria bem, independentemente do que acontecesse lá fora.

- Na partida. - concluiu.

- A diferença é que... - Harry esticou a mão para segurá-lo pela bochecha, deslizando o polegar pela pele gélida devido ao vento. - O seu está acontecendo aí dentro, não está? - os olhos azuis arregalaram, surpresos. - Não é uma partida de futebol americano, Lou. É dentro do seu coração. - Louis não queria chorar, e contendo as lágrimas que já ameaçavam cair de novo, assentiu, deslizando sua bochecha nos dedos de Harry durante o movimento. Por fim, sucumbiu ao carinho, fechando os olhos e cuspindo as lágrimas para fora enquanto inclinava a cabeça em sua mão. - E esse é o meu sinal, gatinho. O sinal de que tudo vai ficar bem, independentemente do que acontecer aí dentro.

Louis gostaria de mensurar, em algum momento da sua vida, como Harry o fazia sentir.

Mas como poderia, se nem mesmo seu coração conseguia fazê-lo?

Parecia um encanto.

Era assim que se sentia.

Encantado.

Encantado em conhecer alguém tão maravilhoso.

Encantado em conhecer alguém tão gentil.

Encantado em conhecer alguém tão especial.

Encantado em conhecer Harry.

E ele tinha razão. Aquele havia sido, de fato, um dia e tanto. Mas apesar de todas as circunstâncias, só tinha um arrependimento.

- Harry. - com a voz emocionada levemente craquelando, fungou, ainda de olhos fechados contra a mão firme em sua bochecha.

- Oi, gatinho.

- Aquela dança ainda está de pé?

Os cílios tremeram bem a tempo de ver a silhueta de Harry levantando do chão, com certa dificuldade pelas costas, e então estendendo a mão para si, como um cavalheiro. Louis aceitou de bom grado, seguindo seus movimentos até estarem com peitorais colados, olhares alinhados e mãos entrelaçadas.

Na ponta dos pés, para amenizar o trabalho de se inclinar por parte da coluna inflamada de Harry, sorriu frente a mão em sua cintura, e iniciaram uma valsa completa e totalmente desengonçada, constituindo apenas um balançar de corpos enquanto risadas e bochechas coradas preenchiam a pequena sacada.

A música eletrônica ainda podia ser ouvida, e contrastava drasticamente com a lentidão de seus movimentos, mas isso só tornava tudo ainda mais especial, se combinado com os murmúrios que saíam da boca de Harry, algo na linha da trilha sonora de Frozen que constantemente causava revirar de olhos e risadinhas em Louis.

- Isso é realmente necessário?

- Você não gosta dessa música?

- Não!

- Qual é, todo mundo gosta de Quer Brincar Na Neve.

- Mas você está murmurando a melodia de Vejo Uma Porta Abrir.

- Pensei que não gostasse dessa música, Lou.

- Vai se fuder.

Com um sorriso largo, Louis bufou, se rendendo à repousar o rosto contra o peitoral de Harry, ainda balançando seus corpos em uma valsa forjada mas significante. Tinham a vista da fachada da fraternidade, e conseguiam observar cada universitário conversando, beijando e dançando nos paralelpípedos abaixo, dentre eles, Zayn e Liam.

Louis demorou dois segundos para processar a imagem dos amigos, e talvez o pico de batimentos de seu coração tenha o dedurado, porque Harry não tardou a olhar na mesma direção e dizer:

- Parecem agitados.

- Será que estão brigando? - os olhos azuis estavam quase arregalados. - Devemos ir lá ajudar?

Todo o corpo de Harry seguiu o movimento negativo de sua cabeça, tremendo Louis no processo.

- Não. Eles precisam se resolver, uma hora ou outra. Sozinhos.

- Acho que sim. - com um suspiro, fechou os olhos, concluindo que era melhor não ver nada do que observar seus melhores amigos discutirem. - E Niall?

A risada de Harry o chacoalhou mais uma vez.

- Enquanto eu estava te procurando, acabei abrindo uma porta que não devia no corredor.

- Chad e Patrick?

- Yep. - seus lábios estralaram audivelmente, e ambos riram. - Alguns discutem...

- Alguns valsam...

- Mas Niall sempre está transando. - Harry completou, ainda rindo sob a luz do luar conforme se moviam guiados pela própria música, um andar acima de uma das festas mais agitadas do trimestre.

%%%

- Nós já tivemos essa conversa antes, Liam. Mais de dez mil vezes!

- Isso é um exagero. - os olhos castanhos reviraram, irritadiços, o que só piorou a postura defensiva de Zayn, à sua frente.

- Está me chamando de exagerado?

- O-o que? Lógico que não. Estou dizendo que as suas palavras foram exageradas.

- Então está me chamando de mentiroso.

- É sério isso, Zayn?

- Parece que estou brincando? - retrucou, ríspido, cansado e farto, as mãos na cintura e o peito subindo e descendo em puro desespero diante do olhar impassível do ex-namorado. - Me diga, Liam. Parece que eu estou brincando? Porque até eu sei, você me chamou para conversar, e igual todas as outras vezes, só olha na minha cara e mente!

Quase cuspindo diante de tanta frustração sendo exteriorizada em sua fala, Zayn levou as mãos furiosamente para o cabeça, onde o cabelo ralo não podia ser puxado mas sim coçado. Era a única alternativa para controlar o tique nervoso em seus dedos, e tratou de fazê-lo, o coração palpitando e os olhos acumulando lágrimas.

- Zayn... - amenizando o tom ao perceber que a discussão havia chegado a um limite perigoso, Liam suspirou. - Escuta....

- Isso, Liam. Escutar, é o que eu quero fazer. Porra, é o que eu mais quero fazer na vida. Mas pra isso acontecer, você precisa falar! - estourou, mais uma vez, e outra, e outra, os olhos castanhos arregalados e as bochechas tão pálidas quanto jamais estiveram antes. - Falar!

- Zayn...

- Não, Liam. Não!

- Zayn...

- Eu não aguento mais essa enrolação, essa... essa...

- Eu estou usando drogas, Zayn, mas que caralho.

Tudo pareceu congelar.

Desde a música que estrondava ainda do lado de dentro da casa até a conversa que os universitários na área externa desenvolviam, tudo - exceto o coração alarmado de Zayn e os olhos úmidos de Liam.

As únicas coisas que ainda funcionavam, e como ironia, agiam sob influência do mesmo motivo.

Havia ainda uma tensão, estruturada e nutrida durante os dois segundos que permaneceram apenas se encarando e derramando dor, e por fim, Zayn xingou, alto e frustrado, enquanto dava os passos necessários para acabar com a distância entre eles.

Nunca chorou tanto em sua vida como chorava dentro dos braços de Liam naquele momento, alheio à qualquer outra coisa além dos murmúrios de me perdoa e eu te amo, assim como a força que as mãos grandes faziam na parte de trás de suas coxas, e também os arrepios que ambos seus corpos experienciaram.

Era isso.

Liam havia finalmente falado.

E Zayn havia finalmente escutado.

A distância que tinha sido edificada entre si, durante seu relacionamento, agora estava sanada.

Não haviam palavras no mundo capaz de enunciarem o que Zayn gostaria de dizer, e não haviam sentimentos o bastante para mensurar a bagunça caótica de seu coração, mas contanto que houvessem braços ao redor de seu torso e lábios como os de Liam pressionados contra os seus, sabia que dariam um jeito.

Porque a pior parte já havia passado.

O reconhecimento.

Agora, só lhes restava cuidar um do outro.

Enfim.

*Instagram*

beberexha: e dizem por aí que a torcida dos Wolves é a mais fraca, me pergunto, onde?

Comentários...

zayn: na casa do caralho

niallhoran: na final do campeonato!!!

louist91: me manda essa foto????

louist91: eu ouvi classificados para a final do campeonato?

Comentários...

niallhoran: ouviu né, graças a deus não é surdo

liampayne: de quem é o cachorro?

harrystyles: *emoji de coração azul* *emoji de coração verde*

beberexha: me manda essa foto????

niallhoran: por que ter um se você pode ter dois? *emoji de diabinho*

Comentários...

zayn: sanduíche de Niall

louist91: o kamasutra tá diferente

harrystyles: meu casal!

liampayne: se um já dá trabalho, imagina dois

realbarbarapalvin: cabe mais uma aí?

eleanorj92: mais duas?

beberexha: três!

louist91: eu ouvi suruba?

zayn: ew, vaginas

eleanorj92: ew, paus

harrystyles: as vezes eu acho que vocês confundem isso aqui com grupo de mensagem, sabem que é público né?

Wow

Meu coração Ziam está sangrando, mas tinha que acontecer, finalmente!

E eu estava sentindo falta já desses trechos do insta! Acho que dão um extra na experiência :)

Estão vendo como eu não menti quando disse que as coisas iriam naturalmente se resolver antes do final da fanfiction?

As peças estão se encaixando cada vez mais, cap após cap, e não estejamos tão distantes do BOOM!

Vocês ficam me pedindo a suruba, o plug, o desfecho com Ryan, o desfecho das fotos divulgadas, o desfecho das histórias familiares , mas quando isso tudo vier, acho bom segurarem as perucas, porque vai ser um atrás do outro, BOOM boom BOOM.

Quero ver reclamar depois k

Cuidado com o que pedem! Podem receber exatamente isso.

E falando no assunto, acho que me equivoquei sobre a suruba. Disse que ela viria próximo do meu aniversário (que já é semana que vem, dia 25). Mas talvez demore algumas atts até lá, ainda.

Inclusive, acho que não tem att semana que vem, porque talvez não dê tempo de escrever, mas na próxima com certeza, não se preocupem!

!Tenho uma perguntinha de TCC para fazer antes de irem embora!: sobre a consulta de Harry com Olivia, a psicóloga. Eu, Nathalie, particularmente, não acho que seria tão proveitoso discorrer sobre a situação do abuso de Ryan, isso porque já abordamos na fic antes, é um assunto pesado e todos já conhecem o contexto geral da situação, então não vejo motivos para cutucarmos uma ferida que pode causar gatilhos desnecessários em várias pessoas. Originalmente, eu planejei algo mais geral, sem detalhes, breve, que dê a entender que ele falou sobre, sem realmente discorrer no abuso.

O que acham?

Estou aberta à sugestões, mas acho que no ponto que estamos da fanfiction, é mais sobre a recuperação psicológica do que o relato de abuso por si só.

Contudo, queria saber a opinião de vocês sobre o conteúdo que se disporiam a ler. Eu tenho receio de acabar ficando muito pesado (já que o assunto é, de fato, delicado) e desencadear situações indesejadas em quem está lendo.

Tendo dito TUDO isso, espero que tenham gostado do cap, gostado do jogo porque eu amo escrever, e que estejam ansiosos pelo próximo, que tem de tudo um pouco!

Ai ai esse Zachary...

Uma coisa totalmente fora do tópico, ainda: se vocês soubessem o quanto meu coração bate quentinho pro Liam, tanto na fic quanto na vida real, chorariam comigo, porque ele é tão maravilhoso, né?

Sofro.

Ele e o Lou são as causas das minhas mortes diárias.

Filhos da puta gostosos, talentosos e perfeitos, af.

Esse era o desabafo!

Nos vemos na próxima att, que espero não ser tão distante!

amo ocês

tt as always no ohnanathalie

insta as always no nathaliemach_

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