Muralhas

By aike0508

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Íris de Freitas é uma médica veterinária renomada na cidade de Leopardita. Apesar da realização profissional... More

I. Fred
III. Coração X Mente
IV. Barba Azul
V. Maiores que as muralhas

II. Nishikigoi

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By aike0508

Sentado na varanda, Marcos levou um dedo à língua e folheou mais uma página do jornal. Nela havia uma lista de aprovados no concurso para polícia civil da 1ª Delegacia de Leopardita. Por um momento ele se arrependeu de não ter sabido da seleção a tempo, mas preferiu esquecer. Se exercer um papel em escritório já era complicado, servir as autoridades viraria uma missão impossível. Ele voltou a folhear o papel e depois o jogou no outro canto da sala. Não encontrou nada, ou melhor, nada que ele estaria apto a fazer. Ajeitou os cabelos castanhos, bebeu um gole da caneca de café - que já estava frio - e respirou fundo. O ar da manhã parecia sempre mais puro e Marcos amava isso. O vento fresco o mantinha calmo apesar do quase constante frio na barriga. Ele entrou na casa, deixou a louça na pia e foi ao banheiro se barbear. Queria estar apresentável para procurar um novo emprego pela cidade.

Tirou boa parte da barba falhada, mas acidentalmente se cortou com a lâmina, fazendo um filete carmesim escorrer pelo maxilar rósea. O reflexo no espelho adquiriu uma sobrancelha arqueada e olhos questionadores. Marcos sempre fazia essa expressão ao se barbear e, se alguém estivesse ali para vê-lo, o acharia atraente. Contudo, seu olhar estava quase sempre opaco pela ansiedade e medo, exceto em momentos como esse onde seus orbes cor caramelo realçavam sua aparência. Ao terminar, vestiu uma roupa social e foi até a porta. Tocou na maçaneta e ficou parado, sem fazer qualquer movimento para sair. Era a terceira vez que ele jogava o mesmo jogo sem passar para a fase seguinte. Olhou pela janela e assim que se imaginou em uma entrevista de emprego sentiu os tambores em seu peito recomeçarem a tocar. Sua mão suada escorregou da maçaneta e ele deu um soco na porta.

Marcos caminhou até seu quarto que, um ano atrás, pertencia a seus avós. Havia uma caixinha embaixo da cama onde guardava reservas financeiras. Boa parte era sua única herança, deixada por eles. Ele não mexeria ali a menos que seu próprio salário acabasse – estava próximo de acontecer, para ser sincero. Porém tudo que ele pensava agora era em buscar Fred. Marcos teria companhia dali para frente o que era animador. Com a mesma roupa que estava ele saiu, aproveitando que ainda estava cedo e a clínica estaria vazia.


- Olá, Marcos. – Cumprimentou Peter, surpreendendo o outro.

- A Drª Íris se encontra?

- Ela vai precisar se ausentar por uns dias. Íris sofreu um acidente na noite de ontem.

Marcos arregalou os olhos e perguntou, mais alto que o normal:

- Foi grave? Como ela tá?

- Ao que tudo indica nada pôs em risco a vida dela mas precisará ficar em observação, igual o seu filhote. Falando nele, vamos lá?

Como foi dito pelo médico, Fred recebeu alta naquele dia. Peter explicou que o tratamento poderia ser continuado em casa e instruiu Marcos a realizar a primeira vacinação o quanto antes para melhorar a imunidade do animal. Até lá, Fred não poderia passear ou entrar em contato com outros cães. Marcos acertou as contas na recepção – que lhe custaram o restante do salário, mas fora por uma boa causa – e antes de sair escutou uma conversa entre Peter e Harumi.

- Você vai ao hospital hoje? – Perguntou o veterinário para a recepcionista.

- Vou resolver um problema na escola dos meus meninos. Não posso adiar mas quero ver ela o quanto antes.

- Eu vou depois de amanhã. Tenho dois plantões hoje.

Marcos saiu sem ouvir o final, mas ficou com aquilo na cabeça. Gostaria de agradecer a doutora pelos cuidados com Fred, mas isso significaria entrar em um hospital que estaria sempre cheio. A ideia maquinou em sua mente o resto do dia. Após o almoço ele encarou o relógio de parede na cozinha, o tic-tac dos ponteiros o incomodava bastante. Olhou para Fred que dormia tranquilamente numa cama improvisada próximo ao sofá. Marcos sabia que o filhote só estava ali porque Íris e Peter o salvaram. Ao rapaz ele já agradecera, mas a ela ainda não. Um dia se passara e ele queria vê-la, precisava vê-la. Então na tarde do dia seguinte ele foi até a clínica e, para sua sorte, encontrou Peter na porta.

- Doutor! – falou Marcos, esbaforido.

- Marcos? O que está fazendo aqui? – Peter o fitou surpreso – Aconteceu algo com o Fred?

- Não, ele está bem...em casa dormindo...- Ele se apoiou nos joelhos, puxando o ar. – Vim por outro motivo. Eu quero ver a Drª Íris.

O veterinário não entendeu como Marcos sabia que ele estava indo visita-la. Logo depois Harumi saiu e Peter preferiu consulta-la a respeito. A moça riu até suas bochechas corarem. O médico conteve sua expressão mesmo que fosse do tipo discreto. Eles entraram no carro de Peter que fez um sinal para que Marcos fosse também. Dentro de 40 minutos chegaram ao Hospital Quartzo Verde, o maior de Leopardita. Sua fachada era tão grande que dava a impressão de ser um centro comercial e não um hospital. Peter estacionou rente a calçada, havia um pátio com uma bela fonte logo na entrada. Água cristalina reluzia aos raios do sol que já fazia seu caminho para o poente. Médicos, funcionários e pacientes circulavam pela área, o que deixou Marcos apreensivo.

- Acha que dá conta? – perguntou Peter.

O outro negou com a cabeça. Harumi disse que ele poderia esperar do lado de fora enquanto ela e Peter visitariam Íris. Marcos concordou e os outros dois entraram no gigantesco Quartzo Verde. A recepção era bem espaçosa e cheirava a produtos de limpeza. Haviam cadeiras estofadas dispostas em frente a uma grande bancada. Luminárias pendiam do teto banhando o ambiente com uma luz amarelo claro. Eles se apresentaram na recepção, mas só poderiam entrar um por vez. Peter foi o primeiro mas demorou um tempo para se localizar e achar a ala na qual sua amiga estava internada. Quando conseguiu, bateu à porta do quarto e foi recebido por uma enfermeira. A moça permitiu sua entrada e avisou que voltaria quando o horário de visitas terminasse.

No leito próximo a janela, Íris olhava distraída para o mundo exterior. Seu rosto, apesar de apresentar áreas roxas e inchadas, não perdeu a beleza. Peter notou que ela agarrava os lençóis com força e foi chamar a enfermeira, porém Íris interrompeu dizendo:

- Que bom que você veio. – E começou a chorar.

Seu choro não era de dor, mas de alivio. Ela não demonstrava fragilidade para qualquer um, mas para amigos próximos Íris não fazia questão de esconder. Ele se sentou na beirada do leito e afagou os cabelos negros e cacheados da amiga. Buscou um copo d'água e ela bebeu aos poucos, a medida que se acalmava.

- Obrigada. Desculpe pelo exagero.

- Você sofreu um acidente e só teve lesões leves. O direito de chorar é seu.

- O outro carro bateu na lateral esquerda do meu. Ele não vinha muito rápido e foi isso que salvou minha vida. Apaguei depois que o carro virou, mas quando acordei me desprendi do cinto e saí pela para-brisa quebrado.

Peter estava impressionado com a coragem dela. Íris concluiu que gritou por ajuda e, por sorte, alguns curiosos já haviam saído de casa para ver o acontecido. O responsável pela batida foi um motorista bêbado que saiam aos montes durante as noites.

- Os médicos disseram ser um milagre eu não ter quebrado nenhum osso. Deve ser coisa da cidade.

- A cidade dos milagres. – Brincou o rapaz – O que importa é que logo você receberá alta.

- Paciência nunca foi meu forte, você sabe. - Ela virou o rosto e cruzou os braços.

Peter riu e contou que havia atendido alguns pacientes pela manhã. Ouvir falar de seus preciosos animais iluminou o semblante dela que perguntou como foram as consultas.

- Foram ótimas, inclusive... – Peter olhou pela janela e teve uma ideia.

Íris franziu a testa, mas seu amigo não disse nada. Quando se passou metade do horário, ele se despediu dela e voltou para o pátio onde Marcos e Harumi observavam as carpas ornamentais do chafariz, admirados por seus movimentos elegantes. As barbatanas, cujas extremidades lembravam fios dourados de um vestido de brocado, deslizavam suavemente na água, numa dança pisciana de hipnotizar. Eles não perceberam quando Peter se aproximou e parou para observar seus sorrisos genuínos.

- Elas se chamam Nishikigoi. – falou Harumi – Segundo lendas, as carpas que superarem a forte correnteza das cachoeiras se tornarão dragões.

- Imagina sair de um rio e voar pelo céu sem limites. Deve ser tão libertador. – disse Marcos, alternando o olhar entre a água turva e o céu escuro.

Ao notarem a presença de Peter, eles esqueceram dos peixes para perguntar sobre Íris. O veterinário pediu para Harumi vê-la e que elas olhassem pela janela. A amiga não entendeu de primeira, mas concordou. Quando chegou no quarto, se segurou para não esmagar Íris num abraço apertado. A reação da veterinária não foi tão intensa quanto antes, mas ela ainda se emocionara bastante. Harumi olhou pela janela e entendeu o que Peter queria dizer. Ela chamou a atenção de Íris:

- Olhe. Próximo ao chafariz.

Íris espremeu os olhos até enxergar duas pessoas balançando os braços. Uma era Peter e a outra ela precisou de mais tempo para reconhecer. Quando o fez, acenou de volta e abriu um sorriso animador.

- Não esperava por essa! – disse a moça.

- Ele insistiu em vir. À sua maneira, mas veio. – falou Harumi.

- Tudo isso por causa do filhote? Não é todo dia que se vê alguém tão grato.

- Acho que é por sua causa também. – sussurrou a amiga.

O que Peter e Marcos tinham em comum era a mania de analisar tudo a sua volta. E foi assim que o veterinário viu que a vista do quarto de Íris dava para o chafariz onde eles estavam sentados. Acabaram de acenar quando as duas mulheres saíram da visão deles.

- Ela vai se recuperar mais rápido do que pensa. Aquela ali não se deixa abater por nada. – falou Peter.

- Pelo visto ela se tornou um dragão há muito tempo. Espero um dia poder deixar de ser um peixe. Mas preciso arrumar outro emprego antes. – Marcos cobriu a boca ao deixar a última frase escapar. Na verdade, ele falava consigo mesmo.

Peter riu mas achou a forma que ele se expressava muito bela e, o mais importante, sincera. Aquele era o toque especial de Harumi que ele conhecia bem.

- Às vezes as carpas precisam de um empurrãozinho para vencer a correnteza. – disse ele – Sabe, meu namorado trabalha como barista de café em uma lanchonete, mas já teve vários empregos pela cidade. Talvez ele saiba de uma vaga em algum lugar.

Os olhos de Marcos se iluminaram e uma pontada de esperança percorreu seu interior. Era uma ansiedade boa dessa vez. Esperaram Harumi chegar para voltarem. Durante o percurso, Marcos se sentiu mais à vontade para contar sobre o ocorrido. Fora isso conversaram sobre assuntos banais, mas que mantinham o ambiente dentro do carro leve. O veterinário deixou Marcos na porta de casa e disse que entraria em contato caso soubesse de alguma oportunidade de emprego.

- Muito obrigado, Doutor! – Falou Marcos, saindo do carro – Obrigado também, moça!

Harumi acenou e o motorista baixou o vidro do carro.

- Não há de quê! – respondeu – E pode me chamar de Peter.


A enfermeira apagou as luzes ao sair do quarto. Íris, mergulhada na escuridão, não pegou no sono. Seus olhos felinos percorreram todo o local até parar no sofá para visitantes, porém não era para o objeto que prestava atenção. Íris estava olhando para sua própria mente. Num instante o quarto se iluminou, uma televisão antiga apareceu ao lado sofá que adquiriu uma cor roxa desbotada. Então ela viu uma garotinha com os cabelos cacheados presos em maria-chuquinhas caminhando até se jogar no sofá. Em suas mãos ela segurava um livro de biologia que folheava sem parar, prestando atenção em cada detalhe das figuras dos animais. De vez em quando arriscava ler algumas palavras que, mesmo não sabendo o significado, memorizava.

Sua mãe chegava em casa no início da noite e, após sua babá ir embora, a garota vinha lhe contar tudo que havia "lido" durante a tarde. A mulher mais velha sentava e escutava mesmo que as marcas escuras embaixo dos olhos pedissem por um descanso urgente. Íris era muito inteligente e quando percebia o estado de sua mãe parava de fazer-lhe perguntas. Mas segundo ela, perguntar era bom, um exercício para a mente. E foi isso que a menina fez quando notou que seu pai não vinha para casa depois do trabalho, não aparecia em seu aniversário, nem no dia dos pais e muito menos no Natal. Ela estranhou e perguntou a mãe que não falou nada, apenas chorou. Íris então pensou que algumas perguntas não deveriam ser feitas.

Aos dez anos a garota trazia todos os animais possíveis para dentro de casa. Desde gatos abandonados até jabutis que encontrava no sítio dos tios. Porém não podia criar nenhum deles, com a ausência de papai as coisas em casa pioraram. Mamãe trabalhava muito mais e não tinha dinheiro para pagar uma babá. Como ela já estava um pouco mais velha, conseguia fazer pequenas tarefas por si. Quando fez doze anos, elas se mudaram para um apartamento minúsculo, mas aconchegante. Certa noite, ela acordou com um barulho de algo vindo ao chão. Um som abafado mas que conseguiu fisgar sua atenção. A garota se esgueirou pelo corredor com receio pois sabia que aquela região era perigosa e que alguns crimes ocorriam com certa frequência. Ela viu a luz da cozinha acesa e ao chegar no cômodo sentiu algo molhar a sola dos pés. Acendeu as luzes e percebeu estar pisando em uma poça dourada, de odor amargo. Ao lado dela estava sua mãe, dormindo no chão. Em cima da pia a garota contou pelo menos vinte latas espalhadas.

Com a chegada da adolescência outras questões surgiram. O corpo da garota começou a tomar forma e ela até que gostou disso. Amava se arrumar e testar roupas diferentes, porém sua mãe a alertava para tomar cuidado com o que vestia. Na maioria das vezes ela dava de ombros e, após as aulas, trocava o uniforme para trabalhar na padaria da rua de baixo. Em quatro anos ela prestaria o vestibular, então começou a juntar dinheiro desde cedo para a faculdade. Ela gostava do emprego e o teria mantido até concluir a educação básica se não fosse por alguém. Toda vez que voltava da padaria, o síndico do prédio onde moravam costumava conversar com ela assim que chegava. Mas ela percebeu que aquilo tomou um rumo diferente do esperado. Ele começou a falar sobre assuntos constrangedores e até fazia gestos com a língua e os dedos que ela não entendia. Um dia ele a convidou para visitar seu apartamento. Íris dispensou a oferta e subiu as escadas até o último andar. O síndico foi atrás dela e puxou seu braço. Sua força era muito superior à garota que gritou por ajuda, mas não foi ouvida. Já na entrada do apartamento – ou covil, se assim preferir – ela o chutou bem no estômago e escapou.

Sua mãe nunca soube o motivo das batidas constantes à porta naquela noite e porquê sua filha havia colocado a mesa e as cadeiras contra a entrada. Se mudaram na semana seguinte e Íris atrasou um ano do ensino médio graças a isso. Arranjou um novo emprego e continuou se esforçando nos estudos. Porém ela não passou de primeira no vestibular e para isso precisou se dedicar mais um ano até conseguir a aprovação na tão sonhada faculdade de medicina veterinária. Íris de Freitas brilhou na academia, de longe tinha o melhor dos desempenhos. No entanto, ela ainda possuía resquícios de ingenuidade e não sabia diferenciar verdadeiras amizades de teatro barato. Isso quase lhe custou sua reputação quando, em uma festa universitária, uma colega despejou gotas de uma substancia desconhecida em sua bebida. Ela acordou no dia seguinte dopada no gramado do campus. Todos que passavam lhe dirigiam olhares decepcionantes de repulsa.

Em sua festa de graduação, sua mãe não pôde comparecer. A senhora já se encontrava adoentada e uma vizinha – a qual Íris gostava muito – foi em seu lugar. Quando recebeu o diploma em mãos, ela o ergueu para o céu e o dedicou à mulher que fez tudo aquilo ser possível, desde que ela nasceu. Contudo, apenas quatro gatos pingados aplaudiram. Na vez de uma colega, uma salva de palmas ensurdecedora preencheu o salão, e o fato dela ser filha de um influente empresário não passou despercebido. Íris ser a única mulher negra na foto dos formandos também era notável embora ninguém comentasse nada. A vida da nova profissional seguiu normalmente. Sua mãe falecera há 5 anos quando ela tinha 22 e a vizinha que tanto gostava telefonava sempre que possível mesmo se esquecendo do nome da moça, às vezes.

A Íris do presente piscou os olhos e a imagem do acidente – a mais fresca em sua mente – desapareceu. O sofá, bem como o quarto, voltou ao seu estado original e ela se permitiu descansar. Ela nadara contra a correnteza durante toda sua vida e alcançara as nuvens em tenra idade. Todavia, sempre que o filme em sua cabeça começava a rodar, ela pulava uma parte. Afinal, todos possuem algo que não gostam de lembrar e até mesmo os poderosos dragões enfrentam tempestades enquanto voam.


Quatro dias entediantes se passaram e Íris já estava subindo pelas paredes. A intensidade dos machucados reduzira bastante, mas ela ainda sentia dores musculares. Precisaria realizar sessões de fisioterapia dali para frente, mas faria tudo que mandassem se isso a fizesse seguir com sua vida normal. No dia seguinte recebeu alta, Harumi foi busca-la e juntas pegaram um táxi até o apartamento da veterinária.

- Não precisa ficar aqui, Harumi. Você tem suas obrigações.

- Você não tem opção, bonita. – Falou a amiga guardando roupas no armário.

Íris precisaria de ajuda em algumas tarefas até que a fisioterapia começasse a fazer efeito. Até lá, ficaria afastada do trabalho por alguns dias.

- Aquele rapaz tem perguntado por você. – Disse Harumi.

Íris puxou da memória até se lembrar.

- Me recordo bem por cima. O que ele queria?

- Só perguntou se você estava melhor. Ele e Peter tem se falado bastante. Até trocaram números.

Ela deu de ombros e tentou se levantar da cama ainda com um pouco de dor. Harumi tentou impedi-la, mas quando De Freitas punha algo na cabeça nem o diabo tirava.

- Quer comer alguma coisa? – Íris riu caminhando para a cozinha.

Próximo da meia-noite, ela já estava deitada e Harumi se aprontava para dormir no sofá quando sua amiga pediu que ficasse ali, ao seu lado. Por um momento se encaram antes da voz rouca romper o silencio.

- Eu queria agradece-lo. – Disse a médica.

- Peter?

- Não, o outro cara. Marcos, o nome dele.

- Então você lembra?

Ela responderia se não tivesse reparado em algo na mesa em frente a cama. Era tão chamativo que ela se perguntou como não havia percebido antes. Íris esticou o braço e pegou um buquê – um belo e charmoso buquê - composto de azaleias, rosas vermelhas, jasmins e flores do campo. O aroma era espetacular e o arranjo era impecável.

- Harumi, de onde tirou isso?

- O porteiro do prédio que avisou da encomenda destinada à Sr. Íris de Freitas – falou fechando os olhos puxados – Eu só fiz pegar mas deve ser do tal Marcos. Agora apaga a luz e dorme.

Íris perguntaria algo mais se Harumi não tivesse embarcado de vez para o mundo dos sonhos. A veterinária preferiu deixar isso de lado por enquanto e desligou o abajur, mergulhando na escuridão da noite regada a perfumes florais e no questionamento sobre quem havia enviado o buquê. Ela não lembrava de ter dado seu endereço a Marcos e, fora seus amigos mais próximos, apenas uma pessoa sabia onde ela morava. Íris espantou esse pensamento quando um leve arrepio subiu por sua espinha.

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