Amélia ainda não tinha se decidido, talvez ja tivesse, mas algo me dizia que não. Pensei ao observa-la no jardim com uma de suas amigas da grande janela para o pátio.
Um mês e duas semanas haviam se passado, minha vida parecia ter virado de ponta cabeça, de um jeito completamente inesperado e cômodo, talvez a culpa fosse toda minha, talvez foi Lilian, talvez, só talvez fosse Amélia. Não consigo explicar com precisão como cheguei nesse estado cômodo,porem incômodo que eu estou.
Parece que estou conseguindo exatamente o que queria, mais parece que o modo como isso acontece é defeituoso, é indesejado, ou não deveria proceder, é como se para montar esse quebra cabeça alguem tivesse forçado peças erradas a se conectarem. Talvez esse pensamento me perturbe porque na minha cabeça eu havia criado uma amor perfeito.
Mas a questão podia ser dolorosamente simples.
Amo Lilian? Sim, desesperadamente.
Lilian me ama?
Dizer que não sei é mentira, mas é reconfortante, digo a mim mesmo que não posso ter cem por cento de certeza de algo.
Lili dava a entender que tinha interesse em mim, quase me beijara a algumas semanas, então se afastara e fugira, quando nos encontramos depois ela me pediu para não falarmos sobre isso, disse que estava confusa. Não mais confusa que eu, mas concordei, sempre tendia a concordar com Lili. Isso não quer dizer que o quase beijo não me perturbou, achei que ficaria louco nos dias que se seguiram.
Os defeitos no "quebra cabeça" não demoraram a surgir, eu estava disposto a ignora-los mais eles se tornavam cada vez mais aparente, como fissuras no chão ou rachaduras em uma placa de vidro, só cresciam. Primeiro foi a aproximação súbita dela, não reparei de início a facilidade como ela derrepente arranjara tempo pra mim, no entanto logo ela comentou que agora era eu que não tinha mais tempo para ela.
Fiquei feliz e logo arrumei tempo, para isso parei de ajudar Amélia, não tinha percebido que isso mudaria as coisas pelos próximos dias.
Amélia parou de falar comigo e desapareceu de uma hora para outra, Lilian logo notou, nesse tempo ela parecia tão animada e feliz que praticamente reluzia, não conseguia pensar em nada alem dela, mas isso não durou tambem. Ela recomeçou com a implicância com Regulos e os outros garotos, sendo que eu comecei a andar com eles apenas no fim do ano passado graças ao Black. Entendia porque ela fazia isso e porque se sentia assim, eles a detestavam por ser sangue ruim, ela sabia ou achava que metade deles se tornaria comensal, eu desviava o assunto quando chegavamos a isso, porque uma vez conversamos sobre isso e ela se assustara com minha admiração a Voldemort, como um grande bruxo. Percebi que não deveria voltar a falar isso com ela nunca mais.
Disse a ela que se ficassemos fora do caminho dos meninos estaria tudo bem. não estaria, mais ao menos ela não sofreria qualquer insulto abertamente. Mas ela insistira que eu me afastasse deles, que eram pessoas ruins, argumentei que eramos amigos e perguntei se ela me via falando mal das amigas dela? Ela disparou que as amigas dela não eram.... Não chegou a completar e apenas me mandou escolher entre ela ou eles.
Perguntei se nossa amizade era só isso para ela, uma moeda de troca. Ela se sentiu mal e se desculpou, dois dias depois disse que queria conhecer meus amigos, ver se não eram tão ruins.
Me neguei imediatamente, mais ela insistiu e vi que não podia convence-la sem destacar que ela era nascida trouxa e não seria bem recebida. Ela ficaria furiosa, então eu parei de argumentar, até mesmo por saber que ela sabia disso.
Foi um desastre e acabei socando meu melhor amigo no fim do dia. No dia seguinte Lilian me fez prometer pela nossa amizade que eu me afastaria deles, eu ainda estava furioso e concordei sem pensar. Tive tempo para me arrepender enquanto voltava a ficar sozinho, me consolei dizendo pra mim mesmo que ainda tinha Lilian, mas com os dias repetindo isso intermináveis vezes, se tornou mais um costume do que algo crível.
Parecia que eu tinha voltado a estaca zero, sozinho com meus livros, a diferença é que agora eu corria todas as manhãs, as vezes só para pensar, as vezes fazia exercícios antes de dormir apenas para apagar na cama. Era facil quando não se tinha mais alguem para conversar, Regulos não me perdoou por escolher Lilian, nenhum deles o fez. Eu podia entender isso, por mais que eu não me entendesse mais.
Os meus momentos com Lilian eram frequentes, mas ela não era mais com antes. Parecia não saber o que dizer boa parte do tempo, as conversas que tinhamos não tinham mais a mesma animação da parte dela, por mais que eu me esforçace ela continuava a parecer mais e mais distante, mesmo bem na minha frente. Ela insistia que andassemos juntos pelos corredores, e assim era, esse era o momento em que ela mais sorria. Nas conversas mais animadas que tinhamos ela falava dos outros amigos dela, eu apenas ouvia e concordava, porque eu não tinha mais o que falar, nem tinha mais amigos de quem contar, e se ainda os tivesse ela não iria querer ouvir. .
Ela se irritava mais facilmente, ou era o que parecia, ela odiava meu interesse nas artes das trevas, assim como o fato de eu estudar sobre elas, passei a provoca-la com isso de proposito, porque a raiva tinha se tornado a reação mais genuia entre nós dois. Eu a inda a amava loucamente, mesmo que não pudesse mais amar a pessoa que ela se tornava ao meu lado.
Era como se eu a apagasse e como se ela me oprimisse. Se eu pudesse dizer que tudo era obra de uma poção, eu estaria infinitamente mais feliz.
Não consigo deixa-la, tenho esperança que isso melhores.
Porque algumas coisas realmente melhoraram, os grifanos não aprontavam mais, nenhum deles parecia muito feliz com a nova condição, o capitão do time de quadribol os expulsou por algum motivo e agora eles pareciam mais alunos normais do que nunca. Espero que os idiotas permanessam assim.
Mas as coisas entre mim e Lilian não eram tão simples, talvez por não estarem definidas. Sabia que estava na hora de conversar com ela sobre isso, sobre o que sinto por ela, em outra situação eu não falaria, mas se isso tivesse a minima chance de consertar as coisas era o eu precisava fazer.
Observei Amélia sorrindo lá embaixo, eu não estava mais perto o suficiente para ouvir. Sentia falta daquele som, aquela risada de pura alegria que preenchia naturalmente o silêncio. Esse era um dos motivos pelo qual eu não queria que ela se aproximasse, depois que você se acostuma com a presença de uma pessoa, é impossível não sentir a perda assim que ela vai embora.
Principalmente se essa pessoa é como Amélia.
Merlim, como sinto falta de sua paciência e de suas reclamações. _ ri comigo mesmo encostando-me no batente de pedra.
Era estranho não pensar nela quando ela fazia uma diferença enorme. Era a leveza despretensiosa que eu sentia falta quando estar com Lilian pesava o ambiente.
Amélia era um tipo de alma livre, daquelas que fazem parte de qualquer lugar e de nenhum. Sempre sendo sincera, transparente, era como um cristal, puro, translúcido e delicado, que refletia uma luz tênue mas continua. Porem, se quebrava facilmente. Por isso não pudi ir atrás dela mesmo quando entendi que era isso o que ela esperava. Porque se ela se sentia como eu me sentia agora, eu jamais poderia pedir que voltasse.
Ja basta um de nós. _ pensei finalmente me afastando da janela e seguindo meu caminho pelo corredor.
Mas eu não era tão resiliente, estava esperando que ela decidisse voltar. Por que? Porque eu sou um cretino miserável.