Mal saí da cozinha e fechei a porta do quarto, comecei a tirar minha roupa para me acomodar e ir dormir um pouco. Bruce tinha dito que ia avisar que eu estava cansada. E estava mesmo.
Tirei meus casacos e a minha blusa... Mas não consegui fazer mais nada sem cair no choro. O choque do que eu ia fazer me invadiu e eu comecei a tremer igual um chiuaua.
Fiquei com ódio. Muito ódio.
Eu não podia me deixar ser manipulada pela Hydra. Não podia deixar que, mesmo de longe, eles entrassem na minha cabeça e me causassem pânico. Céus, eu tinha planejado me matar para que eles não me controlassem!
Quando parei de tremer e chorar, me encarei no espelho do armário.
Eu era livre. E tinha uma vida agora. Tinha amigos.
Não sou eu que tenho que ficar com medo da Hydra, do meu pai, dos outros...
São eles quem tem que ficar com medo de mim. Eu sou uma nova pessoa. E não ia mais aceitar ser manipulada por eles. Não ia mesmo.
-Naomi?
Estremeci e virei, vendo Bucky entrar no quarto. Nos entreolhamos. Durante alguns segundos.
-Oi. - Finalmente, falei.
O olhar de Bucky saiu dos meus olhos e foi direto ao meu pulso. Ele suspirou e sentou na cama. Sentei ao lado dele, vestindo uma blusa que peguei no armário.
-Por quê? - Bucky questionou, olhando para os próprios pés.
-O que?
-Você achou mesmo que eu ia acreditar que você estava fazendo um sanduíche, se assustou com a Rachel e cortou o pulso, tendo que levar quatro pontos? - Bucky respirou fundo e segurou o ar nos pulmões. - Por quê, Naomi?
Fiquei em silêncio. A vergonha começava a me dominar.
-Eles... Sabem onde eu estou. Com quem. Porquê. Quem eu sou...
Bucky puxou a minha mão e entrelaçou nossos dedos.
-Naomi, eu sei.
-O que você sabe?
-Eu sei que eles sabem onde você está. É por isso que te levei para Washington. Para eles te perderem de vista. - Bucky respirou fundo de novo. - A Sophie sabia do plano, já que eu ia fingir que era seu namorado na frente dos caras da Hydra e, com isso, eles iam ver que seguiram a pista errada, enquanto eu "confidenciava" ao Steve que você e uns agentes treinados foram para a França, fugindo deles. Ela quase estragou tudo!
Meu queixo caiu.
-Quem te contou da Hydra? - Bucky questionou.
-Wanda.
-Ah... É, ela não sabia do plano.
Senti meus ombros murcharem.
-Então... Você falou muito de mim por causa do plano? E só me levou por isso?
Bucky franziu a testa e me encarou. Inclinou a cabeça para o lado e negou.
-Eu só precisava falar de você para os caras da Hydra... - Ele deu de ombros. - Mas segundo o Steve, eu não consigo parar de falar de você, então... E é claro que eu não te levei só por isso! Te levei porquê queria passar seu primeiro Natal com você!
Meu coração acelerou. Eu puxei a mão e enxuguei meus olhos, cruzando os braços em seguida. Fiquei algum tempo em silêncio, me sentindo magoada.
Ele só tinha me levado por causa de um plano ou não? Era óbvio que sim...
Mas então, por que doía tanto saber disso?
Escutei um soluço. Mas não era meu.
Olhei para o lado, sem conseguir acreditar. Bucky levantou, enxugando as lágrimas, discretamente, e foi até a minha janela, abrindo. Um vento frio entrou junto a alguns floquinho de neve.
Ele estava chorando?
Levantei e andei até ele. Não sabia o que fazer, até porquê, não sabia nem por qual motivo ele chorava. Mas corri a mão pelas costas dele, sentindo Bucky estremecer.
-Você está chorando?
-Não, Naomi. Eu tô vazando pelos olhos!
Revirei os olhos e o puxei para mim, mas ele nem se mexeu. Continuou vidrado na janela. O cabelo dele começava a ficar cheio de floquinhos brancos.
-Bucky? Por quê você está chorando?
Ele não respondeu. Insisti de novo, dessa vez, puxando ele com força. Bucky me encarou.
Ao invés de responder imediatamente, ele apenas me pegou pelo rosto e beijou minha testa, bem forte e demorado. Depois, me fez encarar ele.
-Promete, Naomi! Promete para mim... Você não vai tentar fazer isso de novo. Promete!
-Bucky...
-Não! - Bucky chegou mais perto e falou mais firme. - Nada de Bucky... Eu sei tudo que tá se passando aí dentro, sei cada pensamento seu, cada dorzinha, porque eu senti a mesma coisa! Eu também fui usado, Naomi! Eu também queria me matar! Eles também acabaram com a minha vida! Podem se passar anos, mas nunca vai apagar ou mudar o fato de que eu fiz aquelas coisas todas! Eu tive que aprender a lidar com isso... E eu sei que você também pode lidar com isso. Você é forte, tá? Só preciso que você prometa que não vai mais tentar acabar com a sua vida. Você tem que me ajudar a acabar com eles, e não ceder ao que eles querem. Você está entendendo?
Balancei a cabeça, afirmando. Bucky encostou nossas testas e percebi que estava com falta de ar porque eu chorava tanto quanto ele.
Fechei os olhos.
-Promete, pela minha vida, que você não vai mais tentar se matar?
-Pela sua vida? - Indaguei, sentindo a testa dele contra a minha quando ele afirmou.
-Você promete?
-Prometo.
Bucky recomeçou a chorar, me abraçando. Me abraçando muito forte, na verdade.
-Eu menti, Kaya.
Dessa vez, não me incomodei em ser chamada de Kaya.
-Em que?
-Não era a Sophie meu norte. Sempre foi você. - Bucky voltou a me encarar nos olhos. Parecendo mais controlado, ele me deu a mão e me arrastou até a cama, recomeçando a falar quando sentamos. - Foi você que me fez... Bem, fez eu ter um objetivo e traçar ele. Foi você quem me ajudou a vencer o domínio do Soldado... Se você morrer, não sei o que vou fazer...
Puxei o rosto dele e dei um beijo no alto da cabeça de Bucky, tentando sorrir.
-Não vou fazer. Eu juro. Agora, vamos dormir? Ninguém consegue acabar com a Hydra chorando, com sono e estressado!
Bucky me encarou como se eu tivesse dois chifres.
-Você fez piada?
-Argh, pelo amor de Deus, homem!
Reclamei, puxando ele comigo e deitando. Bucky se acomodou atrás de mim.
-Sério! Quem é você e o que fez com a Naomi?
-Vamos dormir?
-A Naomi nunca faria piada depois de uma conversa séria dessas.
-Bucky, dorme.
-Eu acho que eu e o Sam estamos te estragando...
-Dorme, Bucky! Caramba!
-Não vou dormir. Tenho que ver se você tá passando bem!
-Eu vou espancar você!
-Meu Deus! É um clone! Vou chamar o Steve para ele me acudir!
Bucky fez menção de levantar. Bufei e o encarei.
-Já podemos ir dormir ou você ainda vai dar show?
- Depende... Vai me matar enquanto eu estiver dormindo?
-Eu vou matar você agora se não me deixar dormir!
-Sei não... Você não é confiável!
Levantei e o puxei pela mão.
-Chega! Sai do meu quarto!
Bucky se agarrou na porta.
-Não vou sair, não!
-Sai! - Empurrei ele pelas costas. - Eu quero dormir, seu imbecil!
Ele saiu mas deu a volta por mim e entrou.
-Se eu ficar quietinho você deixa eu dormir aqui?
-James...
-Kaya?
Respirei fundo. Bem fundo. Massageei a ponte sobre o nariz e abri os olhos. O abusado já estava deitado na minha cama, entre as cobertas.
Suspirei.
Que atrocidade eu cometi para merecer o Bucky Barnes na minha vida?!
- Se falar um pio você vai sair daqui, ouviu? - Ameacei e me ajeitei na cama.
Bucky assentiu, fazendo um sinal de jogar a chave fora depois de trancar a boca. Acabamos deitando de conchinha (Deus, me dê forças para resistir, porque se me der coragem, ele é estuprado!) E ficamos em silêncio.
-Naomi?
Respirei bem fundo.
-O Que?
- Pio.
Abri a boca, incrédula. Então, virei e comecei a estapear ele. Bucky ria alto e histérico. Acabei deixando, sem querer, a testa dele roxa por conta de uma cotovelada, mas ao menos, depois de uma cena de drama, ele ficou quieto. Não sei que horas dormiu, mas o carinho nas minhas costas me informou que quando eu dormi, Bucky ainda estava acordado.
Acordei cedo no dia seguinte e deixei Bucky dormindo. Agora, meu pulso coçava e ardia. Quando entrei na cozinha, Steve estava sentado na mesa, fazendo palavras cruzadas. Andei até a cafeteira e enchi uma xícara de café. Ele não ergueu os olhos da revista, mas maneou um:
-Bom Dia.
Sentei na frente dele.
-Bom dia. - Apoiei os pés na mesa, o que fez ele me olhar. - Eu sei.
Steve piscou, confuso e largou a caneta. Bebi um gole do café, o observando. Tony entrou na cozinha, sem falar com ninguém, parecendo bêbado de sono ainda. Pegou uma garrafa de bebida e saiu. Steve acompanhou todos os movimentos dele e depois me encarou de volta. Sorri, por cima da xícara.
Steve ficou vermelho como uma pimenta e pigarreou, se ajeitando na cadeira.
-Como foi a viagem?
Dei de ombros.
-Normal. Um pouco aterrorizadora, mas fora isso, normal.
Steve assentiu e voltou as palavras cruzadas, fingindo se concentrar. Levantei para encher a segunda xícara.
-Naomi...
-Steve?
Voltei e sentei. Steve estava quase roxo de tão corado. Fitando a mesa sem mexer os olhos, sussurrou tão baixo que eu quase não ouvi.
-Não conta para ninguém. Por favor?
Suspirei, dedilhando a borda da minha xícara.
-Você se refere à ser bissexual, ter uma queda pelo Tony ou ter um precipício pelo Bucky?
Ele ergueu os olhos.
-Os três.
-Mesmo que você não tenha sido legal de início comigo... - Suspirei. - Eu não vou contar. Mas só porque eu sei o quanto é ruim ficar na mão de alguém por conta de um segredo.
-Obrigado. - Steve deu um meio sorriso que eu retribuí.
-Não me agradeça. Mas acho que você deveria sair do arm...
Calei a boca. Rachel entrou na cozinha e me encarou, sorrindo.
-Você está bem?
-Tô... - Tentei sorrir, sentindo minhas bochechas queimarem de vergonha. - Desculpa o trabalho de ontem...
Ela descartou com a mão.
-Não tem problema. Não tenho moral para julgar você!
Rachel esticou as mãos e vi duas tatuagens enormes cobrindo os pulsos. Entendi o que ela quis dizer, mas não fazia idéia porquê alguém "normal " tentaria isso.
O assunto se desviou quando Wanda entrou pela cozinha, seguida de Bucky. Os dois pareciam discutir algo sobre a última partida de Futebol Americano, então, achei melhor ficar quieta no meu canto. Claro que Bucky me examinou com os olhos quando entrou na cozinha, mas como eu parecia bem, ele continuou discutindo com Wanda. E depois, Sam e Steve, que entraram no assunto.
Sentei no sofá e percebi quando Natasha sentou do meu lado, sorrindo.
-Esqueci de comentar... Cordão bonito!
Dei um sorriso, segurando a florzinha. Natasha riu.
-Não rolou nada, Naomi?
-Não. - Menti.
Natasha não insistiu mais no assunto, só me ajudou a trocar as bandajens e chamou o Bruce para dar uma examinada no meu machucado, que estava, nas palavras dele "Bonito e satisfatório!".
É claro que Bruce "deixou escapar" para Fury o meu pequeno acidente e é claro que além de levar um sermão de cerca de três horas por ter tentando me matar, Fury aumentou o acompanhamento psicológico de duas vezes por semana, para quatro
Cinco se eu reclamasse muito.
Mas, ao menos, eu consegui enrolar o psicólogo com uma conversa idiota sobre a origem do ódio e mil outras coisas que falei muito rápido e ele acabou soltando como eu faço para direcionar meu ódio para outras coisas que não seja meus pulsos.
Fiquei tão concentrada nisso, em achar uma falha, um erro sequer, que entregasse a Hydra na minha mão, que cerca de doia meses e meio passaram voando como água. Literalmente.
A maior parte do tempo, Wanda, Visão, Steve, Natasha e Tony ficaram fora. Cerca de um mês e meio mais ou menos, por conta de uma super missão, que depois, levou Bruce, Clint, Thor (que eu ainda não tinha tido oportunidade de conhecer melhor por falta de horários em comum) e Sam.
Rachel, eu e Bucky, obviamente, tínhamos ficado com o apartamento todo para nós. Aliás, Bucky queria ter ido junto, mas Fury obrigou ele a ficar para evitar que eu fizesse uma besteira ou que eu fosse raptada. Era entediante.
Fury também tinha sumido do mapa. Ninguém sabia onde ou com quem ele estava. Ao que parecia, Os Vingadores recebiam as ordens e informações por trás de uma tela de computador.
Inclusive, eu estava sentada no sofá, encostada no peito de Bucky, quando Rachel entrou na sala, teclando no celular. Ela era quase uma filha para Tony, já que eles não se desgrudaram no mês que ficaram juntos e sempre conversavam quando tinham tempo, pelo celular. Inclusive, Rachel ajudou Tony várias vezes quando ele precisava de uma informação e não tinha como pesquisar.
-A missão deles acabou, pessoal! - Rachel se jogou do outro lado de Bucky e pôs uma perna em cima da dele.
Meu olhar caiu em cima do movimento, mas me controlei. Óbvio.
O que eu quis dizer é que eu não suspirei. Nem revirei os olhos. Ou dei um tapa nela.
Por mais que fosse a minha vontade.
Okay, admito. Eu adorava a Rachel. De verdade. Mas a intimidade que ela tinha com Bucky me dava...
Bem, era ciúmes. Mas eu não ia admitir.
-Jura? Ah, que bom! - Bucky sorriu.
-E o Stark já avisou que vai fazer uma big festa!
-Ah, não! - Reclamei.
-Ah, Sim! - Rachel riu.
Bucky bufou. Mas olhou para Rachel e deu um sorriso. Suspirei.
-E ai, Rachel... Acha que agora vai?
-Acho que se não for agora, não vai ser nunca! - Rachel piscou e os dois riram.
Bati o pé. Isso ia ser uma merda muito grande. Mas uma merda muito grande para mim, óbvio.
Oooie, Pessoal! ❤
Voltei com um Capítulo que eu AMO DEMAIS! 🥺👉🏻👈🏻❤ A Naomi e o Bucky são perfeitos! Que ódio! KKKKKK
Ai, vocês viram as capas que eu adicionei?? Uma delas fui eu que fiz e as outras, foram duas leitoras lindas e super especiais! Muito obrigada, gente! Eu ainda vou conseguir usar tudo! 🥺❤
Eu tenho a ligeira impressão que vocês vão A-M-A-R esse próximo capítulo! 👀🤭
Prometo que não demoro, viu?
Bjs! 💋💋