— Vai devagar, acho que vou morrer. — implorei ja não mais correndo mais andando meio encurvada atrás dele, que parando de correr ficou a pelo menos três metros de distância de mim.
— Você não correu nada nas ferias? — questionou ele se virando e andando até mim enquanto eu reaprendia a respirar.
— Minha familia é mais da equitação, sabe. — falei me encostando na arvore proxima, precisava me apoiar em algo por um instante. — vou deduzir que você tem corrido muito.
— Virou hábito. Toma aqui. — estendeu a garrafinha de água para mim.
— obrigada. — faltei beber a garrafa toda e olhei em volta. — desde quando essa galera passou a acordar cedo? é só segunda.
Ele olhou em volta para a horda de meninas, claro que eu ja tinha deduzido isso a três dias, ele fica gato e, assim derrepente, umas nove ou dez garotas resolvem acordar com o canto do galo e coincidentemente vão passear justo perto da floresta negra e do lago, sério? Muita coincidência.
Assim que voltamos a correr uma semana atrás mais ou menos, uns tres dias depois da nossa volta a Hogwarts, uma garota começou a aparecer, nem notei, fui notar la pro quarto dia quando ela trouxe duas amigas, desde então o número tinha crescido, mais hoje tinham vindo em peso.
— Tambem não sei, vai ver é só o dia quente. — Falou simplesmente não dando importancia ao assunto — vem, vamos correr. Não acordei cedo pra te ver.
Virou e correu.
— sempre tão sensível. — resmunguei voltando a correr miserávelmente atrás dele.
Ele tinha muita energia, não me esperava e nem atrasava o passo para que eu me aproximasse mais. Tive que me consolar pensando que eu estava melhor que na primeira semana quando cheguei a ter que me sentar e deixa-lo terminar a corrida sozinho.
O que eu tinha na cabeça quando dei a ideia? Aé, Severo! Eu tinha Severo na cabeça. Bem, agora eu que lute.
Não tinha a melhor chance de eu parar de correr as manhãs com ele, não depois que Lilian tinha grudado nele de forma inexplicável, até nas horas que ele me ajudava a estudar_ que era duas vezes por semana durante uma hora _ ela estava junto. Então eu era ignorada com sucesso durante as aulas se o assunto se desviasse um milimetro da matéria. Eu não podia desperdiçar as nossas corridas, e vinha resando para a Lilian ser sedentaria e não gostar de correr, tinha medo que em algum momento ela fosse aparecer.
Quando paramos de correr eu estava pingando e com a roupa ensopada de suor, completamente acabada.
— Acho que não consigo mais andar. — falei me sentando no chão de qualquer jeito com as pernas bambas.
— É melhor andar se não quiser perder o café. — falou bebendo um pouco de água.
— Você é cruel. — choraminguei.
— e você dramática. — cruzou os braços.
— vou pensar nisso como uma das umas minhas evoluções esquisitas. — falei gesticulando com a mão.
— Evoluções esquisitas?
— Sim. Quando eu parei de gaguejar você disse, isso é uma evolução. Quando faço piada, você diz evolução. Quando te acho idiota voc..
— você me acha idiota? — ergueu a sobrancelha.
— as vezes. — faço uma leve careta enquanto falo meio baixo.
— Isso eu considero mesmo uma evolução. — falou parecendo satisfeito.
— tudo bem eu te achar idiota? — questionei confusa.
— Seria estranho se não achasse. — deu de ombros. — parece que no fim você tem alguma personalidade.
— Isso foi maldoso. — fiquei corada.
— foi um elogio. — garantiu.
— Elogio estranho. — soltei.
— é. — então ele riu. — desculpa.
Fiquei encantada com a risada dele. Era singular, diferente. Era uma risada boa de ouvir. O rosto dele se abria quando ele ria, quando ria de verdade. Mais então logo voltava a inexpressão ou as meios sorrisos em uma mudança gritante porem completamente natural.
— Me ajuda a levantar? Acho que não vou chegar a minha comunal sozinha. — apelei mesmo.
— Não me lembro de você ser tão sedentária. — me estendeu a mão e ajudou a ficar de pé.
— deve ser porque você era mais sedentário que eu. — falei me apoiando em seu antebraço.
— eu não lembro disso. — falou enquanto começavamos a andar.
— Engraçado, eu lembro. — falei rindo e olhei para ele. — Severo?
— hum? — me olhou.
— Você tambem tem umas evoluções esquisitas!
— Amiga, parece que você foi atropelada. — falou Jade enquando eu ia para o banheiro.
— Eu sei, amiga. Eu sei. — falei.
Tomei banho sentada pra ver se eu descançava as coitadas das minhas pernas, pobrezinhas. Eu tinha abusado das coitadas, eu devia ter parado na metade como nos outros dias.
Eu estava um pouco melhor quando fui me arrumar.
— Desde quando você usa maquiagem? — Perguntou Edith.
— Desde quando o Snape ficou gato. — falou Milla da cama dela.
— quer impressionar ele? — perguntou Edith.
— Não é como se ela ligasse para isso, não é, amy? — perguntou Jade.
— Não é nada disso. — falei tentando acertar o delineado, mas eu era nova nisso.
— Me dá aqui que eu faço — disse a dona do delineador, vulgo Jade.
— obrigada. — digo aliviada.
Não era pela aparência de Severo, não de todo, era pela atenção que as garotas começaram a dar a ele, antes era só a Lilian, agora parecia que eu estava competindo com outras. Mesmo que Sev só ligasse para Lilian e eu fosse, obviamente, sua segunda opção, as outras garotas não colaboravam em nada para minha insegurança, nem o modo como me ignoravam, era como se eu nem merecesse atenção. A maquiagem me fazia sentir pouquinho melhor.
Cheguei no fim do café e comi tudo que consegui antes de ter que ir para a aula, eu estava faminta, mas correr para a sala estava totalmente fora de questão, minhas pernas doiam só de pensar que eu ia ter que correr amanhã de novo.
Não consegui sentar com Severo na quinta aula e logo só o vi nas refeições.
Assim os dias foram passando, correr até exaustão pela manhã, quanse não o ver a tarde, e quando o ver ele estar com a Lilian, parecia que tinhamos voltado para o início meu Merlim, piedade de mim.
Pensando nisso eu terminava as noites meio para baixo, muito ansiosa pela manhã seguinte, então eu não esperava ver ele aquela noite após o jantar.
Eu estava procurando o monitor da lufa lufa quando vi, Severo e Lilian no fim do corredor, estavam de mãos dadas no corredor, pareciam falar sobre algo e estavam muito próximos, proximos mesmo. Mas não foi o que mais doeu, o que mais doeu foi a forma como ele a olhava, foi ver que ele a amava.
Eu me senti tão pequena naquele momento, mesmo ele acabando em segundos com o barulho de alguem se aproximando, consegui ver Lupin e Potter saindo pelo corredor pouco a frente de onde eu estava. Parecia furioso, mais eu não me importava, ja tinha saido correndo de lá antes mesmo que ele alcançasse Snape e a grifana. Meu coração parecia pesar uma tonelada e doia bem mais que minhas pernas aquela manhã.
Entrei na comunal da lufa lufa sem vê-la direito, subi as escadas sem sentir meus pés, atravessei a porta do quarto como uma tempestade e nem lembro de fechado a porta, só lembro de ter me trancado no banheiro, sentado contra a porta e chorado como não fazia a tempos.
Podia ouvir Jade gritando e a sentia bater na porta repetidas vezes perguntando o que tinha acontecido, mas eu só sabia abraçar a mim mesma e soluçar, trêmula e me perguntando porque eu fazia isso comigo mesma, e como eu conseguiria sorrir amanhã?