once upon a plug {l.s}

By infactIarry

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Na qual Harry e Louis transam e não se lembram de nada depois, Louis acorda com um plug e Harry tira uma foto... More

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Trailer OUAP!
OUAP is back!
Um Milhão de Pequenas Coisas
trilogia Um Milhão de Pequenas Coisas
capítulo extra final

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By infactIarry

FUNCIONOU?

LOUEH

Eu juro que estou tentando atualizar esse cap faz mais de 48h e já me estressei demais com ele. Ou o wattpad ta de sacanagem com a minha cara ou o cap está grande demais pra plataforma aguentar k

Vamos fazer o seguinte, vou dividir ele em dois, mesmo sendo um roteiro único. Para compreensão, acho que é melhor ler tudo de uma vez. Considerem essa a parte 1 do cap, e daqui 1h eu atualizo de novo com a parte 2.

NÃO SAIAM DO WATTPAD PORQUE AINDA HJ TEM MAIS UMA ATT HIHI

Lhes apresento o capítulo mais importante e consideravelmente o maior de toda a fanfiction até o momento. Levei mais de vinte horas para escrever tudo, ao longo de duas semanas. São mais de 30k palavras recheadas de tudo que mais amamos: Larry, drama, superação, finalmente a consulta tão esperada da psicóloga, e uma outra coisinha muito especial que estão esperando muito tempo.

Alguém viu um plug rosa aí?

Pois é.

Para quem está curioso sobre o paradeiro do plug, tenho algumas dicas para facilitar a leitura desse e do próximo cap, que inclusive estão cheios de easter eggs, ou seja, dicas.

1. Leiam com atenção.

2. Nada é por acaso.

3. Suspeitem de tudo e de todos.

4. As aparências enganam.

E agora, a pista que pode ser a mais importante de todas para o plot do plug:

5. Sabe aqueles detalhes que apareciam no começo da história, pós-sexo Larry e durante a fase do "eu não sei que transei com você" , que faziam vocês se perguntarem "Como isso é possível? Está tão na cara! São burros ou o quê?".

Pois é. Não vou falar mais nada, hihi, deixo por aqui as pistas.

Leiam e releiam, procurem nas entrelinhas, tudo está conectado. Esse é só o começo de um plot que vem acontecendo desde o cap 0%, e que estava na cara de vocês o tempo todo.

Dito isso, queria colocar um disclaimer muito importante antes de começarem a leitura.

Há a descrição de uma cena com a psicóloga, mas saliento que é um relato baseado na MINHA experiência com a psicologia, faço terapia desde criança e coloquei aqui a MINHA impressão de como O ENREDO da história poderia funcionar, mediante os MEUS parâmetros. Não deixe que o que está descrito aqui te impeça de ir à psicóloga, pois não é o que você imaginou que seria. Toda consulta é dferente e todo profissional é diferente. O que funcionou comigo e o que está escrito aqui não necessariamente é o que pode acontecer com você caso decida ir à uma consulta.

Digo isso porque sei como é difícil tomar tal decisão, enfretar tais barreiras para se abrir na terapia, e por mais que para muitos o que está descrito abaixo possa ser um bom sinal, para outras pessoas pode ser desencourajador. Deixo aqui esse aviso. Não é uma regra. Terapia não é igual para todos pois nós não somos iguais, nossas dores e angústias não são as mesmas.

Se você sente que quer e que precisa, e sobretudo que está pronto para ir para a terapia, eu compartilho as minhas sinceras felicidades. Mas se ainda acha que não está pronto, também compreendo. Já estive nesse lugar e sei como é difícil. Mas pouco progresso ainda é progresso, e estou orgulhosa apenas por tentar.

Eu já cheguei a ir para consultas apenas para brincar com argila. Se dê tempo. Levei 3 anos para contar pra minha psicóloga sobre meu relacionamento abusivo. E a via quinzenalmente durante todo esse tempo.

Se dê tempo.

Pouco progresso ainda é progresso.

Espero que aproveitem esse cap que tem tudo para ser o melhor até agora. Preparei ele com todo o carinho do mundo e espero que superem as suas expectativas.

Peguem um chá, um cafézinho, deitem na cama, no sofá, e boa leitura!

O cap está...

(duvido até o final do capítulo alguém ter a CORAGEM de falar que esse cap NÃO está ba ba dei ro, é impossível, se essa parte não for o bastante pra arrancar a coragem de vocês, o próximo com certeza vai)

Terça-feira

- Boa tarde, sr. Tomlinson. - a mulher sorriu simpática, se levantando da cadeira acolchoada para alcançá-lo na porta.

Louis a direcionou um olhar arregalado, e imediatamente olhou para trás. Seus ombros caíram aliviados ao ver srta. McGregor, ou melhor, Tiana, o aguardando a apenas alguns passos da porta aberta, conforme havia prometido. Mais familiarizado, voltou o olhar para dentro da sala, onde a psicóloga o encarava pacientemente.

Ela tinha os cabelos castanhos gentilmente atados em um rabo de cavalo que parecia prestes a se desfazer a qualquer momento, os olhos também castanhos exibiam uma calmaria premeditada, e tudo em suas expressões facial e corporal exalava tranquilidade.

Mas Louis não sentia-se tranquilo.

- Oi.

Com um sorriso crescente e acolhedor, a mulher estendeu a mão para si. Um cumprimento formal mas também reconfortante, nada invasivo ou meticuloso.

- Me chamo Olivia. Sou a psicóloga da uni. - com uma voz branda, buscou não assustar Louis, que por si só já parecia aterrorizado. Notando que analisava seus movimentos, o olhar caído firme em suas mãos juntas no cumprimento, Olivia deu de ombros. - Tiana me contou sobre você.

Isso fez o olhar de Louis subir imediatamente, fitando-a nos olhos por alguns instantes antes de se virar para sua professora, que sorria nada arrependida. Como se soubesse a deixa, se aproximou o bastante para tocá-lo no ombro.

Um certo alívio tomou o corpo de Louis, simplesmente pelo reconhecimento daquele carinho afável.

- É verdade. - Tiana piscou amena para os olhos azuis arregalados, e então, fitou a psicóloga. - Obrigada por atendê-lo hoje, Olivia.

A mulher assentiu sorridente.

- É um prazer, Tiana. - notando que Louis a encarava, também, Olivia deu alguns passos para frente. - Estava ansiosa para conhecer você.

Louis arqueou as sobrancelhas, um misto de surpresa e desconfiança.

- Por que?

- Tiana me contou o que aconteceu na sua audição. - como se aquele assunto deixasse todos desconfortáveis, Louis respirou fundo, evitando o olhar de srta. McGregor propositalmente. Olivia piscou em sua direção. - Fico feliz que tenha voltado à UAL, sr. Tomlinson.

- Pode me chamar de Louis. - murmurou, e soube no mesmo instante que aquilo satisfez Tiana, sentindo um beijo sendo depositado em seus cabelos.

Não teve muito tempo para se adaptar ao novo ambiente e contexto, e tão rápido quanto se instalou, a presença familiar de sua professora se tornou distante.

- Eu vou deixar vocês conversarem, tudo bem? Estarei do lado de fora, querido. Qualquer coisa, é só chamar.

Com um aceno de cabeça, Louis observou calado ao que Tiana saía da sala e fechava a porta suavemente atrás de si. Com um suspiro ansioso, fitou Olivia com seus olhos bem arregalados.

Era agora.

O momento de arrancar todos os seus band-aids, de expor todas as suas cicatrizes, de contar todas as suas histórias.

A dor que vinha resguardando durante todos aqueles anos teria que finalmente ser cutucada, provocada, e propagada para aquela mulher. Propositalmente.

Estaria, com todas as suas forças e fraquezas, cutucando o tigre na jaula. Sem proteção, sem apoio e sem preparação.

Só Louis e o tigre.

Olivia sendo a única espectadora de toda a arena, cujo único trabalho seria observá-lo ser devorado.

Não apenas pelo tigre mas também por suas mágoas do passado.

Era agora.

- Onde quer se sentar... - no plano de fundo de sua mente, pôde ouvir sua voz, ressoando na sala que era exatamente como a senhora da recepção havia indicado. - Louis?

Ele estava preparado para encarar um tigre?

Por conta própria?

Por que cutucar algo que está adormecido por todos aqueles anos?

E se estiver com fome?

E se estiver com raiva?

E se tudo isso só fizer com que seus ataques fossem mais ferozes?

E se..?

- Louis?

Piscando atônito, Louis encontrou seu olhar, e um suspiro deixou seus lábios. Era difícil focar quando sua mente borbulhava assuntos que costumava categorizar como proibidos. Era difícil focar quando todos os seus fantasmas percorriam uma sala que deveria ser segura. Era... difícil.

Se interrompendo, Olivia cruzou as mãos na frente do quadril enquanto analisava o rapaz com cautela. Louis estava no mesmo lugar desde que entrara na sala, e a julgar por sua expressão, não estava pronto para se mover.

Parecia aterrorizado.

- O que foi, Louis? - com um semblante amigável, deu alguns passos em sua direção. Notou as íris azuis caindo sobre o movimento de seus pés, e observou conforme seu peito subiu e desceu mais rápido. - Sabe que não precisa fazer isso se não quiser, não sabe? - seus olhares se encontraram, e Louis franziu o cenho, quase dolorido. - Podemos acabar agora mesmo ou, se preferir, falar de qualquer outro assunto, não falar de nada. Você quem manda.

Olivia se calou ao ver que o rapaz abriu a boca, mesmo que nenhuma palavra saísse do movimento, e aguardou, pacientemente, até que encontrasse a maneira correta e o tempo adequado para se expressar.

Louis fazia como quem iria abraçar o próprio corpo, em um reflexo de vulnerabilidade, mas encontrou a força dentro de si e deixou que as palavras fluíssem, baixas.

- É... muita coisa. - Olivia piscou confusa em sua direção, e após alguns segundos de contato visual, Louis encolheu-se ainda mais em seu próprio carinho. - Muitas memórias, muitas histórias, muitas... pessoas.

Compreendendo do que se tratava, Olivia sorriu amena, alguns passos mais à frente.

- Sua mente deve estar uma confusão barulhenta agora, né? - um pouco mais casual, viu Louis relaxar gradativamente com tal constatação. - É quase um reflexo. Parece que nosso corpo sente que estamos em um escritório de psicologia e automaticamente começa a desenterrar vários traumas, um brigando com o outro pra ver quem chega primeiro na fila da terapia. - Louis assentiu veemente, e suspirou aliviado ao se sentir compreendido. Olivia sorriu para o movimento. - Mas a verdade é que... terapia não é apenas sobre desenterrar traumas do passado.

- Não? - com um murmuro baixo, Louis ergueu os ombros, e as sobrancelhas, e quase toda sua expressão facial. Isso motivou Olivia a continuar, sendo bem recepcionada com suas iniciativas.

- Não. Terapia é sobre o que quisermos que ela seja. - notando que isso pegou Louis desprevenido, se permitiu rir leve, amenizando o clima da sala. - Podemos falar sobre o seu dia, sobre seu seriado favorito. Podemos até mesmo falar sobre o último trabalho do seu curso, aquele que tem que entregar daqui a dois dias e ainda nem começou, sabe? - arrancando, por sua vez, uma risada de Louis, a psicóloga suspirou aliviada. - Eu sei que é um sentimento intenso, Louis. Sei que parece ser muita coisa, e realmente é. Mas não tem que ser.

- Não?

- Não se não quiser que seja. - vendo o rapaz exibir um sorriso, Olivia deu de ombros. - Me diga, Louis. O que quer que a terapia seja?

Aquela pergunta ecoou na mente de Louis por alguns instantes.

O que ele quer que a terapia seja?

Quer que seja leve?

Falar do seu dia, debater teorias de Friends, perguntar para Olivia qual sua Kardashian favorita, se ela conhece algum musical e o que acha do Sam Fisher?

Ou quer que seja mais intensa?

Falar sobre sua família, o falecimento de sua mãe, sua nem tão sutil trajetória nos musicais do curso, seus relacionamentos abusivos que desencadearam cicatrizes profundas demais que até podem ser vistas a olho nu através dos arranhões que costumava fazer em suas coxas e braços e que agora exibem linhas brancas finas e quase, quase, invisíveis?

O que ele quer que a terapia seja?

Quer mergulhar diretamente em seus traumas?

Sequer se sente à vontade para mergulhar em seus traumas?

Sequer precisa mergulhar em seus traumas?

Ou só acha que sim?

Lentamente soltando seus braços, libertando o próprio torso do abraço, Louis deixou que seus ombros caíssem, tão bruscos quanto a gravidade gostaria, e seu olhar encontrou o de Olivia, que aguardava pacientemente por uma resposta.

- Eu não sei.

Assentindo compreensiva, a psicóloga deu de ombros.

- Tudo bem. Vamos descobrir o que mais se sente confortável, que tal? - vendo que Louis assentiu após alguns instantes de pensamentos, abriu os braços para mostrar o pequeno escritório. - Onde quer se sentar? Ou prefere ficar parado na porta?

O olhar de Louis rodeou o cômodo, nem o sofá, nem a mesa e cadeiras, muito menos a grande janela para o campus o convenceu o bastante, e com um olhar culposo direcionado à Olivia, sorriu pequeno e sem dentes.

- Parado na porta, então. - a mulher concluiu por conta própria, sorrindo mais largo ao que Louis riu. - Certo. Louis, me conte sobre o seu dia.

Assentindo para o ar, deixou que seu olhar vagasse, evitando Olivia propositalmente apenas para se sentir mais confortável.

Sentia um frio na barriga.

O que não fazia sentido porque... o que havia de errado em contar sobre o seu dia?

- Hm, foi um dia normal, eu acho.

- O que é um dia normal para você? - antes que seus instintos pudessem ser acionados, a voz de Olivia capturou seu olhar, e a observou se apoiar na beira da mesa para encará-lo de volta.

O que considerava como um dia normal?

- Eu fui direto pro estúdio. - murmurou, receoso com sua própria resposta, mesmo sendo a única pessoa capaz de detalhar sobre o seu dia. Todo seu corpo estava tenso, principalmente seu maxilar, e isso fazia sua voz sair rígida. - Ensaiei até a hora do almoço e...

- Louis? - Olivia sorria amena em sua direção. - Respire.

Fechando os olhos, inspirou e expirou fortemente, seu corpo não recepcionando o movimento muito bem.

Por que estava assim?

Por que estava na defensiva sendo que aquilo era para o seu bem?

- Desculpa, eu... - se sentindo envergonhado, caiu o olhar para seus pés.

- Por que está se desculpando, querido? Não está fazendo nada de errado. - Olivia franzia o cenho em sua direção, longe de seu olhar recluso.

- Eu não consigo respirar.

Em segundos, ela estava ao seu lado, com mãos em seus ombros e o olhar ameno sobre sua face. Parecia acostumada àquilo, e isso confortou Louis.

Não havia julgamento, e mesmo que sua mente insistisse em imaginar, ainda assim esse sentimento não estava presente.

Apenas conforto e receptividade.

- Vamos fazer juntos? - Olivia aguardou até que erguesse o olhar para o seu, e conectados, inspirou e expirou. A acompanhou, as bochechas avermelhadas e os olhos levemente arregalados. - Mais uma vez. - as mãos em seus ombros realmente ajudavam a acalmar o resto do corpo enquanto enchia os pulmões e os esvaziava, e sorriu agradecido para a mulher. - Melhorou?

- Sim.

- Que tal tentarmos de outro jeito?

- Tem outro jeito? - franziu o cenho, confuso e surpreso ao que Olivia dava de ombros.

- Tem sempre outro jeito, Louis. - olhando ao redor do próprio escritório, então caminhou para a cadeira mais próxima. - O que ensaiou hoje?

Arqueando as sobrancelhas, ainda parado na porta, Louis praguejou.

Seu corpo parecia estar encontrando dificuldades em se abrir sobre algo que... não causasse dor, de certa forma.

Era quase como se... quisesse sofrer.

Afinal, era pra isso que estava ali, certo?

Para sofrer propositalmente e esperar que isso resolva alguma coisa.

Certo?

- C-como assim?

- Para o musical. - empurrando a cadeira até a parede oposta, Olivia murmurou. - O que ensaiou hoje? Disse que passou a manhã no estúdio. - finalmente parando de arrastar a mobília, encarou Louis, levemente ofegante. - Acha que pode me mostrar?

- O-os passos? - tão surpreso que riu, Louis arregalou os olhos. - Quer que eu te mostre a coreografia?

- Se foi isso que ensaiaram hoje, sim. Por que não? - Olivia olhou para os pés e fez um bico. - Acha que consigo dançar de salto? - Louis seguiu seu olhar e ofegou para os sapatos, confuso. - Hm, melhor tirar então. Entendi.

E simples assim, Olivia retirou seus saltos, aproveitando que estava descalça para começar a empurrar a mesa na mesma direção da cadeira.

- Vai ficar aí olhando? - murmurou divertida, vendo que ainda estava estático na porta. - Vamos, me ajude. Esse escritório é pequeno demais, não acha?

Hesitando por alguns instantes, Louis apenas permaneceu calado, e então, Olivia parou de empurrar a mesa para fitá-lo. Bastou alguns sorrisos trocados e olhares pidões para que ele cedesse, os pés se arrastando pelo carpete ao que os joelhos reclamavam pela falta de movimento durante tanto tempo.

Havia algo na forma com que estava deixando que todos os seus pensamentos inseguros e insistentes ficassem no plano de fundo enquanto focava em qualquer outra coisa que não fosse mais passado do que aquela manhã, no estúdio onde ensaiou Grease com seus colegas.

E era grato por Olivia tê-lo colocado nessa posição.

Conseguia respirar. Conseguia pensar. E conseguia sentir.

Mas não o sobrecarregava de maneira alguma.

A ajudou a empurrar a mesa, que era bem mais pesada do que imaginou, e então a outra cadeira e sofá, abrindo um espaço livre considerável no centro do escritório.

- Tem certeza que pode fazer isso? - ofegante, murmurou.

Olivia se jogou no sofá já afastado, arrancando risadas.

- Só tem um jeito de descobrir. - com um longo suspiro cansado, bateu as mãos juntas e então apontou um dedo para si. - Agora que transformamos o escritório em um estúdio improvisado, me diga. Qual passo vai me ensinar?

Louis sorriu largo, o peso que carregava nos ombros subitamente parecendo mais leve.

Ou vai ver só era tão pesado quanto imaginava ser.

- Bom, hoje ensaiamos para a cena da competição de dança. - murmurou, claramente contendo uma animação que estava em proporções bem maiores dentro de si, e isso não passou despercebido pelo olhar atento de Olivia, que se levantou do sofá imediatamente. - É uma cena conjunta. Danny e Sandy. - piscando atônito ao que se dava conta de algo, se interrompeu para fitar a psicóloga. - Você... você sabe qual o musical desse ano?

- Tiana me disse algo sobre. - Olivia sorriu ao se posicionar ao seu lado no centro do escritório. - Grease, não é?

Dando de ombros, subitamente se sentindo acanhado, Louis assentiu.

O fantasma de sua horrenda audição retornou, pressionando as paredes de sua bolha protetora em busca de espaço para entrar.

- O que mais ela te disse?

- Tiana? - ele assentiu. - Disse que você era um dos melhores alunos que já teve em toda a carreira como professora. - contendo um sorriso crescente, Louis abaixou o olhar para o chão, Olivia logo empurrando-o pelo ombro divertidamente. - Ei, não fique tímido. Se ela disse, é verdade. Tem que se sentir orgulhoso. Mereceu isso.

Mas Louis não pensava daquele jeito.

O fantasma pressionava ainda mais.

- Ela te contou da audição. - não era uma pergunta, e assentindo lentamente, Olivia suspirou.

- Contou. Foi, na verdade, quando ela me contou sobre você. - captando os olhos azuis, manteve-os conectados. - Ficou muito preocupada com a pressão que estava colocando sobre si mesmo naquela época, e me procurou assim que o levou para a enfermaria. - flashbacks de quando desmaiou por tanto nervosismo açoitaram a mente de Louis, e com um resmungo desgostoso, deu de ombros. - Eu te procurei depois disso mas não te encontrei em lugar algum.

- Eu saí da uni por alguns meses.

Louis sentia as informações lentamente saindo, e isso não o fez se sentir mal, pelo contrário, transbordou alívio por entre seu corpo.

Mesmo que soubesse que, eventualmente, o fantasma passaria por suas barreiras.

- Tirou um tempo para pensar. - Olivia soava amena, não pressionando mas também não desmerecendo as constatações, o olhar firme.

- Tirei um tempo para pensar. - concordou.

- E no que pensou? - notando que os olhos azuis se arregalaram, a psicóloga sorriu amena. - Quando esteve longe da uni. No que pensou?

Louis desviou o olhar imediatamente, limpando a garganta ao que passava as mãos pela camiseta que usava por baixo da jaqueta jeans.

O fantasma fazia mais força e quase o alcançava, tudo que seu ser era capaz de processar sendo a potencialidade da invasão que inevitavelmente aconteceria.

Estava com medo.

- Então, Grease. - murmurou, e Olivia não desanimou, muito menos repreendeu-o com o olhar, apenas sorriu e assentiu, de bom grado, ao que continuava a falar, como se aquela parte da conversa nunca tivesse acontecido. - Os personagens principais. Danny e Sandy.

O fantasma estava quase entrando.

Estava aterrorizado.

- Danny e Sandy. - Olivia deu de ombros, murmurando em conformidade. - Deixa eu advinhar. Danny é um bad boy?

Louis sorriu, agradecido por seus esforços em não pressioná-lo.

Já estava sob pressão o bastante dentro de sua própria mente.

- Ele não é só um bad boy.

O fantasma estava se aproximando...

- Mas ele é. - Olivia apontou o dedo em sua direção, divertida. - Só não é apenas isso.

E como mágica, não podia mais vê-lo.

O fantasma simplesmente... sumiu.

Não sentia medo.

Apenas imagens do ensaio daquela manhã açoitavam sua mente.

Sua bolha protetora continuava intacta.

E o perigo eminente não estava mais ali.

Mas como?

Isso nunca havia acontecido antes.

Sempre pensou que o ataque do fantasma do passado fosse inevitável.

Será que esteve errado aquele tempo todo?

Sendo derrotado no argumento da psicóloga, Louis revirou os olhos, um sorriso tomando seus lábios. Estava tão surpreso que não soube processar os diversos sentimentos em questão de segundos.

- Vamos começar o ensaio.

Estava aliviado.

Olivia o observou calada por alguns instantes, analítica e ponderativa, por fim se rendendo a um sorriso satisfeito.

Podia ver as defesas de Louis caindo, gradativamente.

E sabia que ele também sentia a mesma coisa.

- O que vai me ensinar hoje, sr. Tomlinson?

- Se chama hand jive. - com um sorriso tão largo que seu sotaque quase tomava conta, Louis suspirou antes de começar a demonstrar os movimentos.

Lado a lado com Olivia, virados para a grande vidraça que dava total visão ao campus, demonstrou lentamente ao que a psicóloga tentava acompanhar. Rodopiou, os braços livres ao redor do corpo até ficar de frente para a vidraça mais uma vez, chutando o ar e acompanhando com os braços e mãos, bate no quadril, bate palma, bate no quadril de novo, mãos para o alto.

Quando terminou, virou o olhar orgulhoso e animado para a mulher, que ofegava, as mãos nos joelhos.

- O que achou?

- Parei de achar no primeiro rodopio.

Louis franziu o cenho.

- Mas só tem um rodopio. E é literalmente o primeiro passo.

Olivia ergueu o olhar para si, um sorriso culposo nos lábios.

- Então parei de achar assim que começou.

Arrancando uma gargalhada de Louis, observou-o cobrir a boca com as mãos e encolher os ombros, tímido mas lentamente se soltando.

Mais defesas estavam caindo, era visível, e cada vez mais Louis, o verdadeiro Louis, se colocava à mostra.

- Vamos, eu vou fazer mais devagar. - a ajudou a esticar a postura e se preparar mais uma vez para a rotina de movimentos. - Não olhe pra mim e sim para o que eu estou fazendo.

Confusa com aquela constatação mas decidindo se entregar por completo, Olivia assentiu, tentando acompanhar os movimentos mais lentos, ora ou outra colidindo um com o outro ou pisando em pés que definitivamente não eram seus. As risadas tomavam o ambiente, tão altas que sobressaiam seus ofegos cansados. Se não fosse pelo carpete no chão, com certeza correriam o risco de serem chamados atenção.

- Segunda parte! - tão animado que mal continha dentro de seu ser, Louis exclamou entre suspiros.

- Tem uma segunda parte?! - Olivia arregalou os olhos, ainda tentando perfeccionar o último movimento da primeira rotina.

Louis gargalhou, entusiasmado.

- Tem várias partes.

- Puta merda. - fazendo o rapaz arregalar os olhos e em seguida cair em mais uma série de risadas, Olivia sentiu suas bochechas arderem. - Oops, desculpe por isso, Louis.

Mas Louis estava maravilhado demais com o quão confortável estava se sentindo naquele momento para ligar.

- Por que está se desculpando? Não está fazendo nada de errado. - repetindo a mesma frase que Olivia usou mais cedo, sorriu divertido. - Vamos, sem pausa. Só emendar os passos, tudo bem?

Olivia não teve tempo de responder, já ofegante pela recorrência das repetições e risadas esporádicas. Quando piscou, Louis estava mudando os passos, logo após o término da rotina anterior. Dois passos para a esquerda, dois para a direita, dedos apontados para o chão, pés de sapateado, caubói para a esquerda, cinco passos...

- Meu deus. - exclamando quase sem fôlego, colidiu com a lateral do corpo de Louis, e ambos quase caíram ao chão, rindo. - Isso é muito difícil.

- Isso é apenas dez segundos de uma dança do musical. - com orgulho e satisfação, murmurou ao que ajudava a psicóloga a se erguer novamente.

- Vocês ensaiam isso todos os dias?

Limpando o suor da testa, Louis ofegou.

- Não. A maior parte deles, sim, e na outra parte ensaiamos harmonias e falas.

Olivia arregalou os olhos para o ar, exausta.

- Wow.

Sorrindo ainda mais largo, Louis assentiu.

- Wow mesmo.

O observando de lado, notando como seus ombros estavam mais leves e sua expressão facial mais aliviada, Olivia o empurrou pela lateral do corpo.

- Vamos. - sorriu quando sua expressão se iluminou. - Ainda não peguei essa segunda parte. Tem muito trabalho pela frente comigo, sr. Tomlinson. Não pense que vou desistir.

Louis estava radiante, satisfeito por sentir-se confiante e confortável.

A pressão que antes o açoitava não estava presente - estava, mas era tão insignificante que mal a notava sobre todas as camadas de felicidade, familiarização e pertencimento.

Olivia edificou aquela ambientalização consigo. Com sua permissão, sua preferência e sua essência.

Tudo naquela sala - que não parecia mais como um escritório de psicologia - gritava Louis Tomlinson. Recheada de elementos que o traziam mais próximo da sensação de lar, mal se dava conta de que estava saindo de sua bolha protetora.

Aquela sala, que antes idealizava como um lugar para se colocar vulnerável frente a todos os traumas do passado, agora parecia como uma extensão de sua própria bolha protetora.

Não sentia medo.

Não sentia fraqueza.

Não sentia insegurança.

Sentia-se acolhido.

Sentia-se protegido.

Sentia-se em casa.

- O nome dele é Ryan.

Pegando Olivia totalmente desprevenida, Louis exclamou, tão alto que qualquer um do lado de fora do escritório teria ouvido. Interrompendo a sequência de passos, a psicóloga virou o olhar e o observou fitar o ar com fixação.

Todo seu corpo parecia congelado, o peito subindo tão devagar que temia não estar respirando propriamente. Dando alguns passos em sua direção, Olivia suspirou. Conhecia aquele comportamento, e sabia como lidar com aquilo.

- Quem é Ryan?

Com uma calmaria que Louis pensou não ter, as palavras foram gentilmente deixando seus lábios, em contraposição ao seu coração ardendo no peito. Não sentia-se sufocado com a eminência do que iria fazer pois não sentia-se exposto.

Era como se nunca deixasse seu lugar seguro.

Era como se estivesse falando consigo mesmo.

E pela primeira vez desde... sempre, estava se abrindo sobre Ryan.

Realmente se abrindo.

As paredes não estavam sendo derrubadas ao chão porque ele não estava pressionando-as para se libertar. Olivia estava dentro de sua bolha, não puxando-o para fora, e sim fazendo-o companhia no interior do que parecia uma sala escura, sem janelas, rodeada de tijolos enfileirados.

- Eu conheci ele no primeiro ano. Capitão do time de futebol americano. O sonho de metade das pessoas dessa uni. - com um suspiro, Louis se encolheu, avulso àquela sala, àquele momento, àquela situação. - Ele não era meu sonho, nunca foi. Se duvidar, foi meu maior pesadelo. - Olivia o fitava com atenção, preocupada com sua falta de demonstração de sentimentos, o olhar vago e o corpo estático. Mas suas palavras eram tudo menos ocas. - Eu juro que ele era gentil. Era amoroso. Era... perfeito. Eu juro. - com o olhar marejado, deixou um suspiro frágil escapar de seus lábios, o maxilar rígido cedendo. Parecia envergonhado ao estar confessando algo pecaminoso. - Não tinha como eu saber, não... eu não sabia. Ele me tratava como eu sempre sonhei em ser tratado. Beijava as minhas mãos antes de beijar minha bochecha, pedia permissão pra me abraçar, ele... ele sorria com os olhos antes de sorrir com os lábios.

Olivia tocou o braço de Louis, gentil, e o direcionou para o sofá, mas seus pés não queriam se mover, ao invés, os joelhos cederam e caiu ao chão coberto de carpete, levando-a junto. Em uma bagunça completa, procurou pela mão da psicóloga e a apertou entre as suas trêmulas, o olhar ainda vago no ar e o coração gritante no peito.

- Nosso relacionamento começou incrível. Eu me entreguei a ele como jamais me entreguei à ninguém antes. Parecia certo. Parecia bom. Eu chorava de rir, eu tremia de felicidade e eu... sentia tanto amor que não tinha como dar errado. Todo o meu ser compactuava para o ser dele, e eu pensei que isso fosse amor. Até ele perceber que eu estava entregue. Foi aí que tudo mudou. - dois tons mais baixa, a voz de Louis craquelou, e Olivia acariciou as costas de suas mãos gentilmente. - Não era mais para nós, era para ele. E eu sabia o que estava acontecendo. Minha mãe já havia me ensinado sobre aquilo. Na verdade, era tudo o que eu sabia sobre amor. Aguentar os espinhos para apreciar a flor. E foi o que fiz. Sangrei por dias e ainda me culpei pelo sangue derramado nas mãos dele.

Engasgando com o ar e o bolo na própria garganta, Louis tremeu, o corpo sendo acolhido por Olivia, que mantinha-se calada para não invadir seu espaço mental.

Parecia em transe, tomado por sensações, lembranças e dores, mesmo que sua voz calma indicasse o contrário.

Ele não estava caindo nos traumas antigos.

Estava os reencontrando propositalmente. Como se escolhesse qual das portas quisesse abrir e batesse gentilmente na madeira, esperando que alguém o atenda.

A primeira porta que decidira se aventurar era a de Ryan, e Olivia captava cada informação com atenção.

- Ele ficou violento na mesma velocidade com que disse que me amava pela primeira vez. Arisco, bruto e ciumento. Em questão de meses, o relacionamento que me fazia sorrir e rir ao contar pros meus amigos se tornou o assunto mais evitado. Não queria que eles soubessem o que eu estava passando porque eu pensei que... eu... eu merecia aquilo. Me ensinaram que eu merecia. E que se não aguentasse, estaria fadado a merecer aquilo para sempre. Eu... eu pensei que eventualmente pararia. Quer dizer... quanto sofrimento é sofrimento o bastante? - Louis apertou os dedos ao redor das mãos de Olivia. - Eu estava sofrendo tanto, e só esperava que no dia seguinte eu estivesse um dia mais perto de não sofrer mais. Foi, definitivamente, uma das coisas mais difíceis que passei na vida, e acredite, perdi a minha mãe sem nem ter a chance de dizer adeus. Mas nada, nada, me quebrou como Ryan.

- Louis... - Olivia decidiu interromper, preocupada com a falta de movimentos de Louis, e o observou se aconchegar em seu abraço, finalmente piscando em sequência e respirando fundo por alguns segundos.

- Se apaixonar por alguém que não te ama de volta é a mais cruel, mais ingrata, enxaqueca que eu já tive na vida. E embora muitas pessoas já tenham dito várias coisas a respeito, eu sei que eu o amei. - com um ofego exasperado, tremeu. - É claro que eu o amei. Você não dá para as pessoas que não ama o poder de te destruir. E, talvez, o que mais me quebrou foi quando ele realmente me destruiu. Sem cogitar qualquer outra coisa, ele me destruiu. E nunca vou esquecer a maneira que me olhou, que me fez sentir especial. Todas as palavras que disse e que derreteram as paredes ao redor do meu coração, a maneira que me colocou antes de qualquer outra coisa. Mas também, nunca vou esquecer a maneira que me destruiu, a maneira que me deixou como se não importasse. E eu não sei o que é pior, o fato de que ele me destruiu ou o fato de que pensei que ele nunca o faria. Nada dói mais do que tentar o seu melhor e ainda assim não ser o suficiente.

Com um ofego forte que expandiu seu peito e então o comprimiu, Louis fechou os olhos. Seu coração ainda ardia, mas sentia que havia cada vez mais espaço sendo liberado ao seu redor, e isso arrancava suspiros aliviados de si.

Estava sentindo-se mais leve.

As paredes ao seu redor tremiam, jogando poeira sobre sua cabeça e ardendo seus olhos.

- Eu tentei aguentar, pela minha mãe. Por tudo que ela havia me ensinado. Pensei que devia isso já que ela se foi e eu não tive a chance de me despedir. Era quase como se, ao me submeter àquelas condições, me sentisse conectado à ela. Ela aguentou tanta coisa, ela era tão forte. E... e eu pensei que tinha apenas um pouco dessa força dentro de mim, mas estava enganado. No final do dia, tudo que eu tinha forças para fazer era conversar com meu próprio coração. Estou te implorando. Por favor, deixe-o ir. Ele nunca vai se importar com você. Ele não pensa em você. E eu não posso continuar vivendo assim. Por favor. Deixe-o. Ir. Tem tanto que se viver ainda. E eu não posso fazer nada disso se continuar me afogando nesse oceano de miséria, dia após dia. Então por favor, pela minha misericórdia, deixe-o ir. Mas eu tinha medo que quando ele fosse, uma parte de mim desaparecesse junto. - com um alto soluço que tremeu ambos os seus corpos, Louis derramou mais lágrimas do que podia processar. - E foi exatamente isso que aconteceu.

- Louis...

- Eu queria que os sentimentos fossem embora quando a pessoa o fazia. Quando você realmente ama alguém, você não os odeia por quebrar o seu coração. E isso... isso é assustador. Por que quantas vezes a mesma coisa pode quebrar o seu coração? - Louis soluçou de novo. - Enquanto você a amar, ela sempre vai ter esse poder. E eu pensei que fosse morrer. Pensei que a pior parte fosse aguentar o amor que eu imaginei estar recebendo, mas não. A pior parte foi quando ele já havia partido, tanto o meu coração quanto da minha vida, e eu ainda sentia que pertencia à ele. Eu não sabia quem eu era. Como você reconstrói algo que não conhece? Eu não me conhecia. Quer dizer, eu tinha todos esses amigos, essas experiências, essas oportunidades. Mas não me conhecia. Era assustador estar sozinho comigo mesmo porque eu não sabia. Não sem ele.

Olivia o afastou de seu abraço, preocupada que sufocasse com tantos soluços e suspiros. Segurando-o pelas bochechas, observou seu rosto avermelhado e úmido ao que respirava fundo, o ar fresco tomando seus pulmões e aliviando certa agonia.

- Eu sofri sozinho porque não queria espalhar um sofrimento que eu mesmo causei. Ou vai ver era isso que ele queria que eu pensasse. Funcionou, porque durante meses, eu me forcei a carregar um peso que não era meu, mas doía como se fosse. E todo dia eu me perguntava: quanto sofrimento eu tenho que aguentar até que desistir fosse uma opção justificável? - Louis abriu os olhos, derramando mais lágrimas no processo, e fitou Olivia diretamente pela primeira vez desde que começou a se abrir. - É por isso que eu escondia minhas emoções, porque assim que eu as libertava, caía. E eu estava cansado de cair sem ter ninguém para me pegar. E então eu colidia com o chão, quebrado e sozinho. Ryan me fez acreditar que ele era o único capaz de me pegar, e quando eu realmente precisei que ele o fizesse, já estava sozinho. Eu pensei que essa fosse a pior parte. Pensei que não tivesse como piorar. Mas estava enganado. Ele não só me machucou, como também machucou a outros, de formas terríveis. E eu estava tão estupidamente focado na maldita dor que parecia fazer parte da minha própria pele que acabei perdendo a oportunidade de salvar alguém. - Louis gemeu frustrado. - Alguém que talvez tivesse a chance de nunca ter que passar pelo que passou.

- Mas esse talvez não pode cair sobre você, Louis. - tendo alguma noção, ou palpite, do que estava implícito nas entrelinhas, Olivia murmurou, os dedos acariciando as bochechas quentes, vermelhas e úmidas de Louis. - Perder a chance de ajudar alguém é completamente diferente de escolher machucá-la.

Louis balançou a cabeça.

- Eu estou cansado das pessoas me falarem isso, mas a questão é que... Ryan foi a lição mais difícil que eu tive que aprender na vida, e eu queria poupar Harry disso. - Olivia ergueu as sobrancelhas, ligando alguns pontos, e suspirou. - E como se o universo estivesse se divertindo com a minha cara, meu caminho e o de Harry se encontraram. Ele é a pessoa mais poderosa que conheci na vida. E ao mesmo tempo, a mais altruísta. Ele tem tanta coisa em mãos e mesmo assim isso nunca nublou seu julgamento. Enquanto Ryan não pensou duas vezes em me destruir, Harry nunca pensou duas vezes em me reerguer. E eu odeio Ryan porque vou ter que conviver com uma dúvida pelo resto da minha vida. Por que eu não fui o suficiente? E eu estava disposto a fazer qualquer coisa para evitar que Harry passasse pela mesma coisa.

- Mas não dependia de você.

Louis soluçou ao que negava.

- Eu nunca fiz questão dos golpes, dos xingamentos, dos desprezos. A única coisa que quis era poupá-lo. E ironicamente, isso estava fora do meu poder. Talvez não importe daqui trinta anos. Talvez eu nem lembre mais do nome que me destruiu por completo. Mas naquele momento, e agora, importa, e dói mais do que jamais imaginei. E eu ainda estou tentando entrar em paz com isso. - Louis piscou em sua direção, fragilizado. - Com o fato de que não pude salvar Harry.

- Louis...

- Eu fui fraco.

- Força não é sobre o quanto você consegue aguentar. E sim o quanto você consegue apreciar mesmo depois de ter sido quebrado. - Olivia respirava fundo, e incentivava Louis a fazer o mesmo. - Às vezes, o coração precisa de mais algum tempo para aceitar o que a mente já sabe. Você não estava sendo fraco. Pelo contrário, estava procurando uma força que não sabia ter.

- Eu me sentia tão pequeno.

- As estrelas também são à distância. - Olivia o arrancou um sorriso, deslizando o polegar em sua bochecha para desmanchar lágrimas sorrateiras. - Às vezes, o único motivo pela qual não permitimos que certas coisas tristes vão embora, é porque elas foram as únicas que já nos fizeram felizes.

- Eu pensei que Ryan fosse o único capaz disso, até Harry me mostrar que aquilo não era amor. Eu não me apaixonei por Ryan. Eu me apaixonei pelo potencial que ele tinha de ser o que pensei precisar naquela época. Eu afasto as pessoas que mais quero na vida, e então digo a mim mesmo que é porque preciso aprender a viver sem dependências. Mas no fundo, tudo que quero é que alguém resista aos meus esforços e diga que eu mereço todas as tentativas, mesmo quando estou agindo como um completo idiota. - com um sorriso entre lágrimas, Louis suspirou. - Harry é esse alguém. E eu quero ser esse alguém pra ele, mas eu nem mesmo sabia quem eu era. Primeiro precisava ser alguém para mim mesmo, e então o encontrar.

- A vida não segue o tempo que projetamos nela, Louis.

- Minha vida inteira eu fui dito que era sensível demais, e que isso era algo que eu deveria melhorar. As pessoas dizem isso como se tivesse algo de errado comigo, como se sentir as coisas tão intensamente como eu sinto simplesmente não fosse normal. E por um longo tempo eu acreditei nelas. Comecei a me desculpar todas as vezes que meus olhos enchiam de lágrimas. Comecei a fingir que certas coisas, ou momentos, não me emocionavam, mesmo quando o faziam. Eu tentei melhorar a minha sensibilidade. Diminuir a intensidade. Mas não importava o quanto eu tentava, nada parecia funcionar. E sabe por que? - agarrou o pulso de Olivia, que ainda o segurava pelas bochechas. - Porque ser sensível era simplesmente quem eu era. Isso sou eu. E com o passar do tempo, percebi que não tem nada de errado com isso, comigo, para começo de conversa. - rindo fraco e com um sorriso crescente, Louis suspirou. - Não tem nada de errado em ter um coração que funciona.

- Não, não tem. - com um suspiro, Olivia sorriu de volta. - Se você foi brutalmente machucado, e ainda assim tem a coragem de ser gentil com os outros, então você merece um amor tão profundo quanto o oceano, Louis.

- Harry me dá isso. Esse amor. - com a voz craquelada, Louis assentiu entre sorrisos úmidos por lágrimas. - Eu tinha medo que as pessoas perguntassem se eu estava bem. Tinha medo que acabasse fazendo algo estúpido como me abrir para elas. E eu estava realmente cansado de me aproximar das pessoas e depois as observar me deixando como se não fosse nada. Mas Harry nunca me deixou. Nem mesmo quando eu me deixei. Quando eu me observei indo embora. Porque Ryan é só um estranho que conhece todos os meus segredos. E sinceramente? Eu me olhava no espelho e via a mesma coisa. Um estranho.

- Você ainda vê isso?

Louis negou, uma nova leva de lágrimas deixando seus olhos tão límpidos que reluziam para Olivia, ambos ainda no chão, conectados dentro de sua bolha protetora.

- Eu saí da uni porque precisava de um tempo sozinho. Comigo mesmo. Precisava me conhecer. Não sei como tinha amigos, colegas, até mesmo parceiros românticos quando nem mesmo eu sabia quem era. Mas vai ver as pessoas nos veem com lentes diferentes. E por mais grato que eu seja por meus amigos terem me visto, eu ainda precisava me reconhecer. - respirando fundo, Louis fechou os olhos. - Estar com Ryan doeu, perder Ryan doeu, perder a minha mãe também doeu, falhar com Harry doeu, perder o propósito doeu, mas nada se compara a perder a si mesmo. Se sentir vazio dentro da única casa que tem pelo resto da vida e além dela... isso te estraçalha mais do que mil facas. Mas eu fui lentamente compreendendo.

- O que?

- Não era sobre a minha criação com uma família que nunca me valorizou. Não era sobre meus relacionamentos amorosos. Não era sobre o curso que eu havia escolhido. Não era nem mesmo sobre onde eu morava. Era pura e simplesmente sobre mim. E muitas vezes nos sentimos pressionados sobre todo o resto. O que eu tive que compreender, e foi mais difícil do que imaginei, é que quando tirasse todas aquelas camadas, algo deveria restar. E no meu caso, removendo família, namorados, amigos, diplomas e status, não restava nada. Nenhuma essência do que era Louis Tomlinson. E isso... isso é perigoso. Porque quando atrelamos nosso ser à coisas externas, corremos o risco de sermos esvaídos. Eu sabia que era bem mais do que um curso. Sabia que era bem mais do que um namorado de alguém. Mas não sabia quem eu era.

- Agora você sabe quem é?

Louis curvou o canto dos lábios, ainda de olhos fechados.

- Eu sei o que eu não sou. Não sou descartável. Não sou fraco. E definitivamente não sou insignificante. - abrindo o olhos e encontrando Olivia, sorriu frente ao seu sorriso orgulhoso. - Pode não ser muito, mas a partir do momento que eu estabeleci essas três coisas, todo o resto se ajustou. Ainda acho que tenho muito pela frente, e tudo bem. Ryan conseguiu me destruir por completo em apenas alguns meses, mas contanto que eu me reconstrua a tempo de ser feliz de novo, está valendo.

- Claro que está, Louis.

- Essa versão de mim não foi construída em uma noite. Isso é experiência. Isso é dor. Isso é insegurança. Isso é abuso. Isso é sofrimento. Eu tive que sobreviver a todas essas coisas para ser quem sou hoje. Às vezes, você tem alguns dias bons, e então tudo te alcança. Dói para falar, para amar, para ser. Existir é muito difícil quando ninguém quer ouvir. Ninguém quer saber sobre os dias que passou chorando ou encolhido em algum canto. Todos temos nossos próprios jeitos de lidar com isso. Todos temos nossos próprios jeitos de sobreviver. Nossos próprios jeitos de permanecer vivos quando estamos sob muita dor. Eu entendo isso agora. Não é mais sobre a vida. É apenas sobre sobreviver o dia. E eu espero que um dia, seja bem mais do que isso.

- Mas você ainda sente que está apenas sobrevivendo aos dias?

- Eu... eu acho que as pessoas não compreendem como tudo isso é pra mim. Que mesmo que eu tenha tanta tristeza dentro de mim, ainda sou sinceramente feliz. Eu sou. Eu estou. E não é sobre ser confuso ou bipolar. É sobre ser humano. Eu acho que vivemos fingindo como se apenas devêssemos sentir uma coisa por vez, ou segurar uma única emoção por um certo período de tempo. Mas a verdade é que, a vida não é estável assim. Tem sempre muita coisa acontecendo. Eu aprendi a ser honesto com as minhas emoções, e essa foi talvez a coisa mais libertadora que fiz para mim mesmo. Saber que eu posso sentir tristeza quando ela se faz presente, mas também não esquecer de reconhecer a felicidade que constantemente sou abençoado de ter. Tem um senso de beleza tanto na felicidade quanto na tristeza. E eu reconheço ambas, sabendo que estou, de fato, bem. E que sou perfeitamente humano por causa disso.

- E você acha que mudou muito em relação ao antigo Louis?

Olivia observou ao que Louis piscava em sua direção. Suas lágrimas pareciam secar ao que gradativamente paravam de cair, a respiração mais estável e as bochechas menos ardentes. Por fim retirando os dedos de sua pele, recolheu ambas as mãos sobre seu colo.

Louis suspirou.

- Eu ainda sou ele. Uma versão mais forte, mais machucada e mais sábia.

- Se pudesse voltar para falar consigo mesmo no passado, antes de tudo isso acontecer, o que diria?

- Porra, muita coisa. - Louis arrancou um sorriso satisfatório de Olivia. - Eu começaria dizendo para ele defender a si mesmo quando estiver se sentindo desconfortável em alguma situação. E para erguer o dedo do meio pra qualquer um que não gostar disso. Para não entrar em nenhum relacionamento sem antes construir uma relação sólida consigo mesmo. Diria para passar mais tempo se divertindo com os rapazes, sendo feliz, inconsequente e jovem, ao invés de se apressar em crescer. Diria que suas curvas são lindas, independente do que qualquer idiota dissesse, e que ele não precisa se encaixar em lugar algum. E, se eu tivesse que deixá-lo com mais uma coisa, diria que seu coração grande não é uma maldição, mas sim um presente e uma benção. Que deveria ter cuidado para quem ele o daria, uma vez que nem todos que conhecesse saberiam como cuidá-lo da maneira que deveria ser cuidado. Diria para nunca duvidar da força que tem e também nunca menosprezar o que sente, porque o instinto fala mais alto do que qualquer palavra jamais dita. Diria que nada que custe uma parte de si vale a pena. Diria que estava bem antes dele e que com certeza ficaria bem depois dele. Diria que precisava acreditar mais em si mesmo. Diria que... nós conseguimos.

- E se pudesse voltar no passado e falar com Ryan, antes de tudo acontecer? O que diria para ele?

O maxilar de Louis estralou, e seu olhar se tornou vago no ar.

- Eu tentei escrever uma carta de desculpas uma vez. Afinal, todo furacão precisa de duas massas de ar para se formar, então não seria justo colocar toda a culpa nele. Ao menos era isso que eu costumava acreditar. Afinal de contas, já vi minha própria parcela de céu nublado. Mas ao que tudo indicou, eu não contribuí para aquele furacão em particular. Só fui derrubado por sua onda de destruição. Não posso escrever uma carta de desculpas porque as palavras não seriam genuínas. E só tem uma única coisa que eu não tenho orgulho. Então essa é a minha carta de desculpas para ele: eu sinto muito por não amar a mim mesmo o bastante para te deixar ir embora antes. - Louis suspirou, atônito. - O quão faminto você devia estar para que o meu coração se tornasse comida pro seu ego? Você... você estava errado. Em tudo. Da primeira palavra até a última. Não. Não! Eu quero que você se foda. Eu era bom o bastante. Você me fez acreditar que não, mas eu digo não. Não! Vá se foder. Eu valia a pena. Eu valho a pena. Sempre vali. E nem você nem ninguém pode me dizer o contrário.

Com o fôlego curto, Louis tremeu, rapidamente sentindo a mão de Olivia sobre a sua, firme. Sorriu aliviado assim que seus olhares se encontraram.

- Louis... - o observou suspirar, os ombros caindo leves. - Eu estou orgulhosa de você.

Não contendo um sorriso, Louis deixou escapar uma pequena risada.

- Eu também.

- Sabe... Você deve a si mesmo todo esse amor que tão deliberadamente dá aos outros. - ele assentiu, absorvendo a magnitude daquelas palavras ao que Olivia o fitava atentamente. - Eu ouvi toda a sua história. E tenho dezenas de perguntas, como psicóloga, como membro do corpo docente dessa universidade, mas também, como pessoa. - Louis engoliu o bolo em sua garganta, ciente do que aquilo podia significar, afinal, além de ser uma situação extremamente séria, envolvia alunos da própria UAL. Não lhe espantava que Olivia precisaria tomar providências sobre seu depoimento, se quisesse, é claro. - Mas não vou te pressionar a nada. Sei que o quão difícil foi se abrir sobre tal situação, e você foi incrível hoje. Vou entender se precisar de mais algum tempo para prosseguir com esse assunto.

E Louis suspirou, o mais profundamente que jamais suspirou na vida.

Ele estava exausto.

Não tinha ideia do quão cansativo deixar seus traumas irem embora seria, e de fato sentia como se houvesse deixado algo ir naquele dia.

Uma parte de si que por muito estava ali já não estava mais.

Uma parte que não faria falta, afinal nunca foi sua para guardar.

Ele abriu a porta de Ryan e jogou fora diversas caixas de culpas que nunca foram suas.

Estava livre.

Realmente estava.

A parede de tijolos que estava ao seu redor tremeu, retumbou e caiu sem precisar empurrá-la para longe, sem precisar machucar suas mãos e sem precisar perder seu fôlego.

Apenas ao sentir que estava pronto para derrubá-la e deixar tais sentimentos que resguardava dentro de sua estrutura ir, já bastou para que viesse ao chão.

Todos os tijolos desmoronaram, estrondando sons ao colidir com o chão enquanto Louis permanecia intacto e intocado no centro, nem mesmo a poeira o alcançando.

Olivia o observou curiosa.

- Do que está rindo?

E quando Louis se deu conta, estava cobrindo a boca com as mãos, envergonhado pelas gargalhadas que estavam deixando seus lábios.

- Eu... - seus olhos lacrimejavam de novo, um misto de felicidade e alívio. - Eu não sei.

Olivia sorriu.

- Não precisa saber, mas tem que prometer que não vai esconder. - gentilmente afastou sua mão, colocando seu largo sorriso à mostra ao que gargalhava continuadamente. - Você está comemorando uma vitória, Louis. E uma das grandes.

Ele assentiu, lágrimas leves escorrendo suas bochechas. Olivia o abraçou, ambos sentados no chão de carpete no meio do escritório com móveis afastados para as extremidades.

- Nem lembro a última vez que me senti assim.

- Assim como?

- Livre.

- Livre?

- Dele.

Louis não tinha palavras para explicar o que estava sentindo naquele momento, nem mesmo se tentasse com todas as suas forças, e entrou em paz com isso.

Talvez seja assim que termine.

Talvez seja assim que concluiria o capítulo Ryan de sua vida.

Talvez todo aquele medo que sentiu ao entrar no escritório não fosse por ter que enfrentar seus traumas.

E sim de vencê-los.

Se libertar de algo que lhe faz mal, mas que já se tornou familiar, é mais difícil do que imagina, mas a sensação de leveza no final fazia tudo valer a pena.

Fazia-o se questionar o porquê havia carregado aquele peso por tanto tempo.

- Louis? - Olivia o chamou, ainda sorridente e satisfeita por seu progresso. - Eu quero falar com você sobre mais uma coisa antes de terminarmos a sessão. - assentindo, Louis endireitou a postura e limpou as lágrimas que insistiam em cair. - Sobre Harry. - perdendo o fôlego que havia acabado de recolher nos pulmões, ofegou. - Como você e Harry estão lidando com Ryan? Entendi que ele machucou ambos, mas... no seu relacionamento, hoje. Qual parcela de influência Ryan detém?

Louis recolheu seu olhar para suas próprias mãos, repousadas no colo. Ele pensava bastante sobre aquela pergunta.

- Harry tem mais cicatrizes do que eu sobre esse assunto, e acredito que ele virá falar com você eventualmente. - Olivia assentiu, mesmo que não pudesse vê-la. - Ainda temos muitas barreiras. Muitos receios. Ele nos machucou fisicamente mas as inseguranças mentais são, de longe, a parte mais difícil. É quase como se ele ainda estivesse nos controlando, separadamente, mas tão intenso que acaba afetando nossa relação como casal.

- E por que acha que não conseguem deixar esse controle ir?

Louis ergueu o olhar para encontrar Olivia.

A pergunta de um milhão de dólares.

- Eu não sei. - seu semblante era de impotência. - Eu sinceramente não sei. Só queria que...

- Que? - após alguns instantes de hesitação, Olivia o incentivou.

- Queria que eu tivesse conhecido Harry antes de tudo isso acontecer. - piscou algumas lágrimas para fora. - Queria que pudéssemos começar do zero, sabe? Como se Ryan nunca tivesse existido.

Olivia ergueu seu queixo com os dedos para conectar seus olhares.

- E por que não faz isso?

Louis piscou confuso, quase atônito.

- O que?

- Por que não começam do zero? - com um sorriso ladino, deu de ombros, soltando seu queixo. - Vocês não vão estar desmerecendo tudo que já passaram, pelo contrário, estarão reconhecendo que após tanto tempo sendo reféns de algo que os machucava, hoje, não machuca mais. Vocês devem isso a si mesmos, Louis. - notando que Louis estava confuso, beirando a incoerência, Olivia se aproximou. - Vou te contar um segredo. Mas tem que me prometer que vai guardá-lo muito bem, tudo bem?

Louis assentiu.

- Tudo bem.

Com um sorriso, Olivia sussurrou:

- Nós temos essa mania de achar que só porque alguma coisa nos causou muito sofrimento, temos que honrar a dor e senti-la até outra vir e a substituir. - conectou seu olhar ao arregalado de Louis. - Mas não é assim que funciona.

- Não?

- Não, Louis. - sussurrou ainda mais baixo. - Deixar uma dor ir embora não significa que não a honramos. Simplesmente significa que não temos mais aprendizados para retirar dela. E que estamos prontos para seguir em frente. - observou ao que Louis assentia, lentamente. - Se você acha que já aprendeu todas as lições possíveis, deixe Ryan ir, de vez.

- De vez?

- De vez. - Olivia sussurrou de volta, sorrindo ao que Louis a acompanhou. - Você e Harry merecem. E se quiser começar de novo, então comece. Não tem regras quanto a isso. A vida é sua, e se achar que não está vivendo do jeito que quer, comece de novo. E de novo. E de novo. Quantas vezes for preciso até estar completamente satisfeito.

- Mesmo?

- Mesmo. - rindo, Olivia tomou suas mãos de novo. - A vida é nada além de momentos. Aquela briga com seu melhor amigo é apenas um momento. Aquela madrugada acordado terminando um projeto é apenas um momento. Aquele amanhecer que viu com o cara que acha bonitinho é apenas um momento. Aquele campeonato, aquele musical... - o cutucou, arrancando sorrisos. - Adivinha? Apenas um momento. Cada nuance da vida e tudo que acontece entre os altos e baixos é apenas um momento. Você talvez lembre desses momentos e talvez não, mas você sempre vai se lembrar com quem passou tais momentos, e a maneira que eles o fizeram se sentir. A maneira que seu melhor amigo te fez rir, que seus colegas de musical te fizeram sentir orgulhoso após o último ensaio geral, até mesmo a maneira que seu namorado universitário, aquele que acha você acha que vai estar te esperando no altar, te fez sentir quando te disse eu te amo pela primeira vez. Todos esses momentos e sentimentos se fundem para constituir um momento maior que chamamos de vida. Em toda a eternidade, a nossa vida é só um momento. Aprecie o momento que lhe foi dado e as pessoas com quem pode passá-lo agora, porque não importa o quão bonito ou trágico um momento é, ele sempre acaba. Então abrace mais firme, sorria mais largo, chore mais alto, perdoe mais rápido, e ame muito mais intensamente porque esses serão os momentos que irá se lembrar quando estiver velho e desejando poder voltar no tempo. Nem uma única coisa dura para sempre, então você tem todo o direito de aproveitar agora enquanto ainda tem tempo.

Louis não percebeu quando começou a chorar de novo, e suspirou aliviado ao que Olivia deslizou os dedos por suas bochechas, até que cessassem.

Aquelas palavras faziam sentido em sua mente, faziam sim, mas seu coração se recusava acreditar que era algo simples.

Tão acostumado com certas cicatrizes, resistia aos curativos.

- Eu não posso simplesmente acordar uma manhã e... mudar.

Olivia se limitou a rir.

- Por que não?

Louis desviou o olhar, inseguro.

- O que as pessoas vão pensar?

- Isso importa?

- Importa se elas convivem comigo no dia a dia. Em um piscar de olhos, sou um Louis totalmente diferente. Não... não dá.

- Claro que dá, Louis.

- Não. Não dá. Elas não... não vão entender.

- Elas não precisam entender.

Piscando os olhos azuis confusos em sua direção, Louis fez um bico.

- Não?

- Elas sentem as mesmas dores que você sente?

- Não.

- Elas sentem os mesmos medos que você sente?

- Não.

- Elas são você?

- Não.

- Então elas não tem nada a ver com nada que decida fazer com a sua vida.

- Mas...

- Não importa se vivem na mesma casa que você, se fazem a mesma coisa que você, se dividem o mesmo sonho que você, não importa porque elas não são você. A única coisa que importa é o que você acha, o que você quer e o que você sente.

Louis sentiu o canto de seus lábios curvando.

- Não importa?

- Não, Louis. Não importa. - sorrindo amena, Olivia deu de ombros. - É a sua vida. Dividir os dias com outras pessoas é totalmente diferente de dividir o que faz você... você.

- Então eu posso... só, hm... - atrapalhando palavras com pensamentos e sensações, Louis deixou que a mente vague. - Mudar?

- Parece simples, né?

- Até demais.

Se inclinando como se fosse contar um segredo, Olivia sussurrou.

- É porque é.

- Simples. Entendi. - murmurando como se quisesse fixar em sua mente, piscou atordoado.

- Temos a mania de tornar coisas simples mais complicadas do que deveriam ser, e as que realmente são complicadas, aceitamos de forma muito simplória. - chacoalhando suas mãos juntas para chamar atenção dos olhos azuis, sorriu. - Mudança nem sempre é ruim, Louis, ainda mais quando estará mudando de algo que te machuca para algo que te liberta, sim?

Louis encarou Olivia e subitamente tudo fez sentido.

Todas as peças se encaixaram em sua mente.

Pôde visualizar a porta intitulada Ryan sendo fechada e então trancada com um chave que com certeza faria questão de perder.

Mas ainda assim havia algo que não podia simplesmente deixar de lado.

Por mais que se visse livre do aperto que seu relacionamento abusivo causava, após tanto tempo, ainda havia algo que precisava ser feito.

O último passo antes de finalmente encerrar a fase Ryan de sua vida.

Antes de concluir tal capítulo de seu livro.

Antes de terminar aquele assunto de uma só vez.

Não bastava trancar a porta, queria destruí-la para sempre.

Como uma garantia de que estava realmente livre.

E com o olhar determinado em direção à Olivia, colocou em prática o plano que vinha esquematizando desde o primeiro dia daquele terceiro ano de uni.

Desde a primeira festa.

Desde a noite em que tudo mudou.

Desde o capítulo 0.

Desde o momento em que decidiu tomar ações pelo que julgava merecer justiça.

- Eu preciso da sua ajuda, Olivia. Mas tem que me prometer que não vai contar pra ninguém.

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Os pulmões de Louis ardiam mas ele não podia parar. Seus pés batiam freneticamente contra os paralelepípedos do campus, vultos era tudo o que via, sombras borradas de universitários passando ao seu redor.

Só sabia correr.

Correr, correr e correr.

Como se sua vida dependesse disso.

E sentia como se dependesse.

Ofegava tão alto que ouvia nítido com o vento, sua jaqueta jeans colando em seus braços pelo suor que emanava de sua pele.

Mas não podia parar.

Não quando o prédio de fotografia estava, finalmente, em seu campo de visão. E não conteve a satisfação e o grito a plenos pulmões quando viu quem estava do lado de fora, conversando despreocupadamente com uma colega.

Exatamente quem queria.

Quem estava procurando.

O único capaz de fazê-lo atravessar a uni correndo.

Harry, vestindo a jaqueta vermelha dos Wolves sobre o moletom cinza da UAL, estupidamente gostoso nas calças jeans claras e o All-Stars no pé. E claro, o boné virado para trás.

Harry, que por sua vez procurou pela voz familiar, e quando notou estar correndo em sua direção, assumiu uma expressão surpresa.

Mas Louis não podia parar.

Eventualmente teve, e exclamou atônito quando calculou mal as proximidades e colidiu com o peitoral forte, mal retumbando para trás ao que mãos firmes apoiaram sua cintura e libertaram suas pernas do pesadelo que era correr.

Harry piscou confuso em sua direção, embora a proximidade entre suas faces denuncie a Louis que sua surpresa fora substituída por satisfação, e agora o sorriso ladino vinha acompanhado de uma covinha sorrateira.

Hipnotizado por alguns instantes, o verde vivo diretamente focado em si e suas respirações atuando como uma só ao que seus peitorais se pressionavam para respirar, Louis gaguejou, e então firmou as mãos nos ombros de Harry, ofegando ao sentir os músculos definidos ainda que sobre as duas camas de tecido.

- Oi.

Os olhos de Harry foram comprimidos por causa do sorriso crescente, e perdeu mais uma leva de fôlegos.

- Está tudo bem? - embora seu tom fosse divertido, ainda parecia preocupado. - Por que estava correndo? Aconteceu alguma coisa?

Louis respirou fundo e então separou seus corpos, o olhar erguendo para encontrar o de Harry. Com um único fôlego, e um único compasso no coração, estendeu sua mão.

- Sou Louis.

Todo o corpo de Harry retraiu confuso àquelas duas palavras, e sua colega os encarou perplexa, logo se despedindo para então ir embora, mas Louis manteve-se firme. Suas bochechas ardiam, tanto pela corrida extensa até alí quanto pela vergonha que o açoitava, mas sorria abertamente.

Harry precisou de algumas tentativas antes de finalmente conseguir dizer alguma coisa.

- Eu sei que você é o Louis. - com as duas sobrancelhas erguidas, gesticulou confuso, Louis rindo e logo então se recompondo. Notando que o namorado havia perdido a postura mediante sua reação, Harry fez um bico, ciente de que aquilo não era algo sério, ao menos. - O que você está aprontando?

Louis deu de ombros.

- Não sei do que está falando. - balançou sua mão ainda estendida no ar para chamar atenção. - Sou do curso de música e te vi jogando na última quarta. Queria me apresentar.

Harry olhou ao redor em busca de alguma câmera escondida, talvez Niall ou Zayn atrás dos arbustos ou até mesmo um microfone preso na camiseta gráfica do menor, mas nada.

Nada além de Louis, um sorriso largo e uma mão estendida em sua direção.

- Eu... pff. - fez outro bico, rendendo-se a uma risada. - Como assim? Louis... - se abaixou um pouco para conectar seus olhares em uma mesma linha. - Nós namoramos. Como assim se apresentar?!

Revirando os olhos ao que o sorriso em seus lábios crescia, Louis puxou Harry pela gola do moletom, forçando-o mais para baixo e para perto de seu rosto, narizes quase roçando. Os olhos verdes estavam arregalados mas as covinhas nunca deixaram o posto.

- Esse sou eu tentando começar do zero e nos dar a oportunidade de ter um relacionamento saudável e normal desde o início. - algo pareceu estalar na mente de Harry e com um breve e baixo ahhh, fez Louis revirar os olhos mais uma vez, firmando os dedinhos ao redor de seu moletom. - Agora que o gênio entendeu, será que pode aceitar meu cumprimento, idiota?

Harry sorriu ainda mais largo, os lábios pendendo para a esquerda ao que deslizava a ponta de seu nariz pela bochecha de Louis e enfim os separava de novo.

- Poderia ter dito antes. - murmurou com falsa irritação, Louis erguendo o dedo do meio. - Como que eu ia adivinhar?

- Sei lá. - deu de ombros, irredutível. - Eles sempre adivinham nos filmes.

Se aproximando perigosamente de Louis, Harry fez como quem ia pegá-lo pela cintura, e rapidamente foi recusado.

- O qu..?

- O que está fazendo? - Louis exclamou, teatralmente. - Eu nem te conheço direito, garoto.

Harry bateu na própria testa, ouvindo no plano de fundo uma risada escandalosa.

- Você só pode estar de brincadeira comigo.

- Parece que estou brincando? - recebendo um olhar atento, Louis flexionou os músculos do rosto para parecer sério e ponderativo, mas não conseguiu segurar por muito tempo, sucumbindo à risadas.

- Parece. Quem é o idiota agora?

Louis avançou em sua direção e foi tomado por braços firmes, erguendo-o do chão e pressionando-o contra um peitoral definido.

Maldito futebol americano.

- Eu te odeio. - bufou contra o tecido macio do moletom.

- Como pode me odiar? Eu nem te conheço direito, garoto. - repetindo sua frase, o chacoalhou, por fim colocando-o no chão e interrompendo seu surto irritadiço nem iniciado com a mão estendida. - Sou Harry, a propósito.

Demorando alguns míseros segundos para processar o movimento, Louis desceu o olhar para a mão de Harry, e então sorriu, voltando para o verde brilhante que já o esperava.

- Um prazer te conhecer, Harry. - suas mãos tocaram, e com um aperto intenso, ofegou. - Está muito ocupado agora?

Negando com a cabeça quase que imediatamente, Harry sorriu paquerador, fazendo-o revirar os olhos para a tentativa.

- Nunca estou ocupado pra você, babe.

- De novo... - apontou o dedo em sua direção, colidindo com o tecido do moletom ao que Harry dava passos largos para frente. Com olhos provocativos, sorriu para cima. - Eu nem te conheço. Essas cantadas baratas não funcionam em mim.

Fingindo ofensa, Harry segurou o dedo pequeno contra seu peitoral, observando ao que a expressão de Louis se contorceu em falso tédio, mesmo que sorrisse.

- Não são cantadas baratas.

- Muito menos boas. - retrucando, tentou sair do aperto, e riu ao não conseguir. - Vai ficar aí brincando ou vamos dar uma volta?

Harry arqueou uma sobrancelha.

- Dar uma volta?

Com um sorriso sacana, assentiu.

- Para nos conhecermos melhor.

- Nos conhecermos me... - arregalando os olhos em sua direção, Harry soltou seu dedo em espanto. - Espera. Isso quer dizer que não estamos mais namorando?

Louis piscou lentamente, o intenso azul sumindo para então ressurgir diante dos longos cílios.

- Como eu vou namorar com você se as suas cantadas não são nem decentes?

A expressão de Harry se iluminou novamente, a mão leve escapando por entre as defesas de Louis e o agarrando pela cintura fina.

- E que tal uma piada de toc-toc?

- Nãooo. - já contorcendo as orbes, Louis tentou sair do abraço. - Por favor, não.

- Vaaai. - tentando o irritar ao máximo, Harry praguejou, os dedos remexendo na pele sensível para causar cócegas. - Toc-Toc?

- Vai se fuder.

- Toc-Toc?

- Saaaai.

- Toc-Toc!?

- Quem é? - com o olhar já tão revirado que podia ter dores de cabeça, Louis cedeu, sorrindo sorrateiramente.

Harry piscou satisfeito em sua direção.

- Dem.

- Dem quem?

- Demorou pra responder, agora eu esqueci a piada.

Louis empurrou Harry para longe em um só movimento, ficando cada vez mais irritado com a gargalhada estridente que ecoava ao que o jogador tentava alcançá-lo.

- É isso. Terminamos.

Tendo que parar por um momento para se curvar nos joelhos e rir ainda mais, Harry deixou que aumentasse a distância entre eles para se recompor.

- Louis, volta aqui!

- Vai se fuder.

- Achei que fôssemos nos conhecer melhor.

- Já conheci o bastante. Pode ir embora agora.

Louis exclamou surpreso ao que foi levantado do chão por braços fortes, não tendo outra escolha senão firmar as mãos ao redor do pescoço de Harry e inspirar seu maldito perfume gostoso.

Talvez ele até tivesse outra escolha mas aquela era a mais divertida, tinha que admitir.

- Me coloca no chão.

- Não.

- Harry, me solta agora.

- Não.

- Harreh!

- 'Tá bom. Mas lembre-se, você quem pediu. - soltando as mãos imediatamente, Harry sentiu o tranco em seu torso ao que Louis rodeou sua cintura com as coxas e buscou apertar ainda mais os braços em sua nuca, um grito estridente ecoando.

- Você 'tá louco? Quase caí no chão.

- Você mandou eu te soltar. - deu de ombros, tremendo seus corpos juntos já que ainda mantinha as mãos longes de Louis e suspensas no ar. - Eu soltei.

- Seu... seu... - bufando, bateu em sua cabeça, gargalhando quando reclamou do golpe inútil. - Seu bobão.

- Gatinho. - retrucando, Harry por fim voltou a segurá-lo pela cintura, já tratando de andar pelos paralelepípedos como se não pesasse nada.

- Onde estamos indo?

- Nos conhecer melhor, idiota.

%%%

- Já comeu o cachorro-quente do James? - Louis murmurou animado.

Estavam andando lado a lado pelos caminhos de paralelepípedos da UAL, a tarde transicionando para a noite e o vento se tornando um companheiro quase fiel ao seu passeio. Com um olhar surpreso, Harry o fitou.

- Ei, eu que disse essa frase primeiro!

Louis franziu o rosto em uma confusão teatral.

- Quando?

- No nosso primeiro encontro.

- Mas esse é o nosso primeiro encontro. E eu acabei de dizer essa frase. - empurrou-o pelo ombro, tirando sarro de sua expressão ofendida. - Perdeu, capitão.

Harry cruzou os braços, dramático, e arrancou uma risada de Louis.

- Eu não sou o capitão. - antes que o outro pudesse começar a falar, se adiantou. - E pare de roubar as minhas cantadas. Isso é bem irritante, sabia?

- Como eu posso estar roubando as suas cantadas, capitão? - provocou de novo, o sorriso ladino em seus lábios causando arrepios na espinha de Harry. - Nos conhecemos há apenas alguns minutos.

Parando de andar e puxando Louis pela cintura, Harry inclinou o torso o bastante para colar seus lábios na orelha do outro, propositalmente mordiscando a pele sensível antes de sussurrar.

- Fingir que não nos conhecemos antes não vai mudar o fato de que eu já tive seu pau na boca mais vezes do que o sol nasce... - se afastou, irredutível. - Miss Broadway.

Louis permaneceu estático por alguns instantes, atônito pelas palavras de Harry, que continuava a caminhar despreocupadamente, como se não tivesse dito ou feito nada. Somente quando conseguiu se recompor com dignidade, é que apressou o passo para se colocar ao seu lado de novo.

- Miss Broadway, hu? - Harry o encarou de cima, o sorriso petulante nos lábios fazendo-o revirar os olhos. - Não tinha nada mais original em mente?

- Por que? - provocou. - Já ouviu esse apelido antes?

Arqueando a sobrancelha, Louis cedeu ao seu argumento.

- Algumas vezes, sim. É um apelido bem antigo, capitão.

- Eu já disse. Não sou o capitão.

- Como eu iria saber? - Louis deu de ombros, a voz carregada de ironia. - Mal te conheço.

Rindo, Harry negou com a cabeça, o nó do dedo coçando o canto dos lábios. Se conteve até chegarem na área principal da UAL, onde os diversos carrinhos de comida faziam estadia - entre eles, o carrinho de cachorro-quente do James.

A fila estava considerável, e não hesitaram em se posicionar atrás do último universitário.

Sempre valia a pena.

- Como conheceu o James? - sabendo que aquela pergunta era uma armadilha pois remetia ao primeiro encontro que tiveram, de verdade, antes de Louis decidir que não se conheciam até aquela tarde, Harry murmurou já exibindo seu melhor sorriso convencido.

Louis, parado em sua frente, arqueou a sobrancelha, nada impressionado.

- Não lembro.

- O qu... pff. - fingindo que não havia sido atingido por aquela resposta, Harry revirou os olhos. - Claro que lembra.

- Hm, na verdade não. - continuando com a ironia, Louis deu de ombros. - Não deve ter sido relevante o bastante para ser lembrado.

- Ouch. - colocando a mão no peito, Harry fingiu dor. - Essa foi cruel.

- Nem comecei ainda, babe. - com um sorriso ladino, Louis ergueu o queixo. - Nem comecei.

- Não estou entendendo. - murmurou, dando alguns passos sorrateiros para os aproximarem, seu peitoral gradualmente encostando nas costas de Louis. - Isso vai nos fazer ser um casal de novo ou..? Porque até agora tudo o que fez foi me provocar.

- Provocar é divertido.

- Transar também. - esquecendo de abaixar um pouco o tom, Harry disfarçou ao receber alguns olhares tortos dos outros universitários na fila, Louis rindo deliberadamente de sua cara. Com bochechas coradas e tentando se esconder atrás do outro, bufou. - Por que você tem que ser tão pequeno? Não consigo nem me esconder direito.

Com a risada cessada, Louis endireitou as costas apenas o bastante para girar nos calcanhares e fitar Harry cara a cara.

- O que disse?

- Desculpa, o som não chega aí embaixo? - com as sobrancelhas arqueadas e o sorriso presunçoso, Harry piscou. - Vou falar mais alto. Por que você tem que ser tão peq...

Sendo interrompido quase que imediatamente, Harry foi surpreendido pelos lábios de Louis contra os seus, seu torso sendo puxado para baixo pelas extremidades da jaqueta dos Wolves, que estavam firmemente presas nos dedos do outro.

Mesmo já tendo se beijado diversas vezes, mais do que podia contar, Harry ainda foi pego desprevenido pelas sensações afloradas em seu sistema, as mãos intuitivamente deslizando pela cintura esguia do menor e encontrando seu lugar preferido em suas curvas, a bunda.

Sendo impulsionado para cima, Louis se ergueu nas pontas dos pés, a ponta dos Vans sendo um bom apoio ao que enrolava os dedos nos cachos definidos do jogador e se engajava ainda mais no contato físico, suas pernas entrelaçadas e os peitorais lutando por espaço.

Suas línguas eram íntimas, mas isso não as impedia de disputar território, o que não era um problema pois Louis ocasionalmente expunha o contato para o exterior, apenas para voltar mais intensamente, perdendo minutos chupando a língua de Harry e o causando gemidos contidos.

Sentia seu corpo sendo puxado para frente, provavelmente ao que a fila andava, e não ligou para mais nada quando desceu uma das mãos que estavam firmes na jaqueta para percorrer um caminho interessante em seu abdômen definido, pressionando apenas o bastante para sentir os músculos sobre o moletom.

Era sua vez de gemer baixinho.

Isso pareceu atiçar ainda mais Harry. Uma de suas mãos estava dentro do bolso traseiro do jeans de Louis, e a outra subia pela lateral de suas curvas fartas, traçando um caminho quente até sua nuca, onde firmemente agarrou, sem se preocupar com fios de cabelo que possam estar no caminho.

Com o ar já rarefeito se tornando ainda mais difícil de captar, Louis ofegou contra seus lábios, os olhos querendo revirar nas orbes mesmo com as pálpebras fechadas. O aperto era tanto em sua nuca que esticava o pescoço em busca de mais, mas os longos dedos de Harry alcançavam seu maxilar, quase dando a volta, e só contribuíam para o calor que tomava seu corpo.

Separou seus lábios em um ploc, demorando alguns instantes para abrir os olhos e piscar a claridade para fora a tempo de sentir todos os efeitos do contato. E a julgar pelas íris verdes em display à sua frente, era mútuo. Havia feito um estrago nos lábios de Harry, que agora estavam inchados e úmidos, e não pensou duas vezes antes de esticar a língua imprudentemente para limpar vestígios de saliva na boca do outro.

- Pensei que fossemos nos conhecer melhor. - com fôlego o bastante para soltar uma provocação, Harry riu abafado, as mãos ainda no mesmo lugar de antes, quentes no bolso traseiro do jeans e nuca de Louis.

- Estamos nos conhecendo melhor. - irônico, Louis se balançou na ponta dos pés, as panturrilhas já doendo pela quantidade de tempo gasta naquela posição. - Você me chamou de pequeno e eu achei melhor verificar se a sua língua era mesmo tão afiada quanto soava ser.

- Mh-hmm. - exibindo um sorriso petulante digno de duas covinhas, Harry piscou os olhos cintilantes, a voz mais rouca do que jamais imaginava. - Sei.

- É verdade.

- E o que achou?

- Para um jogador de futebol americano, até que sabe usar a língua, capitão.

Louis sentiu o aperto em sua nuca e maxilar intensificar, e ofegou surpreso quando a mão de Harry deslizou até a frente de seu pescoço, o polegar diretamente pressionado na região abaixo de seu queixo, erguendo-o.

Suspirou em busca de ar.

- Espera só até ver o que eu sei fazer com as mãos, Miss Broadway. - provocando seus lábios, Harry sorriu ao ouvi-lo grunhir.

Em um único movimento, seus corpos foram separados, Louis ofegando alto para recuperar o ar que lhe foi tomado de maneira tão quente. Harry deu um passo para trás, enfiando as duas mãos nos bolsos da jaqueta do time ao que descansava os olhos verdes intensos no corpo pequeno à sua frente.

Apreciando o trabalho bem feito.

Podia sentir o calor do pescoço de Louis ainda ardendo contra seus dedos.

Ajeitando o topete digno de Danny Zuko, Louis recompôs a postura, mesmo que seus lábios, bochechas e pescoços estivessem avermelhados.

Gostava da atenção tanto quanto gostava de ser sufocado durante os beijos, tinha que admitir.

- Então... como você conheceu o James?

Harry sorriu ladino para sua tentativa de mudar de assunto, e voltou a se aproximar apenas o bastante para manter a chama dentro de seus corpos acesa. Olhando de cima, observou satisfeito ao que Louis se inclinava para frente, também, para desenhar formas aleatórias no tecido de seu moletom, os dedinhos escapando pelas mangas da jaqueta jeans.

- Foi depois do meu teste pro time. - captando a atenção do menor, Harry sorriu. - Eu estava nervoso porque ainda não sabia o resultado e Liam me trouxe aqui pra comer alguma coisa.

- Que bom que seu teste deu certo, capitão. - o empurrando para trás para então o puxar para frente de novo, Louis apertou os dedos ao redor do tecido da jaqueta. - Deve sentir muito orgulho de si mesmo.

Harry se contentou a dar de ombros.

- Não seja modesto. - o de olhos azuis resmungou.

- Por que não?

- Porque certas coisas não precisam de modéstia.

- Como..?

- Como um teste bem executado e uma performance excepcional em campo, idiota.

- Pensei que só tivesse visto o último jogo do time. - Harry pegou Louis de surpresa, pontuando a falha em seu argumento, e sorriu ao vê-lo revirar os olhos. - Está me espionando, Tomlinson?

- Como sabe meu sobrenome? - satisfeito pela resposta, Louis piscou um dos olhos. - Eu nunca te disse o meu sobrenome. Está me espionando, Styles?

- A-há! Eu também nunca te disse o meu sobrenome.

Louis sorriu presunçoso ao que o outro caiu em sua armadilha.

- Está escrito nas costas da sua jaqueta, idiota.

- Droga. - batendo o pé no chão em um claro episódio de falsa irritação, Harry causou risadas em Louis, e observou satisfeito ao que inclinava a cabeça para trás e fechava os olhos em deleite. - Parece que você venceu esse round, Broadway.

- Nossa. - tentou se recompor, ainda rindo e com lágrimas no canto dos olhos como provas do crime. - Estamos evoluindo? Não mais Miss Broadway pra mim?

Harry encolheu os ombros, as mãos ainda dentro da jaqueta dos Wolves.

- Eh. Miss Broadway é desgastante demais até mesmo pra mim.

- Tipo Harry Styles.

- O que? Pff. E Louis Tomlinson? Até terminar de falar, já deu tempo de dar a volta na fonte e voltar.

Louis se afastou alguns passos, o olhar subindo para o de Harry com teor desafiador.

- Ah, é? - seu sorriso petulante fez Harry franzir o cenho. - Vamos ver se você é mesmo tudo isso, capitão. - deu dois tapinhas em seu peitoral, logo em seguida apontando para a fonte, consideravelmente distante da onde estavam na fila.

- Não. - incrédulo, Harry murmurou, embora sorrisse.

Louis deu de ombros, o olhar ponderativo.

- Não é tão longe assim.

- Não.

- Tudo o que precisa fazer é dar a volta nela e voltar.

- Não.

- Enquanto eu falo Louis Tomlinson.

- Não. - mais firme, exclamou, as duas covinhas presentes em suas bochechas ao que sorria para a expressão animada e provocadora de Louis. - Eu não vou fazer isso na frente de todas essas pessoas.

- Você gritou que quer transar na frente de todas essas pessoas.

Revirando os olhos, Harry bufou.

- Não vou correr até a fonte que nem um idiota, Louis.

- Talvez seja por isso que não é capitão de verdade... - o direcionando um olhar irônico, Louis piscou um olho. - Capitão.

- Dar a volta na fonte e voltar, certo? - Harry bufou pela segunda vez, já se arrependendo ao que tirava a jaqueta dos Wolves e alongava os ombros. - Nada de trapaças.

- Nada de trapaças. - concordando, Louis ofegou ao ser atingido pela jaqueta pesada que foi jogada em sua direção. - Ei!

Quando tirou o tecido de cima de sua cabeça, viu que Harry já não estava mais ao seu lado, e sim diversos passos à frente, correndo em direção à fonte. Louis xingou, se dando conta da agilidade de jogador de futebol americano, e então puxou a jaqueta com força de sua cabeça.

- Seu idiota! Era nada de trapaças! - gritou, nem ligando para os olhares tortos em sua direção, tão tomado em irritação que somente percebeu estar dando mais tempo ao outro quando Harry deu a volta na fonte e seus olhares se encontraram. Soltou um ofego desesperado no mesmo instante em que o cacheado aumentou a velocidade da corrida, cada vez mais próximo. - Louis Tomlin...

- Cheguei!

- ... son! - exclamou no mesmo instante em que Harry parou em sua frente, propositalmente batendo seus peitorais juntos e apertando sua cintura com uma das mãos. Arqueando a sobrancelha para cima, onde sua expressão petulante estava, bufou. - Chegou tarde, capitão.

- Acho que está enganado. - com um fôlego curto, mas controlado, Harry rebateu. - Eu cheguei antes de terminar de falar.

- Não chegou não.

- Cheguei sim.

- Não chegou não.

- Cheguei sim.

- Não chegou não.

- Cheg...

- Ele chegou sim. - uma terceira voz os interrompeu, tirando o foco um do outro para só então notarem que a fila havia andado consideravelmente, e que James os encarava sobre o carrinho estacionado. - Oi, rapazes.

Louis sorriu envergonhado, mas não o bastante para o impedir de bater ombros com Harry ao que se aproximava no carrinho. Cumprimentou James devidamente, mal retumbando quando o jogador voltou para importuná-lo, colando o peitoral em suas costas mais firmemente do que o necessário e esticando a mão sobre seu ombro para também cumprimentar o homem.

- Oi, James.

- Faz tempo que não vejo vocês por aqui. - com os cotovelos apoiados no vidro, James sorriu.

- A correria da uni finalmente nos alcançou. - com a voz divertida, Harry respondeu, o braço antes esticado agora repousando no ombro de Louis para que sua mão bagunçasse o topete muito bem feito em seu cabelo.

- Ei. - irritado por estar sendo usado como apoio, Louis se remexeu, mas Harry não recuou. Com um suspiro, se virou para James. - Estava com saudades.

- Eu também, rapaz. O que me dizem? Dois completos?

- Sim, por favor.

- Eu posso responder por mim mesmo. - Louis disparou, finalmente se vendo livre do aperto de Harry e o encarando com a sobrancelha erguida.

O cacheado revirou os olhos, teatralmente, enquanto sorria ladino.

- Então responda.

- Agora não quero mais. Se não vai parecer que é só porque você mandou.

Bufando enquanto ria, Harry se virou para James enquanto puxava um Louis rabugento para outro abraço.

- Dois completos, por favor, James. O baixinho aqui está atacado hoje.

James gargalhou antes mesmo de Louis começar a socar o abdômen de Harry sobre o moletom.

%%%

- Eu já disse que você é irritante?

Harry interrompeu o cachorro-quente antes de chegar em sua boca para fitar Louis com tédio.

- Já. Cinco vezes desde que saímos da praça.

- E por que você continua me irritando?

- Eu não estou fazendo nada!

- Exatamente!

Harry analisou Louis antes de negar com a cabeça e rir. Estavam na praça de alimentação que ficava logo ao lado da aglomeração de carrinhos, dividindo uma das diversas bancadas que estavam disponíveis para os universitários. Os pés de Louis balançavam suspensos pela altura elevada do banco, e Harry sorria para o movimento a cada dois minutos.

As bancadas eram compartilhadas, então além de terem outros universitários nos bancos ao lado, na extremidade oposta da superfície mais alunos se amontoavam para usufruir do espaço disponível, assim como molhos e guardanapos.

De certa forma, ainda permaneciam presos em seu próprio mundo.

- Eu não sei como consegui me apaixonar por você.

- Para de se fingir. - Louis não se abalou, mordendo o cachorro-quente com vigor ao que murmurava em retruque. - Você sabe muito bem como se apaixonou por mim.

- Pensei que não nos conhecêssemos antes.

Pegando o outro de surpresa, mais uma vez, Harry riu.

- Idiota. - os olhos azuis rolaram nas orbes. - O que eu quis dizer é que você gosta quando eu te irrito.

- Gosto?

- Gosta. - Louis concluiu, fitando-o com determinação. Harry sorriu ladino, cedendo.

- Gosto. E você? Gosta quando eu te irrito?

- Gosto quando fica quieto.

- Ouch. - resmungando em drama, Harry o empurrou pelo ombro, quase derrubando seu cachorro-quente no movimento. - Preferia o Louis do começo do ano. Ele me ofendia, mas tinha um pouco de piedade de vez em quando.

- O Louis do começo do ano te fazia boquetes?

Louis observou satisfeito ao que Harry engasgava com o cachorro-quente, abrindo os joelhos para caso precisasse cuspir o lanche no chão. Quando endireitou a postura, sem cuspes, tinha as bochechas coradas e olhos arregalados.

Não era para menos. Muitos universitários que dividiam a bancada estavam os encarando torto naquele momento.

Mas Louis não se importava com nada além dos olhos verdes.

- Você vai me fazer um boquete agora?

Chamando mais atenção ainda, Harry encolheu os ombros ao murmurar chocado e animado ao mesmo tempo, e Louis bateu na testa com a mão livre.

- Será que consegue falar baixo, pelo amor? Ou até isso é difícil pra você?

Inclinando o corpo em sua direção, o que era fácil já que estavam virados um de frente para o outro nos bancos, Harry praticamente colou suas testas.

- Você vai me fazer um boquete agora? - sussurrou.

Louis bateu em seu peitoral, aumentando a distância entre seus corpos novamente. Mordeu seu cachorro-quente antes de voltar a falar.

- Não sei.

- E o que preciso fazer pra você saber? - Harry murmurou, mal controlando a expectativa enquanto comia o próprio cachorro-quente.

Um sorriso presunçoso cresceu no canto dos lábios de Louis.

- Achei que preferisse o Louis do começo do ano.

- Só no quesito de irritação.

- Por que não pede um boquete pra ele? Duvido conseguir alguma coisa.

- Ficaria surpreso.

- Hm? - se virando para o jogador, Louis arqueou as sobrancelhas. Harry exibiu uma expressão assustada, quase como se tivesse dito demais, e imediatamente ficando rubro, negou. - O que disse?

- Nada. - cuspiu as palavras para fora, já enchendo a boca de mais cachorro-quente e tossindo pelo movimento repentino e mal calculado. - Não disse nada. - entre tosses, murmurou. - Só estava mastigando.

Louis contorceu o rosto, nem um pouco convencido.

- Então continue mastigando de boca fechada, gênio.

Voltando a comer seu próprio cachorro quente, não pôde deixar de notar quando Harry suspirou aliviado.

Hm...

- Então... - o jogador limpou a garganta, as bochechas ainda rubras e os olhos semi arregalados. Louis o encarou com atenção, quase como se quisesse captar quaisquer sinais que deixe escapar, de novo. - Qual é a sua, Louis?

- Hm?

- Não te conheço, lembra. - Harry sorriu, satisfeito por estar mudando de assunto com sucesso. Mas isso era só o que Louis queria que ele pensasse. - Até onde sei, você é só um cara que veio falar comigo hoje cedo no estúdio de fotografia e me convidou para um encontro.

Louis piscou entretido em sua direção, gostando daquilo.

- O que quer saber sobre mim, capitão?

- Por que continua me chamando de capitão?

- Jura que é isso que quer saber? - com uma expressão de falso tédio, Louis suspirou dramático. - Já foi melhor, Styles. Já foi melhor.

Se rendendo, Harry ergueu as duas mãos, o cachorro-quente quase finalizado sendo repousado no guardanapo sobre a bancada.

- Tudo bem, você venceu. - revirou os olhos para a expressão satisfatória de Louis. - O que faz no curso de música, Broadway?

- Duh, o que acha que faço?

- Coisas típicas de Broadway. - caçoando, Harry deu de ombros em pura provocação.

Louis o encarou com a sobrancelha arqueada.

- Como acumular quase cinquenta indicações pro Oscar?

Harry abriu a boca e em seguida a fechou, sem ter argumentos quanto àquilo. Louis sorriu vencedor.

Sabia como jogar aquele jogo, afinal, teve muito tempo de prática ao longo dos anos.

Mas Harry também sabia.

Ambos jogaram como adversários por meses.

Não esperavam que simplesmente fossem entregar a toalha.

- Indicações não são vitórias, Broadway.

- Você tem uma por acaso?

- E você tem?

- Algum dia posso ter.

- Com certeza. - com um tom apoiador, Harry fez toda a postura provocadora de Louis desmoronar, transformando sua expressão petulante em uma agradecida.

Provocações ou não, ainda sentiam afeto um pelo outro.

E nada mudaria isso.

- Obrigado. - genuinamente lisonjeado, Louis piscou apaixonado, e Harry sorriu em sua direção, aproximando seus rostos quase que imediatamente. - Isso foi muito gentil, Hazz.

- Por que está me chamando de Hazz? Nem nos conhecemos direito, garoto.

E aí estava.

Algumas coisas nunca mudavam, afinal.

Quebrando o clima familiarizado que estava sendo estabelecido, Harry gargalhou da expressão entristecida de Louis, logo em seguida ofegando ao ser empurrado pelo peitoral, de surpresa.

- Idiota.

- O que? Você quem disse que não nos conhecíamos.

- É, mas você me elogiou e eu queria agradecer.

Harry piscou um dos olhos verdes cintilantes em provocação.

- Eu também sei brincar, mais-de-cinquenta-vezes-indicada-ao-Oscar-Broadway.

Revirando os olhos, Louis se contentou a morder seu cachorro-quente, fazendo um bico ao perceber ser o último pedaço, e então limpou a boca com o guardanapo.

- Eu faço parte de um musical.

- Hm? - Harry ergueu os olhos para fitá-lo, e sorriu após processar suas palavras. - Ah, é? Acho que ouvi falar por aí. Grease, não é?

Louis suspirou, satisfeito por Harry estar sendo tão receptivo com aquela sua ideia, nem mesmo questionando suas motivações ou intenções.

Olivia estava certa. Mesmo se em trinta anos não se lembrar daquele momento, que estava fadado a acabar eventualmente e representaria apenas uma pequena parcela do que compunha a vida, Louis ainda carregaria consigo a certeza de que nunca esqueceria de Harry.

No final do dia, era aquilo que importava.

E ele compreendia agora.

Claramente.

Então se permitiu sorrir ainda mais largo para a figura de seu namorado, que estava fingindo não conhecê-lo apenas para que pudesse superar seus demônios, sem questionar ou duvidar.

- Sim, Grease.

- Não me diga que é Danny Zuko. - Harry brincou, as sobrancelhas arqueadas.

- Qual o problema em ser o Danny Zuko?

- Nenhum. É que você já é metido normalmente, imagina sendo o personagem principal, pff.

- Bem, pra sua informação, eu não sou o Danny Zuko.

Harry torceu o nariz.

- É por isso que o musical não vai pra frente.

Arrancando uma gargalhada genuína de Louis, observou contente ao que os olhos azuis sumiam no movimento escandaloso.

- Quanto Bebe te pagou pra dizer isso?

- Ficamos de decidir entre dez e quinze libras. - concordou, arrancando mais risadas do outro e cedendo por si próprio a algumas gargalhadas. - Dependia da sua reação. Quanto mais risadas, mais dinheiro.

E toda a expressão de Louis caiu na seriedade, assumindo uma rigidez absurda ao que fitava Harry com tédio.

- Você só pode estar de brincadeira com a minha cara. - o jogador exclamou, rindo da força que o outro parecia fazer para não rir. - Idiota.

- Diz a lenda que se falar isso três vezes na frente do espelho, um jogador igual você aparece.

- Então já pode parar de me chamar. Estou aqui e vim pra ficar. - Harry piscou exageradamente em sua direção, revirando os olhos quando recebeu um dedo do meio como resposta. - Você é tão simpático que até dói.

- Eu estou sendo simpático.

- Jura?

- É claro. Quantas vezes eu mandei você tomar no cu desde que começamos essa conversa?

- Nenhuma.

- De nada por isso.

Harry observou Louis esconder o sorriso provocativo no copo de refrigerante, e revirou os olhos.

- Wow, estou cada vez mais me apaixonando por você, Louis.

- De nada por isso também.

- Então, além de um renomado artista na indústria dos musicais, o que mais esse corpo gostoso reserva de talentos?

- Sexuais ou talentos em geral?

E Harry pensou sobre aquela pergunta por mais tempo do que deveria, arrancando outro sorriso satisfeito de Louis. Por fim, deu de ombros.

- Me surpreenda.

- Eu sou um ótimo cantor.

- Certamente.

- Danço consideravelmente bem, comparado às estatísticas.

- Só acredito vendo.

- E tenho uma beleza tão incrível que Afrodite ficou com inveja e virou pedra.

- Modesto. - Harry sorriu. - E, a propósito, foi a Medusa que virou pedra.

- Além de conhecimentos sobre mitologia grega, o que mais esse corpinho de jogador reserva, então, capitão? - com pura provocação no olhar, Louis deu de ombros para Harry.

- Esse corpinho aqui tem o maior recorde de touchdowns do time, Broadway.

- E isso é... tipo, difícil?

Harry revirou os olhos enquanto sorria, não se contendo com a expressão cômica de Louis.

- Pra você que tem um metro e meio, é sim, muito difícil.

Louis ergueu o dedo do meio para si.

- Será que consegue me insultar sem mencionar a altura? Já está ficando tedioso.

- Depende. Você consegue crescer?

Com um grito esganiçado, Harry quase foi ao chão ao que Louis chutava seu banco. Se não fosse por seus reflexos de jogador, teria caído de bunda nos paralelepípedos. E somente aí teria dado motivo o bastante para os outros universitários na bancada rirem de sua cara.

- Isso foi golpe baixo. - murmurou, emburrado, e assim que se sentou estável de novo, apontou na direção do de olhos azuis. - É o único tipo de golpe que você consegue fazer, há!. Entendeu? Porque você é... - perdendo a graça ao ver que Louis não estava entretido, Harry deu de ombros. - Hm, baixinho.

- Já acabou?

- Você quer que eu acabe?

- Sinceramente? - Louis provocou e riu da expressão do outro. - Você se acha o grandão, né.

- Bom, eu sou bem mais alto que você. Então... - com um bico autoexplicativo, Harry deu de ombros. - Sim, me acho o grandão.

- Nah.

Rindo da postura mal humorada de Louis, Harry buscou por sua mão, erguendo-as juntas para pressionar as palmas. Suspirou satisfeito ao ver a diferença de altura dos dedos, bem gritante.

Louis torceu o nariz.

- Metido.

Entrelaçou seus dedos, contudo.

%%%

- Onde está me levando?

Louis apenas direcionou à Harry um olhar curioso, e voltou a puxá-lo pelos caminhos da UAL. A noite estava caindo com intensidade e o vento já chiava por entre os prédios e postes de luz, mas ainda assim pareciam imersos em sua própria bolha feliz. Era quase como se realmente estivessem se conhecendo pela primeira vez.

O frio na barriga.

As mãos suadas.

O coração acelerado.

E isso era cada vez mais nítido no olhar cintilante de Harry, o verde quase tão intenso quanto a lua. Louis teve que se concentrar para focar no caminho à frente e não na floresta viva ao seu lado.

- Chegamos.

Com um murmúrio satisfeito, soltou a mão de Harry e esticou ambos os braços no ar, demonstrando o ambiente em que estavam. Os olhos verdes percorreram a grama, analisando as árvores rodeando o pequeno campo que ficava na lateral do prédio de Artesanato.

Ele conhecia aquele lugar.

Como poderia esquecer?

Havia levado Louis ali em seu primeiro encontro, o de verdade. Logo após comerem o cachorro-quente do James, igual haviam feito mais cedo. Foi no exato dia em que Louis descobriu não ter passado na audição de Grease, e quase ter saído da UAL. Harry o encontrou bem a tempo, tentando carregar a mala pesada para fora dos portões da uni. O arrastou de volta para o dormitório, tratando de alimentá-lo propriamente após tantos dias de maus tratos. E ainda jogaram o maldito jogo da Disney enrolados em edredons.

Niall chegou e acabaram se separando. Mas não demorou muito para Louis aparecer na porta de seu dormitório.

Viram Minions ser projetado na lateral daquele mesmo prédio

Deram seu primeiro beijo naquela noite.

Quer dizer...

O que achavam ser seu primeiro beijo.

Ou o que queriam que achassem.

Certo?

- Não acredito que me trouxe aqui. - a voz de Harry soou, e Louis o encarou confuso, quase ofendido.

- N-não gostou?

Harry finalmente o encarou, o verde no azul, e sorriu ladino.

- Claro que gostei.

- É o nosso lugar. - Louis encolheu os ombros na jaqueta jeans, fitando a árvore que ficaram naquela noite ao que suspirava.

Nosso lugar. Aquelas palavras ecoaram na mente de Harry como sinos.

Gostou de sua sonoridade.

Batendo de leve no ombro do menor ao que já começava a andar pela grama, piscou provocativo, não perdendo a postura mas também deixando claro o quão entusiasmado estava com aquilo.

- Vamos, Broadway. O que está fazendo parado aí?

Louis negou com a cabeça ao que o seguia, os pés cobertos pelo Vans batendo contra a grama baixa. Harry foi diretamente para sua árvore, não gastando mais do que alguns segundos para se jogar no chão e esticar os braços, preguiçosamente.

Como se fosse mágica, a mente de Louis aderiu àquela imagem como sendo sua favorita.

- Folgado. - chutou seu pé de leve, em seguida se sentando ao lado do jogador, na altura de seu ombro. - Acho que vão projetar algum filme de romance hoje.

- Nah. - Harry dispensou, o olhar fixo em Louis ao que colocava os braços atrás da nuca para apoio.

- Qual o problema com filmes de romance?

- Nenhum. Só não quero ver eles.

- Por que não?

- Porque tenho toda a trama romântica que preciso bem em frente aos meus olhos agora.

Louis revirou os olhos com força, jogando a cabeça para trás antes de voltar a fitar Harry, que sorria.

- Wow.

- Foi boa, né? Pode admitir.

- Tão boa quanto os seus arremessos em campo, capitão.

- Obrigado.

- Não foi um elogio. - Louis tentou se defender antes que Harry o atacasse, mas não teve como impedir.

Foi puxado para a grama pela cintura, Harry estrategicamente colocando-o sobre seu corpo e rodeando seu torso com os braços fortes e quentes. Cuspindo grama, Louis tentou erguer o rosto da bagunça, só conseguindo quando apoiou os cotovelos nas laterais da cabeça do jogador.

Talvez...

Só talvez, aquela seja sua nova nova imagem favorita.

- O que está fazendo?

- Estou com frio.

- Podia ter pedido a minha jaqueta emprestada. - Louis murmurou emburrado, embora toda sua expressão denunciasse deleite, afinal, estava sobre o corpo de Harry.

Não tinha como reclamar.

Não quando as firmes e ágeis mãos de jogador de futebol americano, tão acostumadas a arrematar bolas de couro projetadas em velocidades consideráveis no ar, estavam em sua bunda, sobre os jeans pretos.

- A sua jaqueta nunca serviria em mim.

- Por que? - com petulância e ironia, Louis revirou os olhos, o rosto bem próximo do de Harry, tão próximo que seu topete caía para baixo sobre a testa do maior quando alinhava seus narizes. - Deixa eu advinhar. Porque eu sou pequeno.

Fazendo um bico, Harry assentiu.

- Hm, exatamente por isso, na verdade. Além do mais, eu sou bem mais forte que você.

- Meu pau é maior.

Abrindo a boca e a fechando em seguida, Harry engasgou com as palavras, o verde intenso de seus olhos direcionados para a expressão provocativa de Louis.

- O q... O que isso tem a ver com eu ser mais forte que você?

Louis deu de ombros.

- Não sei. Só queria contar vantagem.

- Sério, Broadway? Sério mesmo?

- O que? Você não consegue fazer seu pau crescer. É uma provocação invencível.

- Você também não consegue crescer. Então... - Harry o encarou com satisfação, mastigando a palavra. - Pequeno.

Louis tentou se erguer, projetando as palmas da mão contra o peitoral definido mas falhando em separar seus torsos. Harry era forte demais e nem ao menos retumbou com suas tentativas. Por fim, bufou irritadiço, se permitindo cair frustrado contra o peitoral do outro, mais uma vez.

Suas testas colidiram em um som oco, e Harry gemeu de dor.

- Ai, seu...

- Ninguém mandou não deixar eu sair.

- Ninguém mandou não ter forças pra sair sozinho.

- Isso não é justo. - atacou, o bico inflexível nos lábios prendendo a atenção de Harry. - Você treina pra ser forte assim. E eu só... como. Muito.

- E é por isso que você tem essa bunda incrível. - Harry murmurou em deleite, as mãos percorrendo cada centímetro da carne farta apenas para ouvir os suspiros sôfregos de Louis. - Nenhum jogador tem essa bunda.

- Nem mesmo você.

Se impulsionando de uma só vez, como o elemento surpresa, Louis saiu do aperto de Harry, rapidamente se colocando sentado sobre seu quadril. O maior deixou escapar um ofego, e logo assumiu um sorriso ladino acompanhado de covinha, satisfeito pela imagem de Louis sentado em seu colo, as duas palmas das mãos contra seu abdômen e o quadril levemente arrebitado.

- Você é...

- Eu vou te poupar o tempo de procurar um adjetivo digno. - Louis o interrompeu, o sorriso provocativo fixo nos lábios avermelhados e os olhos azuis cintilando com a pouca luz.

Harry piscou lentamente em sua direção, hipnotizado, e somente quando se deu conta de que, de fato, não conseguiria encontrar palavras para descrever a totalidade que era Louis Tomlinson, cedeu a pressão e deixou que sua cabeça caia contra a grama de novo, tudo que seus olhos conseguiam ver naquele momento sendo o céu estrelado e as folhas das árvores que os rodeavam.

Podia sentir Louis movendo o quadril lentamente, quase mínimo sobre o seu, mas o bastante para incendiar seu baixo ventre. As mãos pressionadas em seu peitoral ficaram mais pesadas, tomando-lhe o fôlego na mesma intensidade que as investidas.

- Louis...

- Além de capitão dos Wolves, o que mais Harry Styles faz na UAL?

- Hm?

- Diga. Ou está ocupado demais ficando duro pra responder uma simples pergunta?

Pressionando os olhos com força, Harry tentou manter a respiração estável, não querendo dar a Louis o gostinho da provocação bem sucedida. Seus dedos coçavam na grama, desejando o calor conhecido da pele do menor.

- Eu curso fotografia.

Arqueando as sobrancelhas, Louis aumentou os movimentos em seu quadril, cada vez mais sentindo a crescente ereção de Harry sob sua bunda. Daquela posição, podia ver perfeitamente a forma com que seu maxilar estava rígido, o peito subindo e descendo em um ritmo controlado.

- Você tira fotos, então?

- É o que um fotógrafo faz.

- Engraçadinho. - provocando, ouviu a própria voz craquelar quando o movimento se tornou intenso demais para conseguir se conter. As coxas grossas de Harry faziam o apoio perfeito para sua bunda, e estava cada vez mais inclinado a aumentar a velocidade, mas manteve-se lento e controlado. - Do que mais gosta de tirar fotos?

- Da sua bunda.

A respiração de Louis entrecortou, e com um ofego surpreso, observou a contragosto quando a expressão de Harry se fez satisfatória. Submisso ou não, ainda conseguia provocá-lo o bastante para perder o raciocínio.

Mas Louis compreendia a complexidade daquelas palavras.

E não podia se perder no papel.

- Nunca viu a minha bunda antes. Como pode ter tirado uma foto dela?

Harry abriu um sorriso ladino, os olhos fechados em deleite ao que seus quadris ainda deslizavam juntos, tão lento quanto torturante.

- Ficaria surpreso com o que eu já fiz com a sua bunda.

- Tem certeza disso? - sendo a sua vez de captar a atenção do outro, Louis sorriu provocador quando Harry ergueu-se nos cotovelos para encará-lo.

- Se eu tenho certeza do que fiz com a sua bunda?

- Se tem certeza que eu ficaria surpreso.

Abrindo a boca e não encontrando resposta plausível para aquela constatação, Harry suspirou derrotado, o verde rodeado de preto nas íris dilatadas. Louis aceitou seu silêncio de bom grado e mordeu o lábio inferior, a cabeça sendo imediatemente jogada para trás enquanto aumentava os movimentos dos quadris, as mãos ainda pressionadas no peitoral forte facilitando seu trabalho de empinar ainda mais a bunda contra a ereção semi formada.

- Louis...

- Então Harry Styles é um jogador de futebol americano que se esconde atrás das lentes quando está fora de campo. - com a voz baixa e rouca, murmurou, ainda com a cabeça para trás em deleite. Harry se manteve nos cotovelos, hipnotizado. - E o que mais?

- Só isso.

- Não, não é só isso.

- É sim. Eu sou só um jogador que tira fotos.

Trazendo a cabeça lentamente para o lado, Louis encostou a bochecha no próprio ombro, ainda inclinado pelas mãos sobre o peitoral de Harry. Os olhos azuis repletos de luxúria buscaram pelo verde intenso.

- Eu não vejo só um jogador que tira fotos.

Com o lábio inferior preso nos dentes, Harry conteve um murmúrio satisfatório ao observar as íris de Louis dilatarem quando moveu o quadril no ângulo correto para arrepiar ambos os corpos.

- O que você vê?

- Vejo muita força. Não estou falando de músculos. Estou falando de espírito. - deixando que as palavras deslizem por sua língua como súplicas nada discretas, Louis ofegou ao ver a primeira covinha se fazendo presente no rosto de Harry. - E muita bondade.

- Está me cantando?

Louis sorriu ladino, levemente provocativo ao que continuava movendo o quadril.

- Talvez.

- E acha que falando de força e bondade vai fazer eu ceder?

- Não. - passou a língua nos lábios, umedecendo-os ao que seus cílios tremeram. - Isso vai fazer você ceder.

Mais rápido do que os olhos verdes puderam captar, Louis moveu as mãos que antes estavam no peitoral definido para repousarem atrás de seu corpo, sobre as coxas de Harry. Estendendo seu torso ao que inclinava para trás, teve mais espaço para girar os quadris novamente, dessa vez mais desinibido, dando ao jogador uma bela visão da ereção discreta que se formava nos jeans pretos, entre as coxas fartas, e que deslizava eroticamente sobre a sua própria ereção, nos jeans claros contra a grama.

- Porra, Lou...

- Não lembro de ter te dado essa intimidade.

- Cala a boca. - Harry xingou, as mãos em punho socando a grama em um som oco em puro reflexo das sensações que ricocheteavam em seu corpo.

- Como alguém com essa atitude conseguiu o posto de capitão dos Wolves? - não podendo parar de provocar, Louis conteve um suspiro ao que suas coxas tremeram sobre o quadril de Harry, espasmos de um carinho que estava bom demais para ser discreto.

- Cala a boca.

- Petulante.

- Cala a boca, Louis.

- Você é sempre tão mandão assim?

- Aprendi com o melhor.

- O qu...

Louis foi pego de surpresa quando Harry ergueu o torso rapidamente e o puxou pelo maxilar, colando seus lábios em um baque molhado e necessitado. Os braços, agora livres, rodearam a nuca do jogador enquanto sentia-se sendo posicionado estrategicamente sobre a ereção já avantajada.

Não sabia qual o incendiava mais, a sua ou a de Harry.

O jogador gemeu rouco contra sua boca, interrompendo o beijo que prosseguiu erótico do lado de fora, suas línguas deslizando uma na outra até Louis decidir que queria chupá-la. Com uma das mãos na base da coluna do menor, Harry pressionou a região o mais firme possível para que a bunda fosse empinada ao máximo, estalando um tapa na região antes de apertá-la por dentro do bolso traseiro dos jeans pretos.

Se não fosse por estarem na região mais afastada da grama, cercado de árvores gigantescas com galhos e folhas generosas, Louis gastaria ao menos um neurônio para se preocupar com o que os demais poderiam estar pensando sobre a movimentação discreta. Mas como esse não era o caso, dedicou todo seu ser ao carinho que Harry fazia em seu corpo.

Os estímulos vinham de todos os lados e formas. Língua, mãos, coxas e quadris. E sem encontrar a satisfação que queria, inclinou o peito contra o de Harry, quase desejando que estivessem sem roupas para que seu piercing pudesse fazer o trabalho que estava acostumado.

E como se o universo soubesse que estavam ultrapassando um limite, a projeção na lateral do prédio de Artesanato começou, o som do início do filme os assustando no exato momento em que a língua de Harry deslizou pelo maxilar demarcado de Louis.

Espalmando o peitoral definido com força e o empurrando para trás sem delicadeza alguma, os olhos azuis de Louis brilharam ao observar as costas de Harry baterem ocas contra a grama, exibindo assim seus lábios inchados e úmidos com orgulho.

- O qu...

- Vamos ver o filme.

%%%

- Eu pensei que fosse ser um filme romântico.

- Mas é um filme romântico. - Louis sussurrou de volta, os olhos fixos na projeção contra a parede.

- Louis, estamos vendo Procurando Nemo. Como isso é um filme romântico?

Louis revirou os olhos antes de se voltar para Harry. Estavam sentados contra a árvore - sua árvore - e abraçando o corpo de Harry por trás, tanto com os braços quanto com as pernas, que estavam entrelaçadas em sua cintura e repousadas sobre as coxas do jogador, bufou com o queixo repousado no ombro do maior.

- Será que você pode calar a boca? Está me atrapalhando.

- Eu 'to com frio. - resmungando, Harry se remexeu na grama, dentro do aperto de Louis. - Você não faz um bom trabalho em me aquecer.

- É porque eu sou um ser humano e não uma labareda. Agora senta aí e cala a boca. - sem paciência, nem ao menos desviando os olhos azuis da projeção, Louis bufou.

- Eu 'to com frioooo. - tão manhoso quanto irritante, Harry se remexeu novamente, dessa vez, o suficiente para rodar na grama e abraçar Louis de frente.

Surpreso pela movimentação repentina e a mudança drástica de posições, Louis observou estático por um momento ao que Harry enfiava a cabeça em seu pescoço e abraçava seu torso com os braços fortes.

- O qu...

- Bem melhor.

- Sério isso? - incrédulo, tentou manter a voz baixa, afinal, outros universitários tentavam assistir o desenho ininterruptamente.

Harry o ignorou completamente, e em seguida depositou um beijo casto e quente em seu pescoço sensível, disparando uma onda de arrepios partindo da região até a ponta do seu dedinho do pé.

- Está atrapalhando quem quer ver o filme, Broadway. Fica quieto.

- Ah, jura? Você também está me atrapalhando a ver o filme. - retrucando, Louis o cutucou.

Inabalado, Harry suspirou.

- Agora não estou mais. Então seja um bom garoto e veja o filme calado.

- Você não manda em mim. Eu mando em mim.

- Então pode, por favor, se mandar calar a boca e ver o filme?

Torcendo o nariz mas logo ajeitando o corpo musculoso do jogador em seu colo, Louis cedeu, afinal, estava mais quente naquela posição e o cheiro adocicado do shampoo de Harry ficava diretamente contra seu nariz quando repousava o queixo em sua cabeça, tendo a visão perfeita da projeção e também do rapaz que estava colado em si.

%%%

- Está ficando tarde. Devíamos ir pro dormitório. - Louis murmurou e recebeu um olhar provocativo de Harry.

- Está atrasado pro horário de dormir, Broadway?

- Estou atrasado faz quase vinte anos mas obrigado por notar. - irônico, retrucou.

Estavam deitados na grama casualmente. Àquela altura, quase não haviam pessoas na área. A noite caía gélida e o filme havia acabado há pouco. Com um tilintar típico da madrugada que se aproximava, apenas o vento batendo contra os galhos e balançando as folhas, um baixo chiado de pessoas falando e suas respirações podiam ser ouvidas.

Era tranquilizante, no mínimo.

O céu estrelado iluminava o pouco que os postes não cobriam do campus, mas ainda assim o davam privacidade o bastante para enxergar sombras nos rostos dos demais universitários.

Como se estivesse em câmera lenta, Louis, de barriga para baixo e apoiado pelos cotovelos na grama gelada, fitou Harry, deitado ao seu lado. O jogador tinha as costas contra o chão e as mãos repousadas na barriga. Os olhos verdes encaravam o céu.

- O que achou do nosso primeiro encontro, capitão?

Louis observou o sorriso de Harry crescer, as covinhas imediatamente aparecendo para a festa.

- Adorável. - com um suspiro, Harry riu entre o sorriso intacto, e a atenção do menor caiu sobre o movimento. - Você é bem irritante mas... eu gosto. Senti falta dessa atitude. - virando a cabeça na grama para encontrar os olhos azuis intensos, piscou um dos olhos. - Senti falta de você, gatinho.

Separados por um palmo de distância na grama, Louis se conteve a piscar de volta para Harry, como se fosse seu pequeno segredinho - o fato de que aquele não era seu primeiro encontro, e que, na verdade, tinham páginas e mais páginas de história que os precedia.

Mas por aquele momento, parecia como a primeira vez.

A primeira vez que nunca tiveram.

Não sem Ryan, sem dramas familiares, sem traumas dolorosos, sem o ódio infundado um pelo outro, sem a rivalidade injustificável, sem os medos.

Não sem seus demônios internos.

Não é como se todas essas coisas deixassem de existir.

Mas sim como se, por aquele breve momento, e por aquele momento apenas, não os assombrasse.

Não detinham do poder para tal.

Porque, naquele momento, todas as energias de Louis estavam direcionadas para Harry. E todas as energias de Harry estavam direcionadas para Louis.

Não sobrava nada para alimentar seus medos.

Como deveria ser.

- Você quer mesmo voltar pro dormitório? - com a voz branda, Harry cortou o silêncio, os olhos verdes já retomando para o céu estrelado.

Louis negou para a grama verde, ainda apoiado pelos cotovelos.

- Não. - com um suspiro, sussurrou. - Você quer?

Harry negou para as estrelas.

- Não.

- Eu escrevi uma música pra você. - como se fosse um segredo que gostaria muito de proteger, Louis sussurrou, de novo.

Aquelas palavras reservavam uma grandeza que somente sua história podia mensurar.

Após tantos meses sendo privado de compor, tanto pelas assombrações de Ryan quanto pelo próprio medo que cultivava dentro de si, Louis havia composto uma música.

Para Harry.

Finalmente.

A parte de si que gritava por reconhecimento havia finalmente tido a liberdade de transcrever os sentimentos de seu coração para as cordas do violão.

E quem estava dentro de seu coração?

Não sendo mais digno da atenção dos olhos verdes, Harry desviou do céu para fitar outra imensidão azul, e sorriu lisonjeado, beirando a incredulidade.

- P-pra mim?

Louis mordeu o lábio inferior, assentindo.

Soava tão inacreditável em seus ouvidos, também.

Mas era real.

Tão real quanto eles.

- Mh-hmm.

- E-eu posso ouvir?

Pego de surpresa por aquela solicitação, Louis abriu a boca, perdendo as palavras conforme respirava aceleradamente. Harry piscou com expectativa em sua direção.

Sabia como aquela era uma barreira intensa que assombrava seus arredores por meses. E só podia se sentir grato por estar compartilhando mais uma vitória consigo.

Pouco progresso ainda é progresso.

- Eu... - murmurando, desconcertado, Louis sorriu. - Eu nem tenho um violão aqui.

- Não seja por isso.

Se levantando em um único compasso, Harry olhou ao redor, e assim como na primeira vez - de verdade - que estiveram ali, foi para outro grupo de universitários reunidos na grama em busca de suprimentos. Ao invés de edredons, como antes, agora buscava um violão.

E para sua sorte, a UAL era uma universidade de artes.

Sempre tinha alguém com violão por perto.

- Não acredito que fez isso. - incrédulo e envergonhado, Louis murmurou quando chegou de volta à sua árvore, carregando... um violão.

- Nem que eu tivesse que ir até o seu dormitório pegar o seu violão, eu preciso ouvir essa música.

- Só pra massagear seu ego? - divertido, Louis confidenciou enquanto já recebia o instrumento em mãos e começava afiná-lo mediante suas preferências.

Harry voltou a deitar ao seu lado na grama.

- Essa vai ser a primeira música que você compôs que eu vou ouvir. - quase sonhador, murmurou, tão animado fitando as estrelas que não viu quando Louis o encarou com olhos azuis cintilantes.

Aquela não era a primeira música que compôs sobre um certo par de olhos verdes.

Mas guardaria tal composição para outro dia.

Um dia mais adequado e propício.

Mais especial.

Só esperava que a música que fosse cantar naquele momento seja tão boa quanto.

- Tente ser gentil. Estou meio enferrujado.

- Impossível. Você nasceu pra isso, gatinho.

Sem ter respostas para aquela frase e também não tendo forças para tal, Louis se limitou a terminar de afinar o violão e ajustá-lo em seu colo. Harry aguardou pacientemente na grama, os olhos divagando no céu estrelado e as mãos comportadas sobre sua barriga.

E então, os primeiros acordes soaram, sutis como a voz de Louis, e Harry se permitiu fechar os olhos.

(Coloquem I Want to Write You a Song da 1D pra tocar, assim terão uma experiência completa durante a leitura!)

- I want to write you a song... One that's beautiful as you are sweet. - tímido, Louis começou, os olhos fixos no rosto relaxado de Harry e os dedos livres nas cordas. - With just a hint of pain for the feeling that I get when you are gone... I want to write you a song. - cantar sobre seu sorriso se tornou parte da letra, e tudo fazia sentido em sua mente. - I want to lend you my coat... One that's as soft as your cheek. So when the world is cold, you'll have a hiding place you can go... I want to lend you my coat.

Harry sorria, as covinhas sinalizando para Louis que aquilo estava sendo tão prazeroso para eles quanto para si mesmo.

- Everything I need I get from you... Givin' back is all I wanna do... - de olhos fechados, Harry suspirou ao ouvir a sutileza da voz de Louis, ao mesmo tempo tão intensa em seus ouvidos. - I want to build you a boat... One that's strong as you are free. So any time you think that your heart is gonna sink, you know it won't... I want to build you a boat.

O violão parecia soar distante, apenas a voz de Louis como elemento principal do que condizia com um sonho na mente de Harry, as sensações afloradas pelos sentidos agudos fazia cada reflexo ser ainda mais avassalador.

- Everything I need I get from you... Givin' back is all I wanna do...

Com um estalo, o violão parou, e Louis também. Mas Harry ainda sentia que estava sonhando, extasiado. O silêncio que se seguiu foi incômodo, simplesmente por estar vindo após a magnífica performance orgânica de Louis, como se qualquer coisa que não fosse sua voz soasse como ofensa.

E Harry buscou as palavras para apreciá-lo, mesmo não achando nenhuma digna o bastante para mensurar o que sentia no peito.

- Isso foi incrível, Lou.

Encolhendo os ombros, os dedos ainda no violão, Louis sorriu para o chão.

A parede que representava aquele medo estava finalmente colidindo, os tijolos quebrando e espalhando poeira para todos os lados, mas isso não o assustava.

Sabia quem estaria o esperando do outro lado da fumaça.

- Obrigado, Hazz.

- Ei. - erguendo a atenção, Louis encontrou algo mais verde do que a grama, e Harry desviou do céu para contar os brilhos das estrelas de seus olhos. - Eu te amo.

O canto dos lábios de Louis se curvou.

- Mas você me conheceu hoje.

- Eu sei. - sem se abalar, Harry riu entre seu sorriso. - E ainda te amo. Ou devo dizer, te amo?

- Eu não sei. - com um suspiro, Louis cedeu à intensidade do contato. - Mas eu também ainda te amo. Ou te amo.

Harry não aguentou a distância, afinal, nada os impedia de acabar com ela. Puxando Louis, rolaram na grama sem muita questão, desejando mais do que tudo estarem juntos. E foi o que fizeram.

Louis piscou os longos cílios para receber a imagem de Harry, sorridente, sobre seu corpo pressionado na grama, e seus braços logo assumiram o trabalho de rodear seu torso em um aperto firme.

Com uma delicadeza avassaladora, quase gritante no ambiente silencioso, Harry tocou seus narizes, deslizando um carinho gentil em beijos de esquimó. Eram sua tradição. Ouvindo suspiros receptivos, continuou o carinho por sua bochecha, a ponta de seu nariz traçando linhas na pele quente como se desenhasse formas que só eles compreendiam o significado.

Tudo que Louis ouviu antes de seus lábios colidirem foi um murmúrio afobado de agora me beija, seu idiota.

%%%

- Por que eu tenho que fazer isso mesmo?

- Porque eu quero. - Harry respondeu, provocativo, e Louis revirou os olhos.

- E desde quando fazemos o que você quer?

- Desde que eu quis que fizéssemos o que eu quero.

- O que?

- Exatamente. 'Tá vendo. O que seria de você sem mim? - gesticulou rapidamente, confundindo Louis ainda mais. - Agora vem aqui.

Ainda estavam no gramado, sob a mesma árvore. Não havia quase ninguém ali àquela hora da madrugada, tanto pelo frio estridente quanto pela falta de entretenimento já que o filme havia acabado há horas. Mas Harry tinha outros planos.

Planos que envolviam ensinar Louis a jogar futebol americano, aparentemente.

- Eu já sei jogar. Já joguei contra você e ganhei, inclusive. - murmurou, irritado ao que arrastava os pés para onde o jogador estava.

- Nunca jogamos juntos. Nos conhecemos hoje, lembra?

- Tecnicamente, foi ontem. Já passou da meia-noite. Tipo, muito. Já passou muito.

- Quer calar a boca?

- Você só está irritado porque eu te lembrei que ganhei na última vez que jogamos.

Harry o encarou com tédio nos olhos.

- Você quase se matou naquele jogo.

- Mas ainda assim ganhei. - dando de ombros, Louis estalou a língua. - Vitória continua intacta.

- Tudo bem, espertinho. Eu vou te ensinar os fundamentos básicos de ser um jogador de futebol americano de sucesso.

- Eu já sei quais são.

Irritado por ser interrompido mais uma vez, Harry bateu na própria testa ao que Louis gargalhava de sua cara.

- Então me diga, Broadway. Quais são os fundamentos básicos de ser um jogador de futebol americano?

- Fácil. - convencido, Louis ergueu os dedos para começar a contagem. - Precisa ser bonito, precisa ser gostoso e precisa correr rápido.

Aguardando alguns segundos para garantir que havia terminado, Harry gesticulou com ênfase após sua constatação.

Parecia à beira de um colapso mental.

- É só isso?

- Você é bonito?

- Hm? - confuso, arregalou os olhos verdes. Louis deu de ombros, inabalado.

- Você é bonito?

- Gosto de pensar que sim.

- É gostoso?

- Hm, o que você acha?

- Que sim. E por último mas não menos importante... - suspirou, como se estivesse cansado de estar certo o tempo todo, e fitou Harry com ironia. - Você corre rápido?

- Sou o mais rápido do time.

Louis bateu as duas mãos juntas, assustando o maior.

- E com isso eu provo meu ponto com sucesso. Obrigado por comparecer ao meu TEDTalk e nos vemos na próxima.

Como se isso bastasse, girou nos calcanhares em direção ao tronco da árvore, onde planejava dormir um pouco, mas foi interrompido por braços fortes que o ergueram do chão em um movimento só.

- Harr...

- Primeira regra do futebol americano: nunca vire de costas para o adversário.

Louis bateu em seus braços para tentar inutilmente se soltar.

- Você não é meu adversário. É só um idiota que não me coloca no chão.

- Quer que eu te coloque no chão?

- Duh.

- Peça com gentileza.

- Vai se foder.

- Não vai conseguir descer desse jeito. - o chacoalhando no ar como se não pesasse nada, Harry riu de seu desespero.

- Me solta, Harry, é sério.

- Gentileza.

- Enfia a gentileza no cu.

- Tsc tsc tsc. - negando com a cabeça, sorriu largo para a irritação crescente de Louis. - Vamos ficar aqui por um tempo, aparentemente.

- Tudo bem, tudo bem. - bufando, os olhos azuis rodaram nas orbes. - Por favor.

- Por favor o que?

- Por favor, enfia a gentileza no cu. - notando que Harry iria começar a chacoalhá-lo de novo, Louis se adiantou. - Tudo bem, eu desisto. Me solta, por favor.

- Soltar? - com um tom inquisitivo e quase irônico, Harry deu de ombros. - Já que pediu com gentileza...

O soltando sem ao menos prestar apoio, Harry gargalhou quando Louis tentou se segurar antes de cair com força total no chão. Não durou muito pois a mão firme ao redor da gola de seu moletom o puxou para baixo, também, e em segundos, ambos estavam estatelados na grama.

- Louis!

- Ninguém mandou me soltar.

- Você mandou eu te soltar!

- Com gentileza, idiota.

- Achei que quisesse enfiar a gentileza no cu.

- Você vai ver o que eu vou enfiar no seu cu se não calar a boca e me ajudar a levantar.

- Quer saber? Acho que eu quero ver mesmo.

%%%

- Você ficou com medo? - sussurrando, Harry quebrou o silêncio que estava instaurado tão pacificamente.

Passavam das três da manhã e continuavam sob a mesma árvore, deitados na grama, um de frente para o outro, apoiados pelos cotovelos. Louis o encarou, suspirando ao que brincava com a cordinha do seu moletom.

- Hm?

- Na psicóloga. Ficou com medo?

Sabia a profundidade que aquela pergunta escondia, e com um sorriso ladino, assentiu para os olhos verdes atentos.

- Muito medo.

- Foi ruim?

- Foi incrível. - notando que Harry se surpreendeu com sua constatação, Louis assentiu. - Eu... eu não sei explicar. É como se... como se não saíssemos da zona de conforto, mas ao mesmo tempo falamos de coisas desconfortáveis.

Harry absorveu aquelas palavras por alguns instantes de silêncio, os olhos verdes analisando a expressão de Louis, pouco iluminada pela lua que brilhava no céu.

- Você... hm...

- Ei. - chamando sua atenção enquanto deslizava o cotovelo na grama para se aproximar ainda mais, Louis sorriu ameno. - Sou eu. Sabe que pode me perguntar qualquer coisa.

Com um suspiro, Harry desviou o olhar.

- Você falou sobre Ryan?

Torcendo o nariz frente àquela menção, Louis quase o privou de uma resposta, simplesmente porque não queria estragar o clima daquela noite agradável com um assunto tão deplorável, mas havia algo na expressão vaga de Harry que o fazia questionar o por que daquela pergunta.

Não demorou mais do que alguns segundos para descobrir.

- Falei.

- Sobre... tudo?

- Não em detalhes... - com a testa franzida, murmurou, ainda sem ver o verde intenso que insistia em desviar dos seus azuis. - Mas sim.

- E ela... ela falou alguma coisa?

- Sobre..?

- Ela vai... fazer alguma coisa à respeito? - finalmente erguendo os olhos para encarar Louis, Harry arrancou-lhe um suspiro.

Fazer alguma coisa à respeito.

Louis mentiria se dissesse que não havia se perguntado aquela mesma coisa pelo menos trinta vezes.

Apenas enquanto cogitava girar a maçaneta da porta do escritório de psicologia.

Naquela mesma manhã.

Fazer alguma coisa à respeito.

Olivia iria levar seu depoimento adiante?

Iria buscar justiça pelo que Ryan havia feito?

Sequer detinha desse poder?

Louis estendeu a mão que antes brincava com o cordão do moletom de Harry para afagar sua bochecha gelada, segurando o verde intenso em seu olhar.

- Ela não pode. Não sem a minha permissão.

- E você deu a permissão?

Hesitando, Louis mordeu o lábio para a expressão assustada e vulnerável de Harry.

Sabia que o que mais o impedia de ir à psicóloga era o medo de que suas confissões sobre o que Ryan havia lhe causado pudessem prejudicar seu desempenho no time.

O medo de que suas confissões pudessem desenterrar assuntos já dados por finalizados.

O medo de que suas confissões acabem o atormentando mais do que libertando.

Louis cutucou a região de sua bochecha onde sabia que uma covinha apareceria caso sorrisse.

- Tudo tem um tempo certo, Harry. Eu senti que era hora de me abrir sobre Ryan, mas ainda não foi o dia em que finalmente criei coragem e fiz algo a respeito. Nem sei se quero. O mais importante... - colou seus narizes juntos em um beijo de esquimó. - É que não o sinto entre nós. Não mais.

Soltando um suspiro aliviado ao que seu dedo afundou na covinha que finalmente apareceu, Louis riu em deleite. Harry pareceu mais confiante, também, e tratou de deslizar suas mãos quentes pelas costas do menor.

- Eu também não o sinto mais.

- Não sei você mas... - com um sussurro confidencial, Louis riu. - Isso é bem melhor do que qualquer vingança, não acha?

- Acho. - sussurrando na mesma proporção, Harry interrompeu seu sorriso para beijar os lábios de Louis.

- Não, não, não, não, não. - antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, Louis exclamou, assustando o jogador e o fazendo afastar seus rostos em reflexo.

- O que foi? O que eu fiz?

Gargalhou de sua expressão.

- Nada.

- E por que fez isso? - Harry parecia à beira de um surto e Louis continuou rindo de seus olhos arregalados.

- Vem, vamos dançar.

- O qu... - notando que Louis já havia levantado da grama e agora batia as mãos nos jeans para remover quaisquer resquícios de sujeira, Harry arqueou as sobrancelhas. - Eu não...

- Dançar, capitão. Vamos. - impaciente embora sorrisse, Louis esticou a mão para o maior, e piscou um dos olhos em provocação.

Ali, ainda deitado na grama, e observando o rapaz que era a própria personificação de anjo, Harry se permitiu suspirar.

Cedeu, se levantando com ajuda da mão pequena. Em uma série de suspiros, não teve tempo de raciocinar, ao menos, pois Louis já havia puxado-o pela mesma mão, batendo seus peitorais juntos em uma formação de valsa.

Os olhos verdes caíram para as pontas do Vans pressionadas na grama.

- Quer ajuda, Broadway?

Revirando os olhos, Louis bufou. Não deixou de continuar na ponta dos pés, entretanto.

- Quero que cale a boca e dance, idiota. - com os braços ao redor da nuca de Harry, piscou os brilhantes olhos azuis em sua direção ao vê-lo inclinar a cabeça para colar suas testas enquanto balançavam os corpos sem coordenação nenhuma. - Você é uma droga na valsa.

- Isso porque sou jogador de futebol, não dançarino.

- Tudo que ouço são desculpas, capitão.

- Então que tal calar a boca e deixar o clima rolar? - petulante, Harry instigou, e observou de perto quando Louis fez um bico irritado, mas se calou.

E por alguns minutos foi exatamente o que aconteceu.

A lua brilhava intensa e as árvores chiavam com o vento, mas nada atrapalharia aquele momento.

E Louis não ligava para o que Olivia havia dito mais cedo.

Porque tudo em seu corpo o levava a acreditar que sempre se lembraria daquele momento, dançando desengonçadamente nos braços de Harry, nada além de seus olhares conectados enquanto uma melodia silenciosa os guiava.

%%%

- Se tomate é uma fruta... - Louis murmurou, ponderativo. - Isso significa que ketchup é um tipo de suco?

Harry, deitado ao seu lado na grama, ambos fitando o céu estrelado, suspirou.

- Então a pizza é tipo uma torta?

Virando o rosto para fitar o perfil do jogador, Louis sorriu.

- Exatamente!

Compartilharam uma risada escandalosa, completamente desproporcional ao teor engraçado da conversa, mas ainda assim parecia certo.

Eles, a lua e o céu estrelado.

- Por que sempre temos essas conversas idiotas?

- Porque somos idiotas? - Louis retrucou, já voltando a fitar o céu.

- Bom ponto.

- Eu gosto dessas conversas.

- Faz parecer que não temos nada com que nos preocupar.

Louis direcionou o olhar para o perfil de Harry, de novo, e se perdeu por um momento no maxilar definido e na curvatura de seu nariz delicado.

- Mas não temos nada com que nos preocupar, Harry.

Observou a bochecha do jogador tensionar ao que engoliu.

- Não?

- Não. - com o tom confiante, afirmou. - Não temos.

Harry sorriu largo, as covinhas aparecendo imediatamente, e Louis soltou um resmungo ao que, daquela posição, só conseguia ver uma delas em seu perfil.

- Se você diz, então eu acredito. - a voz rouca se fez presente, mas Harry manteve os olhos nas estrelas. - Sem problemas.

- Sem problemas.

- Só eu, o céu e o garoto mais incrível de toda a uni.

Louis torceu o nariz, o foco ainda totalmente no perfil do outro, como se não pudesse desviar da obra prima que era.

- Eu me descreveria mais como o garoto mais incrível do mundo, mas de toda a uni é um bom começo.

Uma gargalhada cortou o ar, o peitoral de Harry subindo no movimento e arrancando um sorriso orgulhoso de Louis, que ainda o fitava.

- Eu não conheço todos os garotos do mundo, então acho que não tenho propriedade para te elogiar assim. Estaria mentindo se fizesse.

- Então minta.

Harry, perdido na imensidão do céu, sorriu.

- Louis Tomlinson...

- Sim. - com olhos azuis tão cintilantes quanto as estrelas presos no jogador, sussurrou.

- Você é o garoto mais incrível do mundo.

Louis sentiu os cantos de sua boca se curvarem.

- Não minta pra mim, Styles.

Nunca passou pela mente de Harry que aquilo seria possível.

Quer dizer, mentiria se dissesse que nunca cogitou estar com Louis, ainda quando "se odiavam".

E mentiria mais ainda se dissesse que nunca cogitou estar com Louis daquele jeito.

Mas nunca, em hipótese alguma, pensou ser possível estar daquele jeito com Louis, sem se preocupar com mais nada além de sua presença.

Por isso riu.

Riu de sua voz melodiosa.

Riu de sua atitude provocativa.

Riu de sua capacidade de ser irônico e ao mesmo tempo gentil.

Riu, acima de tudo, da felicidade que borbulhava dentro de seu peito.

E Louis o acompanhou.

Vai ver sentia a mesma coisa.

Vai ver compartilhavam a mesma felicidade.

Desviando do perfil de Harry após o que pareceu uma eternidade, Louis finalmente voltou a fitar o céu estrelado, e suspirou, tomado por sensações e pensamentos agradáveis. O silêncio os arrematou novamente, permitindo que seus corações batessem sincronizados na madrugada gélida.

Um sorriso rasgou seus lábios quando sentiu a mão de Harry entrelaçar na sua, sobre a grama e entre seus corpos deitados.

- Você também olha pro céu e pensa em várias coisas? - com a voz baixa, quase em um sussurro, Louis suspirou.

Harry desviou o olhar para fitar seu perfil delicado, e sorriu com direito a duas covinhas.

- Que tipo de coisas?

- Qualquer tipo de coisas. - o menor sorriu para as estrelas. - Você simplesmente olha pro céu e... contempla o quão maravilhosa é a vida. Sabe?

- Sei. - Harry murmurou, baixo.

Embora seus olhos não estivessem voltados para o céu, ainda contemplava o quão maravilhosa a vida era.

Estampada no rosto angelical de Louis.

E quando os olhos azuis finalmente encontraram os seus, pode ver uma imensidão muito mais bonita do que qualquer céu estrelado jamais pudesse ser.

- Acha que vamos conseguir?

A voz baixa de Louis trouxe Harry à realidade, mais uma vez. Com a testa franzida e os olhos verdes ainda focados no nariz arrebitado do menor, suspirou.

- Se vamos conseguir?

- É. - confidenciando suas inseguranças para a luz das estrelas, Louis mordeu o lábio. - Acha que nós vamos conseguir?

Aquela pergunta remetia à muitas coisas.

Graduação, projetos, campeonatos, felicidade, carreira, dinheiro, família.

Amor.

Sobretudo força.

Para conseguirem, precisavam ser fortes.

E Harry fitou o perfil de Louis com afinco, perdendo o fôlego quando os olhos azuis desviaram do céu para devolver na mesma intensidade o contato que já estava sendo o seu favorito.

Alí, vendo a eternidade banhada de azul límpido, soube a resposta para todas aquelas circunstâncias.

- Acho, Lou. Acho que vamos conseguir, sim.

Louis piscou lentamente em sua direção, e após alguns ciclos de suspiros, aproximou seus rostos apenas o bastante para a ponta de seus narizes gelados encostarem. Harry sorriu com direito à covinhas, e deixou que seus olhos divagassem pela pele bronzeada do menor, seus corpos fazendo um bom trabalho em arder na direção do outro.

Antes que pudesse processar qualquer outra coisa, foi pego de surpresa ao que Louis se levantou da grama, tão rápido quanto seus olhos captaram entre uma piscada e outra. O observou curiosamente ir em direção ao violão que havia pego emprestado mais cedo e que haviam deixado encostado no tronco de sua árvore.

Ficou ainda mais surpreso quando, ao retornar para onde estavam na grama, Louis se sentou sobre seu quadril, igual mais cedo, com ambas as coxas ao redor de sua cintura. Atônito, Harry ofegou.

- O qu.. o que está fazendo?

Louis sorriu ladino, um misto de provocação e satisfação, ao que ajeitava o violão no peito. Notando que estava desconfortável naquela posição, Harry tratou de erguer as pernas, dobrando os joelhos e pressionando os pés cobertos pelo All-Stars na grama, de forma que suas coxas servissem de encosto para o menor.

- Eu acho que tive ideia pra uma música.

- Agora? - arregalando os olhos verdes, Harry sorriu, deslumbrado.

Se contentando a sorrir enquanto balançava afirmativamente a cabeça, Louis suspirou.

Compor já era algo íntimo para si, considerando seu passado obscuro com a prática, e tão difícil quanto performar suas próprias composições, certamente compor simultaneamente para o olhar atento de Harry seria... assustador.

Ou ao menos imaginou que seria.

Mas tudo que sentia era paz.

O verde intenso o transmitia segurança, como se alí, sentado em seu colo e preso em seu conforto, pudesse conquistar qualquer coisa.

E nesse ambiente familiar, rodeado de grama baixa, árvores gigantescas com redomas de galhos e folhas que chiavam baixo com o vento da madrugada que se perpetuava nas horas seguintes, pôde encontrar o significado de casa.

(Coloquem A.M da 1D pra tocar para a experiência completa!)

- Won't you stay 'til the A.M.? - os acordes simplesmente surgiam, seus dedos trabalhando concomitantemente com sua mente, ora ou outra deixando uma nota escapar até pegar o compasso da melodia. - All my favourite conversations, always made in the A.M, yeah, yeah... - reclinando contra as coxas de Harry, ergueu os olhos para encontrar os verdes, nunca sentindo tanta veracidade em suas palavras quanto naquele momento. - Feels like this could be forever tonight, break these clocks, forget about time. There could be a World War 3 going on outside...

Harry sorria, hipnotizado, e não havia nada capaz de destoá-lo da imagem de Louis tocando violão e cantando cruamente uma letra composta ao vivo sob a luz das estrelas em uma típica madrugada fria de Londres.

- You and me were raised in the same part of town, got these scars on the same ground... - com um olhar que encobria a profundidade daquela letra, Louis assentiu para o ar. - Remember how we used to kick around just wasting time? - não contendo um riso, Harry o fitou com admiração ao que sua voz aumentava de intensidade e os acordes se tornavam mais nítidos após pegar o ritmo correto da melodia. - Won't you stay 'til the A.M.? All my favourite conversations, always made in the A.M cause we don't know what we're saying... We're just swimming 'round in our glasses and talking out of our asses, like we're all gonna make it, yeah, yeah...

Com o sorriso mais genuíno que jamais teve na vida, Louis mergulhou na imensidão verde dos olhos de Harry e suspirou.

- Feels like this could be forever right now, don't wanna sleep 'cause we're dreaming out loud, trying to behave but you know that we never learned how... - arrancando um sorriso ladino de Harry, Louis riu entre as palavras, tomado por lembranças e sensações. - You and me were raised in the same part of town, got these scars on the same ground... Remember how we used to kick around just wasting time?

E quando pensou que seu coração não podia aguentar mais daquele momento que marcaria sua vida, Louis ouviu a voz de Harry ecoando junto com a sua, eventualmente errando alguma letra que falhou em memorizar nas poucas vezes que a ouviu.

Mas nada soaria tão perfeito quanto aquilo.

- Won't you stay 'til the A.M.? All my favourite conversations, always made in the A.M, cause we don't know what we're saying... We're just swimming 'round in our glasses and talking out of our asses, like we're all gonna make it, yeah, yeah...

Erguendo o torso em um impulso único, Harry se aproximou apenas o bastante para que pudesse fitar Louis diretamente nos olhos, os braços para trás segurando-os estáveis contra a grama. E alí, tão vívidos quanto as folhas que os rodeavam, os olhos verdes entraram em uma conversa nada silenciosa com os azuis, que fez tudo fazer sentido.

- You know, I'm always coming back to this place... You know... and I'll say, you know, I'm always gonna look for your face... - como os acordes quase memorizados no violão, Louis se concentrou em apenas absorver o que era Harry Styles naquele momento, inclinado na grama enquanto o apoiava para compor uma das músicas que mais mexiam com seu coração. - You know.... - quase cessando os acordes no violão, deixou que a voz de Harry sobressaísse sozinha quaisquer outros sons no campus. - Won't you stay 'til the A.M.? All my favourite conversations, always made in the A.M, cause we don't know what we're saying... - tentando cantar sobre o sorriso, se juntou à Harry, olhares e corações conectados. - We're just swimming 'round in our glasses and talking out of our asses, like we're all gonna make it, yeah, yeah... Won't you stay 'til the A.M.?

- You know, I'm always coming back to this place...

- Won't you stay 'til the A.M.?

- You know... and I'll say...

- Won't you stay 'til the A.M.?

- You know, I'm always gonna look for your face...

- Won't you stay 'til the A.M.? - ecoando juntos, Louis errou o acorde quando Harry colou suas testas, e sem se importar com melodias, letras ou qualquer outra coisa que não fosse os lábios que clamavam pelos seus, só se lembrou de jogar o violão para o lado e ceder à melhor decisão de sua vida.

AIMEUDEUS

Estou muito ansiosa pra próxima parte, ela é eiodfcuijkd

Prometo, as 23h tem outra att, e mds...

Espero que tenham gostado até agora e vejo vocês daqui a pouco.

PS.: Tem mais pistas no próximo cap.

PS.2: O plug...

É isso.

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