Capítulo 26
Desço até à sala de jantar, onde Lisa preparou o pequeno almoço antes de ir visitar e passar o Natal com a sua família.
Harry está sentado à mesa sem expressão no rosto o que me leva a concluir que ainda está chateado comigo. Ele não me fala desde ontem e isso está a matar-me. Quando, finalmente, conseguimos dar um passo em frente, acabámos a recuar dois. Nunca pensei que aquele assunto fosse tão perturbador para ele, sei que é complicado perder a nossa família, eu própria só tenho a Emmaline mas nunca iria tratar mal alguém por tocar nesse assunto.
Sento-me no meu lugar para comer algo, ainda é cedo e Emmaline ainda está a dormir. Harry limpa a sua boca no guardanapo e levanta-se.
- Harry, por favor... - Eu pedincho observando-o, e o seu corpo pára ao ouvir a minha voz. - Eu não queria magoar-te, só faço perguntas porque te quero conhecer melhor, porque te quero ajudar.
- Eu não preciso de ajuda. - Ele afirma baixo mas frio.
- Tu mereces alguém que se preocupe contigo, que te abrace e te sussurre que vai ficar tudo bem. - Eu tento explicar sem que a minha voz pareça muito fraca. O estado de Harry é quase vulnerável, mas ele segura e aguenta-se.
- Durante 20 anos, eu não tive isso, não irei precisar agora. - Murmura e ausenta-se da sala de jantar, deixando-me uma vez mais perplexa e sem saber o que pensar.
Tenho que esquecer o trabalho que dá tentar entender a mente confusa de Harry e nada melhor que preparar a ceia de Natal, para me alegrar um pouco e me distrair.
Subo até ao quarto de Emmaline, e ela ainda dorme sossegada. Beijo a sua testa.
- Querida, acorda. - Arrasto os seus cabelos da frente da cara, vendo-a abrir os olhos lentamente.
- Mamã! - Ela murmura sonolenta e beija a minha bochecha após se sentar na cama.
- Vamos fazer doces? - Pergunto sorrindo.
- De Natal? - Questiona empolgada, e eu rio-me.
- Sim!
A minha filha salta da cama para calçar as suas pantufas e vestir o robe, de seguida segura a sua cintura com as mãos.
- Vamos lá! - Ela manda, e eu rio-me pegando nela ao colo e indo para a cozinha.
...
Já são 7 horas da tarde, nós temos todos os doces de Natal feitos, e o Peru está a assar. Harry não apareceu durante o dia todo e nem sequer almoçou connosco. Acho que chegou à pouco porque ouvi a porta principal a bater. Emmaline já perguntou se ele está chateado, no entanto apenas encolhi os ombros.
- Vou chamar o Harry para me ajudar a pôr a mesa. - Ela anuncia e sai disparada da cozinha, não me deixando impedi-la de o fazer.
Corro atrás dela mas paro à porta do escritório de Harry.
- Emma. - Ele murmura sorridente e abre os braços para ela o abraçar. Ele senta-a no seu colo, beijando posteriormente a sua cabeça. - Ainda de pijama?
- Estive a cozinhar. - Harry ri-se da sua expressão orgulhosa. - Vem ajudar-me a pôr a mesa. - Ela pede carinhosamente e brinca com as tatuagens que Harry tem no seu pulso. Automaticamente imagens do nosso banho invadem o meu pensamento.
Preciso de arranjar alguma maneira de recuperar a pouca relação que tinha com o Harry. Eu acho que as coisas estavam a ir num bom caminho, mas despedaçou-se tudo em meros segundos.
Harry pega na minha pequena e desloca-se para a porta do escritório, corro até à cozinha para que não suspeitem que eu estive a vê-los.
Ele entra na cozinha sem proferir uma única palavra e vai de encontro ao armário onde tem os pratos e os copos. Emmaline pega em guardanapos natalícios e numa toalha, para depois ir para sala de jantar.
Bufo de frustração enquanto acabo o jantar. Será que ele está assim tão chateado comigo? Eu não fiz nada de mal, apenas tenho uma boca que não se cala e uma curiosidade acima do normal, o que não combina nada com a personalidade do Sr. Bipolar.
Passo pela sala de jantar e viro-me para Harry com esperança que ele não me ignore.
- Podes tomar conta do que está no forno enquanto vou tomar um banho e vestir-me?
- Sim. - Ele responde frio e sinto o meu coração apertar de tristeza. Ele é tão complicado.
- Vou contigo. - Emmaline informa correndo até mim.
...
Depois tomar um banho rápido com Emmaline, pois não confio o fogão ao Harry por muito tempo, arrasto o meu corpo até ao guarda-roupa. Tiro da saca, o vestido que é marcado na cinta de cor bordo, que comprei quando fui ontem ao shopping e visto também umas collants pretas, completando por fim com uns saltos altos. Arranjo o meu cabelo e faço uma maquilhagem simples.
Emmaline já desceu para a cozinha, e eu sigo-a devagar, respirando fundo uma e outra vez. Este vai ser um longo Natal. Chego lá e apenas Harry está encostado ao balcão, com uma camisa preta a tapar o seu tronco e umas calças de ganga pretas. Suspiro e desloco-me até à sua beira.
- Harry... - Eu murmuro e agarro o seu peito, com as mãos abertas. O seu corpo enrigesse contra mim. - Relaxa. - Eu peço baixo e encosto a minha cabeça nas suas costas.
- Rose! - Ele suspira o meu nome, e ouço o barulho do garfo, que ele tinha na mão, a cair sobre o lavatório. A sua mão direita vai até à minha, entrelaçando os nossos dedos. Sorrio contra a sua camisa. - Sei que estás a sorrir que nem uma parva. - Ele ri-se de mim.
- Desculpa. - Eu murmuro,, e ele vira o seu corpo para mim. A minha cabeça mantém-se baixa, e Harry eleva-a com as pontas dos dedos.
- Feliz Natal, Rose. - Ele beija a minha testa fazendo a minhas bochechas enrubescer.
- Feliz Natal. - Eu retribuo e beijo a sua bochecha, deixando uma marca do meu batom vermelho escuro.
- Se ficou marca, não levas prenda de Natal. - Ele ri-se, e eu junto-me a ele, tentando tirar a marca da sua macia bochecha, agora com uma covinha bem desenhada.
- Tens uma prenda de Natal para mim? O que é? - Eu pergunto entusiasmada.
- Só a meia noite, Rose. - Ele ri e ajuda-me a levar a comida para mesa.
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