J Ú L I A M O R A I S
Confiro o endereço do prédio.
— Tem certeza que é aqui? – Minha irmã pergunta.
— Sim.
Caminho para a portaria e pergunto sobre a moradora do apartamento 23, ele interfona e nos libera.
Fiz 21 anos essa semana e como havia dito para meus pais, iria sair de Minas para morar em SP, creio eu que as oportunidades são maiores e de quebra trouxe Taila, minha irmã mais nova.
Bato na porta do apartamento, descanso meu ombro pelo peso das malas.
A porta se abre, uma mulher negra sorri para nós.
— Olá. – Digo.
— Oi. – Seu sotaque paulista é forte. – Podem entrar.
Pegamos nossas malas e adentramos o apartamento.
— Eu preciso fazer xixi. – Taila diz.
— Segui reto. – A mulher aponta para onde é o banheiro e depois se vira para mim. – Me chamo Bruna e você deve ser a Julia né? – Ela sorri simpática.
Assinto.
— Bem-vinda.
— Obrigada.
— Vocês vão dividir o quarto, tem problema?
— Não. – Nego. – Sempre dividimos.
— Você é de Minas?
— Sim.
— Já esteve em vezes
— Algumas vezes.
— Já sabe o que vai fazer? Sua irmã tem quantos anos?
— Primeiro de tudo procurar um emprego. – Falo e ela assente. – Taila tem 17 anos.
— E tu?
— 21.
— Desculpe pelas perguntas, mas é necessário.
— Está tudo bem, guardei um dinheiro e posso pagar o aluguel.
— Não estou querendo ser chata não, agora somos 5. – Ela levanta os ombros.
Bruna disse onde era o quarto e ajudou com as malas.
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Taila estava dormindo pesado enquanto eu ajeitava nossas coisas nas gavetas.
— Júlia? – Bruna abre a porta. – Compramos pizza, as meninas querem te conhecer.
— Ok, eu já vou.
Não iria acordar Taila, pois seria inútil do jeito que a mesma está apenas amanhã ela levanta.
Chego na sala vendo duas mulheres sentadas no sofá,
— Oi. – Falo tímida.
As três se viraram pra mim.
— Gente, essa é a Júlia. – Bruna me apresenta. – Essa aqui é a Rafaela. – Ela aponta para uma mulher cabelos cacheados. – E essa aqui é a Carla. – Ela aponta para uma mulher de cabelos pretos com franja.
— Vem comer. – Bruna me chama com a mão.
— A gente não morde não. – Rafaela sorri.
Caminho para o sofá.
— Bruna já deu uma resumida sobre você. – Carla diz. – Eu tenho 22 anos e a Rafa 25, a mais velha da casa.
— Teu cu, a mais velha é a Bruna, 26 filha.
— Cadê sua irmã? – Bruna perguntou ignorando a discussão das duas.
— Taila tem sono pesado, levanta só amanhã.
A porta é aberta, dois caras entram.
— Eai suas putas. – Um deles grita.
— Esse é o Thomas, liga pra ele não. – Bruna fala.
Ele olha pra mim.
— Você é a Júlia?
— Deixa eu adivinhar, Bruna? – Questiono.
Ela sorri e bebe seu refrigerante.
— Ela falou de você pra geral, disse que tinha chegado uma mina gata. – Thomas senta no braço do sofá. – Agora eu sei que é verdade.
— Para de flertar com a menina seu verme. – Carla revira os olhos.
— Eu sou o primeiro. – Ele pontua. – Vem mais por aí.
— Meu único interesse é arranjar um emprego.
— A gente te ajuda, está com a gente, está com Deus.
O outro cara bufa.
— Não cai nesse papo não, a mãe dele caiu e está cuidando dele até hoje.
Dou risada.
- Prazer, Matheus.
Começamos a jogar conversa fora, apesar das cantadas de ambos durante a conversa eles parecem ser legais, ficamos batendo papo até 00:00, Bruna mandou os meninos embora e todas fomos para cama.
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Tinha levantado cedo, fui numa escola indicada pelas meninas e matriculei a Taila, conversei com minha mãe e disse estar tudo bem, entreguei currículos em algumas lojas e creches onde tenho mais experiência.
Estou numa lanchonete esperando meu lanche, meu pé já está latejando por conta de ter andado tanto.
Meu lanche chega, eu sorrio para a moça e agradeço, meu celular vibra na mesinha e pegou vendo que Bruna me colocou num grupo.
‘’OS FODIDOS’’
Dou risada por conta do nome.
‘’Bem-vinda garota fodida’’ – Ela manda.
‘’Obrigado.’’ – Respondo.
Mando mensagem para a Taila perguntando se ela queria um lanche, recebo um monte de figurinha de coração de volta.
O grupo começa a ter mensagens novamente.
‘’Ainda não te conheço, rolê na casa da Bruna pra conhecer a Júlia.’’ – Alguém manda agitando todo o grupo.
‘’Bora, só um aquecimento para ir pra tabacaria’’. – Matheus manda um monte de figurinha.
‘’Para com isso seu idiota’’. – Carla responde. – ‘’Se forem mesmo pode levar comida’’.
‘’Porra Julia boa sorte pra conhecer esse povo’’. – Thomas manda.
Mandei uma figurinha e bloqueei o celular.
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— Você costumava sair muito? – Rafaela pergunta.
— Não, ficava mais em casa.
— Vamos te tirar de casa todos os finais de semana.
— Posso até sair, mas ainda tenho a Taila.
— Ela vai fazer novas amizades, daqui a pouco ela te deixa sozinha.
Dou risada.
— Eu não duvido.
— Entrego currículos hoje?
Assinto.
— Não quero criar esperanças. – Falo.
— Boa noite lindas.
Bruna e Carla entram.
— Estão sabendo que vão bagunçar nossa casa hoje?
— Achei que estavam brincando.
— Nosso bonde não é assim. – Bruna joga sua mochila no chão. – Tudo um bando de putos que não respeitam uma quinta-feira.
— Acho bom eles trazerem comida. – Carla diz. – Senão mordo todo mundo.
Dou risada.
As meninas foram tomar banho, Rafaela decidiu fazer uma lasanha, estávamos na cozinha conversando.
— Me chama de Rafa, fica mais fácil. – Ela diz. – Cerveja?
— Aceito.
Ela abre o freezer e pega duas latinhas, ela abre ambas e me dá uma.
— Cheguei brilhando no sol que lutei. – Uma voz feminina diz da sala.
Uma garota de tranças aparece na cozinha.
— Oi coisa feia. – Ela abraça a Rafaela. – E você. – Ela sorri pra mim. – A famosa Júlia.
— Oi.
— Sabrina. – Ela se apresentou e encostou suas costas na bancada. – Cadê a Bru?
Rafaela dá um sorriso malicioso para ela.
— Xonou real né, a mina mal entrou no banho.
Sabrina revira os olhos.
— Não posso perguntar mais?
— Vocês estão namorando? – Pergunto.
— Não, a Bruna não é desse tipo. – Ela desdenha. – Ela, não eu.
— Entendi.
Carla entra na cozinha.
— Oi querida. – Ela abraça Sabrina. – Bruna já vem pra te dar uns beijos.
Sabrina revira os olhos novamente.
— Hm lasanha, eu gosto. – Carla vai para perto da Rafaela.
— Sai daqui urubu. – Rafaela empurra ela.
— Suas putas. – Ouvimos o grito do Thomas. – Chegamos com bebidas. – Ele deixa uma sacola na bancada. – Como está minha deusa Júlia?
— Estou bem.
Rafaela colocou a lasanha no forno e mandou todos para sala, Taila saiu do quarto sentando ao meu lado no sofá.
— Oh bora sair amanhã pó. – Matheus fala.
— Eu topo. – Bruna diz.
— Tenho a Taila. – Respondo. – Seria mancada deixar ela aqui sozinha.
— Eu não me importo. – Ela levanta os ombros.
— Ai pô a mina nem liga, bora. – Thomas fala.
— Oi seus cuzão. – Um homem moreno entra pela porta. – Cheguei atrasado pra dar mistério se vinha ou não. – Ele beija a testa da Rafa.
— Garotas, esse é o cuzão do meu namorado, Renan. – Ela beija seu rosto. – Júlia e Taila.
Sorriu tímida e Taila apenas acena.
— Os meninos tão subindo, o Caíque encontrou o Gael com a Ana.
— Ah não porra. – Bruna resmunga deixando sua cerveja de lado. – Não vou deixar essa mina subir aqui.
— Por isso mesmo que o Caique tá lá embaixo conversando com eles.
— E tu veio aqui conversar com a gente? – Bruna cruza os braços. – Não quero essa cuzuda aqui não.
Eu e Taila nos entreolhamos boiando.
— Deixa a mina pó, ela namora o Gael vai fazer o que. - Renan levanta os ombros. – Ele é nosso parça.
— Deixa ela, a gente apenas ignora. – Carla fala revirando os olhos.
— Quero ser intrometida não, mas quem é essa? – Taila pergunta.
Arregalo os olhos.
— Menina. – Bato de leve no braço dela.
— Relaxa. – Matheus ri. – Uma cuzona aí que a gente não curte.
Logo após ele falar isso um homem e um casal entram pela porta, Bruna revira os olhos.
— Oie. – A mulher baixa diz.
— Oi. – Todos dizem em total desânimo.
Ela parece não se importar.
— Você deve ser a Júlia, né? Caique. – Ele estende sua mão.
Aperto.
— Eu sou a Ana. – Ela sorri. – Esse é meu namorado Gael.
— Oi. – Digo para os dois.
— Eu sou a Taila caso vocês não tenham notado. – Ela fala deixando os três sem graça.
Bruna gargalha alto.
— Quero andar com você no recreio.
Taila levanta os ombros.
Todos começaram a jogar conversa fora e marcarem mil roles.
O tal casal estava mais afastado de todos e Bruna parecia se incomodar com isso.
— Tá vendo porra. – Ela resmunga pra Rafaela. – Toda vez que ele trás essa porra dessa garota ele se exclui da gente.
— Amiga, ele namora ela pó, deixa ele caralho. – Carla diz sem paciência.
— Ela é tóxica, fingida do caralho. – Bruna xinga com raiva.
— O que essa Ana tem de tão ruim? – Pergunto pro Thomas.
Ele bebe sua cerveja.
- Tudo.