Escritor Solidário

By ArissonTavares

304 9 0

Projeto criado pelo escritor e jornalista Arisson Tavares com o objetivo de promover a literatura e a solidar... More

Introdução
Alex Almeida
Luci Afonso
Elvis Magalhães
Marina Oliveira
Raphael Miguel
Thaís Vilarinho
Davi Medeiros
Giovanna Vaccaro
Jéssica Paula
Alcimare Dalbone
Maurício Gomyde
Cinthia Kriemler
Marcos Linhares
Tércio Ribas Torres
Tammy Luciano
Verônica Vincenza
Felipe Teixeira Ribeiro

Isabel Travancas

14 1 0
By ArissonTavares

JORNALISTA COMO PERSONAGEM DE CINEMA

A indústria cultural e particularmente o cinema são um campo privilegiado de produçõessimbólicas e mitos modernos. A chamada "Sétima Arte" tem lugar de destaque na modernidade.O século XX e o cinema nasceram quase juntos e, sem dúvida, o segundo registrou e expressoucom cores, som e imagem muito do que se viveu e pensou nestes cem anos. O cinema com seuenorme poder de penetração nos mais diversos grupos sociais ajudou a construir mitos, a divulgarsaberes novos, como a psicanálise e a popularizar atividades e profissionais, como foi o caso daimprensa e dos jornalistas. A linguagem cinematográfica transmitiu o impacto dastransformações sofridas neste século. O clássico Tempos Modernos de Charles Chaplinapresenta com ironia os novos tempos, mais rápidos, mais urbanos, mais tecnológicos. 

E o jornalista foi e continua sendo protagonista e tema de diversas películas ao longo dahistória do cinema. É possível afirmar que o cinema colaborou com a construção de uma imagem, ou melhor, de algumas imagens do jornalista; representações que certamente influenciaram naescolha profissional de futuros repórteres. Quantas carreiras jornalísticas não devem ter nascidono "escurinho" de uma sala de cinema? Mas qual jornalista o cinema privilegiou em suasproduções? Herói e bandido estiveram presentes em diferentes filmes e períodos. O vilão érepresentado pelo profissional que não mede esforços para conseguir seus objetivos e dar um"furo" de reportagem. Sem caráter e trafegando pelo submundos do crime, ele não hesita emcolocar sua carreira na frente de tudo e todos. O herói identifica-se com os valores do mundopúblico e defende a verdade, a democracia, o bem comum. Nesse sentido pode-se dizer que ojornalista surge como o herói urbano do século XX. Não é à toa que Clark Kent, o Superhomem- é jornalista. E o herói do nosso tempo também é criado pelo cinema. Entendo aqui herói nostermos que Helal(1998:138) utiliza para discutir este papel na atualidade. Herói como "quemconseguiu, lutando, ultrapassar os limites possíveis das condições históricas e pessoias de umaforma extraordinária, contendo esta façanha uma necessária dose de 'redenção'e 'glória'de umpovo. Mas, para que sua trajetória heróica alcance este status, é necessário que as pessoasacreditem na verdade que as façanhas do herói afirmam." Todos os grupos sociais de algumaforma fabricam seus heróis. Em nossas sociedades modernas a indústria cultural é um lugar dedestaque nesta "fabricação". 

O jornalista é antes de tudo um habitante da cidade. O mundo urbano tem características eparticularidades que combinam e se misturam no jornalismo. Quando Simmel(1979) cita comocaracterísticas dos indivíduos da cidade superficialidade, anonimato, relações transitórias,sofisticação e racionalidade, é difícil não associá-las ao jornalista. Não que elas sejam exclusivasdesta carreira, mas nela se expressam com intensidade. E por isso é possível estabelecer umarelação tão íntima entre este profissional e a cidade como é mostrado nos filmes escolhidos. Acidade, mais intensamente a metrópole, como afirma Simmel, determina um novo modo de vida,novas relações sociais e ampliação das ocupações resultantes do desenvolvimento técnicoassociado ao transporte e à comunicação. Esta se modifica intensamente. Não há apenas novos ediferentes meios de comunicação, mas um processo que ocorre também, agora, a partir de meiosindiretos. Com o telefone, o jornal, a televisão e mais recentemente a internet o contato pessoalficou mais restrito. 

A vida urbana não se define apenas pela grande concentração populacional e variedade deatividades econômicas, mas pela complexidade e liberdade de circulação que possibilita assim como pela intensidade com que o tempo é vivido. A base da imprensa moderna é a notícia,produto comercializado no jornal-empresa e elaborado por profissional assalariado. E se a notíciapossui inúmeras definições diferentes, ela está sempre associada ao tempo e à questão do novo,da novidade. E é o tempo que transforma o novo em velho. Atrás e contra este tempo que passamais rápido na cidade, corre o jornalista. 

O relógio, como salienta Simmel, é um dos símbolos da ordem social no mundo urbano.Em inúmeros filmes sobre jornais e jornalistas ele é focalizado, seja o grande mostrador daredação ou o do pulso do repórter. Não há jornalista sem estreita relação com o tempo. Relaçãoesta que, como destaquei em minha dissertação(1983), influi na adesão deste profissional com oseu trabalho, dividindo sua vida em tempo do trabalho e do não-trabalho e gerando uma visão demundo e um estilo de vida particulares. 

E se a cidade é o espaço da diversidade, do cruzamento de mundos e "tribos" diferentes, ojornalista vivencia com mais intensidade este fato em seu cotidiano. Transitar por distintasesferas da metrópole, desvendando territórios heterogêneos e construindo um mapa, para muitoshabitantes desconhecido, é uma das funções do repórter - figura paradigmática do jornalismo –que, com as suas tarefas de apuração dos fatos e redação da notícia, se torna uma espécie decidadão do mundo. O jornalista atravessa fronteiras e tem acesso livre à quase todos os lugares.Dos meios oficiais aos marginais e perigosos. Essa convivência e proximidade com inúmerossegmentos da sociedade num alto grau de heterogeneidade gera no repórter um certo "ar blasé"diante da vida do qual fala Simmel ao descrever o indivíduo da cidade. Recebendo uma grandequantidade de estímulos, entrando em contato com diferentes realidades e diferentes pessoas acada dia, o jornalista precisa se proteger desse excesso de estímulos produzidos pela metrópole epela sua experiência profissional. Não é à toa que o ele é confundido pelo público com a notíciaele cobre e as regiões que freqüenta. Ao ser responsável pela cobertura de polícia, um repórterprecisará estabelecer relações com os habitantes deste mundo e terá seu nome fatalmenteassociado ao crime e à violência. Da mesma maneira o jornalista que trabalha na chamada"imprensa marron", tipo específico de jornalismo baseado no sensacionalismo, que age sem éticae se utiliza de chantagem e corrupção para atingir seus fins, possui uma determinada imagemjunto ao leitor. O filme A Montanha dos Sete Abutres ilustra bem este tipo de jornalista,inescrupuloso, cujo objetivo principal é sair do anonimato.  

E se o mundo urbano é o local privilegiado do anonimato em oposição ao campo ou àcidade pequena, para o jornalista esta vivência se torna marcante para a obtenção de sucesso estatus. O jornalista está atrás de um "furo" que nada mais é do que a possibilidade dediferenciação dentro da profissão, de individualização, de conquista de notoriedade e, portanto,de escape do anonimato, o que significará ter seu nome impresso na primeira página do jornal eser reconhecido pelos colegas e pela sociedade. Esta situação está presente nos três filmesselecionados. Para muitos jornalistas a carreira possibilitará uma ascensão social e obtenção deprestígio. 

Em muitos casos a noção de prestígio está associada à idéia de que o jornalista é o homempúblico nos termos de Sennett(1988). Aquele que está preocupado com o funcionamento dasociedade e com o bem comum, em oposição ao indíviduo moderno centrado em suas relaçõespessoais e intimidade. Neste aspecto o filme Todos os homens do presidente é exemplar parailustrar esta idéia do jornalista como cidadão atuante e transformador da realidade. Os doisrepórteres – Carl Bernstein e Bob Woodward – se colocaram não apenas à serviço doWashington Post, mas da sociedade e em última instância da democracia norte-americana. Elesse tornaram heróis. O filme salienta o empenho e a dedicação dos jornalistas em obter asinformações e levar a apuração até o fim. Naturalmente com o apoio da direção do jornal. Nãoquero afirmar que os dois foram ou são heróis, mas chamar a atenção para as representaçõesmais freqüentes dos jornalistas no cinema, que oscilam entre o herói e o bandido. De um lado ojornalista é o responsável por todo o bem, de outro por todo o mal. Quero destacar a imagemambígua e contraditória deste profissional. Ele fascina e atrai, mas também é repudiado edesprezado por ser ameaçador, como demonstram algumas produções cinematográficas.


*Trecho do artigo publicado na INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação / XXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Campo Grande – MS. O texto completo você pode conferir pelo link: http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/126095204111040878962932586357600200383.pdf


Continue Reading

You'll Also Like

101K 3.7K 66
Ísis e uma garota que mora em Paris com seu pai, seu pai e um velho muito rico mas não está nem aí para seus filhos Ísis irá se formar em medicina ve...
49K 2.8K 47
Fiquem com a segunda temporada dessa história Depois que Coringa e Duda foram embora, Arthur vulgo Perigo, assumiu o morro e mora com sua irmã Maytê...
108K 11.1K 46
Foi no dia 31 de agosto de 2003 onde ela morreu em um acidente de avião por irresponsabilidade de uma divindade sem responsabilidades
20.5K 897 85
MEDO faz a gente se sentir deslocada fragilizada exposta a tantas coisas que ficamos com medo de tomar decisões certas e sábias não para parar de ter...