Pinturas.
Mesmo tendo dormido tarde, acordei razoavelmente cedo. Levantei preguiçosamente e segui até o banheiro de meu quarto. Tomei uma ducha gelada, e ao sair, vesti uma regata branca, um macaquinho jeans curto, um vans azul e deixo meu cabelo solto mesmo. Tenho que ir hoje dar um jeito na pintura do meu quarto da minha futura casa. Mas aí vem o problema: não sei onde está a chave. Ainda tá cedo, Louis saiu pro trabalho, mas tenho certeza que ainda não entrou, então resolvo mandar uma mensagem.
SMS: Onde tá a chave da casa, Lou?
Meio minuto depois ele responde.
SMS: Lola não foi pro trabalho hoje, ela tá no meu quarto, provavelmente dormindo, entra e pega, a chave tá no criado mudo.
Ps: Ainda não me acostumei com essa de você se mudar.
Reviro os olhos com sua observação. Saí de meu quarto e fui até o dele, onde Lola dormia. Peguei a chave da casa e coloco em meu bolso. Mas não resisti e pulei em cima de Lola.
— Ai garota! - Reclama ela, dando um tapinha em meu braço.
— Bom dia, Lolita! - Dei um beijinho em sua bochecha.
— Lolita? Francamente! O que deu em você pra pular assim em mim? Tem quantos anos? 16? - Ela senta e me sento também, rindo de seu mau humor matinal.
— E você, dormindo no quarto do meu irmão? O que fizeram? - Brinquei e bordei um sorriso malicioso, ela dá um soco em meu braço, mas está ruborizada. — Ai, sabe nem brincar - Passo a mão em meu braço, resmungando.
— Fala a garota que beija o chefe gostosão.
— Paola! - Lhe atiro um travesseiro, semicerrando os olhos em sua direção.
— Mas, o que tá fazendo aqui? - Disse ela, pondo o travesseiro em seu colo.
— Vim pegar a chave da minha casa, vou pintar meu quarto. - Levantei da cama.
— Está bem.
—Vou indo, mas volto pra preparar o almoço, não quero que você venha a incendiar minha cozinha.
— Engraçadinha. - Ela resmunga e se deita de novo, joguei-lhe um beijo e saio do quarto.
Procurei pela chave do carro mas não a encontrei em lugar algum. Bufei, irritada, e saí a pé mesmo, nem é longe. O dia está muito bonito, ensolarado... Mas a tarde tenho que ir trabalhar. Normalmente na Payne's se trabalha no sábado pela manhã e tem a tarde de folga, mas como o desfile foi ontem, decidiram folgar pela manhã e trabalhar à tarde.
Logo cheguei em frente à casa e caminhei até a porta, destrancando-a. Ela já está quase toda organizada. A mobília clara completamente impecável já está na sala e na cozinha.
Na sala os sofás, a mesinha de centro e a estante com a TV e alguns aparelhos eletrônicos; na sala de jantar, a mesa de mármore com seis cadeiras e um lustre pende no alto; na cozinha, o fogão, a geladeira, o armário e a bancada; aí vem o quintal, com grama, uma bela árvore e uma parede com vasos de flores lindas, como se fosse um jardim suspenso; aí vem o andar de cima, com meu quarto que possui um banheiro, um quarto de hóspedes e um banheiro no corredor.
Caminhei para o quintal e abri a porta da dispensa, peguei os baldes de tinta, os pincéis e vou ao meu quarto. Cubro a cama, o guarda roupa e a estante de livros com lençóis velhos que guardei e papelão. Fiz coque em meu cabelo e então comecei.
[...]
Decidi pintar de rosa e branco e as cores combinaram perfeitamente. Já consegui pintar três das quatro paredes e bem, estou coberta de pinguinhos de tinta! Há tinta em minhas pernas e braços, em minha roupa e por pouco não caía no meu cabelo, que normalmente me dá um pouco de trabalho, imagine com tinta! Ouvi a campainha tocar e resmunguei baixinho, apoiando o pincel em cima do papelão.
— Quem será? Se for algum dos meninos irei pedir pra me dar uma ajudinha, esse trabalhode pintora é meio árduo.
Murmurei baixinho e limpei as mãos na parte traseira de meu macacão, descendo as escadas até a sala. Abri a porta e quase pulei pra trás ao dar de cara com Liam. O que ele está fazendo aqui? Isto é, como ele sabe dessa casa? Estou suja de tinta na frente de meu chefe e não sei nem como me comportar por conta do que fizemos depois do desfile. Engoli em seco e bordei um sorrisinho de canto, franzindo as sobrancelhas.
— Senhor Payne, o que faz aqui? - Pergunto confusa e tentando esconder o tom um tanto envergonhado.
— Você esqueceu isso no carro ontem. - Ele me entrega minha bolsa e comprimi os lábios. Estava tão nervosa que a esqueci. Acho que se meu celular não estivesse em minha mão na noite passada eu também o teria esquecido no carro. — Passei em sua casa e uma moça atendeu a porta, perguntei por você e ela disse que estava aqui. - Seu olhar analisou os meus trajes e o mesmo franziu o cenho.
— É que estou pintando meu quarto. - Falei, dando levemente de ombros.
— Ah sim, aceita ajuda? - Ele oferece, sorrindo de canto.
— Que? Não! Quer dizer, não precisa se incomodar.
— Não é incômodo algum, não farei nada agora pela manhã.
— Mas não precisa, é sério.
— É mais uma forma de agradecê-la e me desculpar, senhorita. Por não ter me dado um belo de um tapa na cara que seria merecido.
— Está tudo bem, não precisa pintar uma parede como agradecimento e pedido de desculpas, senhor Payne, vai se sujar.
— Mas deixe-me ajudá-la, por favor. - Em seu rosto havia um sorrisinho, junto a seu olhar... É, complicado negar assim.
— Ugh, está bem. Sendo assim, entre.
Dei alguns passos para trás, cedendo a passagem e ele entra. Caminhei à sua frente e o guio até o meu quarto. Ele pegou um dos pincéis que estava no papelão e começa com a pintura e fiz o mesmo, pegando o pincel que estava usando antes de ele chegar.
— O que você fazia antes de trabalhar na empresa? Antes de seu estágio e coisa e tal. - Ele pergunta enquanto pinta.
— Bem, eu moro aqui na cidade desde criancinha. Enquanto cursava o ensino médio e a faculdade, eu trabalhava em uma lojinha de variedades perto de casa. Eu e minhas três amigas, meus quatro amigos faziam bicos em uma lanchonete. Hoje em dia moramos todos juntos, com exceção de Charlie que divide apartamento com um primo. - Suspirei, bordando um sorrisinho e esfreguei o dorso de minha mão em minha testa. — Quando terminei a faculdade eu já tinha 23, trabalhei um ano fazendo estágio na Carter's e estudei em um cursinho umas coisas básicas sobre administração e contabilidade. E estou tentando ingressar em aulas de alemão e russo. Eu sei, muito nerd.
— Eu particularmente acho incrível. - Senti minhas bochechas corarem um pouco e umedeci o meu lábio inferior.
— Muito obrigada. Mas e você? O que fazia antes de estar à frente da Payne's? Já li muito sobre seu trabalho nas revistas, você era um jovem de 25 anos quando seu pai lhe colocou para redigir a empresa e está muito bem escalado em rankings de homens bem sucedidos antes dos 50.
— Sério que eu não pareço ter 50 anos? - Ele disse em um tom brincalhão e eu ri.
— Bem... Deste ângulo dá pra perceber uns fiozinhos brancos, mas não se preocupe, uma boa tinta pode lhe fazer parecer mais jovem. - Brinquei, sacudindo minha mão no ar, o fazendo rir. O que estranhamente gostei.
— Estudava administração e comecei na Payne's com 18 anos. Não diretamente como o chefão, sabe. Meus pais queriam que eu aprendesse a lidar com todos os setores da empresa e a importância dos cargos. Eles são muito cautelosos nos criando para sermos pessoas corretas. A caçula, 5 anos mais nova que Lauren, é extremamente educada.
— Então seus pais devem sentir muito orgulho de vocês quatro.
— É muito importante para nós os fazerem se sentir bem e que são ótimos pais. - Um sorriso delineou seus lábios e ele voltou o olhar para mim. — Então a senhorita lê revistas sobre o seu patrão?
— Boa parte do país lê revistas sobre o senhor. - Rebati, o olhando e ergui minha sobrancelha.
— Então, por que decidiu dividir casa com mais seis amigos?
— Eu morava com meus pais e nossos tios moravam com a gente, então a casa era normalmente cheia. Nós nos conhecemos desde bem jovens, como falei, e começamos a morar juntos quando entramos na faculdade.
— E agora você está com sua própria casa.
— Com o dinheiro do trabalho e a ajuda de meus pais e meus tios.
— Eles parecem ser ótimos.
— E são! - Exclamei, um tanto eufórica. Abaixei o pincel no mesmo momento que ele na lata de tinta e ri baixinho, afastando o meu para que ele pudesse mergulhar o seu pincel e logo fiz isso com o meu. — Os seus também.
— Eles são incríveis. O problema de meus pais é o fato de eles quererem fazer com que eu me case com a filha com um de seus amigos, a Lindsay, que você conheceu no dia da coletiva. Nós dois não temos nada, Lindsay e eu, mas meus pais querem que tenhamos algo. - Ele revira os olhos. — Ai, desculpe estar falando sobre esse assunto com você, mas é que a conversa está fluindo naturalmente.
— Você não precisa se desculpar por isso, também estou falando fatos de minha pessoalidade e não me incomodo. E se você não gosta dessa moça, deveria dizer a seus pais.
— Eu estou procurando uma forma de expressar isso, na verdade. Não quero que pensem que estou querendo atropelar suas boas intenções e suas vontades.
— Mas o que você sente também deve ser considerado. Tipo, casamento é uma união séria e você não precisa se unir a alguém porque os seus pais ou os pais dela querem, não é justo, na verdade.
— Estou tentando, senhorita Pritchett, eu estou tentando. - Ele murmurou, um tanto absorto em seus pensamentos.
Em poucos minutos concluímos a pintura da parede e carregamos os baldes vazios e os pincéis até a dispensa. Voltamos para dentro da casa e saímos, então guardei as chaves em meu bolso.
— Você aceita carona? - Perguntou o homem, abrindo a porta de seu carro.
— Olha, aceito sim.
Ri baixinho e adentrei o veículo, segurando minha bolsa para me certificar de não ser desastrada e a esquecer no carro dele novamente. Em poucos minutos ele estacionou em frente à minha casa e lhe voltei o olhar.
— Obrigada, senhor Payne, o vejo na empresa.
— Até mais tarde, senhorita Pritchett.
Desci do veículo e acenei para ele enquanto o homem saía e então adentrei a casa, vendo o pessoal reunido na sala.
— Senhor Payne foi lá? - Pergunta Lola com um sorriso malicioso.
— Trouxa - Peguei uma almofada e joguei nela.
— Do que estão falando? - Pergunta Louis, desviando o olhar da TV.
— O chefe super sexy da Meg veio procurar por ela mas ela estava na outra casa, então ele deve ter ido lá. - Responde Lola.
— Ele só foi deixar minha bolsa - Dessa vez, além de Lola, recebi sorrisos maliciosos de Deborah, Nina, Niall e Harry, menos Charlie que ficou de cara fechada, e Louis, obviamente, o ciumento do grupo.
— E como é que você esqueceu a bolsa?! - Exclama Louis.
— Calma, nervosinho. Ele me trouxe até em casa depois do desfile e esqueci a bolsa no carro, foi isso. - Falei e segui para as escadas.
— Sei, mocinha.
Mostrei o dedo do meio para o moreno e subi para meu quarto.
[...]
A tarde foi tranquila, a empresa estava calma depois de toda a euforia para o desfile. Margaret e Oliver ficaram uns minutos em minha sala, conversando sobre a coleção. Peguei a minha bolsa para sair da sala e entrar no elevador, mas antes de chegar a ele, sou barrada por Luke e Liam na porta.
— Posso ajudá-los? - Indaguei, erguendo a sobrancelha.
— É uma coisa rapida. - Começa Luke.
- É que precisamos te dar uma notícia. Vamos lançar nossa marca na Nova Zelândia, com uma coleção mais romântica. Nós já temos muita coisa formada, alguns estilistas confirmaram e só precisamos que você dê uma olhada nessas aqui e adicione oito vestidos seus. - Liam me estrega uma pasta. Oito roupas novas com minha assinatura? Uau. — Suas roupas estão fazendo um baita sucesso, então. Avisaremos sobre a viagem quando ajeitarmos alguns detalhes.
- Uou... Certo, muito obrigada, até segunda.
Falei e caminhei pro elevador, dando pulinhos de empolgação quando a porta se fechou. Estão gostando do meu trabalho! Isso é muito, muito gratificante. Corri para o estacionamento e entrei no carro. Preciso contar a Louis e ao pessoal, minha primeira viagem a trabalho e pra Nova Zelândia!
Assim que estacionei em casa, chamei todos para a sala e falei a notícia. Todos me parabenizam, até Louis, surtando um pouco.
— Estou muito orgulhosa de você. - Falou Nina, me abraçando de lado. — Todos nós estamos!
— E eu agradeço o apoio de vocês, é muito importante pra mim. - Suspirei, bordando um largo sorriso. — Mas bem, vou subir pro quarto, tô cansada.
Dito isso, beijei a bochecha da morena e subi para o meu quarto.