Laços | RABIA

By misandieg

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A cidadezinha de Monte Verde sempre foi a casa de Rafaella, mas agora também abrigaria Bianca, recém chegada... More

1| Prólogo
2| se conhecer pra se gostar
3| sombra na tarde da paz
4| só sei falar de você
5| dançar até o dia amanhecer
7| pra lua brilhar em você
8| meus pés saíram do chão
9| vento que passa e que leva
10| quando quer outra mulher
11| não estamos mais como antes
12| me cansei de duvidar
13| quando a distância pesar
14| ser livre pra sentir
15| pra tudo recomeçar
16| olhando o mesmo céu
17| no mar de lamentar
18| se perde aos poucos sem virar carinho
19| uma placa sem estrada
20| nós dois em um só
21| no interior do peito já bateu saudade
22| o nome do teu novo amor
23| acordar do teu lado pra te dizer
24| quando se encontra quem se ama
25| levou embora o meu pesar

6| abraçar o sol e fechar os olhos

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By misandieg

Para abraçar o sol e fechar os olhos
Para falar de amor, deitar em seu colo
Vim de outra cidade
Eu sou da estrada, sou rosa
- A Cor é Rosa -

25 de Março, 2020
Monte Verde

— Porque essa tatuagem? — Rafaella perguntou observando a mão direita tatuada de Bianca sob a mesa.

Miguel já tinha deixado a cafeteria em direção a própria casa porque iria se encontrar com um 'bofe' hoje a noite. Bianca decidiu ficar mais alguns minutos porque não tinha o que fazer em casa, e porque a companhia de Rafaella era boa demais pra ser desperdiçada; ainda mais hoje que a mineira já tinha dito que Genilda ficaria na delegacia até a noite e, então, ela não precisaria voltar cedo pra casa.

Era engraçado para Bianca pensar assim, porque parecia que Rafa tinha apenas dezesseis anos e ainda dependia da autorização da mãe pra fazer muitas coisas, mas na verdade ela já tinha vinte e quatro anos e muita autonomia; só largou tudo pra cuidar da mãe.

— Quando eu era pequena minha mãe costumava dizer que eu era um solzinho, um solzinho que iluminava tudo... — Contou passando o dedo sobre a tatuagem delicada entre o inicio do polegar e o pulso. — E uma vez eu perguntei sobre o meu pai ela disse que ele tinha ido embora porque não tinha direção, não tinha um norte, mas que eu sempre apontava o norte pra ela.

— Por isso a bússola? — Perguntou interessada analisando o desenho.

— Sim, mas só com o norte, que ela dizia ser o melhor lugar. — Explicou recolhendo a mão e colocando sobre o colo. — Você tem tatuagens? — Questionou fitando os olhos verdes.

Rafa era bonita demais, e Bianca tinha certeza que em outras condições faria qualquer coisa pra conquistar aquela mulher. Só que Rafa era declaradamente hétero, e já tinha deixado claro para Bianca que estava interessada apenas em uma amizade, e por isso Bia não forçaria nada.

— Não... dói? Eu sempre quis escrever alguma coisa aqui assim — Disse apontando pra região lateral das costelas. — mas nunca realmente fiz.

— Não dói nada, Rafa, sério... eu já fiz várias e agora até esqueço que tem mil agulhas afundando em mim quando tô fazendo... — Bianca assegurou sabendo que aquilo era uma de suas coisas favoritas também. Em um futuro próximo planejava tatuar um de seus desenhos, mas ainda não fez nada que realmente valesse a pena eternizar. — Acho que a resposta vai ser não, mas não custa perguntar, tem algum estúdio de tatuagem em Monte Verde? — Perguntou sorrindo travessa.

Não tinha escutado ninguém falar sobre qualquer coisa do tipo no tempo que esteve na cidade

— A Cecilia tatua, mas não a publico porque ela não tem licença. — Explicou. Bianca lembrava de ter escutado esse nome em algum lugar, mas não se lembrava bem onde. — Ela tatuou a Gizelly uma vez e ficou legal...

— Entendi... não sei quem ela é, mas gostaria de conhecer! — Bianca disse simples. — Você tem que ficar aqui na cafeteria ainda, ou podemos dar uma volta?

— Não preciso, mas pra onde você quer ir?

— Só caminhar na rua, ! Eu não consigo ficar parada... — Confessou dando de ombros.

Rafa aceitou o passeio recolhendo todas as suas coisas pra largar no carro e depois poder ir direto pra casa.

— Qual direção? — A mineira questionou quando tomaram a rua.

— Pra ! — Apontou na direção contrária a da igreja. — Você fez faculdade, Rafa? — Bianca estava curiosa pra conhecer ainda mais da mineira. Se viram diversos dias durante a semana passada, mas não conseguiram de fato conhecer.

— Eu fiz um curso técnico de administração... minha mãe queria que eu fosse pra faculdade, mas seria muito longe de casa e eu não queria isso. — Explicou-se. — Você fez marketing?

— É, publicidade e propaganda né, mas sim... não pensa em fazer faculdade agora?

— Não. Tô muito bem cuidando da cafeteria, não vejo porque e nem saberia o que fazer.

— Você ainda tem tempo, muito jovem! — Bianca encorajou sorrindo de lado mas focando no caminho a sua frente.

Rafaella achava fofo o jeito meio arrastado que Bianca pronunciava as palavras devido ao sotaque. E o jeito que ela fazia perguntas querendo conhecer Rafaella também era interessante.

Sentia que alguém ligava e queria conhece-la de verdade

— Agora você parece uma tia falando... isso que eu sou mais velha que você! — Rafa rebateu risonha. — É assim que os cariocas levam a vida?

— Como assim? O que você quer dizer? — Falou confusa fitando a mineira de olhos verdes.

Assim, na boa e sem se preocupar... eu assisti um filme uma vez, chama Ponte Aérea, e o cara é carioca e ele leva a vida um dia de cada vez, só se preocupava com a arte dele e com a menina que ele se apaixonou...

— Então você quer dizer que nós cariocas nos comportamos "assim"— Fez aspas no ar. — tipo vida boa? Tipo viver do jeito certo? — Completou rindo.

— Não sei... começou a me estressar um pouco ele ser tão de boa, confesso. Acho que as vezes uma certa seriedade é necessária, sabe?

— Bom, se serve de consolo, eu sou bem acelerada e não consigo ficar parada, mas a maioria dos cariocas realmente vive a vida um dia de cada vez. — Afirmou sabendo que conhecia seu povo. E isso não era um defeito, na verdade era muito legal, mas nem todo mundo conseguia seguir esse estilo de vida; e Bianca era uma dessas pessoas. — E não tem nada de errado nisso!

— Tá, eu tenho uma pergunta pra você agora! — Rafa exclamou depois de uns minutos caminhando sem rumo pelas ruas. Bianca ficou feliz de ouvir que a mineira também estava interessada, afinal, era sempre ela que dava inicio aos assuntos e conversas. Diante do olhar atento da carioca, Rafa continuou. — Qual a sua melhor qualidade e o seu pior defeito?

— Mas Rafa... — Disse com ar surpreso — o que é isso? Uma entrevista de emprego? — Rebateu rindo. Lembrava bem de ter escutado essa pergunta algumas boas vezes enquanto procurava trabalho.

— Parece, mas é serio... sei lá, só fiquei curiosa.

— Bom, meu pior defeito é ser um pouco indecisa, e minha melhor qualidade acho que é ser livre. — Bianca realmente prezava pela própria liberdade, e saber que a tinha de uma maneira tão normal e fluida, a deixava extremamente feliz. Definitivamente era uma qualidade.

— Você provavelmente rodaria em uma entrevista de emprego, viu? Indecisão? Péssimo! — Rafa caçoou batendo o ombro contra o de Bianca, que cambaleou um pouco pro lado surpresa.

— Ei! Fui sincera, não tava tentando te convencer de nada... — Afirmou dando de ombros. — Mas e você, hein?

— Meu pior defeito é me dedicar demais a tudo, até a coisas que não merecem...

— Isso não deveria ser uma qualidade? Você também não passaria na entrevista. — Brincou interrompendo a fala de Rafaella.

— As vezes eu sofro com isso, entendeu? E minha melhor qualidade é-

Rafinha! — Antes que Rafa pudesse concluir a linha de pensamento, as duas foram surpreendidas pela voz grossa de Rodolffo logo atrás. A mineira se virou primeiro fitando o homem que estava de braço abertos, como se esperasse um abraço. Bianca teve que contar repetidamente até cinco até ter certeza que não se estressaria.

Ela e Rafaella estavam num assunto tão bom e agora foram interrompidas por mais um dos aparentemente vários homens que sonhavam com a mineira.

O que tinha feito pra merecer conhecer Caon e encontrar Rodolffo no mesmo dia?

— Ah, oi, Rodolffo! — Rafa cumprimentou sempre simpática se aproximando a passos lentos do homem. Bianca vinha logo atrás. — Tudo bem?

— Sim, meu bem, e vocês? Vim pegar algumas coisas com papai mas já estou de saída. — Explicou envolvendo Rafaella num abraço meio desengonçado e dando um sorriso e aceno na direção de Bianca. — Você não tá afim de jantar lá na casa dos meus pais? Minha mãe tá fazendo aquele feijão tropeiro que você ama! — Ofereceu sorrindo galante e Bianca teve vontade de torcer o rosto em uma careta, mas se controlou.

— Hoje não, Rod, daqui a pouco já preciso ir pra casa, e-

— Dona Genildinha vai! Ela vai logo depois do expediente, meu pai já falou com ela! — Informou interrompendo a fala de Rafaella.

Além de Bianca ter sido completamente esquecida na conversa, a carioca também se sentia mal de ver que Rafa parecia querer realmente evitar esse encontro, mas não sabia como escapar.

— Ah, é, então-

— É que a gente já tinha combinado de jantar com o Miguel e a Gizelly... — Bianca interveio antes que Rafaella cedesse aquele jantar que ela não parecia nem um pouco afim de ir.

Bianca não deveria se meter, mas agora já era tarde demais. Rafaella daria um jeito de escapar se fosse o caso.

— É... pois é, Rodolffo... eu já tinha combinado com eles. — Rafaella embarcou na mentira de Bianca de maneira quase natural, como se aquilo tivesse sido combinado previamente.

— Uma pena... vou mandar um pouquinho do feijão através da dona Genilda então, aí você prova... já disse que vai ser o prato do nosso casamento! — Riu divertido como se aquilo fosse de fato acontecer e Rafaella estivesse de acordo.

Mas ela não estava.

— Hum... tá bom! Então bom jantar pra vocês e até mais... — Rafa disse iniciando uma despedida e novamente foi envolvida em um abraço apertado.

— Se cuida, Rafinha, e até mais, Bianca! — Se despediu notando a presença da carioca pela primeira vez. Bianca sorriu amarelo acenando e virando-se pra voltar a andar.

— As vezes eu fico em duvida se você odeia ele, ou se você gosta mas é tímida, ou se não sabe ainda... — Bianca confessou seria caminhando ao lado de Rafa.

Diferente de Rafaella, que não poderia dar um fim em certas coisas porque elas faziam parte do seu ser, Bianca consideraria muito injusto ter que aturar alguém porque terceiros querem ou demandam. Assim que a carioca se sente incomodada ela já da logo um jeito de se desfazer disso.

E Rafa gostaria de ser assim, afinal isso configura a liberdade que gostaria de ter, mas não conseguia. O pior de tudo é que não poderia culpar ninguém por ser presa demais, nem mesmo dona Genilda tinha culpa, porque isso vinha de dentro de si.

Se relacionava diretamente ao seu pior defeito: aquele de se importar demais.

— Eu não sei direito... minha mãe praticamente planeja o meu casamento com ele desde que eu entrei na adolescência. — Contou sem conseguir olhar diretamente para Bianca. Ficava com um pouco de vergonha, e medo de ser julgava por alguém tão desamarrada como Bianca Andrade. — E eu gosto dele, mas não o vejo no sentido romântico...

— Sua mãe sabe?

— Sabe, mas insiste que ele é perfeito pra mim e que eu nunca vou achar homem melhor aqui em Monte Verde. — Relatou dando de ombros. — Mas nem quero falar disso agora... obrigada por me salvar dessa!

— Não foi nada, Rafa! Fico feliz de ter mentido no seu lugar, assim a sua consciência fica limpa e você não precisa ir confessar esse pecado no igreja. — Disse rindo e logo recebendo um tapa no braço vindo de Rafaella.

Rafaella poderia até ser presa em si mesma, mas Bianca conseguia libertar pelo menos um pouquinho da mineira com suas palavras engraçadas, rosto expressivo, e curiosidade. O final da tarde foi tão agradável que a mineira conseguiu até esquecer que ficaria sozinha em casa e depois teria que explicar pra sua mãe o porque de sua ausência na casa de Rodolffo.

Qualquer mentirinha bastaria.

As duas caminharam de volta pra cafeteria entre conversas sobre a vida e sobre a cidade. Rafa dirigiu de volta pra casa se sentindo feliz, assim como todas as outras vezes que viu Bianca. Isso começava a se tornar um incômodo bom do qual a mineira não entendia bem. A companhia de Bianca era muito boa.

A carioca, por outro lado, queria mais. Queria tão mais que se sentia mal de desejar alguém tão declaradamente hétero. Se pudesse ter uma chance de beijar Rafaella e mostrar que o lado colorido é dezenas de vezes melhor, ela o faria. Faria sem pensar duas vezes.

{...}

30 de Março, 2020
Monte Verde

Bianca já estava exausta daquele bate-boca incessante com Caon, Sérgio e Miguel. Tinha vontade de explodir!

A carioca era muito persistente e acreditava que a sua ideia seria a melhor decisão pra fazer a vinícola ainda mais rentável; era só olhar os dados das diversas pesquisas de mercado que foram feitas no inicio do ano: as pessoas queriam mudanças!

O problema disso tudo é que Caon, o diretor do financeiro, parecia acreditar fielmente que o Marketing não precisa de nenhum estimulo monetário pra fazer as novas estratégias darem certo; na verdade, ele tinha dedicado um valor extremamente baixo pra cobrir todos os custos daquele setor.

E isso era um dos focos de discussão agora.

— Podemos pelo menos tentar esse nova proposta de tour e degustação por um mês e observar o retorno? Se não der certo voltamos pro original, mas dê uma chance ao meu projeto! — Bianca insistiu uma ultima vez.

Miguel, como um verdadeiro amigo, estava apoiando Bianca como se participasse do departamento de Marketing também. Já tinha argumentado algumas vezes com Caon alegando que realmente precisavam de uma mudança, até mesmo pra que a produção pudesse voltar ao ritmo normal, que havia baixado por causa da queda nas vendas.

Sérgio, por sua vez, parecia gostar do debate que acontecia em sua frente; assistia tudo com um sorriso discreto no rosto e a coluna encostada contra a cadeira. Realmente adorando.

— Um mês é muita coisa, não temos dinheiro pra isso-

— Não temos? Não temos pro Marketing você quis dizer, né? — A carioca se revoltou cruzando os braços abaixo dos seios e fitando o homem a sua frente.

— Duas semanas pra testar essa ideia. — Caon argumentou.

— Duas semanas não é tempo suficiente pra gerir resultado, Caon! — Miguel interrompeu.

— Bianca, você tem um mês pra testar essa estratégia e mostrar resultados. — Sérgio se fez presente atraindo o olhar de todos ali. — Sugiro que envolva outras estratégias pra ter certeza que isso funcionará. — Concluiu agora alternando o olhar para Caon. — Daniel, o valor estipulado pro Marketing é baixíssimo, e esse é o principal setor, que coloca o nosso nome na vitrine; por favor faça os ajustes necessários. — Disse categórico. Bianca até tentou disfarçar o ar debochado que tomou o seu rosto, mas não teve sucesso e acabou exprimindo um sorriso de lado.

— Sim, senhor. — Caon respondeu e Bianca quis rir ainda mais alto. Por acaso ele achava que estava em um quartel militar?

Nunca se cansaria de debochar dele, mesmo que silenciosamente.

— Miguel, finalize os detalhes do seu lado pra por a estratégia em pratica, ainda mais que a sua viagem pro Rio se aproxima. — Pontuou agora fitando o amigo da carioca.

— Viagem pro Rio?

— Miguel vai levar alguns produtos pra uma nova revendedora de vinho, eles serão nossos parceiros exclusivos. — Sérgio explicou fazendo algumas anotações em um caderno a sua frente.

Naquela hora as engrenagens dentro da cabeça de Bianca começaram a funcionar freneticamente. Talvez fosse o gatilho necessário pra que tudo em sua cabeça fizesse sentido.

Precisava de uma estratégia que atraísse mais pessoas pra vinícola quando a nova opção de tour entrasse em teste. Precisava de um projeto que trouxesse essas pessoas pra cidade e que os fizesse gostar do novo modelo. Precisava que as pessoas notassem a mudança e gostassem dela.

— É isso! — Exclamou com os olhos arregalados e muitas coisas na cabeça ao mesmo tempo. Tinha que respirar e explicar. — Quando é essa viagem? Posso ir?

— Ah! Pronto! Agora quer tirar férias também? — Caon respondeu debochado e Bianca teve vontade de voar no pescoço dele, mas não o faria. Tinha tido uma ideia tão boa que as coisas a sua volta tinha ficado rosas, assim como um desenho de animação bem antigo.

— Ô meu querido, será que eu posso falar? — Rebateu fitando Caon com seu melhor tom serio e logo voltando-se pra Sérgio. — Seu Sérgio, você mesmo disse que eu precisava de mais estratégias pra fazer esse plano novo funcionar, então o que eu proponho é que me deixe ir pro Rio com o Miguel pra botar essa estratégia em pratica, e quando voltarmos colocamos o tour novo pra jogo. — Explicou aguardando uma resposta.

— Bianca, você nem sabe quando o Miguel vai e por quanto tempo fica fora... — Sérgio apontou calmo.

— E quando vai ser? — Respondeu imediatamente. — Eu juro que a minha ideia é boa e vai funcionar! Posso não ter muita credibilidade mas quando o tico bate com o teco a coisa funciona! — Argumentou ansiosa.

Não tinha como a ideia genial que teve não funcionar. Dentro de si, Bianca sabia que ia ser ótima, só precisava de um voto se confiança.

— Miguel vai em duas semanas e ficará dez dias fora. — Sérgio revelou ainda mantendo o tom sério. Não queria dar o braço a torcer porque achava tempo demais pra ter dois dos três diretores longe, mas conhecia Bianca e sabia que ela não deixaria barato.

— Posso ir? Nem vai ter custo, sabe porque? Eu tenho um apartamento no Rio, podemos ficar lá. Eu vou dirigindo também, adoro dirigir! — Argumentou tentando convencer o dono da empresa a deixa-la por o plano em prática.

— Bianca...

— Por favor, seu Sérgio, confia em mim!

— Não podemos esperar quase um mês pra colocar o novo modelo de tour em prática. — Pontuou recebendo o apoio de Caon.

— Então comece o novo tour quando estivermos partindo... assim dá tempo de deixar tudo planejado e esquematizado.

— Mas essa não era uma estratégia pra trazer mais consumidores pra vinícola enquanto o tour novo esta em curso? — Caon perguntou curioso. Era difícil acompanhar o raciocínio lógico de Bianca; que cada hora mudava de lugar.

— Sim! Mas podemos começar os dois ao mesmo tempo, ainda mais que o tour novo funcionara por um mês. — Explicou sucinta.

— Então está definido. — Sérgio se deu por vencido largando a caneta sobre a mesa. — Bianca e Miguel vão pro Rio no dia 13 de Abril, mesmo dia que começaremos os testes pro novo modelo.

Bianca não conseguiu conter o sorriso animado e a comemoração contida. Viu o sorriso de Miguel de canto de olho e teve ainda mais certeza que aquela ideia funcionaria de forma invejável.

{...}

6 de Abril, 2020
Monte Verde

Bianca estava muito, muito animada, e também extremamente atarefada. Em pouco mais de uma semana teve que desenhar e mandar produzir folhetos divulgando a nova proposta; mandar essa mesma divulgação pra rádios e pra emissora da região, e ainda deixar o novo modelo de tour pronto e perfeito antes de deixar a cidade.

Bom, pelo menos ainda tinha uma semana.

E não podia reclamar de todo esse trabalho dobrado que teve, isso porque aproveitava que tinha que trabalhar fora de hora e acabava aparecendo na cafeteria de Rafaella. Era um lugar bom pra trabalhar fora do escritório e fora de casa, e também possibilitava que ela visse e conversasse com a mineira.

Se não conhecesse bem a si mesma, Bianca diria que estava encantada.

Gizelly já começava a produzir algumas piadinhas sobre isso, porque claro, Bia não poupava falar da mineira e rasgar elogios a ela; era quase uma ação de seu subconsciente.

Nos poucos momentos de conversa que tinha com Rafa quando ela não estava trabalhando, Bianca descobriu que ela era muito curiosa. Gostava de tentar coisas novas sempre que possível, e agora estava na onde de tentar fazer camisetas tie-dye. Também descobriu que ela era a maior fã de sertanejo na cidade inteira. Que adora assistir reality shows, principalmente Big Brother. Ama as competições musicais também, como o The Voice. E adora cozinhar enquanto assiste Masterchef ou Pesadelo na Cozinha.

Eram tantos detalhes pequenos que Bianca tinha descoberto no curso de uma semana que agora tudo ficava mais divertido. E a carioca passava a analisar ainda mais a morena.

Desde os olhos verdes até a forma como ela gesticulava quando estava explicando algo.

— Menina Bianca, que bom ver você! — Marcelo cumprimentou assim que a carioca parou em frente ao caixa do mercadinho.

Diferente dos outros dias, hoje Bianca trabalharia de casa, até porque Tainá insistiu muito pra passar o fim da tarde e a noite na casa da carioca; e como fazia quase duas semanas que não se viam, Bia aceitou.

Precisava de uma distração. Nos últimos dias tudo que via e pensava era Rafaella, mas ela era só sua amiga, então precisava de alguém pra olhar e pensar de forma diferente.

O que importa é que precisou parar no mercado pra comprar alguns salgadinhos e doces pra ter em casa; Rafa gostava do chocolate sensação, e Tainá também, por isso comprou vários.

Rafa também gostava daqueles biscoitos Bauducco cheio de gotas de chocolate, mas era Tainá que iria até sua casa, e Tainá odiava biscoitos.

Não conseguia formar uma linha de pensamento focada em Tainá sem adicionar Rafaella no meio.

Quem estava tentando enganar? Era Rafa que ela realmente queria, mas infelizmente, dessa vez, não poderia ter.

— Boa tarde, seu Marcelo! — Respondeu educada. — Tudo bem com você?

Bianca não conseguia chamar pessoas jovens, de aparentemente 50 anos, de senhor. Marcelo nem tinha cara de senhor.

— Tudo bem, tudo bem! E você? Gostando do trabalho? — Se interessou. Fazia muitos dias que não via Bianca.

— Muito! Tô indo pro Rio semana que vem, sabia? A trabalho... — Explicou.

— Que legal! Eu adoro aquela cidade, e você deve sentir falta também, né? — Perguntou com um sorriso de lado. Bianca assentiu dando de ombros.

— Já foi pra lá?

— Morei alguns anos no Rio... quando era mais jovem! — Contou rindo. — Criei uma familia lá mas me separei da minha esposa e me mudei pra cá. — Relatou agora um pouco mais serio.

— Serio? Eu sinto muito...

— Infelizmente perdi coisas importantes no Rio, mas não me esqueço que a cidade é linda! — Falou aliviando o clima um pouco melancólico que tinha se instalado por ali.

— Quem sabe um dia você não reencontra tudo né? Minha mãe sempre dizia que o destino se encarrega das coisas que a gente não consegue resolver. — Encorajou filosófica.

Dizia?

— É... ela faleceu há alguns anos. — Disse sucinta. Não queria reviver isso agora.

Bianca, as vezes, se perguntava se o destino também se encarregaria de faze-la descobrir quem era o seu pai, ou onde ele estava pelo menos. Por vezes não queria descobrir e nem queria que essa ideia passasse por sua cabeça, mas por outro lado, ele era o único laço que ainda restava a Bianca. Se estivesse vivo, claro.

Marcelo suspirou triste e voltou a empacotar as coisas que Bianca tinha comprado. Desejou uma boa viagem a menina e a assistiu saindo feliz pela porta.

Algumas coisas precisavam ser resolvidas.

___

Obrigada pelos 1k de views e centenas de comentários, isso me motiva muito e deixa meu coração felizinho 🤍 obrigada!

Tô assim ainda 😮 com vocês falando que o padre entregou tudo, coitado...

Vocês gostam de capítulos cheio de diálogos e mais compridos? To escrevendo o próximo e talvez ele chegue a 5k de palavras, vocês me cancelariam? Esse, por exemplo, teve pouco mais de 3.5k... conta ai!

A essa altura já temos três possíveis candidatos a pai da Bianca (o que é isso? Mamma mia?)

Rodolffo e Caon, os dois a 80km/h, quem é pior?

Enquanto eu escrevo nossa próxima pista, continuem lendo, votando, comentando, e divulgando prxs amigxs, tá bom?  

Grande beijo!

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