Point of view Bianca Andrade
- Oi amigo... - Eu e Miguel entramos no carro.
- Bia, eu quero matar você. - ele ligou o automóvel e saímos.
- Relaxa Pinkinho, eu tô ótima. Amanhã 7h da manhã estamos de pé tranquilamente, certo?
- Espero, viu! O que você foi fazer lá?
- Nada, distrair a cabeça e tal.
- Quero saber cada detalhe, dona Bianca.
Não estava pronta para compartilhar com o mundo o que aconteceu naquele apartamento, mesmo que fosse o Miguel, uma das pessoas que eu mais confiava no mundo. Eu queria guardar o momento só pra mim um tempinho. Não foi uma simples ficada, foi algo diferente de qualquer coisa que já senti na vida, eu precisava me entender primeiro de tudo, precisava entender o que aconteceu.
Cheguei em casa e mandei uma mensagem para Rafaella a avisando. Ela respondeu apenas um "Ok". Queria entender o que ela estava pensando.
Point of view Rafaella Kalimann
Acordei no dia seguinte com a famosa ressaca e várias ligações perdidas da minha mãe, da Titchela, da minha assessora, da Bianca. Bianca. Eu não queria falar com ela, precisava pensar sozinha.
O beijo foi incrível, de longe o melhor que eu já havia dado na vida. Mas por que eu havia feito aquilo? Bianca é uma mulher extremamente linda, mas eu gostava de homens. Porém, eu não me arrependia, estava apenas com vergonha e confusa.
Mandei mensagem para quem importava e fui preparar um café. Meu telefone tocou novamente, era Titchela.
Gi: "Bom dia Rafaella! Melhorou do porre, querida?"
Eu: "Bom dia, Titchela. Que porre?"
Gi: "O Brasil viu seus stories com foto de drink, Rafaella. O Brasil só não tinha acesso às fotos de Boca Rosa no grupo das meninas com os mesmos drinks. Engraçado né?
Eu: "Nossa que coincidência."
Gi: "Eu vou ter que perguntar ou tu vai dizer?"
Eu: "Gi..."
Gi: "Ó, vem almoçar aqui com a gente! Você tá de folga hoje né?"
Eu: "Sim."
Gi: "Então, vem! E a tarde eu quero levar vocês pra ver o resultado final do meu ap."
Eu: "Tá bom, daqui a pouco chego aí."
Gi: "Tô te esperando, sua safada! Tchau Boca Rosa!"
Eu: " Ela não tá aqui!"
Gi: "Uma pena então. Beijo, Rafa."
Eu: "Beijo, Titchela."
Respirei fundo e me sentei por um momento. Olhei para minha sala, mais especificadamente para o tapete, e flashs da noite anterior vieram em minha mente. A maior pergunta para mim era "por que?", e a resposta era "porque senti vontade", mas por que senti vontade? Por que não queria que ela fosse embora? Por que tinha gostado? Por que queria evita-la para sempre agora?
Decidi parar de tentar conversar com meus divertidamente, tomei um remédio pra dor de cabeça e fui tomar um banho. Vesti uma roupa casual e saí.
Alguns segundos depois de tocar a campainha, Manu abriu a porta e semicerrou os olhos. Subiu nas pontinhas do pé, pegou no meu queixo e avaliou meu rosto.
Manu: "Você tá estranha."
Eu: "Uai, por que?"
Manu: "Tem alguma coisa errada. O que houve?"
Eu: "Ce não vai me deixar entrar não?" -ainda estávamos na porta. Ela sorriu e me deu passagem.
Manu: "E aí Rafinha, anda escondendo coisas da gente, é? Não contou que a Bia ia pra sua casa." - entramos na casa e caminhamos para a cozinha.
Eu: "Não foi nada demais, amiga. E foi de última hora."
Gi: "Olá Rafaella, como vai?"
Eu: "Vou bem, obrigada, e você?" - dei um abraço nela, que estava fazendo algo no fogão.
Gi: "Pergunta pra Bia." - Eu ri.
Eu: "Por que eu perguntaria pra Bia se você tá bem?"
Gi: "Não sei, pergunta pra ela isso também." - Eu e Manu rimos novamente.
Eu: "Ai, ciumenta."
Manu: "Enfim, não vai falar nada mesmo?"
Eu: "Não tenho nada pra falar."
Manu: "Quem não te conhece que te compre, Rafa. Enfim, olha a sobremesa que eu fiz!" - ela abriu o freezer pra me mostrar.
Manu era muito compreensiva, ela entendeu que tinha algo rolando comigo, mas jamais forçaria a barra se eu não quisesse falar. Ela sempre respeitou meu tempo, e eu não poderia ser mais grata por tê-la em minha vida.
Eu: "Nuussa, tá com uma cara muito boa, Manu. Arrasou!"
Manu: "Obrigada, Obrigada."
Gi: " Acredita que até stories ela gravou fazendo isso aí? É porque ela tava empolgada mesmo, viu?"
Eu: "Por isso deu tão certo então. E aí Titchela, animada pra ver seu ap?"
Manu: "Nossa ela tá falando disso o dia inteiro!"
Gi: "Hello minha filha, eu tô ansiosa! Essa reforma me custou meu rim e cabelos brancos!"
Eu: "Ai Gi, só você mesmo." - eu ri. "Precisa de alguma ajuda aí?"
Gi: "Não, tá tudo tranquilo, obrigada."
Manu: "O cheiro tá invrivel!"
Continuamos conversando até que meu celular tocou novamente. O nome "Bianca" acendeu na tela. Manu, que estava sentada ao meu lado nos banquinhos do balcão da cozinha, viu, mas fingiu que não viu. Recusei a chamada e voltei a conversar. Definitivamente não estava preparada para encarar o ocorrido.
O resto do dia passou incrivelmente rápido. O apartamento da Gi, que não era muito longe dali, estava simplesmente perfeito. Tudo a carinha dela, do jeitinho que ela havia imaginado e planejado, eu estava feliz demais por ela.
Gi: "Ai, sexta vai ser TUDO! Sangue, fogo e labareda, senhor!" - eu ri, o jeito dela de falar era engraçado demais.
Eu: "Ah eu só quero que essa semana passe logo, que chegue sua festa, e finalmente na semana que vem o clipe do Leo sai."
Manu: "Nossa não tava lembrando disso. Finalmente mesmo!"
Gi: "Pra onde vamos agora?" - ela estava dirigindo. Já estava anoitecendo. "Voltamos pra casa?"
Manu: "A gente podia assistir o programa da Bia juntas, o que acha, Rafa?"
Eu: "Ah... pode ser."
Gi: "Que tal eu fazer um hambúrguer? Vocês topam?"
Eu: "Claro, uai! Só não vai queimar que nem da última vez!"
Gi: "Apaga por favor apaga tem gente passando mal apaga tem muita gente pedindo pra apagar, isso é gatilho, apaga apaga."
Manu: "Rafa, ela passa o dia inteiro falando isso!"
Eu: "Old que o Twitter faz isso com as pessoas."
Gi: "A Rafa é das minhas!" - Ela disse rindo. "Então vamos passar no mercado, tá bom? Tem que comprar carninha de planta pro bebê, que a dela acabou, né Manuzinha?"
Manu: "Sim, Titchela!"
Compramos tudo que faltava e fomos pra casa da Manu. Cada uma ficou com uma função, e nos divertimos fazendo tudo juntas, enquanto ouvíamos música.
"E nessa loucura
De dizer que não te quero
Vou negando as aparências
Disfarçando as evidências
Mas pra que viver fingindo?
Se não posso enganar meu coração."
Manu: "Nossa agora a playlist castigou hein, essa é pesada. Vou até desligar aqui pra não ter gente chorando."
Gi: "Obrigada Manu, obrigada. Inclusive, acho que o programa já deve estar pra começar."
Fiquei nervosa demais. Não queria ver Bianca tão cedo, mas pelo menos ela não podia me ver de volta.
Sentamos no sofá com nossos lanches e aguardamos a contagem regressiva para o início do programa. Eu acompanhava a Bia desde sempre, desde o início do YouTube, eu sabia o quanto aquilo ali era importante para ela.
O programa começou e ela estava toda nervosa, mas se saindo perfeitamente bem. A vinheta estava incrível, o cenário perfeito.
Manu: "Gente eu tô cho-ca-da com a qualidade disso."
Gi: "Não esperava menos de Boca Rosa."
Permaneci calada, assistindo cada movimento da apresentadora. Estava tudo simplesmente perfeito. Eu com certeza precisava deixar o medo de lado e ligar para ela a parabenizando no final. Ela merecia todo o reconhecimento do mundo.
Em um quadro do programa, a humorista e amiga minha, Gkay, participou.
- Ô Bianca, agora a gente vai fazer um game. É assim, você vai escolher, like, compartilha, ou chama na DM."
- Ai meu Deus, quem?
- Eu vou dizer os nomes pra você agora, e você vai responder.
- Ih, mas tá bom eu respondo, respondo numa boa.
- Tá, não pode passar, que é tipo pego, penso ou passo, mas tá com um nome mais bonitinho pra não dizer "Ah, a Bianca tá pegando todo mundo, como se já não tivesse pego, né. - Bia riu daquele jeito Bianca de rir. - Tá, vamo lá, tá preparada?
- Tô preparada, nasci pronta, nasci preparada, vá!
- Eita ela é a estourada, ela é boss, ela é bitch, ela é boss. Vamo lá, primeiro nome: Luisa Sonsa.
- Luísa Sonsa?
- Sim!
- Nossa todos, tudo! Luísa Sonsa, aquele mulherão? Tudo!
- Uiuiui, primeira revelação. Ok, próximo nome: Tainá Costa.
- Tainá Costa?
- Ah, tudo também!
- Ok, vamo agilizar isso aqui, Cleo Pires!
- Amiga quais são todas as opções? Eu sou burra, me ajuda aqui.
- Amiga as opções é o que você quiser, o que que ce quer fazer com a Cléo Pires?
- Nossa... Cléo me querendo... Vou achar ruim não viu?
- Próximo nome: Gkay.
- Amiga, eu tentei te pegar várias vezes, tu não me quer! Por que tu tá se botando na lista, sua safada? - a humorista ficou rindo.
- E comprem Boca Rosa Beauty. Próximo nome: Rafa Kalimann. -Bia sorriu sem graça
Gi: "E eu achando que não tinha como esse programa ficar melhor." - ela e Manu começaram a rir e eu joguei almofadas nelas.
- Ah, a Rafa eu dou um like e mando uma DMzinha marota.
- E não compartilha porque?
- Minha filha não sei nem que que significa esse compartilhar. - ela estava rindo sem graça.
- Ô Bianca, é tipo que você só quer dar uns pegas, não tem interesses maiores, romanticamente falando.
- Mas eu não tenho com ninguém.
- Então a Rafa você também compartilha?
- Amiga tô entendendo nada, chega, vambora!
O programa continuou.
Gi: "E você Rafinha? Da like, compartilha ou manda DM pra Boca Rosa?" - joguei outra almofada nela.
Manu: "Ai Titchela, você é um ícone!"
Como Bianca mesma andava dizendo, o programa era aleatório, porém necessário. Abordava diversos assuntos importantes, mas continha muito humor, havia superado minhas expectativas.
No final, um colunista da UOL apareceu em vídeo fazendo uma "crítica" ao programa, era um cara que eu já estava sabendo que vivia falando mal de mim na época do programa, o que eu não ligava.
"... prestigiei aqui, ao lado das minhas queridas samambaias, que eu chamo carinhosamente de Rafa e Manu, e sucesso! Que volte aí na semana que vem..."
Manu: "Ai que legal! Eu amo meus haters!" - Gigi riu.
Eu estava irritada. Extremamente irritada. Não pelo comentário, para isso eu realmente não ligava, esse cara era o mais biscoiteiro do mundo. Mas por que a Bianca deixaria esse vídeo passar, principalmente depois de termos nos resolvido?
Gi: "Não acredito que você vai ligar pra isso, Rafa."
Eu: " Eu não to ligando pra isso."
Gi: " Ah, e essa linha de expressão na sua testa e seu silêncio são o que?"
Eu: "Nada." -peguei meu celular e fingi ver o feed Instagram.
Manu: "Não tô te entendendo, Rafa. Desde cedo você tá estranha, e agora ta chateada com um comentário bobo desse." - larguei o celular e olhei para elas, que me olhavam atentas.
Eu: " Eu beijei a Bia ontem." - Falei baixinho.
Manu: "O QUE?" - ela levou a mão a boca, chocada com a informação.
Gi: "Rafaella Kalimann, você tá brincando com a gente?" - Gi se ajeitou no sofá.
Eu: "É sério."
Manu: "Quero saber detalhe por detalhe, agora!"
Contei como aconteceu, desde o almoço, até ela ir embora, e até tentar me ligar duas vezes depois e eu não atender.
Gi: "Meu Deus? Eu tô vivendo em uma fanfic? EU AMO ESSE CASAL!"
Rafa: "Não somos um casal!"
Manu: "Por que você não quer falar com ela, Rafa?"
Rafa: "Eu não sei o que pensar, o que falar, como agir."
Gi: "É simples, você quer beijar a boca rosa dela de novo?"
Rafa: "Não! Eu gosto de homem, amiga!"
Manu: "Rafa, você tem abrir sua mente."
Eu: "Eu não tenho problema nenhum com isso, Manu. Mas eu já vivi o suficiente pra saber isso sobre mim."
Gi: "Rafa, tem gente que se descobre depois de 50 anos casado com o sexo oposto. E também existe uma coisinha que eu não sei se você conhece."
Eu: "O que?"
Gi: "É um nome bem simples. Se chama bissexualidade, com B, de Bianca Andrade." -comecei a rir.
Eu: "Ai, não dá pra te levar a sério."
Manu: "Mas ela tá certa amiga, não se prenda, seja livre."
Eu: "De qualquer forma, ela deve ter se arrependido também, pra deixar esse cara falar isso da gente no programa. Eu queria a amizade dela, mas pelo visto ela não quer a minha."
Manu: "Meu Deus, como você é cabeça dura!" - ela levou a mão a testa e encostou no sofá. "Nem deve ter sido culpa dela!"
Gi: "Também acho."
Eu: "Ingenuidade de vocês!"
Manu: "Rafa, conversa com ela, qual o problema de conversar?"
Eu: "Se ela quiser, ela venha falar comigo."
Gi: "Você tá parecendo criança! Ela tentou duas vezes e você não atendeu!"
Eu: "Ai gente, chega desse assunto. Quantas pessoas confirmaram até agora que vão sexta?"
Levantamos e começamos a arrumar as coisas, mas minha cabeça estava no mundo da lua. Me despedi e fui para casa, precisava refletir sozinha. Por que eu estava me importando tanto com isso? Havia sido somente um beijo. Nada demais.
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E aí vai rolar a conversinha rotineira da madrugada ou nem?
Beijos, até hoje a noite.